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Pete Connors era um irlandês moreno, homem obstinado e destemido, que bebia muito. Aquele era seu último ano na CIA. Teria de enfrentar a aposentadoria compulsória em junho. Connors era o chefe do serviço de contra-espionagem, o mais secreto e isolado dos setores da CIA. Escalara os degraus da hierarquia por diversas divisões, desde os bons tempos do passado, quando os agentes da CIA eram os "rapazes de ouro". Pete Connors também fora um deles. Participara do golpe que levara o xá de volta ao Trono do Pavão no Irã e se envolvera na Operação Mangusto, a tentativa de derrubar o governo de Castro em 1961.

— Depois da baía dos Porcos, tudo mudou — lamentava Pete de vez em quando. A extensão de sua diatribe dependia, de um modo geral, de seu grau de embriaguez. — Os corações melindrados nos atacaram nas primeiras páginas de todos os jornais do mundo. Chamaram-nos de um bando de palhaços mentirosos e desprezíveis, que tropeçavam nas próprias pernas. Algum desgraçado anti-CIA divulgou os nomes de nossos agentes, e Dick Welch, o chefe do posto em Atenas, foi assassinado.

Pete Connors passara por três casamentos infelizes por causa das pressões e sigilo de seu trabalho, mas em sua opinião nenhum sacrifício era grande demais que não pudesse ser feito por seu país.

Agora, no meio da reunião, seu rosto estava vermelho de raiva.

— Se deixarmos o presidente continuar com essa porra desse programa de povo-para-povo, ele vai entregar o país. É preciso impedir. Não podemos permitir...

Floyd Baker interrompeu-o:

— O presidente assumiu o cargo há menos de uma semana. Estamos todos aqui para executar sua política e...

— Não estou aqui para entregar meu país aos comunas miseráveis. O presidente nunca mencionou seu plano antes do discurso. Pegou todo mundo de surpresa. Não tivemos qualquer oportunidade de preparar uma refutação.

— Talvez fosse justamente isso o que ele estava querendo — sugeriu Baker.

Pete Connors fitou-o aturdido.

— Essa não! Você concorda com o plano!

— Ele é meu presidente — declarou Floyd Baker, firmemente. — Assim como também é o seu.

Ned Tillingast virou-se para Stanton Rogers.

— Connors não deixa de ter razão. O presidente está na verdade planejando convidar a Romênia, Albânia, Bulgária e os outros países comunistas a mandarem seus espiões para cá, apresentando-se como adidos, motoristas, secretárias e criadas. Estamos gastando bilhões de dólares para guardar a porta da frente e o presidente quer escancarar a porta dos fundos.

O general Brooks balançou a cabeça em concordância.

— Também não fui consultado. Em minha opinião, o plano do presidente pode muito bem destruir este país.

Stanton Rogers disse:

— Senhores, alguns de nós podem discordar do presidente, mas não vamos esquecer que o povo elegeu Paul Ellison para dirigir este país. — Seus olhos contemplaram os homens sentados ao redor. — Somos todos parte de sua equipe e temos de seguir sua orientação, apoiando-o por todos os meios possíveis.

Suas palavras foram seguidas por um silêncio relutante. Depois da pausa, Stanton acrescentou:

— Muito bem. O presidente quer um relatório imediato sobre a atual situação na Romênia. Tudo o que vocês têm.

— Inclusive o material secreto? — perguntou Pete Connors.

— Tudo. E quero respostas objetivas. Qual é a situação na Romênia com Alexandros Ionescu?

— Ionescu controla tudo — respondeu Ned Tillingast. — Depois que ele se livrou da família Ceausescu, todos os aliados do ex-presidente foram assassinados, presos ou exilados. Desde que tomou o poder, Ionescu tem sufocado o país. É odiado pelo povo.

— Quais são as perspectivas de uma revolução? Foi Tillingast quem respondeu de novo:

— Eis um problema dos mais interessantes. Lembra o que aconteceu há dois anos, quando Marin Groza quase derrubou o governo de Ionescu?

— Lembro. Groza conseguiu fugir do país por um triz.

— Com a nossa ajuda. Temos informações de que há um movimento popular cada vez maior para trazê-lo de volta. Groza seria bom para a Romênia e também para nós. Estamos atentos à situação.

Stanton Rogers virou-se para o secretário de Estado.

— Tem a lista dos candidatos à embaixada na Romênia?

Floyd Baker abriu uma pasta de couro, tirou alguns papéis e estendeu uma cópia a Rogers.

— Estes nos parecem os melhores. Todos são diplomatas de carreira altamente qualificados. Cada um já foi verificado. Não há problemas de segurança, não há dificuldades financeiras, não há segredos embaraçosos escondidos no passado.

Enquanto Stanton Rogers pegava a lista, o secretário de Estado acrescentava:

— É claro que o Departamento de Estado é a favor de um diplomata de carreira, em vez de uma indicação política. Alguém que foi preparado para esse trabalho. Ainda mais nas circunstâncias específicas. A Romênia é um posto extremamente delicado. É preciso cuidar de tudo com extremo cuidado.

— Concordo. — Stanton Rogers levantou-se. — Discutirei estes nomes com o presidente e depois voltaremos a conversar. Ele está ansioso em preencher o cargo o mais depressa possível.

Enquanto os outros também se levantavam para sair, Ned Tillingast disse:

— Fique aqui, Pete. Quero falar com você.

Assim que ficou a sós com Connors, Tillingast comentou:

— Você foi forte demais, Pete.

— Mas estou certo — declarou Pete Connors, obstinado. — O presidente está tentando entregar nosso país ao inimigo. O que devemos fazer?

— Ficar de boca fechada.

— Somos treinados para encontrar o inimigo e matá-lo, Ned. O que acontece se o inimigo está por trás de nossas linhas... sentado no Gabinete Oval?

— Tome cuidado... tome muito cuidado. Tillingast estava no ofício há mais tempo do que Pete Connors. Trabalhara na OSS de Wild Bill Donovan antes que se tornasse a CIA. Também detestava o que os corações moles do Congresso estavam fazendo com a organização que amava. Na verdade, havia uma profunda divisão nas fileiras da CIA entre o pessoal da linha dura e os que acreditavam que o urso soviético podia ser domado para se tornar um inofensivo animal de estimação. Temos de brigar por todo dólar que recebemos, pensou Tillingast. Em Moscou, o Komitet Gosudarstvennoy Bezopasnosti o KGB treina mil agentes de uma só vez.

Ned Tillingast recrutara Peter Connors na universidade e Connors se revelara um dos melhores agentes da CIA. Nos últimos anos, porém, Connors se tornara um cowboy — um pouco independente demais, um pouco rápido demais no gatilho. O que era perigoso.

— Pete... já ouviu alguma coisa sobre uma organização clandestina chamada Patriotas pela Liberdade? — indagou Tillingast.

Connors franziu o rosto.

— Não... não posso dizer que já tenha ouvido. Quem são eles?

— Até agora, não passam de um rumor. Tudo o que sei é fumaça. Veja se consegue descobrir alguma coisa.

— Está certo.

Uma hora depois Pete Connors estava telefonando de uma cabine pública em Hains Point.

— Tenho uma mensagem para Odin.

— Aqui é Odin — disse o general Oliver Brooks.

Voltando ao escritório em sua limusine, Stanton Rogers abriu o envelope em que estava a relação dos nomes para o posto de embaixador na Romênia e estudou-a. Era uma lista excelente. O secretário de Estado fizera um bom trabalho. Todos os candidatos haviam servido em países europeus do Leste e Oeste e alguns tinham experiência adicional no Extremo Oriente ou África. O presidente vai ficar satisfeito, pensou Stanton.