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— Tem certeza que sabe o que fazer, Bijan?

— Estudamos aquele panfleto durante horas. Não treinamos fazer isto de olhos fechados? — Bijan deu um sorriso forçado. — Somos iguais a Robert Jordan em Por quem os sinos dobram. Iguaizinhos a ele.

— Espero que os sinos não estejam dobrando por nós — retrucou o outro, estremecendo.

— Mesmo que estejam, que importa? O partido vai conquistar o poder e as massas serão vitoriosas.

Os dedos inexperientes de Bijan prenderam desajeitadamente o detonador de nitroglicerina, altamente volátil, num dos explosivos, ligando uma das pontas do rastilho ao detonador, e empilhou o resto dos sacos em cima para prendê-lo no lugar.

Mashoud tornou a chamar, com uma voz ainda mais urgente:

— Depressa, são... achamos que são caminhões do Exército cheios de soldados!

Por um instante, os dois rapazes ficaram paralisados, depois desenrolaram o rastilho, tropeçando um no outro, no seu nervosismo. Sem que notassem, a ponta do rastilho que estava presa ao detonador soltou-se. Esticaram o fio de três metros de comprimento no chão, acenderam a ponta e saíram correndo. Bijan deu uma olhada para checar tudo, viu que uma das pontas queimava bem e ficou horrorizado quando percebeu que a outra ponta estava solta. Voltou correndo, prendeu-a, tremendo, no detonador, e escorregou, atirando o detonador contra a parede de concreto.

A nitroglicerina explodiu e fez o saco de explosivos ao lado ir pelos ares, este fez explodir o próximo, e assim por diante até que todos explodiram e fizeram Bijan em pedaços junto com dez metros do oleoduto, arrancando o teto da galeria, virando o carro, matando dois dos rapazes e arrancando uma perna do quarto.

Começou a jorrar petróleo do oleoduto. Centenas de barris por minuto. O petróleo deveria ter incendiado, mas isso não aconteceu — os explosivos tinham sido mal colocados — e quando os dois caminhões do Exército pararam cautelosamente a centenas de metros de distância, o vazamento de óleo já alcançara o riacho. Os óleos mais leves, gasosos, voláteis, flutuaram na superfície, e o óleo crú, mais pesado, começou a se infiltrar nas margens, encharcando o solo, tornando toda a região altamente perigosa.

Nos dois caminhões havia uns vinte Faixas Verdes de Khomeini, a maioria de barba, os outros com o rosto sem barbear, todos usando suas faixas características nos braços — camponeses, alguns operários de campos de petróleo, um líder treinado pela OLP, um mulá — todos armados, todos com marcas de batalha, alguns feridos, e um capitão da polícia uniformizado, amarrado e amordaçado no chão, ainda vivo. Tinham acabado de atacar um posto policial ao norte e agora rumavam para Bandar Delam para continuar a guerra. Sua missão era ajudar a tomar o aeroporto civil que ficava a alguns quilômetros para o sul.

Liderados pelo mulá, foram até a beirada da galeria arrebentada. Por um instante, ficaram observando o vazamento, então um gemido atraiu-lhes a atenção. Empunharam os revólveres e caminharam cautelosamente até o carro virado. O rapaz sem a perna estava preso até a cintura debaixo dele, morrendo. Moscas voavam, pousavam e tornavam a voar, havia sangue e vísceras por toda parte.

— Quem é você? — perguntou o mulá, sacudindo-o rudemente. — Por que fizeram isso?

O rapaz abriu os olhos. Sem os óculos, tudo ficava embaçado. Às cegas, tentou encontrá-los. O medo da morte se apoderou dele. Tentou recitar o Shahada, mas só o que saiu foi um grunido de terror. O sangue inundou-lhe a garganta, sufocando-o.

— Seja como Deus quiser — disse o mulá, virando as costas. Viu os óculos quebrados no chão e apanhou-os. Uma das lentes estava partida, a outra perdera-se.

— Por que fariam isso? — perguntou um dos Faixas Verdes. — Ainda não temos ordens de sabotar os oleodutos.

— Devem ser comunistas, ou abutres marxistas-islâmicos. — O mulá jogou os óculos fora. Seu rosto estava machucado, a túnica comprida rasgada em alguns lugares e estava faminto. — Parecem estudantes. Que Deus mate todos os Seus inimigos assim tão depressa.

— Ei, olhem isto — exclamou um outro. Estava revistando o carro e encontrara três metralhadoras e algumas granadas. — Todas de fabricação tcheca. Só os esquerdistas andam tão bem armados assim. Estes cães são mesmo inimigos.

— Deus seja louvado. Ótimo. As armas nos serão úteis. Podemos contornar a galeria com o caminhão?

— Oh, sim, facilmente, graças a Deus — disse o motorista, um homem barbado e corpulento. Era operário de um dos campos de petróleo e entendia de oleodutos. — É melhor comunicarmos esta sabotagem — acrescentou, nervoso. — Toda esta área pode explodir. Poderia telefonar para a estação de bombeamento, se houver algum telefone funcionando; ou mandar um recado; eles podem cortar o fluxo. É melhor andarmos depressa. Toda esta área está correndo perigo e o vazamento vai poluir tudo, rio abaixo.

— Isto está nas mãos de Deus. — O mulá ficou olhando o óleo se espalhar. — Não é correto desperdiçar a riqueza que Deus nos concedeu. Bom, você pode tentar telefonar do aeroporto. — O rapaz deu outro grito sufocado de socorro. Eles o deixaram ali para morrer.

AEROPORTO DE BANDAR DELAM: 17:30H. O aeroporto civil estava desguarnecido, abandonado e não funcionava, exceto pelo contingente da S-G que chegara ali há poucas semanas, vindo da ilha Kharg. O aeroporto tinha duas pistas curtas, uma torre pequena, alguns hangares, um prédio de escritórios com dois andares, algumas barracas, e agora uns poucos trailers modernos — de propriedade da S-G — para servir temporariamente de abrigo e QG. Era igual a dúzias de outros aeroportos civis que o xá construíra para as linhas de fornecimento que serviam a todo o Irã: "Vamos ter aeroportos e serviços modernos." Decretara e assim foi feito. Mas desde que começaram os problemas, há seis meses, todas as linhas internas tinham entrado em greve, em todo o Irã os aviões pararam de voar e os aeroportos fecharam. As tripulações e as equipes de terra desapareceram. A maioria dos aviões foram deixados ao ar livre, sem manutenção nem cuidado. Dos três jatos estacionados no pátio, dois estavam com os pneus furados e o outro tinha a janela da cabine quebrada. Todos tiveram os tanques esvaziados por saqueadores. Todos estavam imundos, quase abandonados. E tristes.

Fazendo um enorme contraste com eles, enfileiravam-se meticulosamente os cinco cintilantes helicópteros da S-G, três 212 e dois 206, lavados diariamente e revisados no final do dia. O sol agora estava baixo, projetando sombras alongadas.

O capitão Rudiger Lutz, o piloto-chefe, foi até o último helicóptero e inspecionou-o com o mesmo cuidado com que inspecionara os outros.

— Muito bem — disse finalmente. — Podem guardá-los.

Ficou observando enquanto os mecânicos e sua equipe de terra iraniana levavam as aeronaves de volta para os hangares que também estavam impecáveis. Sabia que muitos membros da equipe riam dele pelas costas, por causa de sua meticulosidade, mas isso não tinha importância — contanto que obedecessem. Este é o nosso problema mais difícil, pensou. Como fazê-los obedecer, como agir numa situação de guerra quando não somos governados por leis militares e somos não-combatentes no meio de uma situação de guerra, quer Duncan McIver admita ou não.

Esta manhã, Duke Starke, em Kowiss, retransmitira em HF a mensagem tensa de McIver, de Teerã, a respeito dos rumores de ataque ao aeroporto de Teerã e da revolta em uma de suas bases aéreas — por causa da distância e das montanhas, Bandar Delam não podia falar diretamente com Teerã nem com as outras bases, só com Kowiss. Preocupado, Rudi reunira toda a sua equipe de estrangeiros, quatro pilotos e sete mecânicos — sete ingleses, dois americanos, um alemão e um francês — em um lugar onde ninguém pudesse ouvi-los e relatara-lhes a mensagem.

— Não foi tanto o que Duke disse, mas a forma como disse: me chamou o tempo todo de Rudiger, quando sempre me chama de Rudi. Ele me pareceu nervoso.