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Valik controlou a raiva. Sentou-se e deu um sorriso forçado.

— Não há necessidade de discutirmos, Mac, nós já passamos por muita coisa juntos. Eu, eu vou recompensá-lo por isso, hein? Tanto você quanto o piloto. — E abriu a pasta. — Hein? Doze milhões de riais... para dividir entre os dois.

McIver olhou perplexo para o dinheiro. Doze milhões eram cerca de 150 mil dólares — mais de 100 mil libras esterlinas. Tonto, ele sacudiu a cabeça.

— Está bem — disse Valik, imediatamente. — Doze milhões para cada um, mais as despesas. Metade agora e metade quando estivermos a salvo no aeroporto do Kuwait, hein?

McIver estava em estado de choque, não só por causa do dinheiro, mas porque Valik dissera abertamente 'Kuwait', o que McIver suspeitava mas não queria acreditar. Era uma mudança de 180 graus em relação a tudo o que Valik vinha dizendo há meses: há meses que ele contava vantagem a respeito do xá vencer a oposição e Khomeini. E mesmo depois da inacreditável partida do xá e da espantosa volta de Khomeini a Teerã — meu Deus, isso tinha acontecido apenas há dez dias? — Valik dissera uma dúzia de vezes que não havia nada com que se preocupar, porque Bakhtiar e os generais das forças imperiais tinham o domínio completo do poder e nunca permitiriam que "esta revolução de Khomeini, e secretamente dos comunistas, fosse bem-sucedida". Nem os Estados Unidos permitiriam isso. Nunca. No devido momento, as Forças Armadas tomariam o poder e assumiriam o governo. Ainda na véspera Valik repetira Confiantemente tudo isso e dissera que tinha sido informado que, a qualquer momento, o Exército interviria e que o fato dos Imortais terem dominado o motim da Força Aérea em Doshan Tappeh era o primeiro sinal disso.

McIver desviou o olhar do dinheiro e olhou dentro dos olhos do homem que estava sentado à sua frente.

— O que é que você sabe que nós não sabemos?

— Sobre o que você está falando? — Valik começou a gritar. — Eu não sei de...

— Alguma coisa aconteceu. O que foi?

— Tenho que dar o fora, com a minha família — disse Valik, à beira do desespero. — Os boatos são terríveis: golpe ou guerra civil, e com ou sem Khomeini nós estamos marcados. Você compreende? É a minha família, Mac. Eu tenho que sair, até que as coisas se acalmem. Doze milhões para cada um, hein?

— Que boatos?

— Boatos! — Valik quase cuspiu nele. — Consiga a licença de qualquer maneira. Eu pago adiantado.

— Não vou fazer isso, não importa a quantia que você ofereça. Tem que ser tudo direito.

— Seu imbecil hipócrita! Direito? Como é que você vem operando no Irã durante todos esses anos? Pishkesh! Quanto você mesmo já não pagou por baixo da mesa, ou para os funcionários da alfândega? Pishkesh! Como é que você pensa que nós conseguimos os contratos, hein? Os contratos da Guerney? Pishkesh! Pondo dinheiro nas mãos certas. Será que você é tão imbecil que ainda não conhece o jeito iraniano?

— Eu conheço o pishkesh, não sou imbecil, e sei que o Irã tem o seu jeito de fazer as coisas. Oh, sim, o Irã tem o seu jeito de fazer as coisas. A resposta é não.

— Então o sangue da minha mulher e dos meus filhos sujará as suas mãos, não as minhas.

— Do que é que você está falando9

— Você tem medo da verdade?

McIver olhou-o espantado. A mulher e os dois filhos de Valik eram os preferidos dele e de Genny.

— O que o faz ter tanta certeza?

— Eu... eu tenho um primo na polícia. Ele viu... uma lista secreta da Savak. Eu devo ser preso depois de amanhã junto com muitas outras pessoas importantes para... para acalmar a oposição. E a minha família. E você sabe como eles tratam... como podem tratar mulheres e crianças na frente do... — Valik não pôde continuar.

As defesas de McIver caíram por terra. Todos eles já tinham ouvido as terríveis histórias que contavam a respeito de mulheres e filhos sendo torturados na frente de homens presos, para forçá-los a fazer alguma coisa, ou apenas por maldade.

— Está bem — concordou, sentindo-se derrotado, sabendo que fora apanhado numa armadilha. — Vou tentar, mas não espere conseguir uma licença, e não deveria ir para o sul, para Abadan. Sua melhor chance seria a Turquia. Talvez pudéssemos levá-lo de helicóptero até Tabriz, então você poderia comprar sua passagem pela fronteira, de caminhão. Deve ter amigos lá. E você não pode escapar através de Galeg Morghi. Não há nenhum jeito de você se esgueirar para bordo com Annoush e as crianças, nem mesmo de entrar naquele campo militar, sem ser detido. Você... você teria que ser apanhado fora de Teerã. Em algum lugar longe das estradas e fora da vista do radar.

— Está bem, mas tem que ser Abadan.

— Por quê? Você está reduzindo suas chances à metade.

— Tem que ser. Minha família... meu pai e minha mãe foram para lá por terra. É claro que você tem razão a respeito de Galeg Morghi. Nós poderíamos ser apanhados fora de Teerã e... — Valik pensou por um momento, depois continuou rapidamente: —...na junção do oleoduto sul e do rio Zehsan... é longe da estrada e é seguro. Estaremos lá de manhã, às onze horas. Deus o recompensará, Mac. Se... se você pedir uma licença para transportar peças, eu... eu darei um jeito para que seja concedida. Por favor, eu imploro.

— Mas, e quanto ao reabastecimento? Quando pousarmos para reabastecer, um dos funcionários certamente vai encontrá-los e vocês serão presos em segundos.

— Solicite reabastecimento na base aérea de Isfahan. Eu... eu posso dar um jeito em Isfahan. — Valik enxugou o suor do rosto.

— E se alguma coisa sair errada?

— Insha'Allah! Você vai pedir autorização para transportar peças, não pode haver nenhum nome na licença ou eu estarei morto ou algo pior, bem como Annoush, Jalal e Setarem. Por favor.

McIver sabia que era loucura.

— Eu vou pedir a licença: peças, e apenas para Bandar Delam. Por volta da meia-noite devo saber se a licença foi concedida. Vou mandar alguém ficar esperando para trazê-la ao meu apartamento. Os telefones não estão funcionando, você terá que ir até lá para confirmar. Isto me dará tempo para pensar e decidir sim ou não.

— Mas..

— Meia-noite.

Sim, está bem. Eu estarei lá. — E quanto aos outros sócios?

— Eles... eles não sabem de nada. Emir Paknouri ou um dos outros vai me representar.

— E sobre as quantias semanais?

— Eles providenciarão. — Mais uma vez Valik enxugou a testa. — Que Deus o abençoe. — Vestiu o sobretudo e dirigiu-se para a porta. A pasta ficou sobre a mesa.

— Leve isto com você.

— Ah, você quer que eu pague no Kuwait? Ou na Suíça? Em que moeda?

— Perguntou Valik, voltando-se.

— Não há nenhum pagamento. Você pode autorizar um vôo. Talvez possamos levá-lo até Bandar Delam... depois você estará por sua conta.

— Mas... mas mesmo assim, você precisará de dinheiro para pagar o piloto, ou qualquer outra despesa. — E Valik olhou para ele sem acreditar.

— Não, mas você pode me adiantar cinco milhões de riais do dinheiro que a sociedade nos deve e de que estamos precisando desesperadamente. — McIver rabiscou um recibo e entregou a ele. — Se você não estiver aqui, o Emir ou os outros podem não ser tão generosos.

— Os bancos vão reabrir na próxima semana, temos certeza disso. Oh, sim, temos certeza.

— Bem, vamos esperar que sim e que possamos receber o que nos devem.

— Viu a expressão de Valik, viu-o contar o dinheiro, sabendo que ele o achava louco por não ter aceito o seu pishkesh, sabendo também que, inevitavelmente, Valik tentaria subornar o piloto, quem quer que fosse ele, para levá-los até seu destino se o helicóptero conseguisse sair do espaço aéreo de Teerã, e isso seria um desastre.