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Mas não posso acusá-lo sem provas... e que provas tenho eu? Que ele fazia café para mim todas as manhãs?

Tim estava falando com ela:

— ... e falamos que perguntaríamos a você se podemos ir.

— Desculpe, querido. O que foi mesmo que você disse?

— Nikolai convidou a gente para fazer um acampamento com ele e sua família no próxima fim de semana.

— Não! — A resposta saiu mais áspera do que Mary tencionava. — Quero que vocês dois fiquem na residência.

— E a escola? — perguntou Beth.

Mary hesitou. Não podia mantê-los prisioneiros ali e não queria alarmá-los.

— Está bem. Desde que Florian leve vocês até lá e vá buscar. Não admito mais ninguém.

Beth observava-a atentamente.

— Há alguma coisa errada, mamãe?

— Claro que não. Por que pergunta?

— Não sei. Há alguma coisa no ar.

— Dê uma folga a mamãe — interveio Tim. — Ela teve a gripe romena.

É uma expressão interessante, pensou Mary. Envenenamento por arsênico a gripe romena.

— A gente podemos assistir a um filme esta noite? — indagou Tim.

— A gente pode — corrigiu Mary.

— Isso significa que sim?

Mary não estava planejando projetar um filme, mas vinha passando tão pouco tempo com os filhos ultimamente que resolveu lhes dar aquele presente.

— Exatamente.

— Obrigado, senhora embaixadora! — exclamou Tim.

— Eu escolho o filme!

— Você não! — protestou Mary. — Escolheu o último. Podemos ver de novo American graffiti?

American graffiti. E subitamente Mary compreendeu qual era a prova que podia apresentar a Stanton Rogers.

À meia-noite, Mary pediu a Carmen que chamasse um táxi.

— Não quer que Florian a leve? — perguntou Carmen.

— Ele está...

— Não.

Quando o táxi chegou, poucos minutos depois, Mary embarcou e disse ao motorista:

— Vamos para a embaixada americana, por favor. O motorista respondeu:

— Está fechada a esta hora. Não há ninguém... — Ele virou-se no banco da frente e reconheceu-a. — Senhora embaixadora! É uma grande honra. — Ele deu a partida. — Eu a reconheci por todas as fotografias suas que saíram em nossos jornais e revistas. É quase tão famosa quanto o nosso líder.

Várias pessoas na embaixada já haviam comentado toda a publicidade que ela tinha na imprensa romena. O motorista continuava a falar:

— Gosto dos americanos. São pessoas de bom coração. Espero que o programa de povo-para-povo do seu presidente dê certo. Nós, romenos, somos todos a favor. Está na hora de o mundo ter um pouco de paz.

Mary não estava com o menor ânimo para conversar sobre isso.

Quando chegaram à embaixada, ela indicou uma placa que dizia: parcare cú lucuri rezervate.

— Pode me deixar ali, por favor. E venha me buscar dentro de uma hora. Voltarei para a residência.

— Pois não, senhora embaixadora. Um fuzileiro se aproximava do táxi.

— Não pode parar aí. É re... — Ele reconheceu Mary e bateu continência. — Desculpe. Boa noite, senhora embaixadora.

— Boa noite — murmurou Mary.

O fuzileiro acompanhou-a até a entrada e abriu a porta.

— Posso ajudá-la em alguma coisa?

— Não há necessidade. Vou ficar alguns minutos na minha sala.

— Está bem, senhora.

Ele ficou observando-a avançar pelo corredor. Mary acendeu as luzes de sua sala e olhou para as paredes em que haviam sido escritas as ameaças. Foi até a porta de ligação e entrou na sala de Mike Slade. Estava escura. Ela acendeu as luzes e olhou ao redor.

Não havia papéis em cima da mesa. Começou a revistar as gavetas. Estavam vazias, exceto folhetos, boletins e tabelas de horários. Coisas inocentes que não teriam o menor interesse para uma faxineira bisbilhoteira. Mary tornou a correr os olhos pela sala. Tinha de estar em algum lugar ali. Não havia outro lugar onde ele pudesse guardar e era improvável que circulasse com a coisa.

Ela tornou a abrir as gavetas e começou a verificar o conteúdo mais uma vez, devagar, com o máximo de atenção. Na gaveta do fundo sentiu alguma coisa dura por trás de uma massa de papéis. Tirou-a e levantou-a, olhando fixamente.

Era uma lata de spray vermelho.

Poucos minutos depois das nove horas da noite, o doutor Louis Desforges estava esperando na Baneăsa, perto do chafariz. Tinha dúvidas se não cometera um erro ao não denunciar Mike Slade imediatamente. Não, pensou. Primeiro devo ouvir o que ele tem a dizer. Se eu fizesse uma falsa acusação, isso iria destruí-lo.

Mike Slade emergiu subitamente da escuridão.

— Obrigado por ter vindo. Podemos esclarecer o assunto muito depressa. Você disse pelo telefone que achava que alguém estava envenenando Mary Ashley.

— Tenho certeza. Alguém estava lhe dando arsênico.

— E acha que sou o responsável?

— Poderia ter posto no café, um pouco de cada vez.

— E contou isso a alguém?

— Ainda não. Queria falar com você primeiro.

— Fico contente por isso.

Mike tirou a mão do bolso. Empunhava uma pistola Magnum, calibre 357. Louis ficou apavorado.

— Mas... mas o que está fazendo? Espere um pouco! Não pode...

Mike Slade puxou o gatilho e observou o peito do francês explodir numa nuvem vermelha.

27

Na embaixada americana, Mary estava na Sala Bolha, telefonando para Stanton Rogers pela linha segura. Era uma hora da madrugada em Bucareste e quatro horas da tarde em Washington.

— Gabinete do senhor Rogers.

— Aqui é a embaixadora Ashley. Sei que o senhor Rogers está na China, com o presidente, mas é um problema urgente. Preciso falar com ele o mais depressa possível. Há alguma maneira de eu poder fazer contato com ele lá?

— Lamento, senhora embaixadora, mas é impossível. O itinerário é bastante flexível. Não tenho um telefone em que possa localizá-lo.

Mary sentiu um aperto no coração.

— Quando terá um contato com ele?

— É difícil prever. Ele e o presidente estão com uma agenda muito movimentada. Talvez alguém no Departamento de Estado possa ajudá-la.

— Não, ninguém mais pode me ajudar — murmurou Mary, desesperada. — Obrigada.

Ficou sentada sozinha na sala, olhando para o nada, cercada pelos mais sofisticados aparelhos eletrônicos do mundo, só que nenhum podia ajudá-la. Mike Slade estava tentando matá-la. Ela tinha de avisar a alguém. Mas quem? Em quem poderia confiar? A única pessoa que sabia o que Slade estava tentando fazer era Louis Desforges.

Mary tentou outra vez falar com ele, mas ninguém atendeu o telefone em sua casa. Ela lembrou o que Stanton Rogers lhe dissera: "Se desejar me mandar alguma mensagem que não queira que mais ninguém leia, o código no alto do telegrama deve ser três xis."

Ela voltou à sua sala e escreveu uma mensagem urgente para Stanton Rogers. Colocou três xis no alto. Tirou o livro de código preto de uma gaveta trancada da escrivaninha e codificou com todo cuidado o que escrevera. Pelo menos se alguma coisa lhe acontecesse agora, Stanton Rogers saberia quem era o responsável.

Mary atravessou o corredor até a sala de comunicações. Eddie Maltz, o agente da CIA, estava lá.