— Sim, uma vez. Mas é uma bebida forte... não gosto muito de saque.
— Eu concordo — disse de Plessey, e acrescentou, em seguida —, exceto no inverno, como chocolate quente. O senhor falava sobre a Austrália?
— Eu gosto muito do país. Meu filho mais velho está na Universidade de Sydney, e nós o visitamos de vez em quando. É uma terra maravilhosa — tão grande, tão rica, tão vazia.
Sim, pensava Scragger, com severidade. Você quer dizer tão vazia e esperando para ser invadida pelas suas milhões de formigas operárias? Graças a Deus, estamos a milhares de quilômetros de distância e os Estados Unidos nunca permitirão que nos controlem.
— Bolas! — dissera-lhe McIver uma vez, durante uma discussão amistosa, quando ele, McIver e Pettikin estavam passando uma semana de licença em Cingapura, há dois anos. — Se em algum momento do futuro o Japão escolhesse a hora certa, digamos quando os Estados Unidos estivessem às voltas com a Rússia, os Estados Unidos não poderiam fazer nada para ajudar a Austrália. Acho que eles fariam um acordo e...
— Dirty Duncan perdeu o juízo, Charlie — dissera Scragger.
— Tem razão — concordara Pettikin. — Ele só está implicando com você, Scrag.
— Oh, não, não estou. O seu verdadeiro protetor é a China. Aconteça o que acontecer, a China estará sempre lá. E só a China sempre terá condições de deter o Japão, caso este fique suficientemente poderoso para se expandir para o sul. Meu Deus, a Austrália é o grande prêmio do Pacífico, a arca do tesouro do Pacífico, mas nenhum dos caras lá se preocupam em planejar para o futuro ou em usar essa vantagem. Tudo o que vocês querem são três dias de folga por semana, com mais salário por menos trabalho, escola gratuita, serviço médico gratuito, previdência gratuita, e que outros idiotas cuidem da defesa. Vocês são piores do que a pobre e velha Inglaterra que não tem nada! O verdadeiro pro...
— Vocês têm o petróleo do mar do Norte. E se isso não é uma sorte dos diabos eu...
— O problema mesmo é que vocês, imbecis, não sabem distinguir entre o seu cú e um buraco na parede.
— Sente-se Scrag! — dissera Pettikin, ameaçadoramente. — Você concordou em não brigar. Tente acertar Mac quando não estiver bêbado, se não vai acabar na sarjeta. Ele pode ter pressão alta, mas ainda é faixa-preta.
— Eu acertar Dirty Duncan? Você deve estar brincando, cara. Eu não bato em velhos...
Scragger sorriu consigo mesmo, relembrando a bebedeira que tomaram para se despedir das bebedeiras. Cingapura é um bom lugar, pensou, depois tornou a prestar atenção no navio, sentindo-se melhor, bem-alimentado e muito satisfeito do navio já estar carregado.
A noite foi ótima. Bem acima dele, viu as luzes de navegação de um avião que ia em direção a oeste e ficou imaginando para onde ele iria, qual seria a linha aérea e quantos passageiros estariam a bordo. Sua visão noturna era excelente e podia ver que, agora, os homens na barcaça tinham quase acabado de desatarraxar o cano. Quando este fosse içado para bordo, o petroleiro poderia partir. De madrugada, o Rikomaru estaria no estreito de Ormuz e ele decolaria e voaria para casa em Lengeh com de Plessey.
De repente, seus olhos alerta viram alguns homens se afastarem correndo do ponto de junção do duto, meio iluminado pelos holofotes, que ficava bem no início da praia. Sua atenção se concentrou neles.
Houve uma pequena explosão e, em seguida, um clarão de fogo quando o óleo incendiou. Todos a bordo observavam perplexos. As chamas começaram a se espalhar, e eles ouviram gritos — em farsi e em francês — vindos de terra. Homens corriam, saindo das barracas e da área dos reservatórios. De repente, o ruído feio de uma metralhadora disparada na escuridão. Pelo sistema de alto-falantes do navio, ouviu-se a voz do capitão falando em japonês:
— Posição de combate!
Imediatamente, os homens na barcaça redobraram seus esforços, apavorados que o fogo pudesse espalhar-se pelo cano até a barcaça e esta explodisse. Assim que o bocal se soltou da válvula, os iranianos pularam para o barco e fugiram, tendo terminado seu trabalho. O engenheiro francês e um marujo japonês correram pela prancha enquanto o guincho do navio começava a arrastar o cano para bordo.
Sob o tombadilho, a tripulação correra para colocar-se em posição de defesa, alguns na casa de máquinas, alguns na ponte, outros nos passadiços principais. Por um momento, os três iranianos que controlavam o fluxo de combustível do navio foram deixados sozinhos. Eles correram para o tombadilho.
Um deles, Said, fingiu que tropeçava e caía perto da entrada do tanque principal. Quando teve certeza de que não estava sendo observado, abriu rapidamente as calças e pegou a pequena bomba de explosivo plástico que passara despercebida quando o revistaram ao subir a bordo. Tinha prendido a bomba na parte interior da coxa, bem em cima, entre as pernas. Rapidamente, ativou o detonador químico que explodiria em uma hora, prendeu a bomba atrás da válvula principal e correu para o passadiço. Quando chegou no tombadilho, ficou perplexo ao ver que os homens que estavam na barcaça não tinham esperado por ele e que o barco já estava quase na praia. Os outros dois iranianos discutiam excitadamente, também enfurecidos por terem sido deixados a bordo. Nenhum deles pertencia à sua organização de esquerda.
Na praia, o óleo derramado estava incendiando, mas o bombeamento fora interrompido e o vazamento isolado. Três homens tinham-se queimado muito, um francês e dois iranianos. O carro de bombeiro despejava água salgada nas chamas, retirando-a do golfo. Não havia vento e a fumaça negra tornava ainda mais difícil o combate ao fogo.
— Despejem um pouco de espuma — gritou Legrande, o administrador francês. Quase louco de ódio, ele tentou conseguir um pouco de ordem, mas todo mundo corria de um lado para o outro sob os holofotes, sem saber o que fazer. — Jacques, junte todo mundo e vamos contar o pessoal. O mais depressa que puder. — Contaram ao todo sete franceses e trinta iranianos na ilha. A equipe de segurança, formada por três homens, saiu correndo no meio da escuridão, sem armas a não ser bastões malfeitos, sem saber qual a próxima sabotagem nem de onde viria.
— M'sieur — acenava o médico iraniano para Legrande. Legrande caminhou em direção à praia, para o sistema de canos e válvulas que ligavam os tanques à barcaça. O médico ajoelhava-se ao lado de dois dos feridos que estavam deitados num pedaço de lona, inconscientes e em choque. Um deles tivera o cabelo inteiramente queimado, bem como a maior parte do rosto, o outro foi atingido por um jato de óleo, na explosão inicial, que incendiara instantaneamente suas roupas, causando-lhe queimaduras de primeiro grau por quase todo o corpo.
— Madonna — murmurou Legrande e fez o sinal-da-cruz, ao ver a pele toda queimada, mal reconhecendo seu capataz iraniano.
Um dos engenheiros franceses estava sentado, dobrado em dois, gemendo baixinho, com os braços e as mãos queimados. Entremeava sua agonia a uma torrente constante de palavrões.
— Vou levá-lo para o hospital o mais depressa que puder, Paul.
— Encontre esses filhos da puta e queime-os — rosnou o engenheiro e depois tornou a se concentrar no seu sofrimento.
— Claro — disse Legrande, sentindo-se impotente, e falou para o médico
— Faça o que puder, vou solicitar uma emergência. — Correu para a sala de rádio que ficava em uma das barracas, com os olhos se ajustando à escuridão. Então notou dois homens do outro lado da pista, subindo pela trilha de uma pequena elevação. Do outro lado da elevação, havia uma enseada com um cais, usado para velejar e nadar. Aposto que os filhos da puta têm um barco lá, pensou na mesma hora. Então, transtornado de raiva, gritou na direção deles:
— Filhos da puuuuta!
Quando houve a primeira explosão, de Plessey tinha corrido para o rádio, localizado na ponte, através do qual o navio se comunicava com a praia.