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— Não é próprio de Duke Starke ficar nervoso, a não ser que as coisas estejam pretas. — Jon Tyrer, o americano que era o segundo em comando depois de Rudi, comentara apreensivamente. — Você acha que ele está em apuros? Acha que a gente deve ir dar uma olhada em Kowiss?

— Talvez. Mas vamos esperar até eu falar com ele esta noite.

— Acho que é melhor nos prepararmos para escapulir no meio da noite, Rudi — dissera o mecânico Fowler Jones com decisão. — Sim. Se o velho Duke está nervoso... é melhor estarmos preparados para dar o fora.

— Você está louco, Fowler. Nunca tivemos problemas — retrucara Tyrer.

— Toda esta região está mais ou menos tranqüila, as tropas e a polícia são disciplinadas e estão sob controle. Merda, temos cinco bases da Força Aérea numa área de 15 quilômetros e são todas de elite e pró-xá. É provável que breve haja um golpe legalista.

— Você alguma vez já esteve no meio de um golpe, pelo amor de Deus? Atiram desesperadamente uns nos outros e eu sou um civil!

— OK, digamos que as coisas fiquem pretas, o que sugere? Discutiram todas as possibilidades. Por terra, mar e ar. A fronteira do Iraque ficava a apenas 150 quilômetros de distância — e pelo golfo era fácil alcançar o Kuwait.

— Seremos informados com antecedência — Rudi estava confiante. — McIver saberá caso haja um golpe.

— Ouça, meu chapa — dissera Fowler, mais azedo do que de costume.

— Eu conheço as companhias: são iguais aos malditos generais! Se as coisas ficarem realmente difíceis, vamos ter que nos virar sozinhos, portanto é melhor ter um plano. Não vou levar um tiro na cabeça pelo xá, por Khomeini, nem pelo Senhor-Deus Gavallan. Eu digo que a gente deve dar o fora!

— Que diabo, Fowler — exclamara um dos pilotos ingleses —, você está sugerindo que a gente seqüestre um dos nossos próprios aviões? Nós nunca mais poderíamos voar.

— Talvez isto seja melhor do que os portões da eternidade.

— Poderíamos ser abatidos, pelo amor de Deus. Nunca conseguíamos. Você sabe que os nossos vôos são monitorizados, como o radar é sensível por aqui. Aqui as coisas são muito mais controladas do que em Lengeh! Não podemos nem sair do chão sem pedir permissão para ligar os motores...

No fim, Rudi pedira-lhes sugestões para o caso de haver necessidade de uma evacuação repentina, por terra, ar ou mar e os deixara discutindo.

O dia inteiro tinha se preocupado com o que fazer, com o que haveria de errado em Kowiss e em Teerã. Como piloto-chefe sentia-se responsável por sua equipe — além dos doze iranianos e de Jahan, seu operador de rádio, que não recebiam há seis semanas — e por todos os helicópteros e peças. Tivemos muita sorte em sair de Kharg com tanta facilidade, pensou, com um aperto no estômago. A retirada de todos os aviões fora fácil, todas as peças importantes e alguns dos seus transportes foram trazidos em quatro dias sem que isso interferisse com sua pesada carga de contratos de vôo e emergências.

Sair de Kharg fora fácil porque todo mundo quisera ir. O mais depressa possível. Mesmo antes dos tumultos, Kharg era uma base impopular, sem nada para fazer exceto trabalhar e esperar pelas licenças em Teerã ou em casa. Quando os tumultos começaram, todo mundo viu logo que Kharg era um alvo vital para os revolucionários. Tinha havido muitos tumultos e até alguns tiros. Apareciam cada vez mais braçadeiras da OILP entre os revoltosos e o comandante da ilha ameaçara atirar em todos os aldeões se os tumultos não cessassem. Desde a partida deles há poucas semanas, a ilha estava quieta, assustadoramente quieta.

E essa retirada não foi uma emergência de fato, lembrou a si mesmo. Como agir em uma? Na semana passada voara até Kowiss para apanhar umas peças e perguntara a Starke como ele planejava agir em Kowiss se houvesse realmente problemas.

— Do mesmo jeito que você, Rudi. Você procuraria agir de acordo com as regras da companhia, que não se aplicariam a esta situação — disse o texano alto. — Temos algumas coisas a nosso favor: quase todos os nossos rapazes são ex-combatentes de alguma guerra, portanto há uma espécie de hierarquia de comando, mas, que inferno, pode-se planejar à vontade e mesmo assim não se consegue dormir de noite porque quando as coisas ficarem pretas vai acontecer o que sempre acontece: alguns rapazes vão desmoronar, outros não, e nunca se pode saber com antecedência quem vai fazer o quê, ou até como você mesmo vai reagir.

Rudi nunca estivera em uma guerra, embora seu serviço militar no Exército alemão, nos anos cinqüenta, tivesse sido nas fronteiras da Alemanha Oriental, e na Alemanha Ocidental sempre se está consciente do Muro, da Cortina, e de todos os seus irmãos e irmãs que estão do outro lado — e das legiões soviéticas e satélites que esperam, taciturnos, com suas dezenas de milhares de tanques e mísseis, a poucos metros de distância. E sempre se está consciente dos alemães fanáticos de ambos os lados da fronteira que veneram seu messias chamado Lenin e dos milhares de espiões roendo nossas entranhas.

Triste.

Quantos da minha cidade?

Nascera em uma cidadezinha perto de Plauen, próxima à fronteira da Tchecoslováquia, que agora pertencia à Alemanha Oriental. Em 1945 ele tinha 12 anos, seu irmão 16 e já estava no Exército. Os anos de guerra não foram maus para ele, sua irmã mais moça e sua mãe. No campo, havia bastante o que comer. Mas em 1945 eles tinham fugido diante das hordas soviéticas, que passavam carregando tudo que podiam, para se juntarem ao enorme contingente de alemães que migravam para oeste: dois milhões da Prússia, mais dois do norte, quatro do centro, mais dois do sul — junto com outros milhões de tchecos, poloneses, húngaros, romenos, austríacos, búlgaros, que vinham da Europa inteira — todos famintos, petrificados, lutando para se manterem vivos.

Ah, manter-se vivo, pensou.

Durante a viagem, com frio, cansado e abatido, ele se lembrava de ter ido com a mãe a um depósito de lixo, em algum lugar perto de Nuremberg, o campo devastado pela guerra e as cidades destruídas, a mãe tentando freneticamente conseguir uma chaleira — a deles fora roubada durante a noite — impossível comprar-se uma, mesmo se tivessem o dinheiro. "Temos que ter uma chaleira para ferver água ou morreremos, vamos apanhar tifo ou desinteria como os outros — não podemos viver sem água fervida", gritara sua mãe. Então ele a acompanhara em lágrimas, convencido que era uma perda de tempo, mas tinham encontrado uma. Estava velha e amassada, com o bico torto e a alça solta, mas tinha uma tampa e não vazava. Hoje a chaleira estava limpa e brilhante e ocupava um lugar de honra na prateleira da cozinha da sua fazenda perto de Freiberg, na Floresta Negra, onde moravam sua mulher, seus filhos e sua mãe. E uma vez por ano, na véspera do Ano-Novo, a mãe fazia chá com água fervida naquela chaleira. E quando ele estava lá, os dois sorriam juntos, ele e ela. "Se você tiver bastante fé, meu filho, e tentar, você pode encontrar a sua chaleira. Nunca se esqueça, foi você que a encontrou, não eu."

De súbito, ouviram-se gritos de alerta. Deu meia-volta e viu três caminhões do Exército irromperem pelo portão, um em direção à torre e dois em direção aos hangares. Os caminhões pararam e revolucionários Faixas Verdes se espalharam pela base, dois homens investindo contra ele, com as armas apontadas, gritando em farsi, que ele não entendia, enquanto os outros cercavam seus homens no hangar. Paralisado, levantou as mãos, com o coração batendo do susto. Dois Faixas Verdes, barbados e suando de medo e excitação, empurraram os canos dos revólveres na cara dele e Rudi recuou.

— Não estou armado — disse, sem ar. — O que vocês querem? Hein? Nenhum dos homens respondeu, apenas continuaram a ameaçá-lo. Por trás deles, podia ver o resto da equipe sendo retirada dos trailers e barracas e reunida no pátio. Outros agressores entravam e saíam dos helicópteros, revistando-os, revirando o equipamento; um dos homens começou a tirar os salva-vidas que estavam arrumados nos bolsos dos assentos. Sua raiva sobrepujou o medo.