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— Meu Deus — a preocupação de Gavallan aumentou. Esta idéia não lhe ocorrera. — Eles podem fazer isso se quiserem?

— Sim, facilmente.

DOMINGO 11 de fevereiro9

FORA DE BANDAR DELAM: 6: 55H. Amanhecera há pouco. Rudi tinha pousado longe da galeria e agora todos quatro estavam em pé na borda. A temperatura estava agradável e até o momento não houvera qualquer problema. Ainda vazava petróleo do oleoduto, mas sem pressão.

— É só o que ainda ficou no cano — disse Kyabi. — Deve parar dentro de uma hora. — Ele era um homem de feições marcadas, com cerca de cinqüenta anos, bem barbeado, de óculos, e usava uma roupa cáqui e um chapéu duro. Olhou em volta, zangado. A terra estava ensopada de petróleo e os gases eram quase insuportáveis. — Esta área toda é letal. — Foi andando na frente até o carro virado. Havia três corpos no meio dos destroços e já estavam começando a cheirar mal.

— Amadores? — perguntou Rudi, espantando as moscas. — Explodiu antes da hora?

Kyabi não respondeu. Entrou na galeria. Era difícil respirar mas ele examinou cuidadosamente a área, depois voltou para a estrada.

— Eu diria que você está certo, Rudi. — Olhou para Hussein com a cara fechada. — Foi gente sua?

— O imã não deu ordens para sabotar oleodutos. Isto é obra dos inimigos do Islã — respondeu o mulá, tirando os olhos do carro.

— Há muitos inimigos do Islã que afirmam serem seguidores do Profeta, que se apropriaram de suas palavras e as deturparam — disse Kyabi com amargura —, traindo a ele e ao Islã.

— Eu concordo, e Deus vai descobri-los e castigá-los. — Os olhos escuros de Hussein estavam igualmente severos. — O que o senhor pode fazer a respeito do vazamento?

Tinham levado duas horas para encontrar o vazamento. Voaram em círculos a poucas centenas de metros de altura, estarrecidos com a extensão do vazamento, que inundara o riacho e suas margens e, levado pela corrente, já atingira alguns quilômetros rio abaixo. Uma espuma grossa e negra cobria a superfície, de uma margem a outra. Até agora apenas uma aldeia fora afetada. Alguns quilômetros para o sul havia muitas outras aldeias. O rio fornecia água para beber, para lavar, e era o esgoto deles.

— Queime tudo, o mais depressa possível. — Kyabi olhou para o engenheiro. — Sim?

— Sim, sim, é claro. Mas e a aldeia, Excelência? — O engenheiro era um iraniano nervoso, de meia-idade, que observava, pouco à vontade, o mulá.

— Evacue a aldeia. Diga aos aldeões para saírem até tudo estar seguro.

— E se a aldeia pegar fogo? — perguntou Rudi.

— Se pegar, pegou. É a Vontade de Deus.

— Sim — disse Hussein. — Como vão fazer para queimar?

— Um fósforo seria o suficiente. É claro que você queimaria junto. — Kyabi pensou por um momento. — Rudi, você está com sua pistola de sinalização a bordo?

— Sim. — Rudi insistira em levar a pistola, dizendo que era equipamento essencial em caso de emergência. Todos os pilotos o apoiaram embora soubessem que não era essencial. — E com quatro foguetes de sinalização. Você...

Todos olharam para o céu ao ouvir o barulho de jatos se aproximando. Dois caças, voando baixo e muito depressa, passaram por cima deles em direção ao golfo. Rudi calculou que eles estavam indo diretamente para Kharg. Eram caças de combate e ele vira os mísseis que carregavam. Será que os mísseis são para a ilha Kharg? perguntou a si mesmo, sentindo a garganta apertada. Será que a revolução já chegou até lá? Ou é apenas um vôo de rotina?

— O que você acha, Rudi? Kharg? — perguntou Kyabi.

— Kharg fica naquela direção, patrão — disse Rudi, não querendo comprometer-se. — Se for, deve ser um vôo de rotina. Tínhamos uma dúzia de decolagens e aterrissagens por dia, quando estávamos lá. Você quer usar a pistola para atear fogo?

Kyabi mal o escutou. Suas roupas estavam manchadas de suor, as botas pretas de óleo. Estava pensando no motim da Força Aérea, em Doshan Tappeh. Se aqueles dois pilotos também são revoltosos e atacam Kharg e sabotam nossas instalações lá, pensou, quase sufocado de raiva e frustração, o Irã vai retroceder uns vinte anos.

Quando Rudi viera apanhá-lo cedinho, naquele dia, Kyabi ficara atônito ao ver o mulá e exigira uma explicação. Quando o mulá respondeu, cheio de ódio, que Kyabi deveria fechar todas as instalações e se declarar a favor de Khomeini imediatamente, quase ficou sem fala.

— Mas isso é a revolução. Isso significa a guerra civil!

— É a Vontade de Deus — dissera Hussein. — Você é iraniano, e não um lacaio estrangeiro. O imã ordenou que enfrentássemos as Forças Armadas e os vencêssemos. Com a ajuda de Deus, seremos a primeira república islâmica verdadeira na Terra, desde os dias do Profeta, que a Bênção de Deus esteja com ele.

Kyabi tinha tido vontade de dizer o que já dissera muitas vezes em particular:

— É um sonho de louco, e o seu Khomeini é um velho mau e senil, levado por uma vingança pessoal contra os Pahlavis Reza Xá, cuja polícia ele acredita que tenha assassinado seu pai, e o Muhammad Xá, cuja Savak ele acredita que tenha assassinado seu filho no Iraque há alguns anos; ele não passa de um fanático medíocre que quer nos fazer voltar, a nós, o povo, e principalmente as mulheres, para a Idade Média.

Mas hoje não dissera nada disso para o mulá. Em vez disso, voltou sua atenção para o problema da aldeia.

— Se a aldeia pegar fogo, eles podem reconstruí-la facilmente. Seus pertences é que são importantes. — E disfarçou o ódio.

— Pode ajudar, se quiser, Excelência. Eu apreciaria sua ajuda. Pode falar com eles.

Os aldeões se recusaram a partir. Pela terceira vez, Kyabi explicou que o fogo era o único meio de salvar a água deles e de salvar as outras aldeias. Então Hussein lhes falou, mas eles ainda se recusavam a partir. Nessa altura, já estava na hora da oração do meio-dia e o mulá conduziu as preces e mais uma vez lhes disse para saírem das margens do rio. Os mais velhos consultaram uns aos outros e disseram:

— É a Vontade de Deus. Nós não vamos partir.

— É a Vontade de Deus — Hussein concordou. E virou as costas e foi andando na frente até o helicóptero.

Novamente eles pousaram perto da galeria. Agora saía apenas um filete de óleo do cano.

— Rudi — disse Kyabi —, ande na direção do vento, o mais longe que puder, e atire um foguete de sinalização dentro da galeria. Depois atire outro no meio da corrente. Pode fazer isso?

— Posso tentar. Nunca atirei com uma pistola de sinalização antes.

Rudi andou em direção ao deserto. Os outros voltaram para o helicóptero que ele tinha estacionado a uma distância segura. Quando estava em posição, colocou o enorme cartucho dentro da pistola, mirou e puxou o gatilho. A pistola deu um coice maior do que esperava. O jato de fogo descreveu um arco baixo, ricocheteou ao cair antes do tempo, depois tornou a saltar e caiu dentro da galeria. Por um momento, nada aconteceu, depois a terra explodiu e o fogo se espalhou para o alto e para os lados, transformando o carro virado numa pira funerária. A onda de choque superaquecida o envolveu e depois se expandiu. Uma fumaça preta subiu em direção ao céu. O fogo começou a se espalhar, correndo em direção ao riacho.

O segundo jato vermelho fez um arco bem alto e depois caiu no rio. O rio pegou fogo. Eles souberam disto mais pelo som do que pela visão, mas quando tornaram a decolar, costeando o rio na direção do vento, viram o fogo se espalhando rapidamente correnteza abaixo. Vastas nuvens de fumaça negra marcavam seu caminho. Perto da aldeia voaram em círculo. Homens, mulheres e crianças fugiam com o que podiam carregar. Enquanto olhavam, a aldeia foi destruída.

Os quatro homens voaram de volta para casa.