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Mary sorriu.

— Quero, sim. — Ela atendeu. — Boa tarde.

— Boa tarde, senhora embaixadora. — A frase parecia deliciosa no sotaque francês. — Liguei para agradecer por seu atencioso presente. Mas posso lhe assegurar que era desnecessário. Já tive o maior prazer por poder prestar-lhe algum serviço.

— Foi mais do' que algum serviço — disse Mary. — Eu gostaria que houvesse alguma maneira de poder demonstrar realmente a minha gratidão.

Houve uma pausa.

— Não gostaria...

Ele parou de falar e Mary estimulou-o:

— De quê?

— Nada, nada...

Ele parecia subitamente inibido.

— Fale, por favor.

— Está bem. — Houve uma risada nervosa. — Eu estava pensando se não gostaria de jantar comigo uma noite dessas... mas sei como deve estar sempre ocupada e...

— Eu adoraria — Mary se apressou em dizer.

— É mesmo?

Ela podia perceber a satisfação na voz de Desforges.

— Claro.

— Conhece o restaurante Taru? Mary já estivera lá duas vezes.

— Não.

— Ah, esplêndido! Então terei o prazer de apresentá-la. Por acaso está livre na noite de sábado?

— Tenho um coquetel às seis horas, mas podemos jantar depois.

— Maravilhoso! Soube que tem dois filhos pequenos. Não gostaria de levá-los?

— Agradeço sua gentileza, mas eles estão sempre ocupados nas noites de sábado.

Mary se perguntou por que mentira.

O coquetel foi na embaixada suíça. Era obviamente uma das embaixadas da classe A, porque o presidente Alexandros Ionescu estava presente. Assim que viu Mary, ele se aproximou.

— Boa noite, senhora embaixadora. — Ionescu pegou a mão de Mary e segurou-a por mais tempo do que o necessário. — Quero que saiba que estou muito satisfeito porque seu país concordou em nos conceder o empréstimo que solicitamos.

— E nós estamos muito satisfeitos que tenha permitido que o grupo da igreja visite os Estados Unidos, Excelência.

Ele acenou com a mão, como se isso não tivesse a menor importância.

— Os romenos não são prisioneiros. Qualquer um é livre para ir e vir, como quiser. Meu país é um símbolo de justiça social e liberdade democrática.

Mary pensou nas filas compridas esperando para comprar os alimentos escassos, a multidão no aeroporto e os refugiados querendo desesperadamente partir. Ionescu acrescentou:

— Todo poder na Romênia pertence ao povo.

Há gulags na Romênia que não temos permissão para ver. Mary disse:

— Com todo respeito, senhor presidente, há centenas de judeus, talvez milhares, que estão tentando deixar a Romênia. Seu governo não lhes concede o visto de saída.

Ele amarrou a cara.

— Dissidentes. Arruaceiros. Estamos fazendo um favor ao mundo ao mantê-los aqui, onde podemos vigiá-los.

— Senhor presidente...

— Em relação aos judeus, temos uma política mais tolerante que a de qualquer outro país da Cortina de Ferro. Em 1967, durante a guerra árabe-israelense, a União Soviética e todos os países do nosso bloco, à exceção da Romênia, romperam relações diplomáticas com Israel.

— Sei disso, senhor presidente, mas a verdade é que ainda há...

— Já provou o caviar? É beluga fresco.

O doutor Louis Desforges se oferecera para ir buscar Mary, mas ela acertara que Florian a levasse ao restaurante Taru. Ela telefonou para avisar ao doutor Desforges que chegaria alguns minutos atrasada. Tinha de passar pela embaixada para enviar um relatório sobre sua conversa com o presidente Ionescu.

Gunny estava de serviço. Bateu continência para ela e abriu a porta. Mary entrou em sua sala e acendeu a luz. E ficou na porta, paralisada. Alguém escrevera na parede, com spray vermelho: volte para casa antes de morrer. Ela recuou, muito pálida, e voltou à sala de recepção. Gunny assumiu posição de sentido.

— O que foi, senhora embaixadora?

— Gunny... quem esteve em minha sala?

— Ninguém, ao que eu saiba.

— Deixe-me ver a lista das pessoas que estiveram na embaixada.

Mary tinha de fazer o maior esforço para impedir que a voz tremesse.

— Pois não, senhora.

Gunny pegou a lista de visitantes e entregou-a. Ao lado de cada nome estava indicada a hora da entrada. Mary começou a partir de cinco e meia, a hora em que deixara o escritório. Havia uma dúzia de nomes depois. Ela olhou para o fuzileiro.

— As pessoas nesta lista... são sempre escoltadas até a sala que vão visitar?

— Sempre, senhora embaixadora. Ninguém sobe para o segundo andar sem estar acompanhado. Há alguma coisa errada?

Alguma coisa estava muito errada.

— Por favor, mande alguém à minha sala para apagar o que pintaram na parede.

Ela virou-se e foi embora, apressada, com medo de vomitar. Seu telegrama podia esperar até a manhã seguinte.

O doutor Louis Desforges esperava quando Mary chegou ao restaurante. Ele se levantou quando ela se aproximou da mesa.

— Desculpe o atraso — disse Mary, fazendo força para parecer normal.

Ele puxou a cadeira para que ela sentasse.

— Não foi nada. Recebi seu recado. Foi muita gentileza sua aceitar meu convite.

Mary gostaria agora de não ter aceitado. Estava muito nervosa e transtornada. Ela apertou as mãos, uma contra a outra, a fim de impedir que tremessem. Ele a observava atentamente.

— Está se sentindo bem, senhora embaixadora?

— Estou, sim. — Volte para casa antes de morrer. — Eu gostaria de tomar um uísque puro, por favor.

Ela detestava uísque, mas achava que poderia relaxá-la. Desforges pediu os drinques e depois comentou:

— Não deve ser fácil trabalhar como embaixadora... especialmente sendo uma mulher e neste país. Os romenos são machos chauvinistas.

Mary forçou um sorriso.

— Fale-me a seu respeito.

Qualquer coisa servia para afastar seus pensamentos da ameaça.

— Não há muita coisa emocionante para contar.

— Disse que lutou no movimento subterrâneo na Argélia. Isso parece emocionante.

Ele deu de ombros.

— Vivemos momentos difíceis. Creio que cada homem deve arriscar alguma coisa, a fim de que, ao final, não tenha de arriscar tudo. O problema terrorista é literalmente esse... aterrorizante. Devemos acabar com ele.

A voz do médico estava impregnada de paixão. Ele é como Edward, pensou Mary. Edward sempre foi apaixonado em suas convicções. O doutor Desforges era um homem que não podia ser facilmente dominado. Estava disposto a arriscar a vida pelas coisas em que acreditava. E ele estava dizendo:

— ... se eu soubesse que o preço da minha luta seriam as vidas de minha mulher e de minhas filhas... — Ele fez uma pausa. As articulações dos dedos das mãos estavam brancas contra a mesa. — Desculpe. Não vim aqui para falar de meus problemas. Recomendo o carneiro. Eles o preparam muito bem aqui.

— Boa idéia.

Desforges pediu o jantar e uma garrafa de vinho e ficaram conversando. Mary começou a relaxar, a esquecer a terrível advertência pintada em vermelho. Estava descobrindo que era surpreendentemente fácil conversar com aquele atraente francês. De uma estranha maneira, era como conversar com Edward. Era espantoso como ela e Louis partilhavam tantas convicções e sentiam da mesma forma sobre tantas coisas. Louis Desforges nascera numa pequena cidade na França, e Mary nascera numa pequena cidade no Kansas, separados por oito mil quilômetros — apesar disso, seus antecedentes eram muito parecidos. O pai dele era lavrador e economizara ao máximo para enviar o filho à faculdade de medicina em Paris.

— Meu pai foi um homem maravilhoso, senhora embaixadora.

— Senhora embaixadora parece muito formal.

— Senhora Ashley?

— Mary.

— Obrigado, Mary. Ela sorriu.