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— Três ou quatro anos, não me lembro muito bem, Excelência, está na minha ficha. Talvez sejam cinco anos, não me lembro. Deve estar na minha ficha, Excelência. Cerca de quatro anos e eu trabalho muito e servirei ao senhor com todas as minhas forças.

— A Savama está absorvendo o Serviço Secreto. De agora em diante você prestará contas a mim. Quero uma cópia dos seus relatórios desde que você começou.

— Seja como Deus quiser Excelência, mas eu não sei escrever, escrevo muito mal e Sua Excelência Fazir nunca me pediu para fazer relatórios escritos — mentiu Suliman, inocentemente. Ele esperou em silêncio, arrastando os pés e se fingindo de idiota. Savak ou Savama, são todos uns mentirosos e é mais do que provável que tenham providenciado o assassinato do meu mestre. Que Deus amaldiçoe todos eles, esses cães arruinaram os planos do meu mestre. Eles me tiraram do meu emprego perfeito. Meu emprego perfeito com dinheiro de verdade e poder de verdade e um futuro de verdade. Esses cães são uns ladrões, eles roubaram o meu futuro e a minha segurança. Agora eu não tenho mais emprego, não tenho mais inimigos de Deus para matar. Nem futuro, nem segurança, nem proteç... A menos...

A menos que eu use a minha inteligência e a minha habilidade para assumir o trabalho do ponto em que o meu mestre parou.

E por que não? E a vontade de Deus que ele esteja morto e que eu esteja vivo, que ele tenha sido sacrificado e eu não. Por que não criar mais times? Eu conheço as técnicas do meu mestre e parte dos seus planos. Melhor ainda, por que não invadir a sua casa e esvaziar o cofre do porão que ele nunca soube que eu sabia que existia? Nem mesmo a sua mulher sabe da existência dele. Agora que ele está morto, deve ser fácil. Sim, e é melhor que seja esta noite, para chegar lá antes que um desses desgraçados de esquerda faça isso. Que tesouros aquele cofre poderia conter — deve conter! Dinheiro, papéis, listas — o meu mestre adorava listas como um cachorro ama merda! Que eu caia morto se o cofre não contiver uma lista dos outros do Grupo Quatro. O meu falecido mestre não planejava ser o al-Sabbah da atualidade? Por que não posso ser eu? Com assassinos, assassinos de verdade que não temem a morte e buscam o martírio como um passaporte para o paraíso...

Ele quase riu alto. Para disfarçar, arrotou.

— Desculpe Excelência, mas não estou me sentindo bem, posso me retirar, por favor?

— Onde é que o coronel Fazir guardava os seus papéis?

— Papéis, Excelência? Perdoe-me, Excelência, mas como é que um homem como eu poderia saber a respeito de papéis? Eu sou só um agente, eu lhe trazia informações e às vezes ele me mandava embora com um pontapé e um palavrão. Vai ser ótimo trabalhar para um homem de verdade. — Ele respirou confiante. O que Fazir desejaria que eu fizesse agora? Certamente desejaria que eu me vingasse por ele, o que significa obviamente acabar com Pahmudi que é o responsável pela sua morte, e este cão que ousa sentar-se à sua mesa. Por que não? Mas só depois que eu tiver esvaziado o cofre de verdade. — Posso me retirar, Excelência? A minha bexiga está cheia e eu sofro de um parasita.

Enojado, o coronel levantou os olhos da ficha que não lhe dizia nada. Não havia papéis no cofre, só dinheiro. Um pishkesh maravilhoso para mim, pensou. Mas onde estão os papéis? Fazir deve tê-los guardado em algum lugar. Sua casa?

— Sim, pode sair — ele disse, irritado — mas apresente-se a mim uma vez por semana. A mim, pessoalmente. E não se esqueça, a menos que você faça um bom trabalho... nós não queremos empregar malandros.

— Sim, Excelência, certamente, Excelência, obrigado, Excelência. Eu farei o melhor que puder por Deus e pelo imã, mas quando devo me apresentar? — No dia seguinte do Dia Sagrado, todas as semanas. — O coronel fez sinal para ele sair. Suliman saiu arrastando os pés e prometeu a si mesmo que antes do dia marcado para ele se apresentar este coronel não existiria mais. Filho de um cão, por que não? O meu poder já alcança de Beirute a Bahrain.

BAHRAIN: 12:50H. Ao sul, a mais de mil quilômetros de distância, Bahrain estava ensolarada, com as praias cheias de gente que passava o fim-de-semana, gente fazendo windsurfe desfrutando da brisa agradável, mesas nos terraços dos hotéis cheias de homens e mulheres, usando pouca roupa para se queimar ao sol da primavera. Uma dessas mulheres era Sayada Bertolin.

Ela usava uma saída de praia transparente por cima do biquíni e estava sentada sozinha numa mesa protegida por uma barraca verde, tomando uma batida de limão. Preguiçosamente, ela observava os banhistas e as crianças brincando no raso — um dos garotinhos se parecia com o seu próprio filho. Vai ser tão bom estar em casa de novo, pensou, abraçar o meu filho outra vez e até mesmo tornar a ver o meu marido. Foi tanto tempo fora da civilização, longe de boa comida e boa conversa, de um bom café, de croissants e vinho, de jornais, televisão e rádio e todas as coisas maravilhosas a que não damos o devido valor. Mas eu não. Eu sempre as apreciei e sempre trabalhei por um mundo melhor e por justiça no Oriente Médio.

Mas e agora? A alegria desapareceu.

Agora eu não sou apenas uma simpatizante da OLP e um correio, mas uma agente secreta da milícia cristã libanesa, seus senhores israelenses e seus senhores da CIA — graças a Deus eu tive a sorte de ouvi-los cochichando quando eles pensaram que eu já tinha saído depois de receber ordens para voltar a Beirute. Ainda não sei o nome deles, mas já sei o bastante para identificar as suas origens. Cães! Cães imundos! Cristãos! Traidores da Palestina! Ainda falta vingar-me de Teymour. Será que terei coragem de contar ao meu marido, que contará aos outros membros do Conselho? Não, não tenho coragem. Eles sabem demais.

A sua atenção focalizou-se no mar e ela ficou estarrecida. No meio dos surfistas ela reconheceu Jean-Luc, aproximando-se da praia, equilibrado na prancha, elegantemente inclinado contra o vento. No último segundo, ele virou a favor do vento, pulou para o raso e deixou a vela cair. Ela sorriu de tal perfeição.

Ah, Jean-Luc, como você gosta de si mesmo! Mas eu admito que foi bem feito. Em muitas coisas você é soberbo, como chef, como amante — ah, sim, mas só de vez em quando, você não varia o bastante, nem experimenta o bastante para nós do Oriente Médio que entendemos de erotismo, e você se preocupa demais com a sua própria beleza.

— Eu admito que você é lindo — ela murmurou, umedecendo-se agradavelmente com a idéia. Você é melhor do que a média na arte de fazer amor, meu querido, mas não mais do que isso. Você não é o melhor. O meu primeiro marido era o melhor, talvez porque tenha sido o primeiro. Depois Teymour Teymour era fantástico. Ah, Teymour, eu não tenho mais medo de pensar em você agora, agora que saí de Teerã. Lá eu não podia. Eu não vou me esquecer de você nem do que você fazia. Eu vou me vingar da milícia cristã pelo que fez a você algum dia.

Seus olhos estavam observando Jean-Luc, imaginando o que ele estaria fazendo lá, contente por ele estar lá, desejando que ele a visse, sem querer tomar a iniciativa para não provocar o destino, mas pronta para esperar e ver o que o destino tinha reservado para ela. Ela se olhou no espelho, pôs um pouco de brilho nos lábios e perfume atrás das orelhas. Mais uma vez ela esperou. Ele se aproximou. Ela fingiu concentrar-se no copo, olhando-o pelo seu reflexo no vidro, deixando tudo ao acaso.

— Sayada! Mon Dieu, chérie! O que você está fazendo aqui?

Ela ficou devidamente surpresa e então ele a beijou e ela sentiu gosto de sal e cheiro de óleo de bronzear e suor e resolveu que aquela tarde seria perfeita.

— Eu acabei de chegar, chéri. Cheguei ontem à noite de Teerã — respondeu, sem fôlego, deixando o desejo invadi-la. — Eu estou na fila de espera do vôo de meio-dia para Beirute amanhã, mas o que você está fazendo aqui? É um milagre!

— É mesmo, que sorte nós temos! Mas você não pode partir amanhã, amanhã é domingo. Amanhã nós vamos ter churrasco, lagosta e ostras!