Выбрать главу

— A verdade de Deus não é relativa.

— Sim, sim, é claro — disse Kasigi, aparentemente calmo, mas rangendo os dentes por dentro. Como alguém pode lidar com estes lunáticos que usam a sua fé como desculpa para tudo e 'Deus' todas as vezes que desejam interromper um raciocínio lógico? São todos loucos, bitolados! Eles não querem compreender como nós, japoneses, que é preciso ser tolerante com as crenças dos outros povos, e que a vida vai 'de nada até nada', e que céu e inferno e Deus são apenas fumaça de ópio de um cérebro desarranjado — até prova em contrário!

— É claro que o senhor tem razão, Excelência. Mas não serão os helicópteros e pilotos dele, eu preciso apenas das relações que ele tem. — Ele tinha esperado e escutado pacientemente e então tinha jogado a sua última cartada:

— Estou certo de que o xeque e o ministro do Exterior ficariam imensamente gratos se o senhor adiasse a inspeção até amanhã para que eles pudessem comparecer à recepção do meu embaixador às oito horas de hoje à noite.

— Recepção, sr. Kasigi?

— Sim, foi marcada em cima da hora, mas é tremendamente importante

— por acaso eu sei que o senhor é o convidado mais importante. — Kasigi tinha baixado ainda mais o tom de voz. — Peço-lhe para não dizer como o senhor ficou sabendo disso, mas, muito em particular, posso dizer-lhe que o meu governo está em busca de contratos de petróleo a longo prazo, que poderiam ser extremamente lucrativos para vocês caso o Irã pudesse continuar a fornecer-nos petróleo. Seria o momento perfeito pa...

— Contratos de longos prazos? Eu concordo que os contratos negociados pelo xá não valem nada, são unilaterais e precisam ser cancelados. Mas nós damos valor aos japoneses como clientes. O Japão jamais tentou nos explorar. Estou certo de que o seu embaixador não se importaria de começar a recepção uma hora mais tarde. O xeque, o ministro do Exterior, Newbury e eu poderíamos ir diretamente do aeroporto.

Kasigi não sabia bem até onde podia ir. Mas, Excelência, ele pensou, se o senhor não adiar a sua inspeção, eu me vingarei, porque o senhor me terá feito cometer o único pecado que levamos em conta: o fracasso.

— É uma sorte que o Irã esteja tão bem representado aqui.

— Eu irei com certeza à recepção, sr. Kasigi, depois da inspeção.

A cartada final de Kasigi fora dada com toda a elegância necessária:

— Tenho a sensação, Excelência, de que o senhor será convidado muito em breve para ir ao meu país para conhecer os líderes mais importantes, 05 mais importantes, de lá, pois o senhor certamente percebe o quanto o seu Estado islâmico é vital para o Japão, e para verificar recursos tecnológicos que seriam muito valiosos para o Irã.

— Nós... nós certamente estamos precisando de amigos sinceros — disse Abadani.

Kasigi o observara cuidadosamente e não tinha visto nenhuma reação, apenas os mesmos olhos impiedosos e a mesma inflexibilidade.

— Nesses tempos difíceis é essencial cuidar dos amigos, não acha? A pessoa nunca sabe quando a desgraça pode atingi-la, seja ela quem for. Não acha?

— Isto está nas mãos de Deus. Só Dele. — Tinha havido uma longa pausa, e depois Abadani dissera: — Seja como Deus quiser. Vou pensar no que o senhor disse.

Agora, na privacidade do seu quarto de hotel, Kasigi estava com muito medo. Só é essencial cuidar de você mesmo. Por mais inteligente ou cuidadoso que você seja, você nunca sabe quando a desgraça vai atingi-lo. Se os deuses existem, é só para nos atormentar.

NO INTERIOR DA TURQUIA: 16:23H. Eles tinham pousado perto da aldeia naquela manhã, a menos de um quilômetro da fronteira. Erikki teria preferido entrar um pouco mais no país por medida de segurança, mas os seus tanques estavam secos. Ele fora interceptado e caíra numa emboscada de novo, desta vez por dois caças e dois aviões de combate Huey e tivera que aturá-los por mais de um quarto de hora até conseguir se esgueirar através da fronteira. Os dois Huey não se aventuraram a atravessar a fronteira, mas tinham continuado a circular do outro lado.

— Esqueça-os, Azadeh — dissera alegremente —, nós estamos seguros agora.

Mas não estavam. Os aldeões os haviam cercado e a polícia chegara. Quatro homens, um sargento e outros três, todos de uniforme — amarrotados e mal cortados — com revólveres no coldre. O sargento usava óculos escuros para se proteger dos reflexos do sol na neve. Nenhum deles falava inglês. Azadeh os cumprimentara de acordo com o plano que ela e Erikki tinham combinado, explicando que Erikki, um cidadão finlandês, fora empregado por uma companhia britânica, sob contrato com a Madeira Iraniana, que nos tumultos ocorridos no Azerbeijão e nas batalhas perto de Tabriz a sua vida fora ameaçada pelos esquerdistas, que ela, sua esposa, também fora ameaçada, e então eles tinham fugido.

— Ah, o effendi é finlandês, mas a senhora é iraniana?

— Finlandesa pelo casamento, sargento, iraniana de nascimento. Aqui estão os nossos documentos. — Ela entregara a ele o seu passaporte finlandês que não incluía referências ao seu falecido pai, Abdullah Khan. — Podemos usar o telefone, por favor? Nós podemos pagar, é claro. O meu marido gostaria de ligar para a embaixada dele e também para o seu patrão em Al Shargaz.

— Ah, Al Shargaz. — O sargento balançou a cabeça satisfeito. Ele era robusto, e apesar de bem barbeado, a sombra da sua barba aparecia na pele dourada. — Onde fica isso?

Ela o informou, muito consciente da sua aparência e da de Erikki. Erikki com o curativo sujo e manchado de sangue e ela com o cabelo desgrenhado, as roupas e o rosto sujos. Atrás deles, os dois Huey continuavam a circular. O sargento observou-os Pensativamente.

— Por que eles ousariam mandar caças para o nosso espaço aéreo e helicópteros atrás de vocês?

— A vontade de Deus, sargento. Temo que haja muitas coisas estranhas ocorrendo daquele lado da fronteira.

— Como estão as coisas na fronteira? — ele fez sinal para os dois outros policiais se encaminharem para o 212 e começou a escutar atentamente. Os três policiais se aproximaram, espiaram o interior da cabine de comando. Buracos de bala, manchas de sangue e instrumentos quebrados. Um deles abriu a porta da cabine. Muitas armas automáticas. Mais buracos de balas.

— Sargento!

O sargento respondeu mas esperou educadamente até que Azadeh tivesse terminado. Aldeões escutavam de olhos arregalados, não havia nenhum chador nem véu entre eles. Então ele apontou para uma das cabanas da aldeia.

— Por favor, esperem ali na sombra. — O dia estava frio, a terra coberta de neve, o sol brilhante refletindo na neve. Sem se apressar, o sargento examinou a cabine de comando. Ele apanhou o kookri, tirou-o um pouco para fora da bainha e tornou a guardá-lo. Então fez sinal para Azadeh e Erikki se aproximarem. — Como o senhor explica as armas, effendfí

Nervosa, Azadeh traduziu a pergunta para Erikki.

— Diga-lhe que elas foram deixadas no meu aparelho por nativos que estavam tentando seqüestrá-lo.

— Ah, nativos — disse o sargento. Espanta-me que os nativos tenham deixado um tal tesouro para trás. O senhor pode explicar isso?

— Diga a ele que foram todos mortos por legalistas e que eu escapei no meio da confusão.

— Legalistas, effendi?. Que legalistas?

— Polícia. A polícia de Tabriz — disse Erikki, desconfortavelmente consciente de que cada pergunta os arrastava ainda mais para o abismo. — Pergunte a ele se posso usar o telefone, Azadeh.

— Telefone? Certamente, no seu devido tempo. — O sargento estudou os Huey que circulavam por um momento. Então tornou a fitar Erikki com seus olhos duros. — Estou contente em saber que a polícia era leal. A polícia tem um dever para com o Estado, para com o povo e para com o cumprimento da lei. Contrabando de armas é contra a lei. Fugir da polícia que está defendendo a lei é crime, não é?