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— Hashemi Fazir, você pagou, seu comedor de merda — ele disse e cuspiu-lhe no rosto. Então ele se virou e parou. Armstrong estava acordado e olhando para ele da maca, do outro lado do porão. Frios olhos azuis. Rosto sem sangue. A falta de medo o espantou. Vou mudar isto logo, ele pensou e apanhou o canivete. Então ele notou que o braço direito de Armstrong estava fora das correias, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Armstrong tinha enfiado a mão na lapela do casaco e estava com a ponta da cápsula de cianureto perto da boca.

— Não se mexa! — Armstrong avisou.

Mzytryk era experiente demais para pensar em apressá-lo e a distância era muito grande. No seu bolso havia uma automática mas antes que ele pudesse empunhá-la ele tinha certeza que os dentes de Armstrong quebrariam a cápsula e três segundos não seriam tempo suficiente para uma vingança. A sua única esperança era que a dor de Armstrong o fizesse desmaiar ou perder a concentração. Ele se encostou na outra mesa e xingou-o.

Quando os homens da maca tinham amarrado as correias, na escuridão da ambulância, Armstrong tinha instintivamente feito força contra as correias para ter espaço suficiente para tirar o braço caso a dor se tornasse insuportável. Havia outra cápsula escondida no colarinho da sua camisa. Ele tinha assistido, tremendo, a agonia de Hashemi, agradecendo a Deus por ter conseguido soltar o braço, apesar do esforço ter sido terrível. Mas assim que ele tocou na cápsula, o terror foi embora e a dor diminuiu. Ele estava em paz consigo mesmo na beira da morte, onde a vida é tão sublime...

— Nós... nós somos profissionais — ele disse. — Nós não assassinamos o seu... o seu filho. Ele estava vivo quando... quando o general Janan foi buscá-lo para entregá-lo a Pahmudi.

— Mentiroso! — Mzytryk sentiu a fraqueza da voz dele e viu que não teria que esperar muito tempo. E se preparou.

— Leia os documentos... os documentos oficiais... a Savama deve ter preparado alguns... e também os da sua maldita KGB

— Você acha que eu sou algum idiota que você possa jogar contra Pahmudi antes de morrer?

— Leia os relatórios, faça perguntas, você poderia chegar à verdade. Mas vocês da KGB não gostam da verdade. Eu estou dizendo que ele estava vivo quando a Savama o levou.

Mzytryk ficou inseguro. Não seria normal para um profissional como Armstrong, tão perto da morte, perder tempo sugerindo uma tal investigação sem estar certo do resultado.

— Onde estão as fitas? — Ele disse, vigiando-o cuidadosamente, vendo os olhos começando a pestanejar, por causa do grande cansaço pela perda do sangue. A qualquer momento agora. — Onde estão as fitas?

— Não havia nenhuma fita. Não... não do terceiro nível. — As forças de Armstrong estavam no fim. A dor tinha passado agora, junto com o tempo. Era preciso um esforço cada vez maior para se concentrar. Mas as fitas precisavam ser protegidas, uma cópia já estava a caminho de Londres junto com um relatório especial. — O seu filho era forte e corajoso e não nos revelou nada.

— O que... o que Pahmudi arrancou dele eu não sei... Os capangas de Pahmudi... foram eles ou a sua própria escória. Ele estava... vivo quando o seu bando o levou. Pahmudi contou a Hashemi.

Isto é possível, pensou Mzytryk, inquieto. Aqueles filhos da mãe em Teerã fizeram esta confusão toda no Irã, interpretaram mal o xá durante anos e estragaram o nosso trabalho de gerações.

— Eu vou descobrir. Pela alma do meu filho eu vou descobrir mas isto não vai ajudá-lo, camarada!

— Um favor merece outro. Você matou Roger, Roger Crosse, não foi? Mzytryk riu, feliz em atormentá-lo e aproveitar a espera.

— Fui eu que planejei isto sim. E AMG, lembra-se dele? E Talbot, mas eu disse a Pahmudi para usar o seu comedor de merda, Fazir, para este 16/a.

— Ele viu os olhos azuis estreitarem e imaginou o que estaria por trás deles.

Armstrong estava vasculhando a memória. AMG? Ah, sim, Alan Medford Grant, nascido em 1905, chefe dos agentes da contra-inteligência. Em 1963, como informante secreto de Ian Dunross, ele tinha apontado uma infiltração na Casa Nobre. E outra no meu Setor Especial, e que por acaso era o meu melhor amigo.

— Mentiroso! AMG foi morto num acidente de motocicleta em 1963!

— Foi ajudado. Nós tínhamos um 16/a naquele traidor havia mais de um ano, e na sua esposa japonesa.

— Ele não era casado.

— Vocês não sabem de nada. Setor Especial? Cabeças de Bagre. Ela era do serviço secreto japonês. Ela sofreu um acidente em Sydney naquele mesmo ano.

Armstrong permitiu-se um pequeno sorriso. O 'acidente' de motocicleta de AMG tinha sido planejado pela KGB mas tinha sido encenado pelo M16. O atestado de óbito era genuíno, mas era de outra pessoa, e Alan Medford Grant ainda está operando, embora com um rosto diferente e com outro nome que nem mesmo eu conheço. Mas uma esposa? Japonesa? Seria isto outra cortina de fumaça, ou outro segredo? Engrenagens dentro de engrenagens...

O passado acenava para Armstrong. Com esforço, ele concentrou a mente naquilo que queria realmente saber, para verificar se estava certo ou errado, não havia mais nenhum tempo a perder.

— Quem é o quarto homem? O arquitraidor?

A pergunta ficou suspensa no porão. Mzytryk ficou perplexo e depois sorriu, pois Armstrong tinha-lhe dado a chave para se vingar psicologicamente Ele contou e viu o seu choque. E contou o nome do quinto e do sexto.

— O M16 está cheio de agentes nossos, bem como o Ml5, e a maioria dos seus sindicatos. Ted Everley é um dos nossos, Broadhurst e Lord Grey. Você se lembra dele de Hong Kong? E não só no Partido Trabalhista, embora eles sejam os nossos melhores aliados. Nomes? — Ele disse exultante, sabendo que estava seguro. — Procure no Who's Who! Nos bancos, na City, no Ministério do Exterior. Henley é outro dos nossos e eu já recebi uma cópia do seu relatório, procure no Gabinete, talvez até mesmo em Downing Street. Nós temos uns quinhentos profissionais na Inglaterra, sem contar com os seus próprios traidores. — O seu riso era cruel.

— E Smedley-Taylor?

— Oh, sim, ele também e... — Repentinamente, Mzytryk parou de se gabar, em guarda. — Como você sabe sobre ele? Se você sabe sobre ele... Hein?

Armstrong estava satisfeito. Fedor Rakoczy não tinha mentido. Todos aqueles nomes estavam nas fitas que já tinham seguido, que estavam em segurança, Henley não tinha merecido confiança nunca, nem Talbot. Ele estava contente mas triste, com pena por não poder estar por perto para agarrá-los. Alguém o fará. AMG o fará.

Seus olhos pestanejaram, sua mão escorregou da lapela do casaco. Na mesma hora, Mzytryk atravessou o espaço que os separava, movendo-se com muita rapidez para um homem tão grande, prendendo-lhe o braço com a perna, rasgando a lapela, e agora Armstrong estava à sua mercê.

— Acorde, seu matyeryebyets. — disse exultante, empunhando o canivete. — Como você soube de Smedley-Taylor?

Mas Armstrong não respondeu. A morte tinha vindo silenciosamente. Mzytryk estava com raiva, com a cabeça estalando.

— Não faz mal, ele se foi, não preciso perder meu tempo. — Ele resmungou alto. O filho da mãe foi para o inferno sem saber que era um instrumento de traidores, de alguns deles. Mas como foi que ele soube a respeito de Smedley? Ele que vá para o inferno. E se ele tiver dito a verdade a respeito do meu filho?

Num canto do porão havia uma lata de querosene. Ele começou a derramá-lo sobre os corpos, sua raiva se dissipando.

— Ismael! — Ele chamou da escada. Quando terminou o querosene, atirou a lata num canto. Ismael e outro homem desceram até o porão. — Vocês estão prontos para partir? — perguntou Mzytryk.

— Sim, com a ajuda de Deus.

— E com a ajuda de nós mesmos também — Mzytryk falou suavemente. Ele enxugou as mãos, cansado mas satisfeito com o resultado do dia e da noite. Agora era só ir até os arredores de Tabriz onde estava o seu helicóptero. Uma hora — menos — até a fazenda em Tbilisi e Vertinskya. Dentro de poucas semanas o jovem Hakim vai chegar, com ou sem o meu pishkesh, Azadeh. Se for sem, isto vai lhe custar caro. — Acenda o fogo — ele disse secamente — e então iremos embora.