— O quê? — perguntou.
— Só há três possibilidades — repetiu Lochart. — Você se recusa a autorizar o vôo, você me autoriza ou autoriza uma outra pessoa. Você dispensou Nogger, Charlie não está aqui, então sobramos eu e você. Você não pode ir, Mac. De jeito nenhum, é perigoso demais.
— É claro que eu não iria, a minha licença...
— Você não pode ir, Mac — disse Lochart com firmeza. — Sinto muito. Você simplesmente não pode.
McIver suspirou, sua sabedoria venceu sua obsessão em voar e ele se decidiu pelo segundo plano.
— Sim. Você tem razão. Concordo. Mas ouça com atenção: se você quer ir, isso é com você, eu não estou mandando. Vou autorizá-lo, se é o que você quer, mas sob condições. Se você chegar no local de embarque e estiver tudo limpo, apanhe-os. Então vá para Isfahan. Valik disse que poderia arranjar isso. Se Isfahan estiver OK, prossiga. Talvez o 'sr. Jeitinho' possa ajeitar isso também. É nisso que nós vamos ter que apostar.
— É nisso que eu estou apostando.
— Bandar Delam é o fim da linha. Você não vai atravessar a fronteira. Concorda? — McIver estendeu a mão.
— Combinado — disse Lochart, apertando-lhe a mão e rezando para conseguir manter a promessa.
McIver disse-lhe qual era o lugar combinado, assinou a licença e notou que suas mãos tremiam. Se algo sair errado, adivinhe atrás de quem a Savak virá? De nós dois. E talvez até de Gen, pensou McIver, mais uma vez cheio de horror. Não contou a Lochart que ela tinha ouvido o que Valik dissera na noite anterior e que tinha calculado o resto. "Mas eu estou de acordo, Duncan. É terrivelmente arriscado, mas você tem que tentar ajudá-los, e Tom também, ele também não tem opção."
McIver entregou a licença a Lochart.
— Tom, você tem ordens expressas de não atravessar a fronteira. Se o fizer, acho que você perderá mesmo tudo, inclusive Xarazade.
— Esse esquema é todo doido, mas, é isso.
— Sim, boa sorte.
Lochart balançou a cabeça, devolveu-lhe o sorriso e partiu.
McIver fechou a porta da frente. Espero que tenha sido a decisão correta, pensou, com a cabeça doendo. Era loucura eu mesmo ir, e no entanto... Gostaria que fosse eu que estivesse indo e não ele, gostaria...
— Oh — exclamou, espantado. Genny estava em pé ao lado da porta da cozinha, com um robe quente sobre a camisola. Não estava usando os óculos e olhou para ele apertando os olhos.
— Eu... eu estou muito feliz por você não ter ido, Duncan — disse num fio de voz.
— O quê?
— Ora, vamos, seu bobo, eu conheço você muito bem. Você não pregou olho tentando tomar uma decisão... nem eu, preocupada com você. Sei que se eu fosse você, teria ido, ou querido ir. Mas, Duncan, Tom é forte e vai ficar bem e eu desejo muito que ele leve Xarazade e não volte nunca mais... — As lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto. — Estou tão contente que você não tenha ido. — Enxugou as lágrimas e foi para o fogão pôr água para ferver. — Sinto muito, eu às vezes me descontrolo. Desculpe.
— Gen, se o 125 chegar hoje, você vai embora nele? Por favor — pediu, abraçando-a.
— Certamente, querido, se você também for.
— Mas Gen, você tem que ir.
— Duncan, deixe-me falar um instante, por favor. — Ela se virou e pôs os braços em volta dele, descansando a cabeça no seu peito e continuou a falar na mesma vozinha que tanto o perturbava. — Três dos seus sócios já fugiram com as famílias e com todo o dinheiro que conseguiram, o xá e sua família foram embora com todo o dinheiro deles, milhares de outros, a maior parte das pessoas que conhecemos, já partiram, você mesmo disse isso, e agora, se até mesmo o grande general Valik está fugindo, apesar de todos os seus contatos e ele deve tê-los dos dois lados do muro, e... e se nem os Imortais conseguiram esmagar a pequena rebelião de Doshan Tappeh, feita por uns poucos cadetes da Força Aérea e por civis mal armados, praticamente no quintal deles, já está na hora de nós irmos embora.
— Nós não podemos, Gen — explodiu, e ela podia ouvir o coração dele batendo no peito e sua preocupação aumentou. — Isso seria um desastre
— Seria apenas por pouco tempo, até as coisas melhorarem.
— Se eu fugisse do Irã, isso arruinaria a S-G.
— Isso eu não sei, Duncan, mas certamente a decisão depende de Andy, não de você. Foi ele que nos mandou para cá.
— Sim, ele me perguntou o que eu achava e não pude aconselhá-lo a desistir e deixar para trás vinte ou trinta milhões de dólares em helicópteros e peças. Nesta confusão, eles não durariam uma semana, seriam saqueados ou danificados, nós perderíamos tudo, tudo. Não se esqueça, Gen, todo o dinheiro da nossa aposentadoria está empregado na S-G, tudo.
— Mas, Duncan, você não acha que..
— Eu não vou deixar os nossos helicópteros e peças aqui-. — McIver sentiu o sangue subir e ficou momentaneamente em pânico ao pensar nisso. — Eu simplesmente não posso.
— Então leve-os com você.
— Pelo amor de Deus, não podemos tirá-los daqui-, não podemos arranjar as licenças, não podemos tirar os registros iranianos, não podemos. . estamos presos aqui até a guerra acabar.
— Não estamos, não, Duncan. Nem você, nem eu, nem os nossos rapazes, você tem que pensar neles também. Temos que sair. Eles vão nos expulsar de qualquer maneira, quem quer que vença, principalmente Khomeini. — Um arrepio percorreu-a ao pensar no primeiro discurso dele feito no cemitério: "Eu rezo para que Deus corte as mãos de todos os estrangeiros."
EM TABRIZ UM: 9:30H. O Range Rover vermelho saiu dos portões do palácio do khan em direção a Tabriz, e à estrada que levava a Teerã. Erikki dirigia e Azadeh estava a seu lado. Fora o primo dela, coronel Mazardi, o chefe de polícia, quem persuadira Erikki a não ir para Teerã na sexta-feira.
— A estrada estaria extremamente perigosa; é ruim durante o dia — ele disse. — Os revoltosos não vão voltar já, vocês estão perfeitamente seguros. É muito melhor ir ver Sua Alteza, o khan, e pedir seu conselho. Seria muito mais sábio.
— Erikki, é claro que faremos o que você decidir, mas eu realmente ficaria mais feliz se passássemos a noite em casa e víssemos papai — dissera Azadeh.
— Minha prima tem razão, capitão; é claro que vocês podem fazer o que quiserem, mas eu juro pelo Profeta, que Deus guarde as Suas palavras eternamente, que a segurança de Sua Alteza é tão importante para mim quanto para você. Se ainda se sente inclinado a partir, parta amanhã. Posso assegurar-lhe que não há perigo aqui. Vou colocar guardas. Se esse tal de Rakoczy ou qualquer outro estrangeiro ou esse mulá chegarem a meio quilômetro daqui ou do palácio Gorgon, vão se arrepender.
— Oh, sim, Erikki, por favor — falou Azadeh, com entusiasmo. — É claro, meu querido, que faremos o que você quiser, mas talvez você desejasse consultar Sua Alteza, meu pai, sobre que atitude tomar.
Com relutância, Erikki concordara. Arberry e o outro mecânico, Dibble, tinham decidido ir para o Hotel Internacional de Tabriz e passar o fim-de-semana lá.
— As peças devem chegar na segunda-feira, capitão. O velho unha-de-fome do McIver sabe que o nosso 212 tem que estar funcionando na quarta-feira ou terá que nos mandar um outro e ele não vai gostar disso. Vamos ficar quietos, fazer o nosso trabalho e colocar o aparelho em condições de voar. O gerente da base pode ir nos buscar. Somos britânicos, não temos com que nos preocupar; ninguém vai tocar em nós. E não se esqueça que estamos trabalhando para o governo deles, quem quer que seja o maldito governo, e não temos nenhuma briga com esses malditos, esses sangüinários, perdoe-me. Não se preocupe conosco, nem o senhor nem a patroa. Vamos ficar quietos e esperar o senhor voltar na quarta-feira. Divirtam-se em Teerã.