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— Minha querida, você parece tão cansada. Você está se sentindo bem?

— É claro que ela está bem — Meshang disse alto, cheio de animação. Xarazade forçou um sorriso num rosto que estava muito pálido.

— É a excitação, Zarah, é só excitação. — Então ela disse para Farazan: — Se o senhor não se importar, Excelência Daranoush, eu não vou acompanhá-lo no jantar esta noite.

— Por que, o que foi que houve? — Meshang disse asperamente — Você está doente?

— Oh, não, meu querido irmão, é só excitação. — Xarazade concentrou a sua atenção no homenzinho. — Talvez eu possa vê-lo amanhã? Talvez possamos jantar juntos amanhã?

Antes que Meshang pudesse responder por ele, Daranoush disse:

— É claro, minha querida — aproximou-se dela e beijou-lhe a mão, e ela teve que usar toda a sua força de vontade para não recuar. — Nós jantaremos juntos amanhã. Talvez a senhora, Sua Excelência Meshang e Zarah me dêem a honra de jantar na minha pobre casa. — E deu uma risadinha. Seu rosto ficou ainda mais grotesco. — Na nossa pobre casa.

— Obrigado, eu acho a idéia formidável. Boa noite, que a paz esteja com o senhor.

— E com você também.

Ela foi igualmente gentil com o irmão e Zarah, depois virou-se e saiu. Daranoush observou-a afastando-se, o balanço dos seus quadris e das nádegas. Meu Deus, olhe só para ela, ele disse a si mesmo com desejo, imaginando-a nua, mexendo-se para ele. Eu fiz um trato ainda melhor do que esperava. Quando Meshang propôs o casamento, eu só me deixei convencer pelo dote, junto com as promessas de uma futura sociedade no bazar — coisas substanciais, como evidentemente deveria ser, em se tratando de uma mulher grávida de um estrangeiro. Mas agora, por Deus, eu não acho que será difícil dormir com ela, fazê-la tratar-me como eu gosto, e talvez fazer filhos meus. Quem sabe, talvez seja como Meshang disse, talvez ela perca o que está carregando. Talvez ela o perca.

Ele se coçou distraidamente enquanto ela saía da sala.

— Agora, onde é mesmo que nós estávamos, Meshang?

— Sobre a minha sugestão de um novo banco...

Xarazade fechou a porta e subiu as escadas correndo. Jari estava no quarto dela, cochilando numa cadeira.

— Oh, princesa, como...

— Eu vou para a cama agora, Jari. Você pode sair e eu não quero ser incomodada, Jari, por ninguém, seja qual for o motivo. Nós conversaremos na hora do café.

— Mas, princesa, eu vou dormir na cadeira... Xarazade bateu com os pés, aborrecida.

— Boa noite! E eu não quero ser incomodada! — Trancou a porta depois que ela saiu, tirou os sapatos barulhentamente e depois, sem fazer barulho, trocou de roupa rapidamente. Colocou o véu e o chador. Cautelosamente, ela abriu a porta que dava para o balcão e saiu. As escadas davam para um pátio interno e lá havia um corredor que levava a uma porta nos fundos. Ela abriu os ferrolhos. As dobradiças rangeram. Então ela saiu e fechou a porta. Enquanto se afastava rapidamente, o seu chador ondulava atrás dela como se fosse uma grande asa negra.

No salão de recepção, Zarah olhou para o relógio e foi até Meshang.

— Querido, você gostaria que o jantar fosse servido agora?

— Daqui a pouco, você não está vendo que Sua Excelência e eu estamos ocupados?

Zarah suspirou, depois foi conversar com uma amiga, mas parou quando ouviu o porteiro entrar com um ar de ansiedade, e olhar em volta à procura de Meshang, depois ir rapidamente até onde ele estava e cochichar. Meshang ficou pálido. Daranoush Farazan ficou sem fala. Ela correu para eles.

— O que está acontecendo?

Meshang mexeu com a boca mas não produziu nenhum som. No súbito silêncio que se seguiu, o criado assustado exclamou:

— Há alguns Faixas Verdes aqui, Alteza, Faixas Verdes e um mulá. Eles querem ver Sua Excelência imediatamente.

No grande silêncio que se fez, todo mundo recordou a prisão de Paknouri e a intimação de Jared e todas as outras prisões, execuções e rumores de mais terror, mais komitehs, as cadeias cheias de amigos, fregueses e parentes. Daranoush estava quase louco de raiva por estar naquela casa numa hora dessas, com vontade de rasgar as roupas por ter concordado tolamente em se juntar com a família Bakravan, já condenada por causa da agiotagem de Jared — a mesma agiotagem de que eram culpados todos os prestamistas do bazar, mas só que Jared tinha sido apanhado! Filho de um cão e eu concordei publicamente com o casamento e concordei em particular em participar dos planos de Meshang, planos que agora eu posso ver, oh Deus, proteja-me, que são perigosamente modernos, perigosamente ocidentais, e claramente contra os desejos e as ordens do imã. Filho de um cão, deve haver uma saída pelos fundos desta casa de condenados.

Os quatro Faixas Verdes e o mulá estavam na sala para onde o criado os havia levado, sentados de pernas cruzadas e recostados em almofadas de seda. Eles tinham tirado os sapatos e os deixado ao lado da porta. Os jovens estavam de olhos arregalados com a riqueza que os cercava, suas armas pousadas no tapete, ao lado deles. O mulá usava belas roupas e um bonito turbante branco e era um homem imponente de uns sessenta anos, com uma barba branca e espessas sobrancelhas escuras, um rosto forte e olhos negros.

A porta se abriu, Meshang entrou na sala como um autômato. Ele estava branco e sua cabeça doía com a intensidade do seu terror.

— Saudações... saudações, Excelência...

— Saudações. O senhor é Excelência Meshang Bakravan? — Meshang balançou afirmativamente a cabeça. — Ah, então meus cumprimentos e que a paz esteja com o senhor, Excelência, por favor, desculpe-me por vir tão tarde, mas eu sou o mulá Sayani e vim em nome do komiteh. Nós acabamos de descobrir sobre Sua Excelência Bakravan e eu vim contar-lhe que embora tenha sido vontade de Deus, Sua Excelência não foi condenado de acordo com a lei, foi morto por engano, sua propriedade foi confiscada por engano, e tudo será devolvido imediatamente.

Meshang ficou olhando para ele, sem fala.

— O governo islâmico tem o compromisso de executar a lei de Deus. O mulá franziu as sobrancelhas enquanto continuava: — Deus sabe que nós não podemos controlar todos os fanáticos ou ignorantes. Deus sabe que há alguns que, por excesso de zelo, cometem erros. E Deus sabe também que há muitos que usam a revolução para fazer o mal, sob uma capa de 'patriotismo', muitos que torcem o Islã para atender aos propósitos sujos, muitos que não obedecem à palavra de Deus, muitos que agem para nos desmoralizar, mesmo alguns que usam falsamente o turbante, muitos que não merecem o turbante, mesmo alguns aiatolás, mesmo eles, mas com a ajuda de Deus nós arrancaremos os seus turbantes, limparemos o Islã e acabaremos com o mal, onde quer que ele esteja...

As palavras não estavam alcançando Meshang. Sua mente estava explodindo de esperança.

— Ele... meu pai... eu vou recuperar... as minhas propriedades?

— O nosso governo islâmico é o governo da lei. A realeza pertence exclusivamente a Deus. A lei do Islã tem absoluta autoridade sobre todos — inclusive o governo islâmico. Mesmo o Mais Nobre Mensageiro, que a paz esteja com ele, esteve sujeito à lei que apenas Deus revelou, exposta unicamente pela palavra do Corão. — O mulá se levantou. — Foi a vontade de Deus, mas Sua Excelência Jared Bakravan não foi julgado de acordo com a lei.

— Isto... isto é verdade?

— Sim, é a vontade de Deus, Excelência. Tudo será devolvido. O seu pai não nos deu o seu apoio generosamente? Como pode o governo islâmico florescer sem a ajuda e o apoio dos bazaris, como podemos existir sem os bazaris para lutar contra os inimigos do Islã, os inimigos do Irã e o Infiel?...

DO LADO DE FORA DO BAZAR: O táxi parou na praça cheia de gente. Lochart saltou e pagou o motorista enquanto dois de uma massa de passageiros em potencial, uma mulher e um homem, brigavam pelo espaço que ele tinha deixado. A praça estava cheia de gente entrando e saindo da mesquita e do bazar e em volta das barracas. Prestaram pouca atenção nele, seu uniforme e seu quepe dando-lhe passagem livre. A noite estava fria e nublada. O vento tinha aumentado de novo e agitava as chamas dos lampiões a óleo dos vendedores de rua. Do outro lado da praça ficava a rua dos Bakravan e ele caminhou rapidamente, dobrou a esquina e se afastou para deixar o mulá Sayani e os Faixas Verdes passarem, depois continuou andando.