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— Estou contente.

Ela fitava-o nos olhos e sentiu que ele se adiantava. Esticou os lábios.

— Boa noite, Mary. E ele se foi.

Na manhã seguinte, ao entrar em sua sala, Mary notou que a outra parede também fora pintada de novo. Mike Slade entrou com duas xícaras de café.

— Bom dia.

Ele pôs uma xícara na mesa.

— Alguém tornou a escrever na parede?

— Isso mesmo.

— O que dizia desta vez?

— Não tem importância.

— Não tem importância? — repetiu ela, furiosa. — Tem toda importância para mim! Que tipo de segurança tem esta embaixada? Não posso admitir que pessoas entrem sorrateiras nesta sala e escrevam ameaças contra a minha vida! O que dizia?

— Quer que eu diga literalmente?

— Quero.

— Dizia: "Pare agora ou morra." Mary arriou na cadeira, enfurecida.

— Pode me explicar como alguém é capaz de entrar nesta embaixada sem ser visto e escrever mensagens na parede da minha sala?

— Eu bem que gostaria de poder — respondeu Mike. — Estamos fazendo tudo o que é possível para descobrir.

— Pois "tudo o que é possível" obviamente não é suficiente. Quero um guarda postado à minha porta durante a noite. Entendido?

— Entendido, senhora embaixadora. Transmitirei a ordem ao coronel McKinney.

— Não precisa. Falarei com ele pessoalmente.

Mary ficou observando Mike Slade se retirar e de repente se perguntou se ele não saberia quem estava por trás daquilo.

E se perguntou se não seria o próprio Mike Slade.

O Coronel McKinney estava contrafeito.

— Pode estar certa, senhora embaixadora, que me sinto tão perturbado quanto a senhora. Dobrarei a guarda no corredor e determinarei que a porta de sua sala seja vigiada 24 horas por dia.

Mary não se sentiu apaziguada. Alguém dentro da embaixada era responsável pelo que estava acontecendo. E o coronel McKinney estava dentro da embaixada.

Mary convidou Louis Desforges para um pequeno jantar na residência oficial. Havia uma dúzia de outros convidados. Ao final da noite, quando os outros já haviam se retirado, Louis disse:

— Importa-se se eu subir para ver as crianças?

— Já devem estar dormindo a esta altura, Louis.

— Não vou acordá-los — prometeu ele. — Quero apenas dar uma olhada.

Mary subiu com ele e observou-o parar na porta e contemplar o vulto adormecido de Tim. Depois de algum tempo, ela sussurrou:

— O quarto de Beth é por aqui.

Mary levou-o pelo corredor até o outro quarto e abriu a porta. Beth estava enroscada em torno do travesseiro, as cobertas retorcidas por cima. Louis aproximou-se da cama sem fazer barulho e ajeitou gentilmente as cobertas. Ficou parado ali por um longo momento, os olhos fechados. Depois virou-se e saiu do quarto.

— São crianças lindas — murmurou ele, a voz rouca. Eles pararam, fitando-se nos olhos, o ar entre os dois

carregado. Ele estava vulnerável em sua carência.

Vai acontecer, pensou Mary. Nenhum dos dois pode evitar.

E os braços se enlaçaram, os lábios se encontraram. Ele afastou-se bruscamente.

— Eu não deveria ter vindo. Sabe o que estou fazendo, não é? Revivendo meu passado. — Louis ficou em silêncio por um instante. — Ou talvez seja meu futuro. Quem sabe?

Mary disse suavemente:

— Eu sei.

David Victor, o adido comercial, entrou apressado na sala de Mary.

— Tenho péssimas notícias. Acabei de receber a informação de que o presidente Ionescu vai aprovar um contrato com a Argentina de um milhão e meio de toneladas de trigo e outro com o Brasil de meio milhão de toneladas de soja. Estávamos contando com essas vendas.

— Até que ponto as negociações já avançaram?

— Estão quase concluídas. Fomos excluídos. Eu já ia mandar um telegrama para Washington... com a sua aprovação, é claro.

— Espere mais um pouco — disse Mary. — Quero pensar no caso.

— Não conseguirá fazer com que o presidente Ionescu mude de idéia. Já tentei todos os argumentos possíveis.

— Então não temos nada a perder se eu fizer uma tentativa. — Ela chamou a secretária. — Dorothy, marque uma audiência minha com o presidente Ionescu o mais depressa possível.

Alexandros Ionescu convidou Mary para almoçar no palácio. Quando ela chegou, foi cumprimentada por Nicu, o filho de quatorze anos do presidente.

— Boa tarde, senhora embaixadora — disse ele. — Sou Nicu. Seja bem-vinda ao palácio.

— Obrigada.

Era um garoto bonito, alto para sua idade, lindos olhos pretos e uma pele impecável. Tinha o porte de um adulto.

— Ouvi falar coisas ótimas a seu respeito — comentou o garoto.

— Fico satisfeita com isso, Nicu.

— Vou avisar a meu pai que você já chegou.

Mary e Ionescu sentaram frente a frente na sala de jantar formal, apenas os dois à mesa. Mary imaginou onde estaria a esposa, que raramente aparecia, mesmo nas recepções oficiais.

O presidente andara bebendo e estava de bom humor. Acendeu um Snogov, o cigarro romeno de cheiro horrível.

— Soube que andou fazendo excursões turísticas com seus filhos.

— É verdade, Excelência. A Romênia é um lindo país, e há muita coisa para se ver.

Ele exibiu o que julgava ser um sorriso sedutor.

— Um dia desses você deve permitir que eu lhe mostre meu país. — O sorriso transformou-se numa paródia de malícia. — Sou um guia excelente, e poderia lhe mostrar muitas coisas interessantes.

— Tenho certeza que poderia — disse Mary. — Senhor presidente, eu queria encontrá-lo hoje porque tenho um assunto muito importante para discutir.

Ionescu quase soltou uma gargalhada. Sabia exatamente por que ela viera. Os americanos querem me vender trigo e soja, mas estão atrasados. A embaixadora americana sairia de mãos vazias daquela vez. O que era uma pena, já que se tratava de uma mulher tão bonita...

— O que é? — perguntou ele.

— Quero lhe falar sobre as cidades irmãs. Ionescu piscou os olhos, aturdido.

— Como?

— Cidades irmãs. Como San Francisco e Osaka, Los Angeles e Bombaim, Washington e Bangkok...

— Eu... eu não estou entendendo. O que isso tem a ver com...

— Senhor presidente, ocorreu-me que poderia obter manchetes no mundo inteiro se tornasse Bucareste uma cidade irmã de alguma cidade americana. Pense na emoção que isso despertaria. Atrairia quase tanta atenção quanto o programa de povo-para-povo do presidente Ellison. Seria um passo importante para a paz mundial. Uma ponte entre nossos países. Eu não ficaria surpresa se lhe concedessem o Prêmio Nobel da Paz.

Ionescu ficou em silêncio, tentando reorganizar seus pensamentos. Finalmente disse, cauteloso:

— Uma cidade irmã com os Estados Unidos? É uma idéia interessante. O que isso envolveria?

— Principalmente uma publicidade maravilhosa para a Romênia e seu governo. Faria uma visita à cidade. E uma delegação de Kansas City o visitaria.

— Kansas City?

— É apenas uma sugestão, é claro. Pensei que não gostaria de uma cidade grande como Nova York ou Chicago... são comerciais demais. E Los Angeles já é muito falada. Kansas City fica no centro dos Estados Unidos. Há lavradores lá, como os seus lavradores. Pessoas que têm valores simples, como o seu povo. Seria o ato de um grande estadista, senhor presidente. Seu nome estaria na boca de todo mundo. Ninguém na Europa jamais pensou em fazer isso.

Ionescu não disse nada por algum tempo.

— Eu... eu teria de pensar muito a respeito.

— Claro.

— Kansas City, Kansas, e Bucareste, Romênia. — Ele balançou a cabeça. — Somos uma cidade muito maior, é claro.

— Bucareste seria a irmã maior.

— Devo admitir que é uma idéia muito atraente.