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Os gritos e as vaias aumentaram, pés pisavam o homem que estava morrendo no chão, então alguém puxou o braço de Erikki que ainda estava em volta de Azadeh e ela sentiu que a outra mão dele procurava a faca grande e gritou:

— Não, Erikki, não, eles vão matá-lo...

Em pânico, empurrou a camponesa e vestiu o chador, repetindo "Allah-u Akbarr" e isso abrandou um pouco os que estavam perto, as vaias diminuíram, embora as pessoas de trás continuassem empurrando para ver melhor, amassando os outros de encontro ao Range Rover. Naquela confusão, Azadeh e Erikki ganharam um pouco mais de espaço em volta, embora ainda estivessem encurralados. Ela não o olhou, simplesmente agarrou-se nele, tremendo como um cachorrinho apavorado, envolvida naquela mortalha grosseira. Houve uma gargalhada quando um dos homens colocou o sutiã dela no próprio peito e desfilou afetadamente.

O vandalismo continuou até que, subitamente, Erikki sentiu alguma coisa diferente em volta deles. O homem atarracado e seus seguidores tinham parado e estavam olhando fixamente na direção de Qazvin. Enquanto os observava, viu que se misturavam com a multidão. Em questão de segundos tinham desaparecido. Outros homens perto da barreira estavam entrando nos carros e arrancavam rápido em direção à estrada de Teerã. Agora os aldeões também olhavam na direção da cidade, depois os outros, até que toda a multidão ficou paralisada. Aproximando-se pela estrada, em meio às fileiras de veículos, vinha um outro grupo de homens, conduzidos por mulás. Alguns mulás e muitos homens estavam armados.

— Allah-u Akbar — gritavam. — Deus e Khomeiiini! — e depois começaram a correr, atacando a barreira.

Soaram tiros, o fogo foi respondido pelo pessoal da barreira e as forças opostas se enfrentaram com pedaços de pau, pedras, barras de ferro e alguns revólveres. O resto da multidão se espalhou. Os aldeões correram para a proteção de suas casas, os motoristas e passageiros fugiram dos carros, correram para as valas ou se lançaram ao chão.

Os gritos, os tiros, o barulho do conflito tiraram Erikki de sua paralisia. Empurrou Azadeh em direção ao carro, apanhando apressadamente seus pertences que estavam mais próximos, atirando-os na mala do carro e batendo a porta. Uma meia dúzia de aldeões começaram também a recolher as coisas, mas eles os tirou do caminho com um empurrão, pulou para o banco do motorista, deu a partida, manobrou e saiu em disparada pela campina, costeando a estrada. Bem na frente, à direita, viu o homem atarracado, com três dos seus seguidores, entrando num carro e se lembrou que ainda estavam com seus documentos. Durante um segundo pensou em parar, mas rejeitou a idéia e manteve o curso em direção às árvores que margeavam a estrada. Mas então viu o homem atarracado tirar a metralhadora do ombro, apontar e atirar. A rajada foi um pouco alta e Erikki, com os reflexos estimulados pelo ódio, deu um golpe na direção e enfiou o pé no acelerador, enquanto o homem recarregava a arma. O pára-choque maciço do carro atirou o homem de encontro à lataria, esmagando-o, e a metralhadora continuou atirando até acabarem as balas, que furaram o metal, estilhaçando o pára-brisa, com o Range Rover funcionando como um aríete. Furioso, Erikki deu marcha à ré e tornou a atacar, passando por cima dos destroços, achatando-os, e teria saído e continuado a carnificina com as próprias mãos, mas nesse momento viu pelo espelho retrovisor que havia homens correndo na direção deles, então manobrou e fugiu.

O Range Rover fora construído para aquele tipo de terreno, com os pneus para neve aderindo à superfície acidentada. Em poucos instantes, estavam no meio das árvores e fora de alcance, e ele virou em direção à estrada, mudou de marcha, travou os diferenciais e subiu por cima do fosso, arrebentando a cerca de arame farpado. Uma vez na estrada, destravou os diferenciais, mudou de marcha e foi embora depressa.

Só quando já estava bem longe foi que a nuvem de sangue saiu dos seus olhos. Apavorado, ele se lembrou da rajada de balas caindo em cima do carro, e que Azadeh estava com ele. Em pânico, procurou-a com os olhos. Mas ela estava bem, embora paralisada de medo e encolhida no assento, agarrada nele com as duas mãos. Havia buracos de bala no vidro e no teto do carro, mas Azadeh nada sofrerá, embora, por um segundo, não conseguisse reconhecê-la, vendo apenas um rosto iraniano enfeiado pelo chador — como qualquer um das dezenas de milhares que se viam no meio da multidão.

— Oh, Azadeh — murmurou, e puxou-a para ele, guiando com uma só mão. Em seguida, diminuiu a marcha, parou no acostamento e abraçou-a enquanto os soluços a sacudiam. Não notou que o marcador de gasolina indicava que o tanque estava quase vazio nem que o tráfego aumentava, nem os olhares hostis dos passantes, nem que muitos carros transportavam revolucionários para Teerã.

17

EM ZAGROS TRÊS: 15:18H. Os quatro homens estavam deitados em tobogãs, descendo a encosta atrás da base, com Scot Gavallan um pouco à frente de Jean-Luc Sessonne, que estava lado a lado com Nasiri, o gerente da base e com Nitckak Khan uns vinte metros atrás. Era uma corrida organizada por Jean-Luc, o Irã contra o Mundo, e todos quatro tentavam excitadamente aumentar a velocidade. A neve parecia uma poeira branca — uma neve muito leve em cima de uma camada dura de gelo — e sem trilha. Todos tinham subido até o cume atrás da base, com Rodrigues e um aldeão como juízes da partida. O prêmio para o vencedor era de cinco mil riais — cerca de sessenta dólares — e uma das garrafas de uísque de Lochart:

— Tom não vai se importar — dissera Jean-Luc, com imponência. — Ele está tirando uma licença extra, gozando das delícias de Teerã, enquanto temos que ficar na base! E não sou eu que estou no comando? É claro. Este comandante está requisitando a garrafa para a glória da França, o bem das minhas tropas e para os nossos gloriosos senhores, os Yazdek Kash'kais — acrescentara, sob aplausos generalizados.

Era uma linda tarde de sol, a dois mil e quinhentos metros de altura, o céu sem nuvens e muito azul, o ar gelado. Durante a noite, a neve tinha parado de cair. Nevara desde que Lochart partira para Teerã, há três dias. Agora a base e as montanhas em volta eram um reino encantado de pinheiros, neve e cumes que atingiam quatro mil metros de altura — com cerca de setenta centímetros de neve fresca.

À medida que os competidores desciam, a encosta ficava mais íngreme, com algumas saliências encobertas fazendo-os pular de vez em quando. Ganharam velocidade, quase desaparecendo às vezes, sob o esguichos de neve, todos alegres e determinados a vencer.

Na frente, agora, havia um grupo de pinheiros. Scot freou habilmente, com a ponta das botas de esqui, agarrando os suportes curvos da frente com as mãos enluvadas, e contornou graciosamente as árvores, depois fez uma curva e começou a descer o último declive em direção à linha de chegada, onde o resto da base e os aldeões aplaudiam e gritavam. Nasiri e Jean-Luc frearam uma fração de segundo depois, contornaram as árvores uma fração de segundo mais depressa e fizeram a curva em meio a uma cascata de neve, alcançando-o, fazendo com que a diferença entre os três ficasse mínima.

Nitchak Khan não freou nem se desviou. Ele se entregou a Deus pela centésima vez, fechou os olhos e entrou no meio dos pinheiros.

— lnsha'Allahhhh!

Passou a poucos centímetros da primeira árvore, mais perto ainda da seguinte, abriu os olhos bem a tempo de evitar por um centímetro uma colisão, arrancou uma dúzia de galhos ganhando velocidade, voou pelos ares ao passar por uma saliência, evitando milagrosamente uma árvore caída e voltou ao chão batendo com o peito com tal força que ficou sem fôlego. Mas se segurou, empinando, deslizou em direção a um dos competidores por um instante, depois recuperou o equilíbrio e voou para fora da floresta mais depressa do que os outros, numa linha mais reta do que os outros, dez metros na frente dos outros, com todos os aldeões berrando entusiasticamente.