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No bangalô de Starke, Ayre, Manuela e Dubois ouviram pelo intercomunicador da base. Ela terminou de traduzir o discurso de Peshadi, feito em farsi. Agora só havia estática. A fumaça cobria a base e o ar estava pesado por causa do cheiro. Os dois homens tomavam vodca e suco de laranja em lata, ela bebia água mineral. Um aquecedor portátil, de gás butano, aquecia agradavelmente o aposento.

— É curioso — disse ela, Pensativamente, forçando-se a não pensar em toda aquela matança, nem em Starke lá em Bandar Delam. — É curioso que Peshadi não tenha terminado com as palavras "Longa vida para o xá" Esta vitória não é dele? Ele deve estar apavorado.

— Eu também estaria — disse Ayre. — Ele vai.. —Todos deram um pulo quando o intercomunicador da base tocou. Ayre levantou-se

— Alô?

— Aqui é o major Changiz. Ah, capitão Ayre, eles foram para o seu lado da base? O que houve com vocês?

— Nada. Nenhum revoltoso veio para cá.

— Louvado seja Deus. Estávamos todos preocupados com sua segurança. Tem certeza de que não há ninguém morto ou ferido?

— Ninguém — que eu saiba.

— Graças a Deus. Nós temos uma porção. Felizmente não sobrou nenhum inimigo ferido.

— Nenhum?

— Nenhum. O senhor não se importará que eu lhe peça para não mencionar este incidente pelo rádio para ninguém... para ninguém, capitão. Segurança máxima. O senhor compreende?

— Alto e claro, major.

— Ótimo. Por favor, fique na escuta, na freqüência da nossa base. Por segurança, vamos controlar a sua. Por favor, durante esta emergência, não use seu rádio HF sem nos consultar. — Ayre sentiu o sangue ferver mas não disse nada. — Por favor, fiquem na escuta para ouvir as instruções que o coronel Peshadi dará às oito horas, e agora mande Esvandiary e todos os seus fiéis para as orações da noite, imediatamente.

— Certamente, mas o 'Pé-quente'... Esvandiary está de licença por uma semana. — Esvandiary era o gerente da IranOil.

— Muito bem. Mande os demais a cargo de Pavoud.

— Agora mesmo. — O telefone ficou mudo. Ayre retransmitiu o que fora dito e depois foi dar as ordens.

Na torre, Massil estava muito inquieto.

— Mas, capitão, Excelência, estou de serviço até o pôr-do-sol. Ainda temos dois 212 para chegar e...

— Ele disse todos os fiéis. Imediatamente. Seus papéis estão em ordem, você está no Irã há anos. Ele sabe que você está aqui, então é melhor você ir, a não ser que tenha algo a temer.

— Não, não, nada.

— Não se preocupe, Massil — disse Ayre, vendo o suor na testa do homem. — Eu vou esperar os rapazes. Não se preocupe. E vou ficar aqui até você voltar. Não vai levar muito tempo.

Ayre orientou o pouso dos dois 212, esperando com uma impaciência cada vez maior, já que Massil deveria ter voltado há muito tempo. Para passar o tempo, tinha tentado trabalhar um pouco, mas desistiu, com as idéias em tumulto. O único pensamento que o animou foi que sua mulher e seu filho estavam a salvo na Inglaterra — apesar do tempo horrível que fazia lá, das tempestades, nevascas, chuvas, frio, greves, e do governo.

O HF voltou a falar, pouco depois de escurecer.

— Alô, Kowiss, aqui é McIver de Teerã...

11

TEERÃ — NO ESCRITÓRIO DA S-G: 18:50H. Alô, Kowiss, aqui é McIver, de Teerã, está me ouvindo?

— Teerã, aqui é Kowiss, aguarde Um — expressão que queria dizer 'por favor, espere um momento'.

— Está bem, Freddy — disse McIver e colocou o HF de volta na mesa. Ele e Tom Lochart, que chegara de Zagros naquela tarde, estavam no escritório, no último andar do edifício que funcionava como QG da S-G desde que ela iniciara suas operações no Irã, há quase dez anos. O edifício tinha cinco andares e um telhado achatado, onde Genny fizera um agradável jardim com cadeiras, mesas e uma churrasqueira. O general Beni-Hassan, amigo de Andrew Gavallan, recomendara muito aquele edifício:

— Nada menos que o melhor para a companhia de Andy Gavallan. Aqui há espaço para meia dúzia de escritórios, o preço é razoável, você tem lugar no telhado para seu próprio gerador e sua antena de rádio, fica próximo da avenida principal que vai para o aeroporto, há comércio por perto, e aqui está a pièce de resistence! — Orgulhosamente, o general mostrara a McIver o toalete. Era comum e não muito limpo.

— O que há de tão especial nele? — Perguntara McIver, intrigado.

— É o único que existe no edifício, os outros são do tipo de se agachar, apenas um buraco no chão em cima do esgoto, e se você não estiver acostumado a se agachar, é uma operação complicada. Na verdade, é uma chateação, especialmente para as senhoras, algumas já caíram dentro do buraco, com penosas conseqüências — disse o general, jovialmente. Ele era um homem bem-apessoado, muito forte, em boa forma física.

— Os banheiros são todos assim, aqui no Irã?

— Até nas melhores casas, em toda parte, menos nos hotéis modernos. Quando se pensa sobre isso, Mac, este tipo de banheiro é mais higiênico, nada toca em nada. E tem, também, isto aqui. — O general apontara para um pequeno esguichador ligado à torneira da pia. — Nós usamos água para nos limpar, usamos sempre a mão esquerda, que é a mão para a merda, a direita é para comer, é por isso que você nunca oferece nada com a mão esquerda. É considerado extrema falta de educação, Mac. Nunca coma ou beba com a mão esquerda no mundo islâmico, e não se esqueça de que a maioria dos toaletes e banheiros não possuem esguichos, e você tem que usar a água de um balde, se houver um. Como eu disse, é uma operação complicada, mas é uma maneira de viver. Diga-se de passagem, não há pessoas canhotas no Islã. — E deu uma nova risada bem-humorada. — A maioria dos muçulmanos não consegue evacuar confortavelmente a menos que se agache... são os músculos... então muitos se agacham nos assentos ocidentais quando vão evacuar. Estranho, não é? mas também, fora da maioria das cidades e mesmo nelas, na maior parte da Ásia, no Oriente Médio, na China, na Índia, na África, na América do Sul, não há nem água corrente... — E McIver relembrava essa conversa que tivera com o general, quando a voz de Lochart trouxe-o de volta ao presente.

— Um centavo pelos seus pensamentos, Mac. — Disse Lochart. O canadense alto sentava-se em frente a ele, ambos em velhas poltronas. A luz elétrica e o aquecimento estavam ligados com potência máxima, fornecida por seu próprio gerador.

— Estava pensando nos banheiros de se agachar. Detesto esses banheiros e a maldita água. Não consigo me acostumar com eles — resmungou McIver.

— Agora eles não me incomodam mais, eu nem noto. Temos esse tipo de banheiro em nosso apartamento. Xarazade disse que, se eu quisesse, mandaria construir um toalete ocidental como presente de casamento, mas eu falei que podia me arranjar com aquele mesmo. — Lochart sorriu cinicamente. — Agora não me incomoda mais, mas, meu Deus, isso foi uma das coisas que fez Deirdre se mandar.

— Acontece o mesmo com todas as esposas. Este é o maior problema para todas elas, para Genny também. Não é culpa minha que a maioria das pessoas faça isto desse jeito. Graças a Deus, temos uma privada de verdade no apartamento. Senão Genny se amotinaria. — McIver mexeu no botão do volume do aparelho. — Vamos, Freddy — murmurou.

Havia muitos mapas nas paredes, nenhum quadro, embora se percebesse a marca empoeirada de um quadro que fora retirado recentemente — a obrigatória fotografia do xá. Lá fora, o céu noturno estava iluminado pelas fogueiras que salpicavam o horizonte da cidade escurecida, não havia nenhuma outra luz a não ser aquela. Tiros, de rifles e metralhadoras, misturados com o som constante da cidade — as multidões rugindo "Allahhh-u Akbarrr... " Ouviu-se então no alto-falante:

— Aqui é Kowiss. Capitão Ayre falando. Estou ouvindo alto e claro, capitão McIver.