Não tinham tido notícias de Pettikin desde que ele partira, na manhã do dia anterior, para Tabriz. Tinham recebido informações trancadas do seu pessoal de terra, em Galeg Morghi — de que Pettikin fora raptado e forçado a partir 'com três pessoas desconhecidas', que 'três pilotos da Força Aérea iraniana tinham seqüestrado o 206 e voado em direção à fronteira', ou que 'os três passageiros eram oficiais de alta patente fugindo do país'. Por que três passageiros em todas as histórias? McIver perguntava a si mesmo. Ele sabia que Pettikin devia ter chegado a salvo no aeroporto porque seu carro ainda estava lá, embora o tanque estivesse vazio, o rádio arrancado, e o carro depredado. Bandar-e Pahlavi, onde deveria ter reabastecido o helicóptero, não respondia
— Tabriz quase nunca era alcançada. Praguejou baixinho. Fora um mau dia para McIver.
O dia todo, credores irritados estiveram lá a aborrecê-lo, os telefones não funcionavam, o telex ficou congestionado e levou horas para ficar livre, e seu encontro do meio-dia com o general Valik que, segundo Gavallan, prometera lhes fornecer dinheiro semanalmente, tinha sido um desastre.
— Assim que os bancos abrirem, pagaremos o que estamos devendo.
— Pelo amor de Deus, você vem dizendo isso há semanas — retrucou McIver, friamente. — Eu preciso do dinheiro agora.
— Nós todos precisamos — tinha respondido o general, tremendo de raiva, mas muito consciente dos empregados iranianos na sala ao lado que, sem dúvida, estavam escutando. — Há uma guerra civil em curso e eu não posso abrir os bancos. Você vai ter que esperar. — Valik era um homem rechonchudo, careca, com a pele morena, um ex-general do Exército, que usava roupas e relógios caros. Ele abaixou ainda mais a voz. — Se não fosse pelos estúpidos americanos que traíram o xá e o convenceram a refrear nossas gloriosas Forças Armadas, não estaríamos nesta confusão.
— Eu sou inglês, como você sabe muito bem, e foram vocês mesmos que causaram esta confusão.
— Inglês, americano, qual é a diferença? A culpa é toda de vocês. Vocês traíram o xá e o Irã e agora vão pagar por isso.
— Com o quê? — perguntou McIver, azedamente. — Todo o nosso dinheiro está com vocês.
— Se não fosse por nós, seus sócios iranianos, eu principalmente, vocês não teriam nenhum dinheiro. Andy não está reclamando. Eu recebi um telex do meu querido colega, general Javadah, dizendo que Andy ia assinar os novos contratos que eram da Guerney esta semana.
— Andy disse que recebeu um telex seu confirmando a promessa que tinha feito a ele de nos fornecer dinheiro toda semana.
— Eu prometi que tentaria. — O general fez um esforço para controlar a raiva, pois precisava da cooperação de McIver. Enxugou a testa e abriu a pasta. Estava cheia de notas grandes de riais, mas ele manteve a tampa levantada para que McIver não pudesse ver o que havia dentro, depois tirou um pequeno maço de notas, tornando a fechar a pasta. Bem devagar, contou quinhentos mil riais — cerca de seis mil dólares. — Aqui está — disse com um grande floreio, colocando as notas em cima da mesa e o resto de volta na pasta. — Na semana que vem, eu ou um dos meus colegas traremos mais. Um recibo, por favor.
— Obrigado. — McIver assinou o recibo. — Quando podemos es...
— Na semana que vem. Se os bancos abrirem, poderemos acertar tudo. Sempre mantivemos nossa palavra. Sempre. Não conseguimos os contratos da Guerney? — Valik inclinou-se para a frente e abaixou ainda mais a voz. — Eu preciso de um vôo especial. Amanhã, quero um 212 para partir na parte da manhã.
— Para ir aonde?
— Tenho que inspecionar algumas instalações em Abadan — disse Valik, e McIver notou o suor.
— E como vou conseguir as licenças necessárias, general? Com todo o espaço aéreo controlado pelos militares e...
— Não se preocupe com licenças, eu só...
— Se não tivermos um plano de vôo aprovado pelos militares, será um vôo ilegal
— Você pode dizer que pediu licença e que ela foi dada verbalmente. Qual é o problema?
— Em primeiro lugar, é contra a lei do Irã, general, a sua lei, em segundo lugar, mesmo com uma licença concedida verbalmente e com a aeronave fora do espaço aéreo de Teerã, ainda é preciso fornecer o número de registro ao controle militar de tráfego aéreo mais próximo... todos os planos de vôo são registrados no QG da sua Força Aérea e eles são ainda mais severos com relação a helicópteros do que os civis. E se não tiver um número, o controlador vai mandá-lo descer na base militar mais próxima e se apresentar à torre. E quando pousar, eles vão recebê-lo muito enfurecidos, e com razão, o aparelho será apreendido e passageiros e tripulação serão mandados para a cadeia.
— Então encontre um jeito. É um vôo muito importante. Os, ahn, os contratos da Guerney dependem disso. Tenha o 212 pronto às nove horas, digamos, em Galeg Morghi.
— Por que lá? Por que não no aeroporto internacional?
— É mais conveniente... e mais tranqüilo, neste momento.
McIver franziu a testa. Valik tinha autoridade para solicitar e autorizar um vôo como esse.
— Muito bem, vou tentar. — Puxou o bloco de formulários de planos de vôo, notou que a última cópia referia-se ao vôo de Pettikin para Tabriz e mais uma vez sua ansiedade cresceu... onde ele se teria metido? Sob 'passageiros' ele escreveu general Valik, presidente da CHI e entregou-lhe o formulário. — Por favor assine no lugar do responsável.
Valik empurrou o formulário de volta, imperiosamente.
— Não há necessidade do meu nome ser colocado aí... ponha apenas quatro passageiros: minha mulher e meus dois filhos estarão comigo, e alguma bagagem. Vamos ficar em Abadan uma semana, depois voltaremos. Apenas faça com que o 212 esteja preparado às nove horas em Galeg Morghi.
— Sinto muito, general, os nomes têm que constar do formulário, senão a Força Aérea nem aceita o plano de vôo. Todos os passageiros têm que ser identificados. Vou pedir uma licença, mas não tenho muita esperança de conseguir. — McIver começou a escrever os outros nomes.
— Não, pare! Não há necessidade de fornecer os nossos nomes. Diga apenas que a viagem é para mandar algumas peças para Abadan. Sem dúvida você precisa enviar algumas peças para lá. — Ele estava coberto de suor.
— Está bem, mas primeiro faça o favor de assinar a autorização, com o nome de todos os passageiros e o seu destino.
— Consiga isso sem me envolver. Imediatamente! — E o rosto do general ficou vermelho.
— Não posso. — McIver também estava ficando impaciente. — Eu repito, os militares vão querer saber todos os 'quem' e os 'onde'. Eles estão grudando mais do que papel de pegar mosca. Vamos ter ainda mais interrogatórios para responder do que normalmente, porque há semanas não temos nenhum tráfego para aquele lado. Teerã não é como o sul, onde voamos o dia inteiro.
— Este será um vôo especial, para levar peças de reposição. Simples.
— Não é nada simples. Os guardas, em Galeg Morghi, não o deixariam embarcar sem papéis, e nem a torre. Eles o veriam subindo a bordo, pelo amor de Deus. — McIver encarou-o, exasperado. — Por que não arranja a licença o senhor mesmo, general? O senhor tem os melhores conhecimentos no Irã. O senhor mesmo deixou isso muito claro. Para o senhor seria fácil.
— Estes aparelhos são todos nossos. Nós somos os donos deles!
— Sim, é verdade — disse McIver, com a mesma impaciência. — Quando vocês tiverem pago por eles. Vocês nos devem quase quatro milhões de dólares de atrasados. Se o senhor quer ir para Abadan, isso é problema seu, mas se eles o apanharem fazendo isso num helicóptero da S-G, com papéis falsos que eu preciso assinar, o senhor vai parar na cadeia, junto com a sua família, comigo e com o piloto, e eles vão apreender os nossos aparelhos e nos proibirão de voar para sempre. — Só em pensar na cadeia ele se sentiu mal. Se um décimo das histórias que contavam sobre a Savak e as cadeias iranianas fosse verdade, elas eram um lugar muito indesejável.