Выбрать главу

No Gabinete Oval da Casa Branca a noite caía. Fora um dia comprido para Paul Ellison. O mundo inteiro parecia composto por comitês e conselhos, telegramas urgentes, reuniões e conversas. Só agora tinha um momento para refletir, um momento para si mesmo. Ou quase para si mesmo. Stanton Rogers estava sentado no outro lado da mesa, e o presidente descobriu-se relaxando pela primeira vez naquele dia.

— Estou tirando-o de sua família, Stan.

— Não tem problema, Paul.

— Eu queria falar com você sobre a investigação de Mary Ashley. Como está indo?

— Está quase concluída. Teremos uma verificação final amanhã ou depois. Até agora, parece que está tudo certo. Estou começando a ficar excitado com a idéia. Acho que vai dar certo.

— Nós faremos com que dê certo. Quer outro drinque?

— Não, obrigado. A menos que você precise de mim para alguma coisa, vou levar Barbara para uma estréia no Kennedy Center.

— Pode ir — disse Paul Ellison. — Alice e eu vamos receber alguns parentes dela.

— Por favor, dê lembranças minhas a Alice. Stanton Rogers levantou-se.

— E você dê lembranças minhas a Barbara.

O presidente ficou observando Stanton Rogers se retirar. E seus pensamentos voltaram a se concentrar em Mary Ashley.

Ao chegar ao apartamento de Neusa naquela noite a fim de levá-la para jantar fora, Harry Lantz bateu na porta e não houve resposta. Sentiu um momento de consternação. Será que ela saíra, esquecendo o encontro?

Experimentou a porta. Não estava trancada. Angel estaria ali à sua espera? Talvez ele tivesse decidido discutir o contrato pessoalmente. Harry assumiu uma atitude firme, profissional, e entrou. A sala estava vazia.

— Olá.

Apenas um eco. Ele passou para o quarto. Neusa estava estendida na cama, bêbada.

— Sua idiota...

Harry se controlou. Não podia esquecer que aquela mulher estúpida e bêbada era a sua mina de ouro. Pôs as mãos nos ombros de Neusa e tentou acordá-la. Ela abriu os olhos.

— O que é?

— Estou preocupado com você. — A voz de Harry Lantz estava impregnada de sinceridade. — Detesto vê-la infeliz e acho que anda bebendo porque alguém a deixa infeliz. Sou seu amigo. Pode me contar tudo. É Angel, não é?

— Angel... — murmurou ela.

— Tenho certeza de que ele é um bom homem — continuou Harry suavemente. — Provavelmente vocês dois tiveram apenas um mal-entendido, não é?

Ele tentou tirá-la da cama. É como desencalhar uma baleia, pensou Lantz.

— Fale-me sobre Angel — pediu ele, sentando-se na cama. — O que ele está fazendo com você?

Neusa fitou-o, os olhos remelentos, tentando focalizá-lo.

— Vamos foder.

Essa não! Ia ser uma longa noite.

— Claro. Grande idéia. Relutante, Lantz começou a se despir.

Quando Harry Lantz acordou pela manhã, sozinho na cama, as lembranças afloraram em sua mente e ele sentiu o estômago revirar. Neusa o acordara no meio da noite.

— Sabe o que eu quero que faça comigo?

E ela lhe dissera. Lantz escutara, aturdido, mas fizera todas as coisas que ela pedira. Não podia se dar o luxo de hostilizá-la. Neusa era um animal selvagem e doentio, e Lantz especulou se Angel alguma vez fizera aquelas coisas com ela. A lembrança do que acontecera deixou Lantz com vontade de vomitar.

Ele ouviu Neusa cantando no banheiro, desafinada. Não tinha certeza se seria capaz de encará-la. Já fui longe demais, pensou Lantz. Se ela não me disser esta manhã onde posso encontrar Angel, vou procurar o alfaiate e o sapateiro.

Empurrou as cobertas para o lado e foi falar com Neusa. Ela estava parada na frente do espelho do banheiro. Tinha os cabelos enrolados e parecia, se possível, ainda mais desgraciosa do que antes.

— Nós dois precisamos ter uma conversa — disse Lantz, a voz firme.

— Claro. — Neusa apontou para a banheira cheia de água. — Preparei um banho para você. Quando acabar, arrumo o café da manhã.

Lantz estava impaciente, mas sabia que não devia pressioná-la demais.

— Você gosta de omelete?

Ele não estava com o menor apetite.

— Gosto, sim.

— Faço uma boa omelete. Angel me ensinou. Lantz ficou observando enquanto ela começava a tirar os enormes rolos do cabelo. Ele entrou na banheira.

Neusa pegou um secador elétrico, ligou-o e pôs-se a enxugar os cabelos.

Lantz refestelou-se na banheira com água quente, pensando: Talvez eu devesse arrumar um revólver e cuidar de Angel pessoalmente. Se deixar os israelenses fazerem isso, provavelmente haverá a porra de um inquérito para saber com quem fica a recompensa. Dessa maneira não haverá qualquer dúvida. Apenas direi a eles onde podem pegar o corpo.

Neusa disse alguma coisa, mas Harry Lantz mal pôde ouvi-la, com o barulho do secado..

— O que foi que disse? — gritou ele. Neusa se aproximou da banheira.

— Tenho um presente de Angel para você.

Ela largou o secador de cabelos elétrico na água e ficou olhando o corpo de Harry Lantz se contorcer na dança da morte.

7

O presidente Paul Ellison largou o último relatório de segurança sobre Mary Ashley e disse:

— Não há nenhuma falha, Stan.

— Sei disso. Acho que ela é a candidata perfeita. Mas é claro que o pessoal do Departamento de Estado não vai ficar muito satisfeito.

— Mandaremos uma caixa de lenços para eles chorarem. E agora vamos torcer para que o Senado concorde com a nossa idéia.

A sala de Mary Ashley no Kedzie Hall era pequena e agradável, forrada de estantes com livros de referências sobre os países da Europa Central. O mobiliário era mínimo, consistindo de uma escrivaninha escalavrada, uma cadeira giratória, e uma mesinha junto à janela em que se acumulavam muitas provas, uma poltrona e uma luminária de leitura. Na parede por trás da escrivaninha havia um mapa dos Bálcãs. Uma fotografia antiga do avô de Mary estava pendurada na parede. Fora tirada na passagem do século, e o vulto na fotografia mantinha uma pose rígida, sem naturalidade, vestindo as roupas da época. Era um dos tesouros de Mary. Fora o avô quem lhe incutira profunda curiosidade pela Romênia. Ele lhe contava histórias românticas da rainha Marie, de baronesas e princesas, histórias de Albert, o príncipe consorte da Inglaterra, de Alexandre II, czar da Rússia, e dezenas de outros personagens emocionantes.

Em algum lugar do nosso passado existe sangue real. Se a revolução não tivesse acontecido, você seria uma princesa.

Mary costumava sonhar com isso.

Ela estava conferindo as provas e dando notas quando a porta se abriu e o reitor Hunter entrou.

— Bom dia, senhora Ashley. Pode me dar um momento?

Era a primeira vez que o reitor a procurava em sua sala. Mary experimentou um súbito momento de exultação. Só podia haver um motivo para que o reitor ali viesse pessoalmente: ele ia comunicar que a universidade a contratara como catedrática.

— Claro — disse ela. — Não quer sentar? Ele sentou.

— Como estão suas turmas?

— Acho que muito bem.

Mary estava ansiosa em transmitir a notícia a Edward. Ele ficaria muito orgulhoso. Não era sempre que uma pessoa de sua idade se tornava catedrática numa universidade. O reitor Hunter parecia constrangido.

— Está metida em alguma encrenca, senhora Ashley? A pergunta pegou Mary completamente desprevenida.