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─ Encontro você na sexta-feira para jantar, Sam. Tchau ─ disse, virando-se para sair.

A voz de Lucille veio pelo intercomunicador:

─ Dallas Burke está aqui.

─ Mande-o entrar.

─ E Mel Foss gostara de vê-lo. Diz que é urgente.

Mel Foss era o chefe da divisão de televisão dos Pan-Pacific Studios.

Sam olhou para o seu calendário de mesa.

─ Diga-lhe para aguentar até o café, amanhã de manhã. Oito horas, no Polo Lounge.

No escritório exterior, o telefone tocou e Lucille atendeu:

─ Gabinete do Sr. Winters.

Uma voz desconhecida disse:

─ Alô. O grande homem está por aí?

─ Quem está falando, por favor?

─ Diga a ele que é um velho companheiro... Toby Temple. Estivemos juntos no Exército. Ele disse que o procurasse se algum dia eu chegasse a Hollywood, e estou aqui.

─ Ele está em reunião, Sr. Temple. Será que ele poderia lhe telefonar mais tarde?

─ É claro.

Deu a ela o número do seu telefone, e Lucille o atirou na lata de lixo. Aquela não era a primeira vez que alguém tinha tentado fazê-la cair na velha conversa do ex-companheiro do Exército.

Dallas Burke era um dos diretores pioneiros da indústria cinematográfica. Os filmes de Burke eram exibidos em todas as universidades que tinham curso de cinema. Meia dúzia de seus primeiros filmes eram considerados clássicos, e nenhum trabalho seu era menos que brilhante e inovador. Burke estava agora com seus setenta e tantos anos, e seu corpo outrora maciço tinha murchado tanto que as roupas pareciam esvoaçar em volta dele.

─ É bom vê-lo de novo, Dallas ─ disse Sam quando o velho ia entrando.

─ Também estou feliz em vê-lo, menino.

Indicou o homem que o acompanhava.

─ Você conhece o meu agente?

─ É claro. Como vai, Peter?

Todos se sentaram.

─ Ouvi dizer que você tem uma história para me contar ─ disse Sam a Dallas Burke.

─ Essa é uma beleza ─ havia um tremor de excitação na voz do velho.

─ Estou morrendo de vontade de ouvi-la, Dallas ─ disse Sam. ─ Vá em frente.

Dallas Burke se inclinou mais para a frente e começou a falar.

─ Em que é que todas as pessoas do mundo inteiro estão mais interessadas, menino? Amor, certo? E esta idéia é sobre o tipo de amor mais sagrado que pode existir... o amor de uma mãe pelo seu filho.

A voz dele foi ficando mais forte à medida que foi se concentrando na sua história.

─ Começamos em Long Island, com uma garota de dezenove anos trabalhando como secretária para uma família rica. Velha cepa. Isso nos dá a oportunidade de enfocar as origens brilhantes ─ sabe o que estou querendo dizer? Negócio de alta sociedade. O homem para quem ela trabalha é casado com uma enjoada de sangue azul. Ele gosta da secretária e ela gosta dele, apesar de ele ser muito mais velho.

Ouvindo sem prestar muita atenção, Sam se perguntou se a história ia ser Back Street ou Imitation of Life. Não que tivesse importância, porque qualquer que fosse, Sam ia comprá-la. Já fazia quase vinte anos desde que alguém dera um filme para Burke dirigir pela última vez. Sam não podia culpar a indústria. Os três últimos filmes de Burke tinham sido caros, fora da moda e fracasso de bilheteira. Dallas Burke estava acabado como autor de filmes. Mas ele era um ser humano e ainda estava vivo, e de alguma maneira era preciso que se cuidasse dele, pois não tinha economizado um centavo. Tinham lhe oferecido um quarto na Casa de Retiro da Indústria Cinematográfica, mas ele recusara, indignado.

─ Não quero a porra da caridade de você! ─ gritara ele. ─ Estão falando com o homem que dirigiu Douglas Fairbank, Jack Barry, Milton Sills e Bill Farnum. Sou um gigante, seus pigmeus filhos de uma cadela!

E ele era. Era uma lenda; mas mesmo as lendas tinham que comer.

Quando Sam se tornara produtor, telefonara para um agente que conhecia e lhe dissera para trazer Dallas Burke com uma idéia para um filme. Desde então, Sam tinha passado a comprar histórias insossas de Dallas Burke todo o ano, por uma quantia suficiente para que o velho pudesse ir vivendo, e quando Sam estivera fora, no Exército, tratara para que o arranjo continuasse.

─ ...assim você vê ─ Dallas Burke estava dizendo ─ o bebê cresce sem saber quem é sua mãe. Mas a mãe não o perde de vista. No final, quando a filha se casa com esse médico rico, temos um grande casamento. E sabe qual é a grande surpresa, Sam? Escute só este pedaço, é magnífico! Não querem deixar a mãe entrar! Ela tem que entrar às escondidas, pelos fundos da igreja, para ver a sua própria filha se casar. Não haverá um único olho seco na plateia... Bem, é isto. Que é que você acha?

Sam tinha errado o palpite. Stella Dallas. Lançou um olhar para o agente, que desviou os olhos e examinou as pontas dos sapatos caros, embaraçado.

─ É fantástico. É exatamente o tipo de filme que o estúdio tem estado procurando.

Sam virou-se para o agente.

─ Telefone para o setor financeiro e prepare um contrato com eles, Peter. Vou avisar a eles para aguardarem o seu telefonema.

O agente concordou.

─ Diga-lhes que vão ter que pagar um preço salgado por esta aqui, senão vou oferecê-la à Warner Brothers ─ disse Dallas Burke. ─ Estou dando a primeira opção a vocês porque são velhos amigos.

─ Eu lhe agradeço ─ disse Sam.

Observou os dois homens saírem do gabinete. Falando em termos estritos, Sam sabia que não tinha nenhum direito de gastar o dinheiro da companhia numa atitude sentimental como aquela. Mas a indústria cinematográfica devia alguma coisa a homens como Dallas Burke, pois sem ele e outros como ele, não teria havido nenhuma indústria.

Às oito horas da manhã seguinte, Sam Winters estacionou o carro sob o pórtico do Beverly Hills Hotel. Alguns minutos depois, estava atravessando o Polo Lounge, cumprimentando amigos, conhecidos, e competidores. Fazia-se mais negócios ali, naquela sala, durante o café, almoço e coqueteis do que se fazia em todos os escritórios de todos os estúdios juntos. Mel Foss ergueu o olhar quando Sam se aproximou.

─ Bom dia, Sam.

Os dois homens trocaram um aperto de mão e Sam acomodou-se na banqueta defronte a Foss. Há seis meses atrás, Sam tinha contratado Foss para dirigir a divisão de televisão dos Pan-Pacific Studios. A televisão era a nova coqueluche do mundo dos espetáculos, e estava crescendo com uma rapidez incrível. Todos os estúdios que outrora tinham olhado para a televisão com desprezo agora estavam envolvidos com ela.

A garçonete veio anotar os pedidos, e depois que ela se foi disse:

─ Qual é a boa notícia, Mel?

Mel Foss sacudiu a cabeça.

─ Não há boas notícias. Estamos numa encrenca.

Sam esperou, sem dizer nada.

─ Não vamos conseguir o contrato de continuação de The Raiders.

Sam olhou para ele surpreendido.

─ Os índices de audiência estão ótimos. Por que a rede quereria cancelá-lo? É um bocado difícil conseguir um programa de grande sucesso.

─ Não é o programa ─ disse Foss. ─ É Jack Nolan.

Jack Nolan era o astro de The Raiders, e tinha sido um sucesso imediato, tanto de crítica quanto de público.

─ Que é que há com ele? ─ perguntou Sam.

Detestava o hábito de Mel Foss de forçá-lo a arrancar dele as informações.

─ Você já leu o número dessa semana da Peek Magazine?

─ Eu não leio em nenhuma semana. É o monte de lixo.

De repente ele percebeu aonde é que Foss estava querendo chegar.

─ Eles caíram em cima de Nolan!

─ E sem meias medidas ─ replicou Foss. ─ O estúpido filho da puta pôs o seu vestido de renda mais bonito e foi a uma festa. Alguém tirou retratos.