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— Há relatórios de rotina a serem feitos para o radar de Abadan e de Kharg. Meu operador de rádio está conosco há...

O sangue subiu ao rosto de Zataki e ele gritou:

— Até ordens em contrário seu rádio só será usado quando um de nós estiver ouvindo. Nenhum avião levantará vôo nem pousará aqui sem permissão. O senhor é o responsável. — Então a raiva evaporou-se tão depressa quanto viera. Levantou a arma. Ainda estava destravada. — Se o senhor tivesse dado o golpe teria quebrado meu pescoço, minha garganta, e eu teria morrido. Não é verdade?

— Sim. — Respondeu Rudi, depois de um intervalo.

— Por que o senhor parou?

— Eu... eu nunca matei ninguém e não gostaria de começar.

— Eu já matei muitos, fazendo o trabalho de Deus. Muitos, graças a Deus. Muitos. E ainda vou matar muitos inimigos do Islã, com a ajuda de Deus. — Zataki travou a arma. — Foi pela vontade de Deus que o golpe foi interrompido, nada mais. Não posso lhe entregar aquele homem. Ele é iraniano, isto é o Irã, ele é um inimigo do Irã e do Islã.

Ficaram observando do hangar enquanto o 206 descia. Havia quatro passageiros a bordo, todos civis, todos armados de submetralhadoras. No assento da frente estava um mulá e Zataki ficou um pouco menos tenso, mas não menos enraivecido. Assim que o helicóptero pousou, seus revolucionários saíram dos esconderijos com as armas apontadas e o cercaram.

O mulá Hussein saltou. Seu rosto endureceu ao ver a hostilidade de Zataki.

— Que a paz esteja com você. Sou Hussein Kowissi, do komiteh de Kowiss.

— Seja bem-vindo à minha área, em nome de Deus, mulá — disse Zataki, com o rosto ainda mais fechado. — Sou o coronel Zataki do komiteh de Abadan. Nós governamos esta área e não aprovo homens que se colocam entre nós e Deus.

— Ortodoxos e xiitas são irmãos, Islã é Islã — respondeu Hussein. — Agradecemos aos nossos irmãos ortodoxos dos campos de petróleo de Abadan pelo seu apoio. Vamos conversar, nossa revolução islâmica ainda não foi vencida.

Tenso, Zataki concordou e chamou seus homens, depois fez sinal ao mulá para segui-lo para que pudessem conversar sem serem ouvidos. Imediatamente, Rudi correu para baixo dos rotores.

— Que diabo está acontecendo, Rudi? — perguntou Starke da cabine, com os ombros doendo, terminando as manobras de aterrissagem. E Rudi lhe contou.

— E com você?

Rapidamente, Starke relatou o que acontecera durante a noite e no escritório do coronel Peshadi.

— O mulá e esses assassinos voltaram ao meio-dia e quase tiveram um ataque quando me recusei a trazer homens armados. Cara, pensei que fosse morrer, mas não ia carregar homens armados, isso nos tornaria cúmplices da revolução, e a revolução ainda não está nada firme. Vimos centenas de tropas e barricadas quando estávamos vindo. — Seus olhos percorreram a base e os grupos de Faixas Verdes espalhados. O resto da equipe ainda estava de pé perto das barracas, sob guarda, o montador ainda sem sentidos. — Filhos da mãe! — Saiu do helicóptero e se esticou por causa da dor nas costas, sentindo-se melhor. — No fim, chegamos a um acordo. Eles ficaram com as armas mas eu guardei a munição no compartimento de bagagem. — Parou. O mulá alto, Hussein, aproximava-se deles, e as lâminas do aparelho, agora, giravam lentamente.

— A chave do compartimento de bagagem, por favor, capitão — ordenou Hussein.

— Não há tempo de voltar para Kowiss nem para chegar a Abadan — disse Starke ao entregar as chaves.

— O senhor não sabe voar à noite?

— Sei, mas é contra os seus regulamentos. O senhor tinha um fone, viu como é o radar aqui. Antes que a gente esteja no alto teremos aviões e helicópteros militares zumbindo como marimbondos atrás de nós. Vou reabastecer e passaremos a noite aqui... pelo menos eu. O senhor pode conseguir uma carona dos seus cupinchas aqui se quiser ir à cidade.

— O seu tempo é muito curto, americano — disse o mulá em farsi, enrubescendo de raiva. — O seu e o de todos esses parasitas imperialistas.

— Se for a vontade de Deus, mulá, se for a vontade de Deus. Estarei pronto para partir depois da primeira prece. Então eu partirei, com ou sem você.

— O senhor vai me levar para Abadan e esperar e depois vai voltar para Kowiss quando eu quiser e como o coronel Peshadi ordenou.

— Se você estiver pronto para partir depois da primeira prece! — respondeu em inglês. — E Peshadi não ordenou nada. Não estou sob as ordens dele, nem suas. A IranOil me pediu para levá-lo neste vôo. Vou ter que reabastecer no caminho de volta.

— Muito bem, partiremos ao amanhecer — concordou Hussein, irritado.

— Quanto a reabastecer... — Pensou por um momento. — Faremos isso em Kharg.

Tanto Starke quanto Rudi ficaram estarrecidos.

— Como vamos ter licença para descer em Kharg? Kharg é leal, ahn, ainda está sob controle da Força Aérea. Vocês levariam um tiro na cabeça.

— Vocês esperam aqui até o komiteh decidir. Daqui a uma hora eu quero falar com Kowiss no HF. — E Hussein virou as costas e saiu.

— Estes filhos da mãe estão muito bem organizados, Rudi — disse Starke baixinho. — Estamos numa encrenca dos diabos.

— É melhor nos organizarmos, nos prepararmos para dar o fora daqui.

— Sugeriu Rudi, sentindo as pernas fracas.

— Faremos isso depois de comer. Você está bem?

— Pensei que estivesse morto. Eles vão matar a todos nós, Duke

— Não penso assim. Por algum motivo, somos importantes para eles. Eles precisam de nós, é por isso que Hussein recua e o seu Zataki também. Podem endurecer conosco para nos manter na linha, mas acho que pelo menos por enquanto somos importantes por algum motivo. — Mais uma vez Starke tentou aliviar o cansaço das costas e dos ombros. — Bem que eu gostaria de uma das saunas de Erikki. — Ambos olharam para um grupo de Faixas Verdes que atirava para o ar. — Filhos da puta malucos. Pelo que pude ouvir, esta operação faz parte de um levante geral contra as Forças Armadas... armas contra armas. Como está a recepção do seu rádio? BBC ou Voz da América?

— De mal a pior e cheia de interferência, de dia ou de noite. É claro que a Rádio Livre do Irã está alta e clara, como sempre. — Era a estação soviética estabelecida logo além da fronteira, em Baku, no mar Cáspio. — E, como sempre, a Rádio Moscou soa como se estivesse no seu quintal.

7

PERTO DE TABRIZ: 18:05H. Nas montanhas cobertas de neve, bem ao norte, perto da fronteira soviética, o 206 de Pettikin aproximava-se rápido, subindo o desfiladeiro, quase tocando as árvores ao longo da estrada.

— Tabriz Um, HFC de Teerã. Está me ouvindo? — tornou a chamar. Nenhuma resposta ainda. Escurecia, o sol da tarde oculto por uma espessa camada de nuvens a poucas centenas de metros sobre ele, cinzenta e pesada de neve. Tentou novamente chamar a base, já muito cansado, com o rosto bastante machucado e ainda doendo da surra que levara. As luvas e a pele esfola-da das mãos tornavam difícil apertar o botão do transmissor.

— Tabriz Um. HFC de Teerã. Está me ouvindo?

Mais uma vez não houve resposta, mas não se preocupou. A comunicação era sempre ruim nas montanhas, ele não estava sendo esperado, e não havia nenhuma razão para Erikki Yokkonen ou o administrador da base terem providenciado uma escuta para o rádio. À medida que a estrada subia, a camada de nuvens ficava mais baixa, mas viu, satisfeito, que o cume à sua frente estava ainda claro, e que depois a estrada começava a descer e meio quilômetro adiante ficava a base.

Esta manhã, levara muito mais tempo do que esperava para ir até a pequena base aérea militar em Galeg Morghi, não muito distante do aeroporto internacional de Teerã, e embora tivesse deixado o apartamento antes do amanhecer, só chegou lá depois que o sol já brilhava alto no céu poluído, cheio de fumaça. Fora obrigado a se desviar muitas vezes. Havia ainda muita luta nas ruas e muitas estradas estavam bloqueadas — algumas intencionalmente, com barricadas, mas a maioria por causa dos destroços queimados de carros e ônibus. Muitos corpos estavam espalhados nas calçadas cobertas de neve e na beira das estradas, havia muitos feridos e, por duas vezes, policiais zangados o fizeram voltar. Mas insistiu e tomou um caminho ainda mais tortuoso. Quando chegou, para surpresa sua, o portão de sua seção da base, onde funcionava uma escola de treinamento, estava aberto e desguarnecido. Normalmente, haveria sentinelas da Força Aérea lá. Entrou e estacionou o carro no hangar da S-G, mas não encontrou ninguém de serviço, nem da equipe de mecânicos nem do pessoal de terra.