— Hein?
— Afinal... ser a namorada de Angel... Deve ser muito interessante. Diga-me uma coisa, meu bem: como é Angel?
Houve silêncio, e ele especulou se Neusa adormecera. Enfiou os dedos na fenda macia e úmida entre as pernas e sentiu-a se mexer.
— Não durma agora, querida. Ainda não. Que tipo de homem é Angel? Ele é bonito?
— Rico. Angel é rico.
A mão de Lantz continuou em ação.
— Ele é bom para você?
— É, sim. Angel é muito bom para mim.
— Também serei bom para você, meu bem.
A voz de Lantz era suave e mole. O problema é que o resto também estava mole. Precisava de uma ereção de um milhão de dólares. Começou a pensar nas irmãs Dolly e algumas das coisas que haviam feito com ele. Visualizou-as trabalhando em seu corpo nu, com as línguas, dedos e mamilos. O pênis começou a ficar duro. Virou rapidamente para cima de Neusa e penetrou-a. É como foder um pudim, pensou Harry Lantz.
— Está gostando?
— Acho que estou.
Harry Lantz sentiu vontade de estrangulá-la. Havia dezenas de mulheres lindas no mundo inteiro que ficavam no maior excitamento por seu ato amoroso e aquela sacana gorda se limitava a dizer que achava que estava gostando. Ele começou a deslocar os quadris para a frente e para trás.
— Fale-me sobre Angel. Quem são os amigos dele? A voz de Neusa estava sonolenta:
— Angel não tem amigos. Eu sou sua amiga.
— Claro que é, meu bem. Angel mora aqui com você ou tem seu próprio apartamento?
Neusa fechou os olhos.
— Estou com sono. Quando você vai gozar? Nunca, pensou ele. Não com esta vaca.
— Já gozei — mentiu Lantz.
— Então vamos dormir.
Ele saiu de cima da mulher e estendeu-se a seu lado, furioso. Por que Angel não podia ter uma amante normal? Uma mulher jovem, bonita, de sangue quente? Ele não teria então qualquer dificuldade para obter as informações que desejava. Mas aquela vaca estúpida... Ainda assim... havia outros meios.
Lantz ficou imóvel na cama por um longo tempo, até ter certeza absoluta de que Neusa estava dormindo. Levantou-se então, com todo cuidado, e foi até o closet.
Acendeu a luz no interior e fechou a porta, a fim de que a claridade não despertasse a baleia roncando.
Havia uma dúzia de ternos e trajes esportes pendurados, seis pares de sapatos de homem no chão. Lantz abriu os paletós e verificou as etiquetas. Os ternos eram todos feitos sob medida por Herrera, avenida la Plata. Os sapatos eram da Vill. Tirei a sorte grande!, pensou Lantz, exultante. Eles devem ter o registro do endereço de Angel. Irei à loja pela manhã e farei algumas perguntas. Um alarme soou em sua mente. Não, nada de perguntas. Ele tinha de ser mais esperto. Afinal, estava lidando com um assassino de categoria internacional. Seria mais seguro deixar que Neusa o levasse a Angel. Tudo o que terei de fazer então será avisar meus amigos no Mossad e receber o dinheiro. Mostrarei a Ned Tillingast e ao resto daquele bando de desgraçados da CIA que o velho Harry Lantz ainda não perdeu a classe. Todos aqueles garotos brilhantes estavam fazendo o possível e o impossível para descobrir Angel e sou eu quem o encontra.
Teve a impressão de ouvir um ruído na cama. Espiou cauteloso pela porta do closet, mas Neusa ainda estava dormindo.
Lantz apagou a luz do closet e voltou para a cama. Os olhos da mulher estavam fechados. Ele foi na ponta dos pés até a cômoda e começou a vasculhar as gavetas, na esperança de encontrar uma fotografia de Angel. Seria uma grande ajuda. Não teve sorte. Retornou à cama. Neusa roncava alto.
Quando Harry Lantz finalmente adormeceu, seus sonhos foram repletos de visões de um iate branco, cheio de mulheres bonitas e jovens, completamente nuas, com seios pequenos e firmes.
Pela manhã, quando Harry Lantz acordou, Neusa não estava na cama. Por um instante, ele foi dominado pelo pânico. Ela já teria saído para se encontrar com Angel? Ouviu barulho na cozinha. Saiu da cama apressado e vestiu-se. Neusa estava no fogão.
— Buenos dias — disse Lantz.
— Quer café? — murmurou Neusa. — Não posso fazer nada para você comer. Tenho um encontro marcado.
Com Angel. Harry Lantz tentou esconder sua excitação.
— Não há problema, pois não estou com fome. Pode ir para o seu encontro. Jantaremos juntos esta noite. — Ele abraçou-a, acariciando os seios enormes. — Onde você gostaria de jantar? Só o melhor para a minha garota.
Eu deveria ser um ator, pensou Lantz.
— Não me importo.
— Conhece o Chiquin, na avenida Cangallo?
— Não.
— Tenho certeza de que vai gostar. Está bem eu vir buscá-la aqui às oito horas? Tenho muitos negócios para tratar hoje.
Ele não tinha negócio nenhum a tratar.
— Está bem.
Lantz teve de recorrer a toda sua força de vontade para se inclinar e dar um beijo de despedida em Neusa. Os lábios da mulher eram flácidos, úmidos e repulsivos.
— Às oito horas.
Ele deixou o apartamento e fez sinal para um táxi. Esperava que Neusa estivesse observando da janela.
— Vire à direita na próxima esquina — ordenou ao motorista.
Depois que viraram a esquina, Harry Lantz acrescentou:
— Vou saltar aqui.
O motorista fitou-o com expressão espantada.
— Pegou um táxi para andar só um quarteirão, señor?
— Isso mesmo. Tenho uma perna ruim. Ferimento de guerra.
Lantz pagou a corrida e depois voltou apressado para uma tabacaria em frente ao prédio de Neusa, no outro lado da rua. Acendeu um cigarro e ficou esperando.
Vinte minutos depois Neusa saiu do prédio. Lantz observou-a se afastar pela rua e seguiu-a a uma distância cautelosa. Não havia a menor possibilidade de perdê-la. Era como seguir o Lusitânia.
Neusa Muñez parecia não ter a menor pressa. Desceu pela avenida Belgrano, passou pela biblioteca Espanhola e seguiu pela avenida Córdoba. Lantz observava quando ela entrou na Berenes, uma loja de couros na San Martin. Ficou parado no outro lado da rua, vendo-a conversar com um vendedor. Especulou se a loja teria alguma ligação com Angel. Fez uma anotação mental.
Neusa saiu alguns minutos depois, carregando um embrulho pequeno. Sua parada seguinte foi numa heladería na Corrientes, para tomar um sorvete. Desceu pela San Martin, andando devagar. Parecia estar passeando a esmo, sem qualquer destino específico em mente.
O que aconteceu com seu encontro marcado?, pensou Lantz. Onde está Angel? Ele não acreditava na declaração de Neusa de que Angel não estava na cidade. O instinto lhe dizia que Angel se encontrava em algum lugar nas proximidades.
Lantz compreendeu subitamente que Neusa Muñez não estava mais à vista. Ela virara uma esquina à frente e desaparecera. Ele acelerou os passos. Não a viu quando dobrou a esquina. Havia pequenas lojas nos dois lados da rua e Lantz foi avançando com todo cuidado, os olhos esquadrinhando tudo, temeroso de que Neusa pudesse avistá-lo antes que ele a visse.
Finalmente localizou-a numa fiambrería, comprando coisas. Seriam para ela ou estaria esperando alguém no apartamento para almoçar? Alguém chamado Angel.
A distância, Lantz observou Neusa entrar numa verdurería e comprar frutas e legumes. Seguiu-a de volta ao prédio em que morava. Até onde ele podia determinar, não houvera qualquer contato suspeito.
Harry Lantz ficou observando o prédio de Neusa do outro lado da rua durante as quatro horas seguintes, mudando de posição constantemente, a fim de não chamar atenção. Acabou chegando à conclusão de que Angel não ia aparecer. Talvez eu consiga lhe arrancar mais alguma informação esta noite, pensou ele. Sem precisar comê-la, é claro. A idéia de ter de fazer amor com Neusa outra vez deixava-o com vontade de vomitar.