Na verdade, quanto mais pensava a respeito, mais Ionescu gostava. Meu nome estará na boca de todo mundo. E servirá para impedir que o abraço do urso soviético se torne muito apertado.
— Existe alguma possibilidade de rejeição do lado americano? — perguntou Ionescu.
— Absolutamente nenhuma. Posso garantir. Ele refletiu por mais algum tempo.
— Quando isso entraria em vigor?
— Assim que estiver pronto para fazer o anúncio. Cuidarei de tudo do nosso lado. Já é um grande estadista, senhor presidente, mas isso o tornaria ainda maior.
Ionescu pensou mais um pouco.
— Poderíamos promover o intercâmbio comercial com nossa cidade irmã. A Romênia tem muitas coisas para vender. Diga-me... o que o Kansas cultiva?
— Entre outras coisas — respondeu Mary com um ar de inocência —, trigo e soja.
— Conseguiu mesmo fechar o negócio? — indagou David Victor, incrédulo. — Conseguiu enganá-lo?
— Claro que não — afirmou Mary. — Ionescu é esperto demais para ser enganado. Sabia o que eu estava querendo. Apenas gostou do pacote que lhe ofereci. Pode acertar os detalhes para fechar o negócio. Ionescu já está ensaiando seu discurso pela televisão.
Quando soube da notícia, Stanton Rogers telefonou para Mary.
— Você faz milagres — disse ele, rindo. — Já estávamos convencidos de que perdêramos o negócio. Como conseguiu?
— Pelo ego — respondeu Mary. — O dele.
— O presidente me pediu para lhe dizer que você está fazendo um grande trabalho aí, Mary.
— Agradeça a ele por mim, Stan.
— Claro. Por falar nisso, o presidente e eu viajaremos para a China na próxima semana. Se precisar de mim, pode fazer contato através de meu gabinete.
— Façam uma boa viagem.
As semanas foram passando depressa, e os ventos de março deram lugar à primavera e depois ao verão, as roupas grossas de inverno foram trocadas por trajes leves e frescos. As árvores estavam viçosas e as flores desabrochavam por toda parte, os parques se tornaram lindos. Junho estava quase terminando.
Era inverno em Buenos Aires. Neusa Muñez voltou ao seu apartamento de madrugada. O telefone estava tocando. Ela atendeu.
— Sí?
— Miss Muñez?
Era o gringo dos Estados Unidos.
— Está falando com ela.
— Posso falar com Angel?
— Angel não está aqui, señor. O que deseja?
O Controlador descobriu que sua irritação era cada vez maior. Que tipo de homem se envolveria com uma mulher assim? Pela descrição que Harry Lantz lhe dera, antes de ser assassinado, ela não apenas era estúpida, mas também muito feia.
— Quero que dê um recado meu a Angel.
— Espere um instante.
Ele ouviu o telefone cair e ficou esperando. A mulher voltou ao telefone.
— Pode falar.
— Diga a Angel que preciso dele para um contrato em Bucareste.
— Budapeste?
Oh, Deus, aquela mulher era mesmo insuportável!
— Bucareste, Romênia. Diga a ele que é um contrato de cinco milhões de dólares. Ele deve estar em Bucareste ao final do mês. Daqui a três semanas. Já anotou tudo?
— Espere um instante. Estou escrevendo. Ele esperou, pacientemente.
— Muito bem. Quantas pessoas Angel tem de matar por cinco milhões de dólares?
— Uma porção...
As longas filas diárias na frente da embaixada continuavam a incomodar Mary. Ela tornou a discutir o assunto com Mike Slade.
— Deve haver alguma coisa que possamos fazer para ajudar essas pessoas a saírem do país.
— Já tentamos tudo — disse Mike. — Aplicamos pressão, oferecemos dinheiro... a resposta é sempre não. Ionescu se recusa a fazer qualquer negócio. Os pobres coitados estão perdidos. Ele não tem a menor intenção de deixá-los partir. A Cortina de Ferro não está apenas em torno do país... está no próprio país.
— Terei outra conversa com Ionescu.
— Boa sorte.
Mary pediu a Dorothy Stone para marcar uma audiência com o ditador. Poucos minutos depois a secretária entrou em sua sala.
— Lamento, senhora embaixadora, mas não haverá audiência.
Mary ficou surpresa.
— O que significa isso?
— Não sei direito. Alguma coisa estranha está acontecendo no palácio. Ionescu não recebe ninguém. Mais do que isso, ninguém pode sequer entrar no palácio.
Mary tentou imaginar o que poderia estar havendo. Ionescu estaria preparando algum comunicado de grande importância? Haveria um golpe iminente? Só podia ser algo da maior relevância. O que quer que fosse, Mary sabia que precisava descobrir.
— Dorothy, você tem contatos no palácio presidencial, não é?
Dorothy sorriu.
— Está falando da "rede das comadres"? Claro. Sempre conversamos.
— Eu gostaria de saber o que está acontecendo por lá...
Uma hora depois Dorothy tornou a entrar na sala.
— Descobri o que estava querendo saber. Estão abafando o caso.
— Abafando o quê?
— O filho de Ionescu está agonizante. Mary ficou consternada.
— Nicu? O que aconteceu?
— Ele está com botulismo. Mary se apressou em indagar:
— Há uma epidemia em Bucareste?
— Não, senhora. Lembra da epidemia que houve recentemente na Alemanha Oriental? Ao que parece, Nicu esteve lá e alguém lhe deu comida enlatada de presente. Ele abriu e comeu ontem.
— Mas há um soro de anticorpos para o botulismo!
— Não tem mais nenhum nos países europeus. A epidemia do mês passado consumiu tudo.
— Oh, Deus!
Dorothy se retirou e Mary ficou pensando. Talvez fosse tarde demais, mas ainda assim... Ela podia lembrar como o jovem Nicu era jovial e feliz. Tinha quatorze anos... apenas dois anos mais velho do que Beth. Ela apertou o botão do interfone e disse:
— Dorothy, ligue-me com o Centro de Controle de Doenças, em Atlanta, Georgia.
Cinco minutos depois ela estava falando com o diretor.
— Temos um soro de anticorpos para envenenamento por botulismo, senhora embaixadora, mas não recebemos notícia de qualquer caso nos Estados Unidos.
— Não estou nos Estados Unidos — informou Mary. — Estou em Bucareste, e preciso do soro imediatamente.
Houve uma pausa.
— Terei a maior satisfação em fornecer o soro, mas o efeito do botulismo é muito rápido. Quando chegar ai...
— Providenciarei para que chegue aqui o mais depressa possível. Basta aprontar tudo. E obrigada.
Dez minutos depois ela estava falando com o general Ralph Zukor, da Força Aérea Americana, em Washington.
— Bom dia, senhora embaixadora. É um prazer inesperado. Minha mulher e eu somos seus grandes fãs. Como está...
— Preciso de um favor, general.
— Não tem problema. Qualquer coisa que quiser.
— Preciso de seu jato mais rápido.
— Como?
— Preciso de um jato para trazer um soro a Bucareste imediatamente.
— Ahn...
— Pode dar um jeito?
— Claro. Vai precisar obter a aprovação do secretário de Defesa. E será necessário preencher alguns formulários de requisição. Uma cópia virá para mim e a outra será para o Departamento de Defesa. Mandaremos então...
Mary estava furiosa.
— General, pare de falar e trate de mandar o maldito avião levantar vôo. Se...
— Não é possível...
— A vida de um garoto está em jogo. E acontece que o garoto é o filho do presidente da Romênia.
— Lamento muito, mas não posso autorizar...
— Se o garoto morrer porque algum formulário não foi preenchido, general, juro que vou convocar a maior entrevista coletiva de todos os tempos. E deixarei que explique aos jornalistas por que deixou o filho de Ionescu morrer.
— Não posso autorizar uma operação assim sem aprovação da Casa Branca. Se...