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— Não se preocupe. Vamos esperar mais um pouco e depois continuamos.

— Eles falavam em inglês, baixinho, havia tanto o que contar, tanto o que perguntar. — Você tem certeza de que está bem?

— Sim, oh, sim. Como foi que você conseguiu me achar? Como? Quando foi que você voltou? Como foi que você me achou?

— Eu... eu voltei esta noite e fui até a sua casa, mas você não estava lá.

— Então ele desabafou: — Xarazade, eu me tornei muçulmano.

Ela o olhou sem acreditar,

— Mas... mas foi só um truque, um truque para escapar deles.

— Não, eu juro! É verdade. Eu recitei o Shahada na frente de três testemunhas, Meshang, Zarah e Jari, e eu acredito. Eu realmente acredito. Vai dar tudo certo agora.

Suas dúvidas se dissiparam ao ver a alegria dele, ao ouvi-lo repetir o que tinha acontecido.

— Oh, que maravilha, Tommy! — disse, fora de si de felicidade e ao mesmo tempo estranhamente convencida de que, para eles, nada iria mudar. Nada fará Meshang mudar, ela pensou. Meshang encontrará um meio de nos destruir, seja o meu Tommy um crente ou não. Nada irá mudar, o divórcio não será anulado, o casamento não será desfeito. A não ser que...

Seus temores se dissiparam.

— Tommy, nós podemos sair de Teerã esta noite? Podemos fugir esta noite, meu querido?

— Isto não é mais necessário, agora não. Eu tenho planos maravilhosos. Eu saí da S-G. Agora que sou muçulmano, posso ficar e trabalhar para a IranOil, você não está vendo?

Os dois não viram a multidão crescendo, loucos para estarem em casa.

— Não precisa se preocupar, Xarazade.

Alguém tropeçou e deu um encontrão nele, depois outro, a multidão começando a invadir o pequeno santuário deles. Ela o viu empurrar um homem e outros começaram a xingar. Rapidamente, ela deu a mão a ele e o empurrou para a frente.

— Vamos para casa, marido — ela disse alto, em farsi, alertando-o, apertando-lhe a mão e depois cochichou: — Fale em farsi — e então um pouco mais alto: — Nós não estamos seguros aqui e podemos conversar melhor em casa.

— Sim, sim, mulher. É melhor irmos para casa. — Andar era melhor e mais seguro e Xarazade estava ali e amanhã os problemas se resolveriam, esta noite seria apenas um banho e sono, comida e sono, sem sonhos ou apenas sonhos bons.

— Se quiséssemos partir secretamente esta noite, nós poderíamos? Poderíamos, Tommy?

O cansaço invadiu-o e ele quase gritou com ela, será que ela não tinha entendido o que ele acabara de dizer? Em vez disso, controlou a impaciência e disse apenas:

— Agora não há necessidade de fugir.

— Você tem toda a razão, marido, como sempre. Mas nós poderíamos?

— Sim, acho que sim — disse cansado, e explicou como, andando e parando junto com a multidão, com o beco se estreitando, ficando cada vez mais claustrofóbico.

Agora ela estava contente, segura de que conseguiria convencê-lo. Amanhã eles partiriam. Amanhã de manhã eu vou recolher as minhas jóias, vamos fingir para Meshang que vamos encontrá-lo no bazar na hora do almoço, mas nessa altura estaremos voando para o sul no pássaro de Tommy. Ele pode voar para um dos Estados do golfo ou para o Canadá, ou para qualquer outro lugar, pode-se ser muçulmano e canadense sem nenhum problema, eles me disseram na embaixada. E em breve, daqui a um ou dois meses, nós voltaremos para o Irã e viveremos aqui para sempre...

Ela chegou mais para perto dele, toda feliz, oculta pela multidão e pela escuridão, sem sentir mais medo algum, certa de que o futuro deles seria maravilhoso. Agora que ele é um crente, ele irá para o paraíso, Deus é Grande, Deus é Grande, e eu também, e, juntos, com a ajuda de Deus, deixaremos aqui filhos e filhas. E então, quando formos velhos, se ele morrer primeiro, no quadragésimo dia eu providenciarei para que o seu espírito seja lembrado, depois amaldiçoarei a sua esposa mais jovem ou as suas esposas e os filhos delas, depois porei os meus negócios em dia e ficarei esperando o momento de me juntar a ele — quando Deus quiser.

— Oh, eu o amo, Tommy, sinto muito ter-lhe dado tanto trabalho... Agora eles estavam saindo do beco. A multidão era ainda maior, cobrindo a rua e a calçada. Mas havia uma leveza nelas, homens, mulheres, mulás, Faixas Verdes, jovens e velhos depois de terem passado a noite fazendo o trabalho de Deus. — Allah-u Akbar! — Alguém gritou e as palavras ecoaram em mil gargantas. Na frente, um carro impaciente avançou, bateu em alguns pedestres que caíram sobre outros e todos caíram no chão, entre risos e xingamentos. Xarazade e Lochart no meio deles, nenhum dos dois machucado. Ele a tinha segurado e, rindo, ficaram um instante deitados no chão, com a granada ainda segura na mão dele. Ele não tinha ouvido o chiado — sem saber, ao cair, ele tinha soltado a alavanca por um instante. Durante uma infinidade, ele sorriu para ela e ela para ele.

— Deus é Grande — ela disse e ele repetiu com a mesma confiança. E, naquele instante, eles morreram.

SÁBADO

3 de março70

AL SHARGAZ: 6:34H. A pontinha do sol surgiu no horizonte e transformou o deserto negro num mar escarlate, colorindo a velha cidade portuária e os barcos que estavam lá embaixo no golfo. Do alto dos minaretes, os muezins começaram a chamar, mas a música das suas vozes não agradou a Gavallan nem ao resto do pessoal da S-G que estava no terraço do Hotel Oásis tomando um café apressado.

— Isso irrita os nervos, não é, Scrag? — disse Gavallan.

— É verdade, meu velho — respondeu Scragger. Ele, Rudi Lutz e Pettikin estavam sentados numa mesa com Gavallan, todos eles cansados e desanimados. O sucesso quase total da operação Turbilhão estava se transformando num desastre. Dubois e Fowler ainda estavam desaparecidos, em Bahrain, McIver ainda não estava fora de perigo. Tom Lochart tinha voltado para Teerã e só Deus sabe onde estaria agora. Não havia nenhuma notícia de Erikki e Azadeh. Eles não tinham dormido quase nada na noite anterior. E o prazo deles se esgotava hoje ao pôr-do-sol.

A partir do momento em que os 212 começaram a pousar, na véspera, todos tinham ajudado a desmontá-los, tirando rotores e caudas para colocar nos jumbos de carga quando estes chegassem, se chegassem. Na noite anterior, Roger Newbury tinha voltado do encontro no palácio de Al Shargaz com o ministro do Exterior: de péssimo humor.

— Não posso fazer nada, Andy. O ministro disse que o novo representante ou embaixador do Irã pediu a ele e ao xeque que fizessem pessoalmente uma inspeção no aeroporto, uma vez que teria visto oito ou nove 212 estranhos lá, afirmando que seriam helicópteros de registro iraniano que haviam sido 'seqüestrados'. O ministro disse que, evidentemente, Sua Alteza, o xeque, tinha concordado, como poderia recusar? A inspeção seria feita ao anoitecer, junto com o embaixador. Eu fui 'cordialmente convidado', como representante inglês, a verificar os documentos de identidade e se encontrar algum suspeito vai ser uma encrenca!

Gavallan tinha ficado acordado a noite inteira tentando adiantar a chegada dos aviões de carga ou conseguir outros através de todas as fontes internacionais que conseguiu desencavar. Não havia nenhum disponível. O máximo que a companhia que ele contratara fez foi prometer "talvez" adiantar a hora da chegada para meio-dia do dia seguinte, domingo.

— Droga de gente — resmungou e se serviu de mais café. — Quando se precisa de dois 747, não se consegue nenhum, e geralmente com um único telefonema pode-se conseguir cinqüenta.

Pettikin estava igualmente preocupado, ainda mais com McIver no hospital em Bahrain.

Nenhuma notícia era esperada antes do meio-dia sobre a gravidade do ataque cardíaco de McIver.

— Pas problème — Jean-Luc tinha dito na noite anterior. — Eles deixaram Genny ficar num quarto ao lado no hospital, o médico é o melhor de Bahrain e eu estou aqui. Cancelei o meu vôo para casa e vou ficar aqui esperando, mas envie-me algum dinheiro amanhã para pagar as contas.