Então Erikki fora, acompanhado pelo coronel Mazardi, para Tabriz. O gigantesco palácio dos khans Gorgons localizava-se no sopé das montanhas, e ocultava vários hectares de jardins e pomares por trás de altos muros. Quando chegaram, toda a casa estava acordada e reunida — madrasta, meias-irmãs, sobrinhas, sobrinhos, empregados e filhos dos empregados, mas não Abdullah Khan, seu pai. Azadeh foi recebida de braços abertos, com lágrimas, alegria e mais lágrimas, e fizeram planos imediatos para um grande almoço no dia seguinte para comemorar a sorte de a terem em casa depois de tanto tempo.
— Mas que horror! Bandidos e um mulá vagabundo ousaram entrar na sua propriedade? Mas Sua Alteza, nosso amado pai, não doou um monte de dinheiro e centenas de hectares de terra para diversas mesquitas em Tabriz e nos seus arredores?
Erikki Yokkonen foi recebido com educação, mas com reserva. Todos tinham medo dele, por causa do seu tamanho, da sua rapidez com a faca, da violência do seu temperamento, e não conseguiam compreender a delicadeza dele com os amigos, nem o imenso amor que demonstrava por Azadeh. Ela era a quinta de seis meias-irmãs, e havia um meio-irmão mais moço. Sua mãe, morta há vários anos, fora a segunda mulher de Abdullah. Seu adorado irmão de sangue, Hakim, um ano mais velho do que ela, fora banido por Abdullah Khan e ainda estava em desgraça em Khoi, no noroeste — banido por crimes contra o khan pelos quais tanto ele quanto Azadeh juravam que não era culpado.
— Primeiro um banho — disseram suas meias-irmãs, alegremente —, depois você pode contar-nos o que aconteceu, com todos os detalhes, todos os detalhes. — E rindo, arrastaram Azadeh. No refúgio da sala de banho, quente, aconchegante, luxuosa e completamente fora do alcance de todos os homens, conversaram e fofocaram até de madrugada.
— O meu Mahmud não faz amor comigo há uma semana — disse Najoud, a meia-irmã mais velha de Azadeh.
— Deve ser outra mulher, Najoud querida — alguém disse.
— Não, não é isso. Ele está tendo problemas de ereção.
— Oh, pobre querida! Já tentou dar-lhe ostras...
— Ou experimentou usar óleo de rosas nos seus seios...
— Ou esfregou-o com extrato de jacarandá, chifre de rinoceronte e almíscar...
— É tirado de uma antiga receita do tempo de Ciro, o Grande. Isso é segredo, mas o pênis do Grande Rei era muito pequeno quando ele era jovem, mas depois que conquistou os medas, milagrosamente seu pênis se tornou motivo de inveja. Parece que conseguiu uma poção mágica dos medas que se ele esfregasse por um mês... O sumo sacerdote deles deu-a a Ciro em troca de sua vida, com a condição do Grande Rei jurar manter o segredo dentro da família. E o segredo tem passado de pai para filho, através dos séculos, e agora, queridas irmãs, ele está em Tabriz!
— Oh, com quem, queridíssima irmã Fazulia, com quem? Que as bênçãos de Deus estejam para sempre com você, com quem? O desgraçado do meu marido, Abdullah, que os seus três últimos dentes caiam, não tem uma ereção há anos. Com quem?
— Oh, fique quieta, Zadí, como ela pode dizer se você fica falando? Continue, Fazulia.
— Sim, fique quieta, Zadi, e agradeça a sua sorte. O meu Hussan vive ereto, de manhã, de tarde e de noite, e vive tão cheio de desejo que não me dá tempo nem para escovar os dentes!
— Bem, o segredo do elixir foi comprado pelo tataravô do atual dono por um preço enorme, me disseram que custou um punhado de diamantes...
— Eeeeeeeeeeeeee...
— .. mas agora pode-se comprar um pequeno frasco por cinqüenta mil riais.
— Oh, é muito caro! Onde vou arranjar tanto dinheiro?
— Como sempre, você pode arranjá-lo no bolso dele, e pode, evidentemente, pechinchar. Nada é demais para se ter uma poção dessas, já que não podemos ter outros homens.
— Se funcionar...
— É claro que funciona, oh, onde se compra isso, querida Fazulia?
— No bazar, na loja de Abu Bakra bin Hassan bin Saiidi. Eu sei o caminho! Iremos amanhã. Antes do almoço. Você irá conosco, querida Azadeh!
— Não, obrigada, querida irmã.
Elas deram várias risadas e uma das mais jovens disse:
— Pobre Azadeh, ela não precisa nem de jacarandá nem de armisca, ela precisa do contrário.
— Jacarandá e almíscar, garota, com chifre de rinoceronte — disse Fazulia.
Azadeh riu junto com elas. Todas tinham lhe perguntado, abertamente ou em particular, se o pênis do seu marido era tão grande quanto ele e como podia, sendo tão magra e frágil, lidar com aquilo e suportar seu peso.
— Com mágica — respondera para as mais jovens. — Facilmente — dissera para as mais sérias. — Com um êxtase inacreditável, como deve ser no jardim do paraíso — para as ciumentas e para aquelas que detestava e que queria provocar
Nem todo mundo aprovara seu casamento com esse gigante estrangeiro. Muitos tinham tentado influenciar seu pai contra ele e contra ela. Mas ela vencera e sabia quem eram os seus inimigos: sua meia-irmã Zadi, louca por sexo, a mentirosa prima Fazulia, com seus exageros idiotas, e, principalmente, a víbora do grupo, a irmã mais velha, Najoud, e o seu infame marido, Mahmud, que Deus os castigue pelas suas maldades.
— Najoud, querida, estou muito feliz de estar em casa, mas está na hora de dormir.
E foram para cama. Todas elas. Algumas alegres, outras tristes, algumas odiando, outras amando, algumas com os maridos, outras sozinhas. Os homens podiam ter quatro esposas ao mesmo tempo, de acordo com o Corão, desde que tratassem todas elas com igualdade — só Maomé, o Profeta, tivera permissão para ter quantas esposas desejasse. De acordo com a tradição, o Profeta teve 11 esposas durante sua vida, embora não ao mesmo tempo. Algumas morreram, de outras ele se divorciou, e algumas sobreviveram a ele. Mas todas o honraram para sempre.
Erikki acordou quando Azadeh deitou-se na cama ao seu lado.
— Devemos partir o mais cedo possível, Azadeh, minha querida.
— Sim — concordou, quase dormindo, com a cama tão confortável e ele tão confortável. — Sim, quando você quiser, mas por favor, não antes do almoço, porque a querida madrasta vai chorar rios de lágrimas...
— Azadeh!
Mas ela já estava dormindo. Ele suspirou, também satisfeito, e voltou a dormir.
Eles não partiram no domingo conforme o planejado — o pai dela disse que não era conveniente, pois queria conversar com Erikki primeiro. Hoje de madrugada, segunda-feira, depois das orações conduzidas pelo pai dela, e depois do café — café, pão, mel, iogurte e ovos — tiveram permissão para partir e agora pegavam a estrada principal para Teerã, e na frente deles estava a barreira.
— É estranho — disse Erikki. O coronel Mazardi combinara encontrá-los ali, mas não estava à vista, nem havia ninguém na barreira.
— Polícia — retrucou Azadeh, com um bocejo. — Nunca estão onde se precisa deles.
A estrada subia em direção ao desfiladeiro. O céu estava claro e azul e a luz já banhava os picos das montanhas. Lá embaixo, no vale, ainda estava escuro, frio e úmido; a estrada estava escorregadia, com montículos de neve, mas isso não o preocupou porque o Range Rover tinha tração nas quatro rodas e ele trazia correntes. Mais além, quando chegou ao desvio que ia para a base, ele passou direto. Sabia que a base estava vazia, que o 212 estava a salvo aguardando reparos. Antes de deixar o palácio, tentara entrar em contato com seu administrador, Dayati, sem sucesso. Mas não se importou. Erikki se ajeitou no assento, estava com os tanques cheios e com seis latas de cinco galões de reserva, que apanhara na bomba particular de Abdullah.