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— Um quarto — sua avó era da Normandia — quelle horreur, e ela... — O barulho da torcida interrompeu sua brincadeira quando o atacante escocês arrancou a bola do meio do bolo, atirou-a para um lateral que a atirou para um outro que se livrou da confusão, derrubou dois adversários e se lançou para a linha de gol 45 metros à frente, ziguezagueando, mudando brilhantemente de direção para depois tornar a avançar, tropeçando mas conseguindo se equilibrar, depois se lançando numa última corrida gloriosa e mergulhando sobre a linha, sendo imediatamente afogado por corpos e aplausos ensurdecedores. Conseguiu! 17 a 15 agora. Um chute a gol bem-sucedido empataria o jogo. — Pra frente Escócia...

A porta se abriu e um empregado ficou ali parado. Simultaneamente, Gavallan levantou, observou apreensivo o chute que foi certeiro e respirou aliviado.

— O dobro ou nada, Maureen? — perguntou por cima do pandemônio, sorrindo para ela enquanto saía apressado.

— Aceito!

Ela já está vinte libras mais pobre, pensou, muito satisfeito consigo mesmo, atravessando o corredor da enorme casa velha e ampla, bem mobiliada com muito couro, bons quadros e belas antigüidades, muitas delas da Ásia, e foi para o escritório que ficava em frente. Lá dentro, seu motorista — que era também guarda-costas e homem de confiança — que tentava ligar para McIver em Teerã há três horas e controlar as ligações de fora, estendeu-lhe um dos fones.

— Sinto muito interromper, senhor, o...

— Conseguiu ligar para ele, Williams? Que bom. O placar está 17 a 17.

— Não, senhor, sinto muito, as linhas ainda estão ocupadas; mas achei que esta chamada era importante: Sir Ian Dunross.

A decepção de Gavallan desapareceu. Ele pegou o fone, Williams saiu e fechou a porta.

— Ian, que ótimo falar com você; é uma surpresa agradável.

— Olá, Andy, pode falar mais alto? Estou ligando de Shangai.

— Pensei que você estivesse no Japão; posso ouvi-lo muito bem. Como vão as coisas?

— Ótimas. Melhor do que eu esperava. Ouça, preciso falar depressa, é que ouvi um boato, dois, na verdade. O primeiro é que o tai-pan precisa fazer algum bom negócio para tirar a ele mesmo e à Struan's do buraco este ano. E quanto ao Irã?

— Todo mundo acha que as coisas vão esfriar, Ian. Mac tem tudo sob controle, na medida do possível; prometeram-nos todos os contratos da Guerney, de modo que acho que vamos aumentar, talvez dobrar nossos lucros, desde que não haja nenhum Ato de Deus.

— Talvez haja.

Toda a alegria de Gavallan desapareceu. Mais de uma vez seu velho amigo tinha-lhe dado algum aviso ou informação que mais tarde mostrava-se espantosamente correta — ele nunca soube onde Dunross obtinha suas informações, ou com quem, mas ele raramente se enganava.

— Outra coisa, acabei de saber que houve ordens secretas, de alto nível, talvez até nível de gabinete, para uma mudança financeira e administrativa na Imperial Air. Isso poderá afetá-lo?

Gavallan hesitou. A Imperial Air era a proprietária da Imperial Helicopters, sua maior competidora no mar do Norte.

— Não sei, Ian. Na minha opinião, eles esbanjam o dinheiro dos contribuintes; eles precisam mesmo de uma reorganização. Nós ganhamos deles em todas as áreas que posso imaginar, segurança, salários, equipamentos... por falar nisso, eu encomendei seis X63.

— O tai-pan sabe disso?

— Ficou puto quando soube. — Gavallan ouviu a gargalhada, e por um instante se viu de volta a Hong Kong dos velhos tempos, quando Dunross era tai-pan e a vida era dura mas profundamente excitante, quando Kathy era Kathy e não estava doente. Droga, pensou, e tornou a se concentrar. — Qualquer coisa que diga respeito à Imperial é importante; vou checar imediatamente. As outras novidades daqui são muito boas; novos contratos com a ExTex. Eu ia anunciar isso na próxima reunião de diretoria. A Struan's não está em perigo, está?

— A Casa Nobre está sempre em perigo, cara! — disse, dando outra gargalhada. — Só queria avisar. Tenho que desligar. Mande um beijo para Maureen.

— E mande um para Penélope também. Quando é que eu vejo você?

— Logo. Ligo quando puder; dê lembranças minhas ao Mac quando o encontrar. Até logo.

Imerso em pensamentos, Gavallan sentou-se na beirada da bela escrivaninha. Seu amigo sempre dizia 'logo' e isto podia significar um mês ou um ano, até dois. Já faz mais de dois anos que não o vejo, pensou. É uma pena que ele não seja mais tai-pan — uma pena ele ter-se aposentado, mas todos nós temos que sair para outra de vez em quando. "Para mim chega, Andy", dissera Dunross, "a Struan's está em excelente forma, os anos setenta prometem ser uma época fantástica para se expandir e... bem, agora não há mais nenhuma excitação. " Isto foi em 1970, logo depois que seu maior e mais odiado rival, Quillan Gornt, tai-pan da Rothwell-Gornt, afogou-se num acidente de barco perto de Sha Tin, nos Novos Territórios de Hong Kong.

Imperial Air? Gavallan deu uma olhada no relógio, estendeu a mão para o telefone, mas parou ao ouvir uma batida discreta na porta. Maureen entrou e sorriu alegre vendo que ele não estava no telefone.

— Ganhei. Foi 21 a 17. Está ocupado?

— Não, entre querida.

— Não posso, tenho que ver se o jantar está pronto. Dentro de dez minutos? Pode me pagar agora, se quiser.

— Depois do jantar! Você é um estouro, sra. Gavallan — disse rindo, e abraçou-a.

— Ótimo. Não se esqueça. — Sentia-se bem nos braços dele. — Tudo certo com Mac?

— Era o Ian. Ligou só para dizer alô. De Shangai.

— Ele também é um homem incrível. Quando vamos vê-lo?

— Logo.

Novamente ela riu junto com ele, os olhos brilhantes e a pele macia. Tinham se encontrado pela primeira vez há sete anos, no Castelo Avisyard, onde o então tai-pan, David MacStruan, dava uma festa de Ano-Novo. Ela tinha 28 anos, estava recém divorciada e não tinha filhos. Seu sorriso fizera-o esquecer as tristezas e Scot sussurrara: "Papai, se você não a arrastar para o altar é porque está maluco. " Sua filha Melissa dissera o mesmo. E assim, há três anos, eles se casaram, e desde então todos os dias tinham sido felizes.

— Dez minutos, Andy? Tem certeza?

— Sim, só tenho que dar um telefonema. — Gavallan viu-a franzir a testa e acrescentou rapidamente: — Prometo. Só um e depois Williams fica atendendo o telefone.

Ela lhe deu um beijo rápido e saiu. Gavallan discou.

— Boa noite, Sir Percy pode atender? Aqui é Andrew Gavallan. — Sir Percy Smedley-Taylor, diretor da Struan's Holdings, era membro do Parlamento e estava cotado para ministro da Defesa se os conservadores vencessem as próximas eleições.

— Alô, Andy, que bom você ter ligado. Se é a respeito da caçada do próximo sábado, pode contar comigo. Desculpe não ter respondido antes, mas as coisas têm sido bastante agitadas com este pseudo governo fazendo o país andar para trás, e os malditos sindicatos também; se ao menos eles se dessem conta disso.

— Concordo plenamente. Estou atrapalhando você?

— Não, você me pegou em casa por pouco; estou indo para o Parlamento para outra votação noturna. Entre outras coisas, os imbecis querem nos ver fora da OTAN. Como foi o teste com o X63?

— Maravilhoso! Melhor do que eles diziam. É o melhor do mundo!

— Gostaria muito de experimentá-lo, se você puder conseguir isto. O que posso fazer por você?

— Ouvi um boato de que está havendo uma reorganização secreta na alta cúpula da Imperial Air. Você ouviu alguma coisa?

— Meu Deus, Andy, seus contatos são muito bons. Eu só ouvi este boato hoje à tarde, cochichado em segredo por uma fonte fidedigna da oposição. Muito estranho! Na hora, não dei muita importância. O que será que eles estão tramando? Você tem algo de concreto para comprovar?

— Não. Só o boato.

— Vou verificar. Será... Será que os cafajestes estão se preparando para nacionalizar oficialmente a Imperial, junto com a Imp Helicopters, você e todo o mar do Norte?