— Ela e o marido se dão bem?
— Depois de Doug e eu, eles formam o casal mais feliz que já conheci. — Pensou por um instante. — Retiro o que disse. Eles são de fato o casal mais feliz que conheço.
— Fui informado de que a senhora Ashley tem dois filhos. Uma garota de doze anos e um menino de dez?
— Isso mesmo. Beth e Tim.
— Diria que ela é uma boa mãe?
— Ela é uma grande mãe. Mas afinal...
— Senhora Schiffer, em sua opinião a senhora Ashley é uma pessoa emocionalmente estável?
— Claro que é.
— Ela não tem problemas emocionais que sejam do seu conhecimento?
— De jeito nenhum.
— Ela bebe?
— Não. Não gosta de álcool.
— E drogas?
— Veio à cidade errada. Não temos nenhum problema de drogas em Junction City.
— A senhora Ashley não é casada com um médico?
— É sim.
— Se ela quisesse drogas...?
— Está redondamente enganado. Ela não consome drogas. Não funga e não toma pico na veia.
O agente estudou-a por um momento.
— Parece conhecer bem a terminologia.
— Assisto Miami Vice, como todo mundo. — Florence Schiffer estava começando a se irritar. — Tem mais alguma pergunta?
— O avô de Mary Ashley nasceu na Romênia. Já ouviu-a alguma vez falar sobre a Romênia?
— De vez em quando ela relata as histórias que o avô contava sobre a velha terra. Ele nasceu na Romênia, mas veio para os Estados Unidos ainda adolescente.
— Já ouviu a senhora Ashley manifestar alguma opinião negativa sobre o atual governo da Romênia?
— Não. Ou pelo menos não me lembro.
— Só mais uma pergunta. Já ouviu a senhora Ashley ou o doutor Ashley dizerem qualquer coisa contra o governo dos Estados Unidos?
— Absolutamente não!
— Então, na sua avaliação, eles são americanos leais?
— Pode apostar que sim. Importa-se de me explicar... O homem levantou-se.
— Quero agradecer pelo tempo que me dispensou, senhora Schiffer. E gostaria de repetir que se trata de um assunto altamente confidencial. Agradeceria se não falasse a respeito com ninguém... nem mesmo com seu marido.
Um momento depois ele saía pela porta da frente. Florence Schiffer ficou parada ali, a observá-lo fixamente. E murmurou:
— Não posso acreditar que toda essa conversa tenha mesmo ocorrido...
Os dois agentes desceram pela Washington Street, seguindo para o norte.
Passaram pela Câmara de Comércio e pelo prédio em que estava instalada a Real Ordem dos Alces, pelo Irma's Pet Grooming e por um bar chamado The Fat Chance. Os prédios comerciais acabaram abruptamente. Donald Zamlock comentou:
— É incrível, mas a rua principal tem apenas dois quarteirões. Isto não é uma cidade, é uma parada de ônibus.
Rex Olds disse:
— Pode ser para você e para mim, mas para esta gente é uma cidade.
Zamlock sacudiu a cabeça.
— Provavelmente é um bom lugar para se viver, mas juro que eu não gostaria de morar aqui.
O sedã parou na frente do banco e Rex Olds entrou. Voltou vinte minutos depois.
— Tudo certo — disse ele, entrando no carro. — Os Ashley têm sete mil dólares no banco, uma hipoteca sobre a casa e pagam suas contas pontualmente. O gerente do banco acha que o doutor tem um coração mole demais para ser um bom homem de negócios, mas o considera um risco de crédito dos melhores.
Zamlock olhou para uma prancheta ao seu lado.
— Vamos conferir mais alguns nomes e voltar logo à civilização, antes que eu comece a mugir.
Douglas Schiffer era normalmente um homem jovial e tranqüilo, mas naquele momento havia uma expressão sombria em seu rosto. Os Schiffer e os Ashley estavam no meio de seu jogo de bridge semanal, e os Schiffer estavam dez mil pontos atrás. E pela quarta vez naquela noite Florence Schiffer renunciou. Douglas Schiffer bateu com as cartas na mesa.
— Florence! — explodiu ele. — De que lado você está jogando? Sabe quantos pontos estamos perdendo?
— Desculpe — balbuciou ela, nervosa. — Eu... eu não consigo me concentrar.
— Isso é mais do que evidente — resmungou o marido.
— Alguma coisa a está incomodando? — Edward Ashley perguntou a Florence.
— Não posso contar. Todos a fitaram, surpresos.
— O que isso significa? — indagou o marido. Florence Schiffer respirou fundo.
— Mary... é sobre você.
— Como assim?
— Você está metida em alguma encrenca, não é? Mary ficou aturdida.
— Encrenca? Não. Eu... o que a faz pensar assim?
— Eu não deveria contar. Prometi.
— Prometeu a quem? — perguntou Edward.
— Um agente federal de Washington. Ele esteve lá em casa esta manhã, fazendo uma porção de perguntas sobre Mary. Fez com que ela parecesse uma espécie de espiã internacional.
— Que tipo de perguntas? — insistiu Edward.
— As coisas que a gente vê na televisão. Ela é uma americana leal? É uma boa esposa e mãe? Consome drogas?
— Mas por que fariam perguntas assim sobre Mary?
— Ei, esperem um pouco! — interveio Mary, muito excitada. — Acho que sei o que é. Só pode ser por causa da minha nomeação.
— Não estou entendendo — disse Florence.
— Estou para ser promovida a catedrática. Como a universidade realiza algumas pesquisas confidenciais para o governo no campus, imagino que eles precisam investigar todo mundo de maneira meticulosa.
— Graças a Deus que é só isso. — Florence Schiffer deixou escapar um suspiro de alívio. — Pensei que iam prender você.
— Espero que façam isso mesmo. — Mary sorriu. — Na Universidade Estadual do Kansas.
— Agora que o problema foi esclarecido — disse Douglas Schiffer —, podemos continuar o jogo? — Ele se virou para a esposa. — Se você abandonar mais uma vez, vou botá-la nos meus joelhos e aplicar umas boas palmadas.
— Promessas, promessas...
5
Abbeywood, Inglaterra
— Estamos reunidos nos termos das regras habituais — anunciou o presidente. — Não haverá registros, esta reunião nunca será discutida, e só vamos nos referir uns aos outros pelos codinomes que foram determinados.
Havia oito homens na biblioteca do Castelo Claymore, que datava do século XV. Dois homens armados, envoltos por grossos sobretudos, estavam de vigia lá fora, enquanto um terceiro homem guardava a porta da biblioteca. Os oito homens lá dentro haviam chegado separadamente, pouco tempo antes. O presidente continuou:
— O Controlador recebeu algumas informações desconcertantes. Marin Groza está preparando um golpe contra Alexandros Ionescu. Um grupo de oficiais superiores do exército romeno resolveu apoiar Groza. Desta vez ele pode ser bem-sucedido.
Odin perguntou:
— Como isso afetaria nosso plano?
— Pode destruí-lo. Abriria muitas pontes para o Ocidente.
— Então devemos impedir que aconteça — disse Freyr.
— Como? — indagou Balder.
— Temos que assassinar Groza — respondeu o presidente.
— É impossível. Os homens de Ionescu já cometeram meia dúzia de atentados, ao que saibamos. Todos fracassaram. Sua villa, ao que parece, é inexpugnável. De qualquer forma, ninguém nesta sala pode se permitir o envolvimento numa tentativa de assassinato.
— Não estaríamos envolvidos diretamente — explicou o presidente.
— Então como seria?
— O Controlador descobriu um dossiê confidencial sobre um terrorista internacional que pode ser contratado.
— Abul Abbas, o homem que organizou o seqüestro do Achille Lauro?
— Não. Há um novo pistoleiro na cidade, senhores. O melhor. É conhecido como Angel.