— Perfeito — Zarah disse amavelmente. Acho que devemos ficar gratos por ele ter chegado sozinho e não ter trazido um dos seus amiguinhos. E é verdade, ele realmente cheira ao lixo que vende. — Você organizou tudo com perfeição, meu querido Meshang.
— Sim, sim. Está tudo correndo conforme planejei.
PERTO DE JALEH: Para alcançar a pequena pista de grama, antiga sede de um aeroclube agora abandonado, Lochart tinha contornado a cidade e voado baixo para evitar ser visto por algum radar. Durante todo o caminho desde D'Arcy 1908, ele mantivera o seu rádio sintonizado com o Aeroporto Internacional de Teerã, mas o canal estava silencioso, o aeroporto estava fechado por causa do Dia Santo, nenhum vôo tinha sido permitido. Ele tivera o cuidado de chegar ao anoitecer. Quando desligou os motores e ouviu os muezins, ficou satisfeito. Até agora tudo bem.
A porta do hangar estava enferrujada. Com alguma dificuldade ele conseguiu abri-la e empurrou o 206 para dentro. Depois tornou a fechar a porta e começou a longa caminhada. Estava usando as suas roupas de piloto e, se fosse parado, planejava dizer que era um piloto comercial cujo carro tinha enguiçado e que ia passar a noite com alguns amigos.
Quando chegou aos arredores de Teerã, as estradas foram se tornando cada vez mais cheias, com pessoas indo e vindo das mesquitas, sem alegria nem cor, só uma apreensão sombria.
Não havia muito tráfego, exceto por alguns veículos militares cheios de Faixas Verdes. Não havia soldados nem policiais uniformizados. Quem controlava o tráfego eram jovens Faixas Verdes. A cidade estava voltando à ordem. Nenhuma mulher vestida com roupas ocidentais, todas usando chadors.
Alguns xingamentos foram dirigidos a ele, não muitos. Alguns cumprimentos — o seu uniforme de piloto dava-lhe um ar de respeito. Entrando mais na cidade, ele encontrou um bom lugar para esperar por um táxi perto de um mercado. Enquanto esperava, comprou uma garrafa de refrigerante, pegou um pedaço de pão fresco e começou a mastigá-lo. O vento da noite aumentou um pouco, mas o braseiro era alegre e convidativo.
— Saudações. Os seus documentos, por favor.
Os Faixas Verdes eram jovens, educados, alguns com um começo de barba. Lochart mostrou-lhes a sua identidade que estava carimbada e em dia e eles a devolveram depois de alguma discussão.
— Para onde o senhor vai, podemos saber? De propósito, num farsi atroz, ele disse:
— Visitar amigos, perto bazar. Carro enguiçou. Insha'Allah. — Ele os ouviu falando entre eles, dizendo que pilotos eram inofensivos, que este aqui era canadense, isto não faz parte do Grande Satã? Não, acho que não.
— Que a paz esteja com o senhor — eles disseram e se afastaram. Ele foi até a esquina e ficou olhando o tráfego, o cheiro da cidade era forte — gasolina, temperos, fruta podre, urina, suor e morte. Os seus olhos atentos enxergaram um táxi só com dois homens atrás e um na frente, numa esquina que estava bloqueada por um caminhão que fazia uma curva. Sem hesitar, ele se enfiou no meio dos carros, empurrou um outro homem, tirando-o do caminho, abriu a porta e se jogou lá dentro, pedindo muitas desculpas em farsi e implorando aos ocupantes que permitissem que ele os acompanhasse. Depois de alguns xingamentos, alguma discussão, o motorista verificou que o bazar ficava bem no caminho que ele tinha combinado com os outros, todos passageiros individuais que também tinham forçado lugar.
— Com a ajuda de Deus, a sua parada será a segunda, Excelência.
Eu consegui, pensou exultante, depois permitiu que outros pensamentos viessem à superfície: espero que os outros também consigam. Duke e Scrag, Rudi, todos eles, Freddy e o velho Mac.
BAHRAIN — AEROPORTO INTERNACIONAL: 20:50H. Jean-Luc, em pé no heliporto, focalizou o binóculo nos dois 212 que estavam no final da pista, com as luzes de navegação acesas. Eles tinham recebido autorização para um pouso imediato e se aproximavam rapidamente. Ali perto estava uma ambulância, um médico e o funcionário da Imigração, Yusuf. O céu estava claro e coberto de estrelas, a noite agradável, com um vento fraco e quente.
O 212 que vinha na frente virou um pouco e agora Jean-Luc pôde ler as letras do registro. G-HUVX. Britânico. Graças a Deus, eles tiveram tempo em Jellet, pensou, reconheceu Pettikin na cabine de comando, depois dirigiu o binóculo para o outro 212 e viu Ayre e Kyle, o mecânico.
Pettikin desceu. Matias e Jean-Luc se aproximaram, Matias em direção a Pettikin, Jean-Luc à porta da cabine. Ele abriu-a.
— Olá, Genny. Como está ele?
— Ele não parece estar respirando. — Ela estava branca.
Jean-Luc viu McIver deitado no chão, com um salva-vida sob a cabeça. Há vinte minutos atrás, Pettikin tinha comunicado à torre de Bahrain que um dos seus tripulantes, McIver, parecia estar sofrendo um ataque cardíaco, solicitou urgentemente um médico e uma ambulância. A torre tinha providenciado imediatamente.
O médico entrou rapidamente na cabine e ajoelhou-se ao lado de McIver. Um olhar foi o suficiente. Ele usou a injeção que tinha preparado.
— Isto vai fazê-lo melhorar rapidamente e nós o teremos no hospital dentro de poucos minutos. — Em árabe ele chamou os enfermeiros e eles entraram correndo. — Eu sou o dr. Lanoire, por favor, conte-me o que aconteceu.
— É um ataque cardíaco? — Ela perguntou.
— Sim, é. Não muito grave — disse o médico, querendo acalmá-la. Ele era meio-francês, meio-Bahrain, muito bom, e eles tinham tido sorte de consegui-lo em tão pouco tempo. Atrás dele os enfermeiros tinham posto McIver em uma maca e já o retiravam cuidadosamente do helicóptero.
— Ele... meu marido, ele de repente engasgou e deu uma espécie de ronco, "Eu não posso respirar", depois se dobrou em dois de dor e desmaiou. — Ela limpou o suor do rosto e continuou na mesma voz neutra: — Eu achei que devia ser um ataque cardíaco e não sabia o que fazer, então me lembrei do que o velho doutor Nutt disse quando fez uma conferência para todas as esposas e abri o colarinho de Duncan e o deitamos no chão, então eu encontrei as... as cápsulas que ele nos tinha dado e coloquei uma debaixo do nariz dele e quebrei-a...
— Nitrato?
— Sim, foi isto. O doutor Nutt deu duas para cada uma de nós e nos disse para guardá-la em lugar seguro e nos ensinou como usá-las. O cheiro é horrível, mas Duncan gemeu e voltou a si, e depois tornou a desmaiar. Mas ele estava respirando, mal, mas respirando. Estava difícil de ver e de ouvir dentro da cabine, mas eu achei que ele tinha parado de respirar outra vez e ministrei-lhe a última cápsula, e ele pareceu melhorar de novo.
O médico estava observando a maca. Assim que ela foi colocada dentro da ambulância, ele disse para Jean-Luc:
— Capitão, por favor leve madame McIver para o hospital dentro de meia hora, aqui está o meu cartão, eles saberão onde me encontrar.
Genny disse rapidamente:
— O senhor não acha melhor... O médico respondeu com firmeza:
— A senhora ajudará mais deixando-nos fazer o nosso trabalho durante meia hora. A senhora já fez o seu, salvou a vida dele, eu acho. — E se afastou depressa.
TEERÃ — NA CASA DOS BAKRAVAN: 20:59H. Zarah estava diante da mesa, vendo se estava tudo pronto. Pratos, talheres e guardanapos de linho branco. Tijelas de horishts variados, carnes e legumes, pão fresco e frutas frescas, doces e condimentos. Só faltava trazer o arroz e isto seria feito quando ela anunciasse que o jantar estava servido.
— Ótimo — disse para os criados e foi para a outra sala.
Os convidados ainda estavam conversando, mas ela viu que no momento Xarazade estava sozinha, perto de Daranoush que conversava animadamente com Meshang. Disfarçando a tristeza, ela foi até lá.