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Mary ficou pensativa por um momento.

— Acha que é alguém da equipe?

— Não apenas alguém. A última reunião executiva foi realizada na Sala Bolha. Nossos peritos em eletrônica concluíram que o vazamento foi lá.

Mary ficou surpresa. Havia apenas oito pessoas que tinham permissão para realizar reuniões na Sala Bolha, os principais executivos da embaixada.

— Quem quer que seja, está usando um equipamento eletrônico, provavelmente um gravador. Sugiro que convoque uma reunião esta manhã para a Sala Bolha, com o mesmo grupo. Nossos instrumentos poderão indicar o culpado. Havia oito pessoas sentadas em torno da mesa na Sala Bolha. Eddie Maltz, o adido político e homem da CIA; Patrícia Hatfield, conselheira econômica; Jerry Davis, assuntos públicos; David Victor, adido comercial; Lucas Janklow, adido administrativo; e o coronel McKinney. Mary estava numa extremidade da mesa e Mike Slade na outra. Mary olhou para David Victor.

— Como foram suas reuniões com o ministro do Comércio romeno?

O adido comercial sacudiu a cabeça.

— Para ser franco, não foram tão bem quanto eu esperava. Eles parecem saber de tudo o que tenho a dizer, antes mesmo que eu comece a falar. Apareço com novas propostas e eles já prepararam os argumentos em contrário. É como se lessem meus pensamentos.

— Talvez isso esteja mesmo acontecendo — comentou Mike Slade.

— Como assim?

— Estão lendo os pensamentos de alguém nesta sala. — Mike pegou um telefone vermelho em cima da mesa. — Mande-o entrar.

Um momento depois a enorme porta foi aberta e um homem à paisana entrou, carregando uma caixa preta com um mostrador. Eddie Maltz disse:

— Ei, ninguém tem permissão... Mary não o deixou continuar:

— Está tudo bem. Temos um problema e este homem vai resolvê-lo. — Ela olhou para o recém-chegado. — Pode começar.

— Certo. Eu gostaria que todos continuassem sentados onde estão, por favor.

Enquanto o grupo observava, ele foi até Mike Slade e suspendeu a caixa. A agulha no mostrador permaneceu no zero. O homem passou para Patrícia Hatfield. A agulha continuou imóvel. Eddie Maltz foi o seguinte, depois Jerry Davis e Lucas Janklow. A agulha permaneceu imóvel. O homem passou para David Victor e finalmente para o coronel McKinney. A agulha não mexeu. Só restava Mary. Quando ele se aproximou dela, a agulha começou a tremer freneticamente. Mike Slade disse:

— Mas o que... — Ele se levantou e chegou perto do civil, perguntando-lhe: — Tem certeza?

A agulha parecia enlouquecida.

— Absoluta — respondeu o homem. Mary levantou-se, confusa.

— Importa-se de suspender a reunião? — perguntou Mike.

Mary virou-se para os outros.

— A reunião está suspensa por enquanto. Obrigada a todos.

Mike Slade disse para o técnico:

— Você fica.

Depois que os outros se retiraram, ele perguntou:

— Pode determinar onde está o microfone?

— Claro.

O homem foi descendo a caixa preta pelo corpo de Mary, lentamente. Ao chegar perto dos pés, a agulha se mexeu ainda mais depressa. Ele se empertigou.

— Está nos sapatos.

Mary fitou-o com expressão de incredulidade.

— Está enganado. Comprei estes sapatos em Washington.

— Importa-se de tirá-los? — pediu Mike.

— Eu...

Tudo aquilo era um absurdo. A máquina estava com defeito. Ou alguém tentava incriminá-la. Só podia ser a maneira que Mike Slade encontrara para se livrar dela. Comunicaria a Washington que ela fora descoberta espionando e fornecendo informações ao inimigo. Mas ele não ia escapar impune com aquela farsa.

Mary tirou os sapatos e largou-os nas mãos de Mike, dizendo, furiosa:

— Aí estão!

Ele examinou os sapatos.

— Este salto é novo?

— Não. É...

E foi nesse instante que Mary se lembrou. Carmen, quer fazer o favor de levar este sapato a um sapateiro e mandar consertá-lo?

Mike Slade estava abrindo o salto do sapato. Lá dentro havia um gravador em miniatura.

— Descobrimos nosso espião — disse ele, secamente.

— Onde foi que pôs este salto?

— Eu... eu não sei — balbuciou Mary. — Pedi a uma das criadas para cuidar disso.

— Maravilhoso — murmurou ele, em tom sardônico.

— No futuro, senhora embaixadora, todos lhe agradeceríamos se deixasse sua secretária cuidar dessas coisas.

Havia um telegrama para Mary.

"A Comissão de Relações Exteriores do Senado concordou com o empréstimo romeno que você solicitou. O anúncio será feito amanhã. Parabéns. Stanton Rogers."

Mike leu o telegrama e comentou:

— É uma ótima notícia. Negulesco ficará feliz.

Mary sabia que Negulesco, o ministro das Finanças romeno, se encontrava em situação difícil. O empréstimo o transformaria num herói aos olhos de Ionescu.

— Só vão anunciar amanhã. — Mary pensou por um momento. — Quero que marque uma reunião minha com Negulesco para esta manhã.

— Quer que eu a acompanhe?

— Não. Pode deixar que cuidarei de tudo sozinha. Duas horas depois Mary estava sentada na sala do ministro das Finanças romeno, que se mostrava radiante.

— Quer dizer que tem boas notícias para mim?

— Receio que não — respondeu Mary, em tom pesaroso, observando o sorriso do ministro se desvanecer.

— Mas como? Soube que o empréstimo era... como é mesmo que vocês costumam dizer?... líquido e certo!

Mary suspirou.

— Eu também pensava assim, ministro.

— O que aconteceu? O que saiu errado?

O rosto do romeno estava muito pálido. Mary deu de ombros.

— Não sei.

— Prometi a nosso presidente... — Ele parou de falar ao absorver todo o impacto da notícia. Observou Mary atentamente e acrescentou depois de um momento, a voz rouca: — O presidente Ionescu não vai gostar. Não há nada que possa fazer?

Mary declarou, ansiosa:

— Também estou desapontada, ministro, A votação estava correndo bem até que um senador soube que um grupo da igreja romena que fora convidado a visitar o Estado americano de Utah não obtivera o visto de saída. O senador é mórmon e ficou contrariado.

— Um grupo da igreja? — A voz de Negulesco se alteara. — Está querendo dizer que o empréstimo foi recusado porque um...?

— É o que fui informada.

— Mas a Romênia é a favor das igrejas, senhora embaixadora! Elas podem existir aqui! Existe liberdade religiosa! Nós amamos as igrejas!

Negulesco foi sentar na cadeira ao lado de Mary.

— Senhora embaixadora... se eu puder dar um jeito para que esse grupo visite seu país, acha que o Comitê de Finanças do Senado aprovaria o empréstimo?

Mary fitou-o nos olhos.

— Posso garantir isso, ministro Negulesco. Mas eu precisaria de uma resposta até esta tarde.

Mary ficou sentada à sua mesa, esperando pelo telefonema. Negulesco ligou às duas e meia.

— Tenho notícias maravilhosas, senhora embaixadora! O grupo da igreja pode viajar quando quiser. E agora, tem boas notícias para mim?

Mary esperou uma hora e só depois ligou para o ministro.

— Acabo de receber um telegrama do Departamento de Estado. O empréstimo foi concedido.

23

Mary não conseguira tirar o doutor Louis Desforges de seus pensamentos. Ele salvara sua vida e depois desaparecera. Ficara contente por encontrá-lo de novo. Num súbito impulso, foi à American Dollar Shop, comprou uma linda tigela de prata para o médico, e mandou-a para a embaixada francesa. Era um pequeno gesto de agradecimento pelo que ele fizera. Naquela tarde, Dorothy Stone disse:

— Um certo doutor Desforges está ao telefone. Quer falar com ele?