Mas o 125 não estava em nenhuma das pistas, nem na área de carga, nem perto do terminal que ficava do outro lado do campo. Olhou outra vez para o relógio: 17:17h. Só mais uma hora de claridade. Ele vai chegar por pouco, se é que vai chegar, pensou. Só Deus sabe, eles podem ter voltado.
Perto do terminal, vários jatos civis ainda estavam presos no chão. Um deles, um 747 da Royal Iranian Air era uma ruína retorcida, destruído pelo fogo. Os outros pareciam em boas condições — estava longe demais para enxergar os emblemas, mas entre eles devia estar o avião da Alitalia. Paula Giancani ainda estava hospedada com eles, com Nogger Lane de plantão. Ela é uma garota simpática, pensou distraidamente.
Na frente dele, agora, erguia-se o portão da área de carga e depósito. O depósito estava fechado desde a última quarta-feira. E automaticamente, ficara fechado também na quinta e na sexta — o dia sagrado dos muçulmanos — era este o fim-de-semana iraniano, e nem ele, nem ninguém da sua equipe tinha conseguido chegar lá no sábado ou no domingo. O portão estava aberto e desguarnecido. Passou por ele e se dirigiu para o pátio dianteiro. Na sua frente estava o galpão de carga da alfândega e cercas com avisos em inglês e em farsi: PROIBIDA A ENTRADA, CHEGADA, PARTIDA, MANTENHA DISTÂNCIA, além das tabuletas com os nomes das diversas companhias internacionais de aviões e de helicópteros que tinham escritórios permanentes ali. Normalmente, era quase impossível entrar com o carro no pátio. Havia mil homens trabalhando vinte e quatro horas, descarregando a enorme quantidade de produtos, civis e militares, que entravam no Irã em troca de parte dos noventa milhões de dólares diários de petróleo que eram exportados. Mas agora a área estava deserta. Centenas de caixotes de madeira e caixas de papelão de todos os tamanhos estavam espalhados na neve — muitos abertos e saqueados, a maioria encharcada. Havia alguns carros e caminhões abandonados, e um caminhão queimado. Os galpões estavam cheios de buracos de balas.
O portão da alfândega, que impedia a entrada no pátio de manobras, estava fechado, preso apenas por um ferrolho. O aviso, em inglês e em farsi, dizia: PROIBIDA A ENTRADA SEM APROVAÇÃO DA ALFÂNDEGA. Ele esperou, depois buzinou e tornou a esperar. Ninguém atendeu, então saltou, abriu o portão e voltou para o carro. Poucos metros depois parou, tornou a fechar o portão e se dirigiu para o complexo da S-G: escritório, depósitos, hangares e oficina com espaço para quatro 212 e cinco 206, contendo agora três 206 e um 212.
Para seu alívio, as portas ainda estavam trancadas. Estava com medo que os depósitos e o hangar tivessem sido arrombados e saqueados ou destruídos. Aquele era o depósito principal da companhia, no Irã, para peças de reposição e consertos. Mais de dois milhões de dólares em peças de reposição e ferramentas especializadas estavam guardadas lá, além das bombas de reabastecer e os tanques subterrâneos contendo uma carga secreta de duzentos mil litros de combustível para helicóptero que McIver tinha 'perdido' quando começaram as agitações.
Examinou o céu. O vento indicava que o 212 pousaria pelo lado oeste, na pista 29 da esquerda, mas não havia nenhum sinal dele. Destrancou a porta, fechando-a de novo, e caminhou rapidamente pelo saguão gelado até o escritório principal onde ficava o telex. Estava desligado.
— Malditos idiotas — murmurou em voz alta. As ordens eram para que ficasse ligado o tempo todo. Quando o ligou, nada aconteceu. Experimentou as luzes, mas elas também não acenderam. — Maldito país. — Irritado, foi até os receptores-transmissores em HF e UHF e ligou-os. Ambos funcionavam à bateria, para o caso de emergências. O zumbido deles o reconfortou.
— Eco Tango Lima Lima — disse alto no microfone, fornecendo as letras de matrícula do 125: ETLL. — Aqui é McIver, estão me ouvindo?
— Eco Tango Lima Lima. Se estamos, meu velho — a resposta lacônica chegou imediatamente. — Aqui em cima está um bocado solitário. Nós estamos chamando há meia hora. Onde você está?
— No escritório de carga. Sinto muito, Johnny — disse, reconhecendo a voz do seu principal comandante. — Foi difícil como o diabo chegar até aqui. Acabei de chegar. Onde você está?
— Trinta quilômetros rumo sul, a três mil metros de altitude e descendo em aproximação de rotina, esperando pousar na pista 29 esquerda. O que está havendo, Mac? Não conseguimos falar com a torre de Teerã. De fato, não recebemos nenhum chamado desde que entramos no espaço aéreo do Irã.
— Meu Deus! Nem do radar de Kish?
— Nem deles, meu velho. O que está havendo?
— Não sei. A torre estava operando ontem... até a meia-noite de ontem. Os militares nos deram licença para um vôo para o sul. — McIver estava perplexo, sabendo que o radar de Kish era muito meticuloso com relação a todo o tráfego que entrava e saía, principalmente através do golfo. — O aeroporto está deserto, o que é muito esquisito. No caminho havia uma multidão de gente nas ruas, algumas barricadas, mas nada fora do comum, nenhum tumulto nem nada.
— Algum problema para pousar?
— Duvido que algum dos aparelhos auxiliares de pouso esteja funcionando, mas o lençol de nuvens está a uns mil e quinhentos metros, e a visibilidade é de quinze quilômetros. A pista parece boa.
— O que você acha?
McIver pesou os prós e os contras de uma aterrissagem sem assistência ou licença da torre.
— Você tem combustível suficiente para uma viagem de volta?
— Oh, sim. Você está sem combustível?
— No momento, só para uma emergência.
— Estou atravessando a camada de nuvens a mil e quinhentos metros e já estou vendo vocês.
— OK, Eco Tango Lima Lima. O vento está soprando do leste a uma velocidade aproximada de dez nós. Normalmente você pousaria na 29 esquerda. A base militar parece estar fechada e deserta, portanto não deve haver nenhum outro tráfego. Todos os vôos civis, entrando ou saindo, foram cancelados. Sugiro que você sobrevoe o aeroporto e se estiver tudo bem desça imediatamente. Não fique aí por cima, há muitos brincalhões pregando peças por aqui. Assim que pousar, posicione o aparelho de modo a poder decolar rapidamente, só por precaução. Eu vou me encontrar com você.
— Eco Tango Lima Lima.
McIver tirou um lenço e enxugou as mãos e a testa. Mas quando se levantou, o seu coração deu um salto no peito.
Havia um guarda da alfândega na porta, com a mão displicentemente pousada no coldre do revólver. Seu uniforme estava sujo e amarrotado, o rosto arredondado mostrava uma barba de três ou quatro dias.
— Oh — disse McIver, lutando para aparentar calma. — Salaam, aga. — Não o reconheceu como sendo um dos guardas habituais.
O homem trocou ostensivamente a mão que segurava o revólver, com os olhos indo de McIver para os aparelhos de rádio e de volta para McIver. Hesitantemente, pois McIver falava muito pouco farsi, ele disse:
— Inglissi me danid, Agha? Be bahk shid man zaban-e shoma ra khoob nami danam. O senhor fala inglês? Desculpe-me por favor, mas eu não falo a sua língua.
— O que está fazendo aqui? — resmungou o guarda, num inglês hesitante, com os dentes manchados de fumo.
— Eu... eu sou o capitão McIver, chefe da S-G Helicópteros — respondeu, devagar e com cuidado. — Eu só estou... só estou checando o meu telex e estou aqui para esperar um dos meus aviões.
— Avião? Que avião? O que...
Neste momento, o 125 passou diretamente sobre o aeroporto, a trezentos metros de altura. O guarda saiu correndo do escritório, seguido de perto por McIver. Eles viram as belas linhas do jato de dois motores contra um céu escuro e pesado, e ficaram olhando por um momento enquanto ele fazia uma curva pronunciada para pegar a pista.