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O dia estava muito frio e ele se embrulhara em trajes de vôo de inverno. A neve cobria o campo e grande parte da pista. Enquanto esperava, checou o 206 que ia pilotar. Estava tudo bem. As peças que Tabriz precisava, rotor de cauda e duas bombas hidráulicas, estavam no compartimento de bagagem. Os tanques estavam cheios, o que lhe dava uma autonomia de vôo de duas e meia a três horas — de trezentos a quatrocentos quilômetros, dependendo do vento, da altitude e da potência. Teria que reabastecer a aeronave no meio do caminho. Seu plano de vôo previa que fizesse isso em Bandar-e Pahlavi, um porto no mar Cáspio. Sem esforço, empurrou o avião para a pista. Então tudo virou um inferno e ele se viu no centro de uma batalha.

Caminhões cheios de soldados entraram pelo portão e atravessaram o campo, sendo recebidos por uma saraivada de balas vindas da parte principal da base, onde estavam os hangares, as barracas e os prédios da administração. Outros caminhões aproximaram-se pela estrada que circundava o campo, atirando o tempo todo, depois um tanque blindado Bren juntou-se aos outros, com suas metralhadoras cuspindo fogo. Apavorado, Pettikin reconheceu as braçadeiras e os capacetes dos Imortais. A persegui-los, vinham ônibus blindados cheios de policiais paramilitares e outros homens que se espalharam pelo seu lado da base, protegendo-a. Antes que soubesse o que estava acontecendo, quatro deles o agarraram e o arrastaram para um dos ônibus, gritando com ele em farsi.

Pelo amor de Deus, eu não falo farsi — gritou, tentando soltar-se

Então um deles deu-lhe um soco no estômago e ele recuou, libertando-se e socou a cara do seu atacante. Imediatamente, outro homem puxou uma pistola e atirou. A bala entrou pela gola do seu casaco e ricocheteou violentamente no ônibus, lançando faíscas de pólvora queimada. Ficou paralisado. Alguém deu-lhe um murro na boca e os outros começaram a dar-lhe socos e pontapés Neste momento, aproximou-se um oficial de polícia.

— Americano? Você é americano? perguntou zangado, num inglês muito ruim.

— Eu sou inglês — gaguejou Pettikin,com a boca cheia de sangue, tentando livrar-se dos homens que o mantinham preso contra o capô do ônibus Eu trabalho na S-G Helicópteros e este é.

— Americano! Sabotador! — O homem enfiou o revólver na cara de Pettikin e ele viu os dedos do homem se retesarem no gatilho. — Nós, Savak, sabemos que vocês americanos são a causa de todos os nossos problemas!

Então, através da névoa do seu terror, ouviu uma voz gritar em farsi e sentiu afrouxarem-se as mãos de ferro que o prendiam. Sem acreditar, viu o jovem capitão paraquedista britânico, vestindo uma roupa de camuflagem e uma boina vermelha e dois soldados pequenos, fortemente armados, com feições orientais, granadas nos cintos e mochilas nas costas, em pé na frente deles. Despreocupadamente, o capitão atirava uma granada para cima e para baixo como se fosse uma laranja, com o pino de segurança no lugar. Tinha um revólver e uma faca de uma forma estranha na cintura. Repentinamente, parou e apontou para Pettikin e depois para o 206, gritou com o policial em farsi, fez um gesto imperioso com a mão e cumprimentou Pettikin.

— Pelo amor de Deus, faça uma cara importante, capitão Pettikin — disse rapidamente, com um agradável sotaque escocês, depois arrancou a mão do policial do ombro de Pettikin.

Um dos policias começou a erguer a arma, mas parou quando o capitão tirou o pino da granada, apertando com força a alavanca. Ao mesmo tempo, seus homens empunharam os rifles automáticos, segurando-os com displicência, mas prontos para atirar, O mais velho sorriu, afrouxando a faca da bainha.

— Seu helicóptero está pronto para partir?

— Sim... sim, está — balbuciou Pettikin.

— Ligue o motor depressa. Deixe as portas abertas e quando estiver pronto para partir faça-me um sinal e nós pulamos para dentro. Prepare-se para voar baixo e rápido. Vá! Tenzing, vá com ele. — O oficial fez um sinal com o polegar para o helicóptero que estava a uns cinqüenta metros de distância e virou-se, voltando a falar em farsi, xingando os iranianos, mandando que fossem para o outro lado onde a batalha diminuíra um pouco. O soldado chamado de Tenzing acompanhou Pettikin, que ainda estava tonto.

— Por favor, depressa, sahib — disse Tenzing e se encostou numa das portas, com a arma pronta. Pettikin não precisava de incentivo.

Mais carros blindados passaram mas não prestaram atenção neles, nem outros grupos de policiais e militares que tentavam desesperadamente defender a base contra a multidão que se aproximava. Atrás deles, o policial discutia furiosamente com o paraquedista, enquanto os outros olhavam, nervosos, por sobre os ombros na direção de onde vinha o rumor de "Allah-uuuu Akbarrr!" Misturado às vozes, ouviram-se mais tiros e algumas explosões. Duzentos metros adiante, na estrada que contornava a cerca, a vanguarda da multidão pôs fogo num carro estacionado que explodiu.

Os motores a jato do helicóptero ganharam vida e o som enraiveceu o policial, mas uma falange de civis, armados, entrou atirando pelo portão do lado oposto. Alguém gritou: "Mujhadin!" Imediatamente, todos naquele lado da base se agruparam para interceptá-los e começaram a atirar. Aproveitando esta distração, o capitão e o outro soldado correram para o helicóptero e pularam para dentro, Pettikin deu força total e voou a poucos metros da grama, inclinou o helicóptero para evitar um caminhão em chamas e depois subiu, sacolejando. O capitão cambaleou, quase deixou cair a granada, sem conseguir recolocar o pino por causa da manobra violenta de Pettikin. Estava no assento da frente e se agarrou com força, manteve a porta aberta, atirou cuidadosamente a granada para fora e observou-a cair.

— Ótimo — disse, ao vê-la explodir sem causar danos. Fechou a porta e colocou o cinto de segurança, verificou se os dois soldados estavam bem e ergueu os polegares para Pettikin.

Pettikin mal notou. Uma vez fora de Teerã, pousou o helicóptero numa clareira bem afastada de qualquer estrada ou aldeia, e verificou se havia algum buraco de bala. Quando viu que não havia nada, respirou aliviado.

— Cristo, não sei como agradecer, capitão — e estendendo a mão, com a cabeça doendo. — A princípio pensei que você fosse uma miragem, capitão...?

— Ross. Estes são o sargento Tenzing e o cabo Gueng.

Pettikin cumprimentou-os e agradeceu aos dois. Eram homens pequenos, alegres, mas duros e ágeis. Tenzing, o mais velho, devia ter uns cinqüenta anos.

— Vocês foram mandados pelos deuses, todos vocês.

— Não sabia como escapar daquela — sorriu Ross, os dentes muito brancos no rosto queimado. — Não teria sido muito bom atirar na polícia, em ninguém, aliás — nem mesmo na Savak.

— Concordo. — Pettikin nunca vira olhos tão azuis assim e calculou que ele devia ter quase trinta anos. — Que diabo estava acontecendo lá?

— Alguns recrutas na Força Aérea amotinaram-se e alguns oficiais e legalistas tentavam acabar com aquilo. Ouvimos dizer que partidários de Khomeini e esquerdistas estavam vindo ajudar os amotinados.

— Que confusão! Não sei como lhe agradecer. Como sabe o meu nome?

— Nós, ahn, soubemos do seu plano de vôo para Tabriz via Bandar-e Pahlavi e queríamos pegar uma carona. Mas nos atrasamos muito e pensamos que você já tinha partido — tivemos que dar voltas e mais voltas para chegar. Mas aqui estamos nós.