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Pettikin brincou com a xícara, sem conseguir comer. Tinha passado o dia e toda a noite anterior ajudando a preparar os helicópteros e não tinha tido chance de ver Paula e ela partiria esta manhã para Teerã, ainda trabalhando na evacuação de cidadãos italianos, e só estaria de volta dentro de dois dias. Gavallan tinha ordenado uma retirada imediata de todos os participantes do Turbilhão da área do golfo até que fosse feita uma avaliação.

— Nós temos que ser muito cuidadosos — tinha dito a todos eles. — Todo mundo tem que partir por enquanto.

Mais tarde, Pettikin tinha dito:

— Você tem razão, Andy, mas e quanto a Tom e Erikki? Nós devíamos deixar alguém aqui, eu estou disposto...

— Pelo amor de Deus, Charlie, pare com isso — Gavallan tinha respondido. — Você acha que eu não estou morto de preocupação por causa deles? E de Fowler e Dubois? Nós temos que fazer uma coisa de cada vez. Todo mundo que não for necessário vai sair antes do pôr-do-sol e você é um deles! — Isto tinha ocorrido por volta de uma hora da manhã no escritório, quando Pettikin chegara para substituir Scot, que ainda estava controlando o HF. Ele tinha passado o resto da noite lá. Não tinha havido nenhuma chamada. Às cinco horas, Nogger Lane o rendera e ele fora para o hotel tomar café, encontrando Rudi, Gavallan e Scragger já sentados à mesa. — Conseguiu alguma coisa com os aviões, Andy?

— Não, Charlie, só amanhã ao meio-dia, se tivermos sorte. — Sente-se, tome um pouco de café. — Então o dia amanhecera e os muezins começaram o seu chamado. Agora a ladainha deles terminara. O ambiente ficou menos tenso no terraço.

Scragger serviu-se de mais chá, com o estômago ainda embrulhado. Teve outra cólica violenta e correu para o banheiro. O espasmo passou rapidamente e ele evacuou muito pouco, mas não havia sangue nas fezes e o doutor Nutt tinha dito que não achava que fosse disenteria:

— Vá com calma por alguns dias, Scrag. Vou saber o resultado dos seus exames amanhã. — Ele tinha contado ao doutor Nutt sobre o sangue na urina e a dor de estômago nos últimos dias. Escondê-lo teria sido um risco imperdoável, tanto para os seus passageiros quanto para o helicóptero.

— Scrag, é melhor você ficar aqui no hospital por alguns dias — tinha dito o doutor Nutt.

— Foda-se, seu bode velho! Eu tenho mais o que fazer!

Ao voltar para a mesa, ele viu as fisionomias sombrias e odiou aquilo, mas não havia nada a fazer a não ser esperar. Não podiam sair com os aparelhos porque teriam que atravessar o espaço aéreo da Arábia Saudita, dos Emirados ou de Omã e não havia nenhuma possibilidade de conseguirem uma autorização imediata. Ele tinha sugerido, de brincadeira, que tornassem a montar os helicópteros, descobrissem quando o próximo superpetroleiro inglês estaria em Ormuz e então decolassem e fossem pousar nele.

— ...e aí nós simplesmente navegaríamos no mar azul e saltaríamos em Mombaça ou então navegaríamos até a Nigéria.

— Ei, Scrag — Vossi tinha dito cheio de admiração —, grande idéia. Eu bem que gostaria de um cruzeiro. Que tai, Andy?

— Nós seriamos presos antes mesmo de ligarmos os motores. Scragger sentou-se e espantou uma mosca. O sol estava menos vermelho agora e todos usavam óculos escuros por causa da claridade. Gavallan terminou o café.

— Bem, eu vou para o escritório ver se posso fazer alguma coisa. Se quiserem falar comigo, estarei lá. A que horas você termina, Rudi?

Rudi estava encarregado de preparar os helicópteros para serem embarcados.

— O seu prazo terminava amanhã ao meio-dia. Vamos mantê-lo. — Ele engoliu o resto do café e se levantou. — Hora de partir, meineKinder! — Resmungos e grunhidos dos outros, mas na maioria bem-humorados, apesar do cansaço. Um êxodo geral para os carros que estavam esperando lá fora.

— Andy — disse Scragger. — Eu vou com você, se não se importar.

— Boa idéia, Scrag. Charlie, não há necessidade de você ficar no grupo de Rudi uma vez que estamos adiantados. Por que você não vai até o escritório mais tarde?

Pettikin sorriu para ele.

— Obrigado. — Paula não deveria sair do seu hotel antes das dez. Agora ele teria bastante tempo para estar com ela. Para dizer o quê? perguntou a si mesmo, despedindo-se deles.

Gavallan passou pelos portões. O aeroporto ainda estava parcialmente às escuras. Havia alguns jatos com as luzes de navegação acesas, os motores esquentando. A evacuação do Irã ainda era uma prioridade. Ele olhou para Scragger e viu a careta dele.

— Você está bem?

— Claro, Andy. Só com um pouco de dor de barriga. Sofri muito com isso na Nova Guiné, por isso tomo sempre muito cuidado. Se eu conseguisse um pouco do elixir do velho dr. Collis Brown ficaria ótimo! — Era uma tintura maravilhosa e altamente eficaz inventada pelo dr. Collis Brown, um cirurgião do exército inglês, para combater a desinteria que matara dezenas de milhares de soldados durante a guerra da Criméia. — Seis gotas daquele remédio mágico e você fica novo em folha.

— Tem razão, Scrag — Gavallan falou distraidamente, imaginando se o serviço de carga da Pan Arn teria tido algum cancelamento. — Eu nunca viajo sem o Collis... espere um instante! — Ele deu um sorriso radiante. — O meu estojo de sobrevivência! Tem um pouco lá. Liz o põe sempre na minha mala. Collis Brown, bálsamo Tigre, aspirinas, uma moeda de ouro e uma lata de sardinhas.

— Sardinhas?

— Caso eu fique com fome. — Gavallan estava satisfeito por poder desviar um pouco sua atenção dos problemas do Turbilhão. — Liz e eu temos um amigo em comum que conhecemos há anos em Hong Kong, um cara chamado

Marlowe, um escritor. Ele sempre carregava uma lata com ele, ração para não passar fome, e Liz e eu sempre rimos dele por isto. Tornou-se uma espécie de símbolo para nos lembrarmos do quanto temos sorte.

— Peter Marlowe? Aquele que escreveu o Changi* — sobre o campo de prisioneiros de guerra em Cingapura?

— Sim. Você o conhece?

— Não, mas li o livro. Não os outros, mas li este. — Scragger se lembrou da sua própria guerra contra os japoneses, e depois de Kasigi e da Irã-Toda. Na noite anterior ele tinha ligado para outros hotéis a fim de localizar Kasigi e no fim o encontrara registrado no Internacional e tinha deixado um recado, mas ele ainda não tinha ligado de volta. Provavelmente ele está danado por eu tê-lo deixado na mão, por não termos podido ajudá-lo na Irã-Toda. Que coisa! Bandar Delam e a Irã-Toda parecem ter acontecido há dois anos e não há dois dias. Ainda assim, se não fosse por ele, eu ainda estaria algemado àquela maldita cama.

— É uma pena que nós todos não tenhamos latas de sardinhas, Andy — disse. — Nós realmente nos esquecemos da sorte que temos, não? Olha que sorte nós tivemos em sair de Lengeh sãos e salvos. E quanto ao velho Duke? Em pouco tempo ele vai estar novo em folha. Um centímetro a mais e ele estaria morto, mas não está. Scot a mesma coisa. E quanto ao Turbilhão? Todos os rapazes estão fora do Irã e os nossos pássaros também. Erikki está em segurança. Mac vai ficar bom, você vai ver! Dubois e Fowler? Isto às vezes acontece, mas ainda não aconteceu, pelo que sabemos, portanto temos que ter esperança. Tom? Bem, ele escolheu isto e vai conseguir dar um jeito.

PERTO DA FRONTEIRA IRÃ-TURQUIA: 7:59H. Mil quilômetros em direção ao norte, Azadeh protegeu os olhos contra o sol que nascia. Ela tinha visto alguma coisa brilhar no vale lá embaixo. Seria o reflexo de uma arma ou de um arreio? Ela preparou o M16, e apanhou o binóculo. Atrás dela, Erikki estava deitado sobre alguns cobertores na cabine do 212, profundamente adormecido. Seu rosto estava pálido e ele tinha perdido um bocado de sangue, mas ela achava que ele estava bem. Através das lentes do binóculo, ela não viu nada se movendo. O terreno ali estava coberto de neve e havia poucas árvores. Desolado. Nem aldeias e nem fumaça. O dia estava bonito e muito frio. Não havia nuvens e o vento tinha melhorado durante a noite. Vagarosamente ela examinou o vale. A poucos quilômetros de distância havia uma aldeia que ela não tinha notado antes.