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Uns poucos acharam a vergonha insuportável e se mataram da forma antiga, com honra. Será que perdi a honra porque não o fiz? Nunca. Obedeci ao imperador que nos ordenou suportar o insuportável, depois entrei para a firma do meu primo, como me ordenaram, e o tenho servido lealmente para maior glória do Japão. Das ruínas de Yokohama, ajudei a reconstruir as Indústrias Toda de Navegação e a transformá-la em uma das maiores empresas do Japão, construindo enormes navios, inventando os superpetroleiros, maiores a cada ano — e lançando, em breve, o primeiro petroleiro de um milhão de toneladas. Agora nossos navios estão em toda parte, trazendo matéria-prima para o Japão e levando para o exterior produtos manufaturados. Nós, japoneses, somos merecidamente o assombro do mundo. Mas somos vulneráveis — temos que ter petróleo, ou estaremos arruinados.

Por uma das janelas, notou um petroleiro subindo o golfo, outro indo em direção a Ormuz. A ponte continua, pensou. Pelo menos um petroleiro a cada 150 quilômetros daqui até o Japão, ininterruptamente, para alimentar nossas fábricas, sem as quais morreremos de fome. Toda a OPEP sabe disso, eles estão trapaceando e se divertem com isto. Como hoje. Hoje, precisei de toda a minha força de vontade para aparentar calma ao lidar com aquele... aquele francês odioso, fedendo a alho e àquela porcaria fedorenta e nojenta chamada Brie, exigindo descaradamente mais US$ 2,80 acima dos já escandalosos US$ 14,80 e eu, de uma antiga linhagem de samurais, tendo que pechinchar com ele como um chinês de Hong Kong.

— Mas, monsieur de Plessey, o senhor certamente vê que a este preço, mais o frete e...

— Sinto muito, monsieur, mas tenho minhas instruções. Conforme o combinado, os três milhões de barris de petróleo de Siri estão sendo oferecidos primeiro ao senhor. A ExTex quer uma quota, assim como quatro outras grandes companhias. Se o senhor deseja mudar de idéia...

— Não, mas o contrato especifica "ao preço atual da OPEP" e nós...

— Sim, mas o senhor certamente sabe que todos os fornecedores da OPEP estão cobrando um ágio. Não se esqueça que os sauditas planejam diminuir a produção este mês, que na semana passada todos os grandes produtores ordenaram novos cortes por force majeure, que a Líbia também está reduzindo sua produção. A BP aumentou os cortes para 45%...

Kasigi teve vontade de gritar de raiva ao lembrar que quando finalmente concordara, desde que pudesse ter os três milhões de barris, todos pelo mesmo preço, o francês sorrira, docemente, e dissera: "Certamente, desde que o senhor carregue tudo em sete dias". O que ambos sabiam ser impossível. E sabiam também que, naquele momento, uma delegação da Romênia estava no Kuwait em busca de três milhões de toneladas de petróleo, imaginem, só três milhões de barris, para compensar o corte dos seus próprios suprimentos iranianos que chegavam através dos oleodutos iraniano-soviéticos. E que havia outros compradores, dezenas, esperando para se apoderar de sua opção de Siri e de todas as suas outras opções — de petróleo, gás natural, nafta e outros petroquímicos.

— Muito bem, US$ 17,60, o barril — dissera Kasigi, amável. Mas por dentro jurando ir à forra de algum modo.

— Para este petroleiro, monsieur.

— É claro, para este petroleiro — disse, ainda mais amavelmente.

E agora este piloto australiano vem me dizer que mesmo este petroleiro pode correr perigo. Este velho estranho, velho demais para estar pilotando e no entanto tão hábil, tão sabido, tão aberto, e tão idiota — idiota em ser tão aberto, pois assim você se coloca nas mãos dos outros, pensou Kasigi, voltando a encarar Scragger.

— O senhor disse que talvez, com o tempo, pudéssemos fazer as pazes. Nós dois não teríamos mais nenhum tempo hoje, se não fosse por sua habilidade, e sorte, embora nós chamemos isto de carma. Na realidade, não sei quanto tempo nos resta. Talvez amanhã meu navio seja destruído. Eu estarei a bordo. — Deu de ombros. — Carma. Mas sejamos amigos, o senhor e eu. Não acho que estejamos traindo nossos companheiros de guerra, os seus e os meus. — E estendeu a mão. — Por favor.

Scragger olhou a mão estendida. Kasigi forçou-se a esperar. Então Scragger cedeu, balançou a cabeça e apertou a mão com firmeza.

— Está bem, cara, vamos tentar.

Nesse momento, viu Vossi virar-se e fazer-lhe um sinal. Imediatamente Scragger foi para a cabine do piloto.

— Sim, Ed?

Há uma emergência, Ed, de Siri Três. Um dos operários caiu no mar... Foram imediatamente. O corpo estava flutuando perto das pilastras da plataforma. Eles o içaram para bordo. Os tubarões já tinham comido os membros inferiores e um dos braços estava faltando. A cabeça e o rosto estavam muito machucados e curiosamente desfigurados. Era Abdullah Turik.

6

PERTO DE BANDAR DELAM: 16:52H. As sombras estavam maiores. Ao longo da estrada a terra estava ressecada, e depois das encostas rochosas elevavam-se as montanhas com os picos cobertos de neve — a vertente setentrional dos Zagros. Deste lado, perto dos pântanos e riachos que iam dar no porto, a poucos quilômetros dali, localizava-se um dos numerosos oleodutos que entrecruzavam toda a região. O oleoduto era de aço, com meio metro de diâmetro e se apoiava em um cavalete de concreto que penetrava numa galeria sob a estrada prosseguindo, depois, pelo subsolo. A menos de dois quilômetros, a leste, havia uma aldeia — escondida, empoeirada, cor de terra, com casas feitas de barro — e vindo dessa direção, um pequeno carro. Era velho e amassado e andava devagar, mas o motor trabalhava bem, bem demais para o estado da carroceria.

Dentro do carro havia quatro iranianos. Eram jovens, não usavam barba e estavam mais bem vestidos do que o normal, embora todos estivessem manchados de suor e demonstrassem extremo nervosismo. Perto da galeria, o carro parou. Um rapaz de óculos saltou do banco dianteiro e fingiu que urinava na beira da estrada, com os olhos observando tudo em volta.

— Está tudo certo — disse.

Imediatamente, os dois rapazes de trás saltaram, carregando uma mala grossa e pesada, e se enfiaram na galeria. O rapaz de óculos abotoou-se e depois, casualmente, foi até a mala do carro e abriu-a. Embaixo de um pedaço de lona rasgada viu o nariz arrebitado da metralhadora de fabricação tcheca. Ficou um pouco mais calmo.

O motorista desceu e urinou abundantemente dentro da vala.

— Estava com vontade, mas não consegui, Mashoud — disse o rapaz de óculos, invejando-o. Enxugou o suor do rosto e ajeitou os óculos.

— Nunca consigo urinar antes de uma prova — disse Mashoud e riu. — Deus permita que a universidade logo torne a abrir.

— Deus! Deus é o ópio das massas — atalhou o rapaz de óculos, com desprezo, desviando em seguida sua atenção para a estrada.

Ainda estava deserta, tanto quanto podiam ver, nas duas direções. Para o sul, a poucas milhas dali, o sol brilhava nas águas do Golfo. Acendeu um cigarro. Seus dedos tremiam. O tempo passava muito devagar. Ouviam-se as moscas voando, o que fazia o silêncio parecer ainda maior. Percebeu, então, uma nuvem de poeira na estrada, do outro lado da aldeia.

— Olhem!

Juntos, tentaram enxergar ao longe.

— São caminhões de carga ou do Exército? — perguntou Mashoud, ansiosamente, e correu para a galeria gritando: — Depressa, vocês dois. Vem vindo alguma coisa!

— Está bem — respondeu uma voz lá de dentro.

— Estamos quase acabando — disse outra voz.

Os dois rapazes na galeria estavam com a mala aberta, e colocavam os sacos achatados de explosivo, a esmo, ao longo do oleoduto. Este era coberto por uma camada de lona e piche como proteção contra a erosão.

— Dê-me o detonador e o rastilho, Ali — disse o mais velho, com voz rouca. Estavam ambos imundos, agora, com a poeira grudada no suor.

— Tome — Ali entregou-lhe as coisas cuidadosamente, com a camisa grudada no corpo.