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— Sim, mas nós não somos contrabandistas de armas, sargento, nem fugitivos da polícia — respondeu Azadeh, ainda mais amedrontada agora. A fronteira estava tão perto, perto demais. Para ela, a última parte da fuga tinha sido terrível. Obviamente, Hakim havia alertado toda a região da fronteira; só ele teria o poder de conseguir uma interceptação tão rápida, tanto por terra quanto por ar.

— O senhor está armado? — o sargento perguntou delicadamente.

— Só tenho uma faca.

— Poderia entregar-me, por favor? — Erikki obedeceu. — Por favor, sigam-me.

Eles foram para a delegacia, um pequeno prédio de tijolos com celas e alguns escritórios com telefones, perto da mesquita, na pequena praça da aldeia.

— Nos últimos meses, nós tivemos refugiados de todos os tipos passando pelas nossas estradas, iranianos, ingleses, europeus, americanos, muitos do Azerbeijão, mas nenhum soviético. — Ele riu da própria piada. — Muitos refugiados, ricos, pobres, bons, maus, muitos criminosos entre eles. Alguns foram mandados de volta, outros puderam continuar. Insha'Allah. Por favor, esperem ali.

"Ali" não era uma cela, mas uma sala com algumas cadeiras, uma mesa e grades nas janelas, muitas moscas e nenhuma saída. Mas estava quente e razoavelmente limpa.

— Nós podemos comer e beber alguma coisa e usar o telefone, por favor? — perguntou Azadeh. — Nós podemos pagar, sargento.

— Vou mandar trazer alguma coisa do hotel. A comida é boa e não é cara

— Meu marido quer saber se pode usar o telefone

— Certamente. No devido tempo.

Isto tinha acontecido de manhã, e agora já estavam no final da tarde. Nesse meio tempo, a comida tinha chegado, arroz e guisado de carneiro, pão e café turco. Ela pagara com riais e não fora caro. O sargento autorizara-os a usar o buraco fedorento no chão do banheiro e a se lavarem com a água de um tanque e de uma velha pia. Não havia nenhum material de primeiros socorros, só iodo. Erikki limpada as suas feridas o melhor possível, trincando os dentes de dor, ainda fraco e exausto. Depois, tinha-se esticado numa cadeira, posto os pés sobre outra e, com Azadeh ao seu lado, adormecera. De vez em quando, a porta se abria e um dos policiais entrava e tornava a sair.

— Matyeryebyets — resmungava Erikki. — Para onde podemos escapar?

Ela o acalmara e ficara perto dele, mantendo o seu próprio medo sob controle. Preciso ajudá-lo, pensava sem parar. Estava se sentindo melhor agora com o cabelo penteado, o rosto limpo, o suéter arrumado. Pela porta, podia escutar conversas abafadas, ocasionalmente o telefone tocando, carros e caminhões passando pela estrada, moscas zumbindo. O cansaço a venceu e ela dormiu profundamente, um sono cheio de pesadelos: barulho de motores e tiros e Hakim montado como um cossaco, perseguindo-os, ela e Erikki enterrados até o pescoço no chão, os cascos dos cavalos passando perto deles, depois conseguindo libertar-se, correndo para a fronteira que era formada por quilômetros de arame farpado, o falso mulá, Mahmud, e o açougueiro aparecendo de repente entre eles e a salvação e...

A porta se abriu. Os dois acordaram, assustados. Um major impecávelmente uniformizado estava lá, ladeado pelo sargento e outro policial. Era um homem alto e severo.

— Seus documentos, por favor — ele disse para Azadeh.

— Eu, eu os entreguei ao sargento, major.

— A senhora entregou-lhe um passaporte finlandês. Os seus documentos iranianos. — O major estendeu a mão. Ela foi vagarosa demais. Imediatamente o sargento se adiantou e agarrou-lhe a bolsa, espalhando o conteúdo desta sobre a mesa. Ao mesmo tempo, o outro policial avançou para Erikki, com a mão no revólver, e fez sinal para ele ir para o outro canto da sala. O major tirou o pó de uma cadeira e sentou-se, recebeu a carteira de identidade iraniana dela das mãos do sargento e examinou-a cuidadosamente, depois olhou para o conteúdo da bolsa que estava espalhado sobre a mesa. Abriu o saco de jóias. Seus olhos se arregalaram.

— Onde conseguiu isto?

— São minhas. Eu as herdei dos meus pais. — Azadeh estava assustada, sem saber o que o major sabia e tinha visto a maneira como ele a olhava. Erikki também. — O meu marido pode usar o telefone, por favor? Ele quer...

— No devido tempo! Já lhe disseram isso muitas vezes. No devido tempo é no devido tempo. — O major fechou a bolsa e colocou-a na mesa, diante dele. Seus olhos examinaram-lhe os seios. — O seu marido não fala turco?

— Não, major.

O oficial virou-se para Erikki e disse em bom inglês:

— Há uma ordem de prisão contra o senhor, expedida de Tabriz. Por tentativa de homicídio e rapto.

Azadeh empalideceu e Erikki controlou o seu pânico o melhor que pôde.

— Rapto de quem, senhor?

O major teve um lampejo de irritação.

— Não tente brincar comigo. Desta senhora. Azadeh, irmã de Hakim, o Gorgon Khan.

— Ela é minha esposa. Como pode um marido...

— Eu sei que ela é sua esposa e é melhor o senhor contar-me a verdade, por Deus. A ordem de prisão diz que o senhor a levou contra a sua vontade e fugiu num helicóptero iraniano. — Azadeh começou a responder, mas o major exclamou:

— Eu perguntei a ele, não à senhora. E então?

— Foi sem o consentimento dela e o helicóptero é britânico e não iraniano. O major ficou olhando para ele, depois virou-se para Azadeh.

— Bem?

— Foi... foi sem o meu consentimento..

— Mas o quê?

Azadeh sentiu-se mal. Sua cabeça doía e ela estava desesperada. A polícia turca era conhecida pela sua inflexibilidade, seu grande poder pessoal e sua dureza.

— Por favor, major, talvez possamos conversar em particular, explicar isto em particular.

— Nós estamos falando em particular agora, madame — o major disse secamente, e então, percebendo a sua angústia e a sua beleza, acrescentou: — Inglês é mais particular do que turco. Então...

Então, hesitando, escolhendo cuidadosamente as palavras, ela falou sobre o juramento feito a Abdullah Khan e sobre Hakim e o dilema, impossibilitada de partir e sem poder ficar e como Erikki, com sua sabedoria, tinha desfeito o nó górdio. As lágrimas escorriam-lhe pelo rosto.

— Sim, foi sem o meu consentimento, mas de certa forma foi com o consentimento do meu irmão que ajudou Eri...

— Se foi com o consentimento de Hakim Khan, então por que ele está oferecendo uma enorme recompensa por este homem, vivo ou morto — perguntou o major, sem acreditar nela — e expediu a ordem de prisão no nome dele, exigindo extradição imediata, se necessário?

Ela ficou tão chocada que quase desmaiou. Sem pensar, Erikki fez menção de se aproximar dela, mas enfiaram-lhe um revólver no estômago.

— Eu só ia ajudá-la — disse ele.

— Então fique onde está! — Em turco, o oficial disse: — Não o mate — E em inglês: — Bem, lady Azadeh. Por quê?

Ela não pôde responder. Seus lábios se moveram, mas não emitiram nenhum som. Erikki respondeu por ela:

— O que mais podia um khan fazer, major? A honra de um khan está envolvida. Publicamente, ele teria que fazer isso, não teria, mesmo que estivesse de acordo?

— Talvez, mas não tão depressa, não, não tão depressa, não pondo em alerta caças e helicópteros. — Por que ele faria isso se quisesse que vocês escapassem? pensou, foi um milagre vocês não terem sido obrigados a pousar, não terem caído com todos aqueles buracos de bala. Isto tudo parece um monte de mentiras. Talvez ela esteja com tanto medo dele que seja capaz de dizer qualquer coisa. Agora, a sua fuga do palácio, o que aconteceu exatamente?

Erikki contou a ele. Não há mais nada a fazer, pensou. Apenas contar a verdade e manter a esperança. Sua atenção estava toda em Azadeh, vendo o horror que a dominava, no entanto, é claro que Hakim reagiria dessa maneira, é claro que vivo ou morto. O sangue do seu pai não lhe corria nas veias?