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O céu estava coberto de nuvens escuras, carregadas de neve, o que não lhe agradou nem um pouco; tinha detestado sair do calor da sua cama. Pouco antes do amanhecer, o despertador o acordara.

— Pensei que você não ia, querido. Pensei que você tivesse dito que só ia partir amanhã.

— Tenho um vôo imprevisto, pelo menos acho que tenho. Foi por isso que Valik veio aqui. Tenho que ver Mac primeiro, mas se eu tiver que ir, ficarei ausente por alguns dias. Torne a dormir, querida. — Tinha feito a barba e se vestido apressadamente, tomara uma xícara de café e saíra. Lá fora ainda estava escuro, havia apenas um vislumbre de claridade, o ar estava cáustico com a fumaça pesada. Ao longe, ouvia-se o inevitável tiroteio esporádico. De repente, teve um pressentimento.

McIver morava a poucos quarteirões de distância. Lochart ficou surpreso de encontrá-lo completamente vestido.

— Alô, Tom. Entre. A licença chegou à meia-noite, entregue por mensageiro. Valik tem poder; não acreditei que a conseguíssemos. Quer café?

— Obrigado. Ele veio vê-lo ontem à noite?

— Sim. — McIver foi andando na frente para a cozinha. O café estava cheiroso. Não havia nem sinal de Genny, Paula ou Nogger Lane. Ele serviu Lochart. — Valik me disse que esteve com você e que você concordou em ir.

— Eu disse que iria se você concordasse, e depois de falar com você, e se nós conseguíssemos a licença. Onde está Nogger?

— Voltou para o apartamento dele. Eu o dispensei na noite passada. Ele ainda está muito abalado por ter-se envolvido naquele tumulto.

— Posso imaginar. O que aconteceu com a moça? Paula?

— Está no quarto de hóspedes, o vôo dela da Alitalia ainda não saiu, mas provavelmente ela vai partir hoje. George Talbot, da embaixada, passou por aqui ontem à noite e contou que ouviu dizer que os revolucionários foram expulsos do aeroporto e que hoje, se tudo corresse bem, haveria alguns vôos partindo e chegando.

— Então talvez Bakhtiar vença afinal — disse Lochart balançando a cabeça, pensativo.

— Vamos torcer que sim. A BBC, hoje de manhã, informou que Doshan Tappeh ainda está nas mãos de Khomeini e que os Imortais o estão cercando, esperando sentados nos traseiros.

Lochart estremeceu ao pensar em Xarazade lá. Ela prometera não tornar a fazer aquilo.

— Talbot disse alguma coisa a respeito de golpe?

— Apenas que o boato é que Carter se opõe. Se eu fosse iraniano, e general, não hesitaria. Talbot concordou, disse que o golpe deve ser dado nos próximos três dias, tem que ser, os revolucionários estão conseguindo armas demais

Lochart quase podia ver Xarazade entoando aquela ladainha junto com outras milhares de pessoas, o jovem capitão Karim Peshadi declarando-se a favor de Khomeini e três Imortais desertando.

— Não sei o que faria, Mac, se fosse um deles.

— Graças a Deus não somos e isto aqui é o Irã, não a Inglaterra, conosco nas barricadas. De qualquer maneira, Tom, se o 125 chegar hoje, vou colocar Xarazade nele. Ela estará mais segura em Al Shargaz, pelo menos por umas duas semanas. Ela conseguiu o passaporte canadense?

— Sim, mas Mac, acho que ela não vai.

Lochart contou que Xarazade participara da revolta em Doshan Tappeh.

— Meu Deus, ela precisa examinar a cabeça. Vou mandar Gen conversar com ela.

— Genny vai para Al Shargaz?

— Não. Se dependesse de mim, ela já estaria lá, há uma semana. Vou fazer o que puder. Xarazade está bem?

— Maravilhosa, mas eu gostaria muito que Teerã acalmasse. Fico doente de preocupação com ela aqui e eu em Zagros. — Lochart tomou um gole de café. — Se é para ir, é melhor eu andar logo. Fique de olho nela, sim? — E olhou para McIver, com um olhar franco e direto. — Qual é o objetivo deste vôo, Mac?

— Conte-me exatamente o que Valik lhe disse ontem à noite — retrucou McIver, encarando-o.

Lochart contou-lhe. Exatamente.

— Ele é um filho da mãe por diminuí-lo dessa maneira.

— Ele conseguiu me humilhar. Infelizmente, ele é da família e no Irã... bem, você sabe. — Lochart disfarçou a amargura. — Perguntei a ele o que havia de tão importante em algumas peças e alguns riais, e ele me enrolou. — Viu que McIver estava com a cara fechada e parecia mais velho e mais grave do que nunca, até mesmo mais duro. — Mac, o que há afinal de tão importante com essas peças e esse dinheiro?

McIver terminou o café e serviu-se de um pouco mais. Abaixou a voz.

— Não quero acordar nem Genny nem Paula, Tom. Isso é entre nós. — E contou a Lochart o que acontecera no escritório. Exatamente.

— Savak? Ele, Annoush e os pequenos Setarem e Jalal? Meu Deus! — Lochart sentiu o sangue subir-lhe ao rosto.

— Foi por causa disso que concordei em tentar. É preciso. Também estou num beco sem saída. Nós dois estamos. E tem mais. — McIver contou-lhe a respeito do dinheiro.

— Doze milhões de riais, em dinheiro? Ou o equivalente na Suíça? — perguntou Lochart, quase engasgando.

— Fale baixo. Sim, doze para mim e doze para o piloto. Ontem à noite ele disse que a oferta ainda estava de pé e que eu não fosse ingênuo. — E McIver acrescentou zangado: — Se Gen não estivesse aqui, eu o teria atirado na rua.

Lochart mal o ouvia. Doze milhões de riais ou dinheiro em outro lugar? Mac tem razão. Se Valik ofereceu isso, aqui em Teerã, o que não pagaria quando estivesse perto da fronteira?

— Cristo!

O que você acha, Tom? Você ainda quer ir?

— Não posso recusar. Não posso. Muito menos agora que conseguimos a licença. — Ela estava em cima da mesa da cozinha e ele a apanhou. Estava escrito: EP-HBC permissão para Bandar Delam. Vôo prioritário para transporte de peças de reposição urgentes. Reabastecer na Base II da Força Aérea em Isfahan. Um tripulante: capitão Lane. O nome Lane fora riscado, e tinham escrito: Doente. Piloto substituto________. Havia um espaço em branco que ainda não fora preenchido por McIver.

McIver deu uma olhada em direção à porta da cozinha, que estava fechada, e depois tornou a olhar para Lochart.

— Valik quer ser apanhado fora de Teerã. Em segredo.

— Isso cheira cada vez pior. Qual é o local de embarque?

— Se você conseguir chegar em Bandar Delam, Tom, e nem isso é certo, ele vai pressioná-lo para levá-los até o Kuwait.

— É claro. — Lochart devolveu o olhar de McIver.

— Ele vai usar todo tipo de pressão, a família, Xarazade, tudo. Especialmente dinheiro.

— Milhões. Em dinheiro vivo... que nós dois sabemos que eu estou precisando. — A voz de Lochart não se alterou. — Mas se eu voar para o Kuwait sem uma autorização iraniana, num helicóptero com registro iraniano, sem a aprovação nem do Irã nem da companhia, com passageiros iranianos não-autorizados tentando escapar do seu governo ainda legal, eu serei um seqüestrador, sujeito a Deus sabe quantas acusações criminais aqui e no Kuwait. As autoridades do Kuwait apreenderiam o helicóptero, me atirariam na cadeia, e com certeza me extraditariam para o Irã. De qualquer maneira, teria destruído meu futuro como piloto e jamais poderia voltar para o Irã e para Xarazade. A Savak seria até capaz de agarrá-la, portanto não vou fazer uma coisa dessas.

— Valik é um patife perigoso. Ele vai armado. Poderia colocar uma arma na sua cabeça e obrigá-lo a prosseguir.

— Isso é possível. — A voz de Lochart não se alterou, mas por dentro ele estava fervendo. — Eu não tenho opção. Tenho que ajudá-lo, e vou fazê-lo, mas não sou nenhum imbecil. — Depois de uma pausa, acrescentou: — Nogger está a par disso?

— Não.

Na vigília daquela noite, depois de avaliar os possíveis planos, McIver decidira ir ele mesmo e não arriscar a vida nem de Lane nem de Lochart. Para o diabo com o exame médico e com o fato disso ser ilegal, dissera a si mesmo, este é um vôo maluco, então um pouco mais de loucura não vai fazer mal nenhum.

Seu plano era simples: depois de conversar com Tom Lochart, diria apenas que resolvera não autorizar o vôo, que não assinaria a licença e que iria de carro até o local de embarque com gasolina suficiente para Valik fazer a viagem de carro. Mesmo que Lochart quisesse ir com ele, seria fácil marcar um encontro e não aparecer, e simplesmente ir direto para Galeg Morghi, colocar seu próprio nome na licença como piloto e decolar. No local de embarque...