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— Boa noite, senhora embaixadora. Está trabalhando até tarde hoje.

— É verdade. Tenho uma mensagem que gostaria que fosse despachada imediatamente.

— Cuidarei disso pessoalmente.

— Obrigada.

Ela entregou a mensagem e encaminhou-se para a porta da frente. Queria desesperadamente ficar perto dos filhos.

Na sala de comunicações, Eddie Maltz estava decodificando a mensagem de Mary. Quando acabou, leu-a duas vezes, franzindo o rosto. Foi ao retalhador, jogou a mensagem lá dentro e observou-a se transformar em confete.

Depois, fez uma ligação para Floyd Baker, o secretário de Estado, em Washington. Codinome: Thor.

Lev Pasternak levou dois meses para seguir a tortuosa trilha que levava a Buenos Aires. A SIS e meia dúzia de outras agências de segurança de diversos países haviam ajudado a identificar Angel como o assassino. A Mossad lhe dera o nome de Neusa Muñez, a amante de Angel. Todos queriam eliminar Angel. Para Lev Pasternak, Angel se tornara uma obsessão. Porque ele fracassara, Marin Groza morrera, e Pasternak nunca poderia se perdoar por isso. Mas podia fazer uma reparação. E era essa a sua intenção. Não entrou em contato com Neusa Muñez diretamente. Localizou o prédio de apartamentos onde ela morava e ficou vigiando, na esperança de que Angel aparecesse. Depois de cinco dias, como não houvesse qualquer sinal de Angel, Pasternak entrou em ação. Esperou que a mulher saísse e quinze minutos depois subiu a escada, abriu a porta com uma gazua e entrou no apartamento. Revistou-o rápida e meticulosamente. Não havia fotografias, memorandos ou endereços que pudessem levá-lo a Angel. Pasternak encontrou os ternos no armário. Examinou as etiquetas de Herrera, tirou um dos paletós do cabide e meteu-o debaixo do braço. Um minuto depois havia saído, tão discretamente quanto entrara.

Na manhã seguinte Lev Pasternak entrou na alfaiataria. Os cabelos estavam desgrenhados, as roupas amarrotadas; recendia a uísque. O gerente se aproximou e perguntou, em tom de desaprovação:

— Posso ajudá-lo em alguma coisa, señor? Lev Pasternak sorriu contrafeito.

— Pode, sim. Para ser franco, fiquei completamente de porre ontem à noite. E me meti num jogo de cartas com alguns sul-americanos no meu quarto no hotel. Acho que todo mundo ficou um pouco bêbado. Um dos caras... não me lembro qual era o seu nome... deixou este paletó no quarto. — Lev levantou o paletó, a mão trêmula. — Tinha a sua etiqueta, e por isso calculei que podia me informar onde devolvê-lo.

O gerente examinou o paletó.

— Fizemos mesmo este paletó. Eu teria de localizar nossos registros. Onde poderei encontrá-lo?

— Não poderá — murmurou Lev Pasternak. — Estou a caminho de outro jogo de pôquer. Tem um cartão? Ligarei para você.

— Está bem.

O gerente entregou o cartão.

— Não vá roubar esse paletó, hem? — disse Lev, a voz engrolada.

— Claro que não! — protestou o gerente, indignado. Lev Pasternak deu-lhe um tapinha nas costas.

— É assim que eu gosto. Ligo para você esta tarde.

Naquela tarde, quando Lev telefonou do seu quarto no hotel, o gerente informou:

— O nome do cavalheiro para quem fizemos o paletó é señor H.R. de Mendoza. Ele tem uma suíte no Aurora Hotel. Suíte quatro-sete-um.

Lev Pasternak foi verificar se sua porta estava mesmo trancada. Tirou uma mala do armário, levou-a para a cama e abriu-a. Lá dentro havia uma pistola SIG Sauer, calibre 45, com um silenciador, cortesia de um amigo do serviço secreto argentino. Pasternak certificou-se de que a arma estava carregada e o silenciador bem ajustado. Tornou a guardar a mala no armário e foi dormir.

Às quatro horas da madrugada, Lev Pasternak avançava em silêncio pelo corredor deserto do quarto andar do Aurora Hotel. Ao chegar à suíte 417, olhou para um lado e outro, confirmando que não havia ninguém à vista. Enfiou um arame na fechadura. Ao ouvir o estalido, indicando que a porta estava destrancada, ele sacou a pistola.

Sentiu uma corrente de ar quando a porta no outro lado do corredor foi aberta. Antes que pudesse se virar, Pas-ternak sentiu alguma coisa dura e fria se comprimindo contra sua nuca.

— Não gosto de ser seguido — disse Angel.

Lev Pasternak ouviu o estalido do gatilho uma fração de segundo antes de a bala dilacerar seu cérebro.

Angel não sabia se Pasternak estava sozinho ou com alguém, mas sempre era sensato tomar precauções extras. O telefonema acontecera e estava na hora de se mexer. Mas, primeiro, Angel tinha de fazer algumas compras. Havia uma boa loja de lingerie na Pueyrredón, muito cara, mas Neusa merecia o melhor. O interior da loja estava fresco e tranqüilo.

— Gostaria de ver um negligê, algo cheio de babados — disse Angel.

A vendedora exibiu uma expressão de espanto.

— E uma calcinha com uma abertura na virilha — acrescentou Angel.

Quinze minutos depois Angel entrou na Frenkel. As prateleiras estavam cheias de bolsas de couro, luvas e pastas.

— Quero uma pasta, por favor. Preta.

El Aljibe, no Sheraton Hotel, era um dos melhores restaurantes de Buenos Aires. Angel foi sentar num canto e pôs a pasta nova em cima da mesa. O garçom aproximou-se.

— Boa tarde.

— Começarei com pargo e depois quero parrillado com poroto e verduras. Escolherei a sobremesa depois.

— Pois não.

— Onde fica o banheiro?

— Lá no fundo, passando pela porta, à esquerda. Angel levantou e encaminhou-se para os fundos do restaurante, deixando a pasta à vista, em cima da mesa. Havia um corredor estreito, com duas portas pequenas, uma delas indicada Caballeros e a outra Damas. Ao final do corredor havia uma porta dupla que dava para a cozinha barulhenta e cheia de vapor. Angel empurrou uma das portas e entrou. A atividade era frenética, cozinheiros e ajudantes correndo de um lado para o outro, tentando acompanhar o movimento intenso da hora do almoço. Garçons entravam e saíam com bandejas carregadas. Os cozinheiros gritavam com os garçons, os garçons gritavam com seus ajudantes.

Angel avançou, atravessando a cozinha e saindo pela porta dos fundos, que dava numa viela. Uma espera de cinco minutos para ter certeza de que ninguém estava em seu encalço.

Havia um táxi na esquina. Angel deu ao motorista um endereço na Humberto, saltou a um quarteirão de distância e fez sinal para outro táxi.

— ¿ Adónde, por favor?

— Aeropuerto.

Havia uma passagem para Londres à sua espera ali. Classe turista. A primeira classe chamaria muita atenção.

Duas horas depois Angel observou a cidade de Buenos Aires desaparecer por baixo das nuvens, como um truque de algum mágico celestial. Concentrou-se na missão, pensando nas instruções que recebera.

Dê um jeito para que as crianças morram junto com ela. As mortes devem ser espetaculares.

Angel não gostava que lhe dissessem como executar um contrato. Somente os amadores eram bastante estúpidos para darem conselhos aos profissionais. Angel sorriu. Todos vão morrer, e será mais espetacular do que qualquer um poderia imaginar.

Angel dormiu, um sono profundo e sem sonhos.

O Aeroporto Heathrow de Londres estava apinhado de turistas, e a viagem de táxi para Mayfair levou mais de uma hora. O saguão do Churchill estava movimentado, com turistas entrando e saindo.

Um empregado pegou as três malas de Angel, que lhe disse:

— Leve para o meu quarto e deixe lá. Tenho algumas coisas a fazer agora.

A gorjeta foi modesta, nada de que o homem pudesse se lembrar mais tarde. Angel foi para o hall de elevadores, esperou um carro vazio e entrou.

Quando o elevador começou a subir, Angel apertou os botões do quinto, sétimo, nono e décimo andares. Saltou no quinto andar. Qualquer pessoa que estivesse observando do saguão ficaria confusa.