Os quatro agora convergiam, agarrados nos tobogãs, procurando aumentar ao máximo a velocidade, Scot, Nasiri e Jean-Luc aproximando-se cada vez mais de Nitchak Khan. Ali, a neve não estava tão boa e algumas pequenas saliências os fizeram pular, obrigando-os a se segurarem com mais força. Mais duzentos metros, cem — os homens da base e os aldeões gritando e pedindo a Deus pela vitória — oitenta, setenta, sessenta, cinqüenta e então...
Havia uma pedra grande bem escondida. Estando na liderança, Nitchak Khan foi o primeiro a se descontrolar e cair, perdendo a respiração, depois Scot e Jean-Luc voaram e se esparramaram, com seus tobogãs lançando nuvens de flocos de neve. Nasiri tentou desesperadamente se desviar deles e da pedra, e inclinou o tobogã, derrapando violentamente e despencando pela encosta até parar um pouco à frente dos outros, também sem fôlego.
Nitchak Khan se ergueu e limpou a neve do rosto e da barba.
— Louvado seja Deus — murmurou, estarrecido por não estar com nenhum membro quebrado, e olhou em volta, à procura dos outros. Estes também estavam-se levantando, Scot morrendo de rir de Jean-Luc que também estava ileso mas que continuava deitado de costas, gritando palavrões em francês. Nasiri tinha entrado de cabeça num monte de neve e Scot, ainda rindo, foi ajudá-Io. Ele também estava só um pouco avariado, mas sem nada de grave.
— Ei, vocês aí em cima — alguém gritava lá de baixo. Era Effer Jordon.
— E essa maldita corrida? Ainda não terminou.
— Vamos, Scot. Vamos, Jean-Luc, pelo amor de Deus!
Scot esqueceu Nasiri e começou a correr em direção à chegada, uns cinqüenta metros adiante, mas escorregou e caiu na neve pesada, levantou-se e tornou a escorregar, os pés pesando como chumbo. Jean-Luc se ergueu e saiu correndo atrás dele, seguido de perto por Nasiri e Nitchak Khan. Os gritos da multidão redobraram à medida que os homens lutavam contra a neve, caindo, engatinhando, levantando e tornando a cair no terreno difícil, esquecidos das dores. Scot ainda estava um pouco à frente.
— Vamos Nitchak Khan, vamos, Jean-Luc, vamos Nasiri — o mecânico Fowler Joines, com a cara vermelha, os animava, acompanhado dos aldeões.
Mais dez metros. O velho Khan estava um metro na frente quando tropeçou e caiu de cara no chão. Scot passou à frente, com Nasiri quase do lado e Jean-Luc poucos centímetros atrás. Todos corriam com dificuldades, escorregando, tropeçando, arrancando com esforço suas botas da neve fofa. Então todo mundo começou a gritar quando Nitchak Khan se pôs a engatinhar pela neve nos últimos metros, e Jean-Luc e Scot deram um mergulho desesperado em direção à linha de chegada, e todos eles se estatelaram num monte de neve em meio a gritos e aplausos.
— Scot venceu...
— Não, foi Jean-Luc...
— Não, foi o velho Nitchak...
Depois de recuperar o fôlego, Jean-Luc disse:
— Já que não há nenhuma opinião definida e que até o nosso venerável mulá não tem certeza, eu, Jean-Luc, declaro Nitchak Khan o vencedor, por um nariz de vantagem. — Houve aplausos que aumentaram quando ele acrescentou: — E como os derrotados perderam bravamente, eu os recompensarei com outra das garrafas de uísque de Tom, que ordeno que seja dividida entre todos os estrangeiros ao cair da tarde.
Todo mundo apertou a mão de todo mundo. Nitchak Khan concordou com uma corrida no mês seguinte e, como ele obedecia à lei e não bebia, regateou avaramente mas vendeu o uísque que ganhara para Jean-Luc pela metade do seu valor. Todo mundo tornou a aplaudir e, de repente, alguém deu um grito de alerta.
Na direção norte, lá no alto das montanhas, um clarão vermelho caiu na direção do vale. O silêncio foi imediato. O clarão desapareceu. Depois um outro surgiu e tornou e cair: SOS urgente.
— Emergência — disse Jean-Luc, apertando os olhos para ver melhor.
— Deve ser na plataforma Rosa ou na plataforma Bellissima.
— Já vou indo — Scot Gavallan saiu apressado.
— Vou com você — disse Jean-Luc. — Vamos levar um 212 e acompanhá-lo num vôo de verificação.
Em poucos minutos já estavam no ar. A plataforma Rosa era uma das plataformas que eles tinham conseguido através do antigo contrato da Guerney, Bellissima era uma das regulares. Todas as onze plataformas daquela área tinham sido instaladas por uma companhia italiana para a IranOil, e embora todas fossem ligadas por rádio com Zagros Três, a conexão nem sempre era possível por causa das montanhas e da estática. Os foguetes de sinalização eram um substituto.
O 212 subiu com estabilidade, passando dos três mil e quinhentos metros, com os vales cobertos de neve brilhando à luz do sol. O teto operacional deles era seis mil metros, dependendo da carga. Agora a plataforma Rosa estava bem à frente, numa clareira sobre um pequeno platô a três mil e oitocentos metros. Havia apenas uns poucos trailers para moradia e galpões espalhados ao acaso em volta da torre. E um heliporto.
— Plataforma Rosa, aqui é Jean-Luc. Está me ouvindo? — Esperou pacientemente.
— Alto e claro, Jean-Luc! — Era a voz alegre de Mimmo Sera, o homem da companhia, o posto mais elevado no campo, um engenheiro encarregado de todas as operações. — O que vocês têm para nós, hein?
— Niente, Mimmo! Vimos um clarão vermelho e estamos verificando.
— Madonna, emergência? Não fomos nós. — Imediatamente, Scot interrompeu a aproximação, fez uma curva e dirigiu-se para o novo alvo, subindo mais. — Bellissima?
— Vamos checar.
— Mantenha-nos informados, hein? Não conseguimos contato com vocês desde a última tempestade. Quais são as últimas novidades?
— As últimas notícias que tivemos foram há dois dias atrás: A BBC noticiou que em Doshan Tappeh os Imortais tinham sufocado uma rebelião de cadetes da Força Aérea e de civis. Não temos notícias do nosso QG em Teerã nem de mais ninguém. Se tivermos notícias, passo um rádio para vocês.
— Eh, rádio! Jean-Luc, vamos precisar de mais 12 carregamentos de canos de seis polegadas e a quantidade normal de cimento a partir de amanhã, OK?
— Bien sür! — Jean-Luc ficou encantado com o serviço extra e com a oportunidade de provar que eles eram melhores do que a Guerney. — Como vão as coisas?
— Perfuramos até dois mil e quinhentos metros e tudo indica que vai ser outra mina. Quero correr o poço na próxima segunda-feira, se possível. Será que você podia chamar a Schlumberger para mim?
Schlumberger era uma firma de renome internacional, que fabricava e fornecia equipamentos para coletar amostras e medir eletronicamente, com enorme precisão, a quantidade de petróleo que o poço poderia fornecer e a qualidade das diversas camadas, instrumentos para guiar as brocas, instrumentos para retirar brocas quebradas, instrumentos para perfurar, por explosão, o revestimento de aço do buraco para que o petróleo pudesse fluir no interior do cano, além dos especialistas que os utilizam. Extremamente caro, mas absolutamente necessário. 'Correr um poço' era a última tarefa antes de cimentar o revestimento de aço no lugar e fazer o poço jorrar.
— Onde quer que eles estejam, Mimmo, nós os traremos na segunda-feira... se Khomeini quiser.
— Mamma mia, diga a Nasiri que precisamos deles. A transmissão estava ficando cada vez mais fraca.
— Não há problema. Chamo você quando estiver voltando. — Jean-Luc olhou para fora da cabine, Estavam voando sobre um dos picos, ainda subindo, com os motores começando a vibrar. — Merde, estou com fome — disse, e se espreguiçou no assento. — Eu me sinto como se tivesse sido massageado por uma perfuratriz, mas foi uma grande corrida.
— Você sabe, Jean-Luc, você chegou na linha um segundo antes de Nitchak Khan. Pelo menos.
— É claro, mas nós franceses somos magnânimos, diplomatique, e muito práticos. Eu sabia que ele nos revenderia o nosso uísque pela metade do preço; se ele fosse declarado perdedor, isso nos teria custado uma fortuna. — Jean-Luc riu. — Mas se não fosse por aquela pedra, eu não teria hesitado. Teria vencido facilmente.