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— Sou o capitão... sou o capitão McIver, Duncan... Duncan McIver. Estou voltando do escritório para casa, e... e meu apartamento fica do outro lado do parque, depois da próxima esquina.

— Sua identidade, por favor.

Desajeitadamente, McIver pôs a mão no bolso interno do paletó. Sentiu os dois retratos que estavam ao lado do cartão de identidade, um do xá e outro de Khomeini, mas com todos os boatos do dia acerca de motins, não conseguiu decidir qual seria o certo, então não mostrou nenhum dos dois. O oficial examinou a identidade à luz da lanterna. Agora que os olhos de McIver se haviam habituado com a escuridão, notou o cansaço do homem, a barba por fazer e o uniforme amassado. Outros soldados observavam silenciosamente. Nenhum deles estava fumando, o que McIver achou estranho. O tanque se erguia sobre eles, malévolo, como se estivesse esperando para atacar.

— Obrigado. — O oficial entregou-lhe o cartão já bem gasto. Ouviram-se mais tiros, desta vez mais perto. Os soldados esperaram, espreitando a escuridão. — E melhor não ficar do lado de fora durante a noite, aga. Boa noite.

— Sim, obrigado. Boa noite. — Agradecido, McIver se afastou, imaginando se seriam legalistas ou revoltosos. — Cristo, se algumas unidades se amotinarem e outras não vai haver o diabo. Outra esquina, a rua e o parque também escuros e vazios, quando, há pouco tempo, havia sempre movimento e as luzes brilhavam, as janelas iluminadas e os empregados, as pessoas e as crianças todos alegres e rindo, correndo de um lado para o outro. É disso que eu mais sinto falta, pensou. Da alegria. Fico imaginando se algum dia esses tempos voltarão.

Seu dia fora frustrante, sem telefones, o contato por rádio com Kowiss ruim, e ele não conseguira se comunicar com nenhuma das outras bases. Novamente ninguém da sua equipe do escritório tinha chegado, o que o irritara ainda mais. Tentara passar um telex para Gavallan, mas não conseguira.

— Amanhã será melhor — disse, depois apressou o passo, sentindo-se mal com o vazio das ruas.

O prédio de apartamentos em que moravam tinha cinco andares e eles ocupavam um na cobertura. As escadas estavam mal iluminadas, com a eletricidade funcionando com metade da capacidade outra vez, o elevador parado há meses. Subiu as escadas cansado, com a fraca iluminação tornando a subida ainda mais tristonha. Mas dentro do apartamento as velas já estavam acesas e seu ânimo melhorou.

— Oi, Genny! — exclamou, trancou a porta e pendurou seu velho casacão inglês. — É hora do uísque!

— Duncan! Estou na sala de jantar, venha até aqui um minuto

Foi andando pelo corredor, parou na porta e ficou sem fala. A mesa estava coberta por uma dúzia de iguarias iranianas e travessas de frutas, com velas por toda parte. Genny sorriu para ele. E Xarazade também. Não é possível! E Xarazade, isto é obra sua? Que bom ver você e o que...

— Oh, é bom ver você também, Mac, você está cada dia mais moço, aliás, vocês dois. Peço desculpa por me intrometer — disse Xarazade, rapidamente, numa voz alegre e excitada — mas me lembrei que ontem foi o aniversário de casamento de vocês porque é cinco dias antes do meu aniversário, e sei que vocês gostam de horisht de carneiro e de polo e de outras coisas, então trouxemos tudo isso, Hassan, Dewa e eu, e velas também. — Ela não tinha nem um metro e meio, era o tipo de beleza persa que Ornar Khayyãm imortalizara. Ela se levantou. — Agora que você está de volta, já vou.

— Mas espere um momento, por que não fica e janta conosco e...

— Oh, mas não posso, por mais que quisesse, papai está dando uma festa esta noite e tenho que comparecer. Isto é só uma pequena lembrança. Deixarei Hassan aqui para servir e lavar a louça e espero que vocês se divirtam bastante. Hassan! Dewa! — chamou, depois abraçou Genny e McIver e correu para a porta onde seus dois empregados esperavam. Um deles segurava seu casaco de peles. Ela o vestiu, depois embrulhou-se na mortalha escura do chador, jogou outro beijo para Genny e saiu com o outro empregado. Hassan, um homem alto de trinta anos, vestindo uma túnica branca e calças escuras e exibindo um largo sorriso, tornou a fechar a porta.

— Posso servir o jantar, madame? — perguntou a Genny, em farsi.

— Sim, por favor, dentro de dez minutos — respondeu alegremente. — Mas primeiro o patrão vai tomar um uísque. — Imediatamente, Hassan foi até o aparador, serviu o drinque e trouxe a água, inclinou-se e os deixou.

— Por Deus, Gen, parecem os velhos tempos — disse McIver, com um sorriso.

— É. Nem parece que foi só há poucos meses.

Até pouco tempo eles tinham tido um casal de empregados maravilhoso, a mulher uma cozinheira exemplar, tanto para comida européia quanto iraniana, que compensava a preguiça do marido, a quem McIver apelidara de Ali Babá. Os dois desapareceram de repente, como quase todos os empregados de estrangeiros. Sem explicação e sem aviso.

— Fico imaginando se estarão bem, Duncan.

— Devem estar. Ali Babá era um espertalhão e deve ter economizado o bastante para mantê-los por muitos meses. Paula já foi?

— Não, ela vai tornar a passar a noite aqui. Nogger não. Foram jantar com uns colegas dela da Alitalia. — E arqueou as sobrancelhas. — O nosso Nogger acha que ela já está em condições de tomar uns tragos, mas eu espero que não. Gosto de Paula. — Podiam ouvir Hassan na cozinha. — Este é o som mais doce do mundo.

McIver sorriu para ela e ergueu o copo.

— Um brinde a Xarazade e ao fato de não termos que lavar a louça.

— Esta é a melhor parte — suspirou Genny. — Uma moça tão gentil, tão prestativa. Tom tem muita sorte. Xarazade disse que ele deve chegar amanhã.

— Espero que sim, ele está trazendo correspondência para nós. Você conseguiu falar com Andy?

— Não, não. Ainda não. — McIver decidiu não mencionar o tanque. — Você acha que poderia pedir Hassan ou um dos seus outros empregados emprestado uns dois dias na semana? Isso a ajudaria bastante.

— Não poderia fazer isso, você sabe como é.

— Acho que tem razão, é um problema.

No momento era quase impossível os estrangeiros conseguirem criados, não importa quanto estivessem dispostos a pagar. Até poucos meses conseguia-se sem dificuldade empregados cuidadosos e eficientes e com a ajuda deles e algumas palavras em farsi, era fácil administrar a casa e fazer compras.

— Essa era uma das melhores coisas do Irã — ela disse. — Faz tanta diferença; tira toda a alegria de se viver num país tão diferente.

— Você ainda o considera assim tão estranho, depois de tanto tempo?

— Mais do que nunca. Toda a delicadeza, a educação, dos poucos iranianos que conhecemos, sempre senti que eram superficiais, que seus sentimentos verdadeiros são os que estão sendo demonstrados agora. Não me refiro a todo mundo, evidentemente, os nossos amigos não: Annoush, por exemplo, é uma das pessoas melhores, mais gentis do mundo. — Annoush era a esposa do general Valik, o mais importante dos sócios iranianos. — A maioria das mulheres sentia isto, Duncan — acrescentou, pensativa —, talvez por isso é que os estrangeiros estavam sempre juntos, todos aqueles grupos de tênis, grupos de esqui, saídas de barco, fins-de-semana no mar Cáspio, e empregados para carregar as cestas de piquenique e lavar a louça. Acho que tínhamos uma boa vida, mas isso terminou.

— Vai voltar... confio em Deus que sim, tanto por nós quanto por eles. Quando voltava para casa, percebi, de repente, o que mais me faz falta. A alegria. Ninguém parece rir mais. Quero dizer, nas ruas, nem as crianças — McIver tomava seu uísque bem fraco.

— Sim, também sinto muita falta da alegria. Também sinto falta do xá. Uma pena que ele tivesse que partir. Tudo estava em ordem, pelo menos para nós, até pouco tempo. Pobre homem, que tratamento horrível estamos dando a ele agora, a ele e à sua linda esposa, depois de toda a amizade que ele nos demonstrou. Eu me sinto envergonhada... ele procurou fazer o melhor por seu povo.