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Mais aplausos e todos concordaram e Meshang tinha bebido uma segunda taça de champanhe, exultante com as novas possibilidades que se abriam diante dele: o novo contrato para o lixo do bazar que ele, como a parte ofendida, evidentemente receberia, um novo consórcio para financiar o governo sob sua coordenação e maior lucro, novas associações com ministros mais importantes do que Ali Kia — onde está aquele filho da mãe? — novos acordos nos campos de petróleo, monopólios para manobrar, um novo casamento para Xarazade, tão fácil de conseguir agora, quem não haveria de querer entrar para a sua família, a família de bazaris? Não havia mais necessidade de pagar um dote exorbitante, o que eu concordei porque não havia outro jeito. Todas as minhas propriedades de volta, as propriedades nas costas do Cáspio, ruas de casas em Jaleh, apartamentos nos subúrbios ao norte da cidade, terras, pomares, campos e aldeias, tudo de volta.

Depois o criado estragando a sua alegria, murmurando que Lochart tinha voltado, que já estava dentro da casa, lá em cima. Ele correndo para cima e agora olhando, impotente, o homem que ele tanto detestava interrogando Jari, com Zarah ouvindo atentamente.

Com esforço, ele se concentrou. Jari estava dizendo, entre soluços:

— Eu não tenho certeza, Excelência... ela... ela só... só me disse que o rapaz que tinha salvado a vida dela na primeira marcha de protesto das mulheres era estudante.

— Ela alguma vez se encontrou com ele sozinha?

— Oh, não, Excelência, não, como eu disse, nós o conhecemos na marcha e ele nos convidou para tomar café para nos recuperarmos — disse Jari. Ela estava apavorada de ser apanhada mentindo, mas mais apavorada ainda em contar o que tinha realmente acontecido. Que Deus nos proteja, ela rezou. Para onde ela foi, para onde?

— Como era o nome dele, Jari?

— Eu não sei, Excelência, pode ter sido Ibrahim ou... ou Ismael, eu não sei, eu já disse, ele não era importante.

A cabeça de Lochart estava latejando. Nenhuma pista, nada. Aonde ela poderia ter ido? Para a casa de um amigo? Para a universidade? Para outra marcha de protesto? Não se esqueça dos boatos no mercado sobre uma nova manifestação estudantil, hoje à noite eram esperadas novas manifestações de protesto, novas marchas, Faixas Verdes contra esquerdistas, mas todas as marchas desfavoráveis ao imã tinham sido proibidas pelo komiteh e a paciência do komiteh já tinha se esgotado.

— Jari, você tem que ter alguma idéia, algum modo de nos ajudar! Meshang disse com a voz guturaclass="underline"

— Vou mandar chicoteá-la. Ela sabe.

— Eu não sei, não sei... — Jari gemeu.

— Cale a boca, Jari! — Lochart virou-se para Meshang, com o rosto pálido e cheio de ódio. — Eu não sei para onde ela foi, mas sei o porquê: você a obrigou a se divorciar, e eu juro por Deus que se acontecer alguma coisa com ela, qualquer coisa, você vai pagarl

Meshang gritou:

— Você a abandonou, você a deixou sem um tostão, você a abandonou e está divorciado, vo...

— Lembre-se, você vai pagar! E se você impedir a minha entrada nesta casa quando eu voltar ou quando ela voltar, por Deus, você vai pagar por isto também! — À beira da loucura, Lochart dirigiu-se para as portas francesas

Zarah disse rapidamente:

— Aonde você vai?

— Eu não sei... eu... para a universidade. Talvez ela tenha ido participar de outra marcha, embora eu não saiba por que teria fugido para fazer isso...

Lochart não conseguiu articular o seu verdadeiro medo: de que a sua revolta fosse tão extrema que sua mente tivesse ficado perturbada e que ela tivesse resolvido se matar. Oh, não suicídio, mas quantas vezes no passado ela tinha dito: "Nunca se preocupe comigo, Tommy. Eu sou uma crente. Eu sempre procuro fazer o trabalho de Deus e desde que eu morra fazendo o trabalho de Deus, com o nome de Deus nos meus lábios, eu irei para o paraíso."

Mas e quanto ao nosso filho? Uma mãe não poderia fazer isto, poderia, uma pessoa como Xarazade?

O quarto estava muito quieto. Por uma eternidade ele ficou lá. Então, de repente, todo o seu ser enveredou para uma outra direção. Numa voz estranhamente clara ele disse:

— Sejam testemunhas do que eu digo: Eu atesto que não há nenhum outro deus além de Deus e que Maomé é o Profeta de Deus... — E repetiu isto pela terceira vez. Agora estava feito. Ele estava em paz consigo mesmo. Ele os viu olhando para ele, boquiabertos.

Meshang quebrou o silêncio, não mais com raiva.

— Allah-u Akbarl Seja bem-vindo. Mas dizer o Shahada, por si só, não é o suficiente.

— Eu sei. Mas é o começo.

Eles o viram desaparecer na noite, todos eles encantados por terem testemunhado a salvação de uma alma, a transmutação de um infiel em um crente, de forma tão inesperada. Todos estavam cheios de alegria, vários níveis de alegria.

— Deus é Grande! Zarah murmurou:

— Meshang, isto não muda tudo?

— Sim, sim e não. Mas agora ele irá para o paraíso. Seja como Deus quiser. — De repente ele se sentiu muito cansado. Seus olhos se dirigiram para Jari e ela recomeçou a tremer. — Jari — ele disse com a mesma calma —, você será chicoteada até contar toda a verdade ou até ir para o inferno. Vamos, Zarah, não podemos nos esquecer dos nossos convidados.

— E Xarazade?

— Seja como Deus quiser.

PERTO DA UNIVERSIDADE: 21:48H. Xarazade entrou na rua principal onde Faixas Verdes e seus partidários estavam se reunindo. Milhares deles. A grande maioria era de homens. Todos armados. Os mulás os controlavam, exortando-os a manter a disciplina, a não atirar nos esquerdistas até que estes começassem a atirar, a tentar persuadi-los a desistir do seu pecado.

— Não se esqueçam de que eles são iranianos, não estrangeiros diabólicos. Deus é Grande... Deus é Grande...

— Seja bem-vinda, minha filha — um velho mulá disse bondosamente — que a paz esteja com você.

— E com o senhor também — ela disse. — Nós estamos marchando contra o antideus?

— Oh, sim, daqui a pouco, há muito tempo.

— Eu tenho um revólver — ela disse orgulhosamente, mostrando-o a ele. — Deus é Grande.

— Deus é Grande. Mas é melhor que a matança termine e que os revoltosos reconheçam a Verdade, renunciem à sua heresia, obedeçam ao imã e voltem para o Islã. — O velho viu a sua juventude e a sua decisão e ficou ao mesmo tempo feliz e entristecido. — É melhor que a matança cesse, mas se os de esquerda não pararem de se opor ao imã, que a paz de Deus esteja com ele, então, com a ajuda de Deus, os mandaremos para o inferno...

68

TABRIZ — NO PALÁCIO: 22:05H. Os três estavam sentados diante do fogo, tomando café e observando as chamas, a sala pequena e ricamente adornada, quente e aconchegante — um dos guardas de Hakim ao lado da porta. Mas não havia nenhuma paz entre eles, embora todos fingissem que sim, agora durante toda a noite. As chamas prendiam a atenção deles, cada um vendo diferentes quadros lá dentro. Erikki estava vendo a encruzilhada do caminho, sempre a encruzilhada, de um lado as chamas conduziam à solidão, de outro à felicidade — talvez sim e talvez não. Azadeh via o futuro, tentando não vê-lo.

Hakim Khan desviou o olhar do fogo e lançou o desafio.

— Você esteve distraída a noite toda, Azadeh.

— Sim. Acho que todos nós estivemos. — O seu sorriso não era verdadeiro. — Você acha que poderíamos falar em particular, nós três?

— É claro. — Hakim fez um sinal para o guarda. — Se eu precisar de você, chamarei. — O homem obedeceu e fechou a porta. Instantaneamente, a atmosfera da sala mudou. Agora todos três eram adversários, todos estavam conscientes disto, todos estavam em guarda e preparados.

— Sim, Azadeh?

— É verdade que Erikki deve partir imediatamente?

— Sim.

— Deve haver uma solução. Eu não posso agüentar dois anos sem o meu marido.