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Para Kyabi, o lar era o QG da IranOil, nas redondezas de Ahwaz, um conjunto harmonioso de edifícios de concreto branco, com gramados bem irrigados e um heliporto cercado por um muro alto.

— Obrigado, Rudi — disse, com o coração pesado. Em volta do helicóptero formara-se um anel de homens armados que tinham vindo correndo assim que pousaram, gritando e apontando as armas. Atrás de Kyabi, o mulá brincava com seu terço de orações.

Kyabi soltou o cinto de segurança. É a Vontade de Deus, pensou. Fiz o que pude, rezei corretamente e sei que não há nenhum outro deus além de Deus e que Maomé é o seu Profeta. Quando eu morrer, morrerei amaldiçoando os inimigos de Deus, principalmente Khomeini, falso Profeta, assassino, e todos os que o seguem.

Ele se virou. Seu engenheiro estava com a cara cinzenta e rígido no assento ao lado de Hussein.

— Mulá, eu o recomendo à vingança de Deus. — Kyabi saltou.

Eles atiraram em Kyabi e arrastaram o engenheiro. Depois, como o mulá tivesse pedido, permitiram que o helicóptero partisse.

10

NA BASE AÉREA DE KOWISS: 17:09H. Manuela caminhava depressa pelas instalações da S-G em direção ao prédio de escritórios de um andar que parecia agradável ao sol da tarde, com a torre de rádio projetando-se como um segundo andar. Usava um macacão de vôo com o emblema da S-G nas costas e seu cabelo castanho-avermelhado estava enfiado num boné largo e pontudo, mas o andar denunciava-lhe a feminilidade.

No escritório havia três homens da equipe iraniana. Educadamente, eles se levantaram e sorriram, observando-a com seus olhos cobertos por cílios espessos.

— Boa tarde, Excelência Pavoud — disse em farsi, com um sorriso. — O capitão Ayre queria ver-me?

— Sim, madame senhora. Sua Excelência está na torre — respondeu o chefe dos funcionários. — Posso ter a honra de conduzi-la? — Ela recusou e agradeceu, e quando ela já tinha atravessado o corredor e estava subindo a escada em espiral, Pavoud disse insolentemente. — É escandaloso o modo como ela se exibe para nós. Ela faz isso só para nos provocar

— Pior do que uma prostituta do bairro velho, Excelência — disse um outro, igualmente aborrecido. — Por Deus, de todos os infiéis, os americanos são os piores e suas mulheres são piores ainda. E esta então, esta está pedindo, está implorando confusão...

— Ela está pedindo um bom cacete iraniano — disse um homenzinho, se coçando.

— Ela deveria usar um chador, cobrir-se e caminhar com discrição — disse Pavoud. — Nós somos todos homens aqui. Nós todos já geramos filhos. Será que ela acha que somos eunucos?

— Ela deveria ser açoitada por nos provocar.

— Com a ajuda de Deus, ela o será em breve — publicamente. Todo mundo será submetido às leis islâmicas, e aos castigos. — E Pavoud apertou de leve o nariz.

— Dizem que as mulheres americanas não têm pentelhos.

— É que elas raspam as partes.

— Com ou sem pentelhos, Excelência chefe, eu gostaria de meter nela até ela gemer, de alegria, disse o homenzinho, e eles riram juntos.

— Aquele imbecil do marido dela se diverte toda noite, desde que ela chegou. — Os olhos do chefe brilharam. — Eu os ouvi gemendo de noite. — Acendeu um cigarro no toco do anterior, depois se levantou e olhou pela janela. Usava óculos e ficou observando o céu até ver um helicóptero ao longe fazer a curva para descer. Morte a todos os estrangeiros, pensou, depois acrescentou do fundo do coração: E morte a Khomeini e todos os seus parasitas! Longa vida para o Tudeh e para a revolução das massas!

A torre era pequena, com janelas de vidro de todos os lados, e muito bem equipada. Esta fora sua base permanente por muitos anos, então a S-G tivera tempo para equipá-la com modernos equipamentos de segurança e recursos para pouso em qualquer tipo de tempo. Freddy Ayre, piloto chefe na ausência de Starke, esperava por Manuela.

— HXB está se preparando para descer — disse quando ela chegou. — Ele.

— Oh, que ótimo — ela interrompeu alegre.

Tinham tentado entrar em contato com Starke o dia inteiro, sem sucesso:

— Não se preocupe — dissera-lhe Ayre —, o HF deles muitas vezes sai do ar, assim como o nosso. — Desde a noite anterior, logo depois de escurecer, a única notícia fora a breve comunicação de Starke de que passaria a noite em Bandar Delam e que entraria em contato com eles hoje.

— Sinto muito, Manuela, mas Duke não está a bordo. Marc Dubois está pilotando.

— Houve um acidente? — exclamou, seu mundo desmoronando. — Ele está ferido?

— Oh, não. Nada disso. Quando Marc se comunicou conosco há poucos minutos, disse que Duke tinha ficado em Bandar Delam e que ele tinha recebido ordem de conduzir o mulá e seu grupo na viagem de volta.

— Foi só isto? Você tem certeza?

— Sim. Olhe — disse Ayre, apontando para fora —, lá está ele.

O 206 se aproximava vindo da direção do sol. Atrás dele, as montanhas

Zagros se erguiam majestosas. Embaixo, estavam as chaminés da enorme refinaria, com suas línguas de fogo queimando sem parar. Pousou exatamente no centro da plataforma de aterrissagem Um.

— HXB desligando os motores — disse Marc Dubois no rádio.

— Roger, HXB — respondeu o operador de serviço na torre, Massil Tugul, um velho funcionário palestino. Ele mudou a freqüência para a da base. — Base, não temos mais nenhum pássaro no sistema agora. Confirmo que HVU e HCF voltarão antes do pôr-do-sol.

— OK, S-G. — Houve um momento de silêncio, depois, no canal principal da base, eles ouviram uma voz entrar falando em farsi, transmitindo do 206. A voz falou durante meio minuto e depois parou.

— Insha'Allah! — Resmungou Massil.

— Quem foi que falou? — Perguntou Ayre.

— O mulá Hussein, aga.

— Que diabo ele disse? — perguntou-lhe Ayre, esquecendo que Manuela sabia falar em farsi.

Massil hesitou. Manuela respondeu por ele, com o rosto pálido.

— O mulá disse: "Em Nome de Deus e em Nome do Turbilhão de Deus, ataquem!" Repetiu isso sem parar, sem pa...

Do outro lado do campo ouviu-se o som abafado de tiros. Imediatamente, Ayre pegou o microfone:

— Marc, à la tour, vite, immédiatement! — Ordenou, com um sotaque excelente, depois examinou a base, a um quilômetro de distância. Havia homens correndo para fora de suas barracas. Alguns carregavam armas. Vários caíram quando foram atacados. Ayre abriu uma das janelas para ouvir melhor. Gritos longínquos de 'Allah-u Akbar' se misturavam com as explosões dos rifles automáticos.

— O que é aquilo? Perto do portão, do portão principal? — perguntou Manuela, com Massil em pé ao lado dela, igualmente chocado e nem um pouco assustado.

Ayre apanhou o binóculo e focalizou-o.

— Meu Deus, há soldados atirando para a base e... e caminhões invadindo o portão... uma meia dúzia... Faixas Verdes, mulás e soldados estão saltando dos caminhões.

Pelo canal da base veio uma voz excitada, gritando em farsi, que foi cortada abruptamente. Mais uma vez Manuela traduziu: "Em Nome de Deus, matem todos os oficiais que se oponham ao imã Khomeini e tomem a base. É a revolução!"

Lá em baixo, eles viram o mulá Hussein e dois Faixas Verdes descerem do 206, com as armas na mão. O mulá fez sinal para Dubois sair da cabine, mas o piloto sacudiu a cabeça e apontou para as hélices girando e continuou com as manobras de aterrissagem. Hussein hesitou.

O trabalho cessara em todas as instalações da S-G. As pessoas debruçavam-se nas janelas ou tinham saído para a pista e estavam lá, em pequenos grupos silenciosos, olhando para o outro lado do campo. O barulho do tiroteio aumentou. Perto dali, o jipe e o caminhão de combustível que iam atender ao 206 frearam bruscamente assim que o tiroteio começou. Hussein tinha feito sinal para o jipe, deixando um homem para tomar conta do helicóptero. O motorista o viu aproximando-se, pulou fora e saiu correndo. O mulá praguejou e, junto com um dos Faixas Verdes, sentou-se ao volante, ligou o motor e partiu em direção às barracas.