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Hakim Khan disse cautelosamente:

— Ele não pode ser preso na minha casa nem nos meus domínios. Muito embora ele não saiba nada do que está no telex, ele sabe que não pode ficar em Tabriz, nem mesmo no Irã, e que minha irmã não pode ir com ele nem deixar o Irã nos próximos dois anos. Ele sabe que tem que partir imediatamente. O seu aparelho não pode voar. Eu espero que ele não se deixe prender.

— Minhas mãos estão atadas, Alteza — a voz de Hashemi era apologética e aparentemente sincera. — É meu dever obedecer à lei do país. — Distraidamente ele notou um fio de linha na manga e tirou-o. Armstrong compreendeu o sinal imediatamente. Limpar a manga esquerda significava: "Eu preciso falar com este homem em particular, ele não vai falar na sua frente. Arranje uma desculpa e espere por mim lá fora." — Hashemi repetiu com a mesma tristeza na voz: — É nosso dever obedecer à lei.

— Eu tenho certeza absoluta de que ele não tomou parte em nenhuma conspiração, não sabe nada a respeito da fuga dos outros, e eu gostaria que ele pudesse partir em paz.

— Eu terei prazer em informar à Savama dos seus desejos.

— Eu ficaria satisfeito se o senhor fizesse o que estou sugerindo.

— Alteza, se o senhor me der licença, a questão do capitão não é da minha alçada e eu não gostaria de me meter em questões de Estado — disse Armstrong.

— Sim, o senhor pode ir, superintendente. Quando eu vou receber o seu relatório sobre as novas medidas de segurança?

— Estará nas suas mãos quando o coronel voltar.

— Que a paz esteja com o senhor.

— E com o senhor também, Alteza. — Armstrong saiu, depois caminhou devagar pelos corredores até a escada. Hashemi vai espremer o infeliz, pensou.

A noite estava agradável, havia uma brisa fresca e o céu estava avermelhado para o lado do oeste. Céu vermelho à noite, alegria do pastor, céu vermelho de manhã, um aviso para o pastor.

— Boa noite, capitão. Entre nós dois e esta parede, se o seu ônibus estivesse funcionando, eu sugeriria uma viagem rápida até uma fronteira.

Erikki estreitou os olhos.

— Por quê?

Armstrong apanhou um cigarro.

— O clima não anda muito saudável por aqui, não acha? — Ele protegeu o isqueiro com as mãos e acendeu-o.

— Se você acender um cigarro com toda esta gasolina em volta, o seu clima e o meu deixarão de ser saudáveis permanentemente. — Erikki apertou o botão. O motor funcionou perfeitamente por vinte segundos, depois tornou a morrer. Erikki praguejou.

Armstrong cumprimentou-o educadamente e se afastou, voltando para o carro. O motorista abriu a porta para ele. Ele entrou, acendeu o cigarro e tragou profundamente, sem saber se Erikki tinha compreendido a mensagem. Espero que sim. Não posso contar-lhe sobre o telex forjado, nem sobre Turbilhão, isto me poria no paredão por traição a Hashemi e ao khan por meter o meu nariz onde não sou chamado, eu fui avisado. Está certo. É uma questão de política interna.

Cristo! Estou nervoso com tudo isso. Preciso de umas férias. Umas longas férias. Onde? Eu poderia voltar para Hong Kong por uma ou duas semanas, visitar os meus velhos amigos, os poucos que sobraram, ou talvez ir para o Pays d'Enhaut, esquiar. Há anos que não esquio e uma boa cozinha suíça me faria bem, roesti, wurst e um bom café com creme e montes de vinho. Montes! É o que eu vou fazer. Primeiro Teerã, depois tratar de Hashemi, e depois em direção à natureza. Talvez eu conheça alguém interessante...

Mas as pessoas como nós não voltam do frio e não mudam. Que diabo eu vou fazer para ganhar dinheiro no futuro, agora que a minha pensão iraniana foi pro brejo e a pensão que recebo da polícia de Hong Kong cada dia vale menos?

—- Olá, Hashemi, como foi?

— Ótimo, Robert. Motorista, volte para o QG. — O motorista acelerou, passou pelo portão e tomou a estrada em direção à cidade. — Erikki vai fugir de madrugada, pouco antes do amanhecer. Nós vamos segui-lo até onde acharmos conveniente e então o prenderemos, fora de Tabriz.

— Com a bênção de Hakim?

— Bênção particular, indignação pública. Obrigado — Hashemi aceitou o cigarro, muito satisfeito consigo mesmo. — Nessa altura, o infeliz provavelmente já estará morto.

Armstrong ficou imaginando qual teria sido o acordo.

— Por sugestão de Hakim?

—É claro.

— Interessante. — Isso não foi idéia de Hakim. O que estará Hashemi tramando agora? Armstrong perguntou a si mesmo.

— Sim, interessante. Depois de acabarmos com os mujhadins hoje à noite e de nos certificarmos de que o finlandês está seguro, de um jeito ou de outro, voltaremos para Teerã.

— Perfeito.

TEERÃ - NA CASA DOS BAKRAVAN: 20:06H. Xarazade colocou a pistola e a granada na bolsa e escondeu-a debaixo de algumas roupas na gaveta da sua cômoda. As roupas que ela iria usar mais tarde, uma jaqueta de esqui com um suéter grosso por baixo e calças de esqui, já estavam escolhidas. Agora ela usava um vestido de seda verde pálido, de Paris, que realçava a sua silhueta e as suas longas pernas. A sua maquilagem também estava perfeita. Ela deu uma última olhada no quarto e depois desceu para a recepção em honra de Danoush Farazan, o seu futuro marido.

— Ah, Xarazade! — Meshang esperava na porta. Ele estava transpirando e disfarçou o nervosismo com um bom humor fingido, sem saber o que esperar dela. Quando ela voltara do médico mais cedo, ele tinha começado a brigar com ela e a ameaçá-la, mas, inacreditavelmente, ela simplesmente baixara os olhos e dissera documente:

— Não precisa dizer mais nada, Meshang. Deus já decidiu, por favor, desculpe-me, eu vou trocar de roupa. — E agora ela estava lá, ainda dócil.

E é bom que esteja, ele pensou.

— Sua Excelência Farazan está ansioso por cumprimentá-la. — Ele tomou-lhe o braço e conduziu-a pela sala, no meio das vinte pessoas aproximadamente que estavam lá, a maioria amigos dele com as esposas, Zarah e algumas de suas amigas, e nenhum amigo de Xarazade. Ela sorriu para aqueles que conhecia e depois dedicou toda a sua atenção a Danoush Farazan.

— Saudações, Excelência — disse educadamente e estendeu-lhe a mão. Esta era a primeira vez que ela o via tão de perto. Ele era mais baixo do que ela. Ela baixou os olhos para os poucos fios de cabelo pintado sobre a calva grosseira, a pele grossa e as mãos mais grosseiras ainda, com o mau hálito dele invadindo o espaço que os separava, os olhinhos escuros brilhando. — Que a paz esteja com o senhor.

— Saudações, Xarazade, que a paz esteja com você, mas por favor, não me chame de Excelência. Como... como você é linda.

— Obrigada — ela disse e observou a si mesma retirando a mão e o sorriso, ficando em pé ao lado dele, correndo para trazer-lhe um refrigerante, com as saias voando, servindo-o gentilmente, sorrindo das bobagens que ele dizia, cumprimentando os outros convidados, fingindo não reparar nos seus olhares e nos sorrisos disfarçados, nunca exagerando a sua performance, com o pensamento fixo no comício na universidade que já tinha começado, e na Marcha de Protesto que fora proibida por Khomeini mas que iria se realizar.

Do outro lado da sala, Zarah estava observando Xarazade, estarrecida com a mudança, mas agradecendo a Deus por ela ter aceito o seu destino e estar disposta a obedecer, o que tornava mais fácil a vida de todos. O que mais ela poderia fazer? Nada. E não há nada que eu possa fazer a não ser aceitar o fato de que Meshang tem uma prostituta de 14 anos que já pôs as garras de fora, gabando-se de que em breve vai tornar-se sua segunda esposa.

— Zarah!

— Oh, sim, Meshang, meu querido.

— A noite está perfeita, perfeita. — Meshang enxugou a testa e aceitou o refrigerante que estava na bandeja que também continha taças de champanhe para aqueles que gostavam. — Estou encantado por Xarazade ter recobrado o juízo, pois não há dúvida de que este casamento é perfeito para ela.