─ Amanhã vou fazê-lo descansar.
Jill programara entrevistas para Toby com o Paris-Match e o Times de Londres pela manhã, almoço com um grupo de repórteres de televisão e depois um coquetel. Resolveu cancelar o compromisso menos importante.
No fim do jantar, o prefeito de Cannes se levantou e apresentou Toby:
─ Minhas senhoras, meus senhores, distintos convidados: é um grande privilégio apresentar-lhes um homem cuja obra proporcionou prazer e felicidade ao mundo inteiro. Tenho a honra de presenteá-lo com esta medalha especial, símbolo de nossa afeição e admiração.
Ergueu uma medalha de ouro presa por uma fita e inclinou-se num cumprimento a Toby.
─ Monsieur Toby Temple!
Houve uma entusiástica salva de palmas da audiência, enquanto todos se levantavam em ovação. Toby continuou sentado, imóvel.
─ Levante-se ─ sussurrou Jill.
Lentamente, Toby se pôs de pé, pálido e trémulo. Ficou parado um momento, sorriu e começou a andar em direção ao microfone. A meio caminho, tropeçou e caiu, inconsciente.
Toby Temple foi levado de avião a Paris, num jacto de transporte da Força Aérea francesa, e encaminhado às pressas ao Hospital Americano, onde foi colocado na enfermaria de tratamento intensivo. Foram convocados os maiores especialistas franceses, enquanto Jill esperava num quarto particular do hospital. Durante trinta e seis horas, recusou-se a comer, beber ou atender aos telefonemas que chegavam aos milhares, de toda as partes do mundo.
Ela ficou só, olhando para as paredes, sem ver nem ouvir a atividade incessante à sua volta. Sua mente concentrava-se numa única idéia: Toby tinha de ficar bem. Toby era seu sol e, se se apagasse, a sombra pereceria. Ela não podia deixar que isso acontecesse.
Eram cinco horas da manhã quando o Dr. Duclos, chefe da equipe, entrou no quarto que Jill reservava, com o fim de ficar junto de Toby.
─ Sra. Temple, receio que não haja razão para tentar atenuar o choque. Seu marido sofreu um profundo derrame cerebral. Tudo indica que não voltará a andar nem a falar.
31
Quando finalmente permitiram que Jill entrasse no quarto de Toby no hospital, em Paris, ela ficou chocada com seu aspecto. Da noite para o dia, tornara-se velho e dessecado, como se seus fluidos vitais se houvessem esgotado. Perdera em parte o uso dos braços e das pernas e, embora conseguisse emitir sons animais, semelhantes a grunhidos, não podia falar.
Após seis semanas os médicos permitiram que Toby fosse removido. Quando Jill e ele chegaram à Califórnia, foram recebidos no aeroporto pela imprensa e pela televisão, além de uma multidão de amigos. A notícia da doença de Toby Temple causara grande comoção: havia uma sucessão de telefonemas de amigos perguntando sobre o estado de saúde de Toby e suas melhoras; havia mensagens do presidente e de senadores, além de milhares de cartas e postais dos fãs que amavam Toby e estavam rezando por ele.
Mas os convites haviam cessado, ninguém aparecia para saber como Jill se sentia, se gostaria de comparecer a um jantar tranquilo, dar um passeio ou ver um filme. Ninguém em Hollywood se importava nem um pouco com ela.
Ela convocara o médico particular de Toby, Dr. Eli Kaplan, que por sua vez chamara dois grandes neurologistas, um do centro médico da UCLA e o outro do Hospital John Hopkins. Seu diagnóstico foi idêntico ao do Dr. Duclos, de Paris.
─ É importante compreender ─ disse o Dr. Kaplan a Jill ─ que a mente de Toby não sofreu dano algum. Ele ouve e compreende tudo que se diz, mas sua fala e as funções motoras foram lesadas, de modo que ele não pode responder.
─ Será que... que ele vai ficar assim para sempre?
O Dr. Kaplan hesitou.
─ É impossível ter certeza absoluta, evidentemente, mas em nossa opinião o sistema nervoso dele sofreu um dano sério demais para que a terapia produza qualquer efeito apreciável.
─ Mas o senhor não tem certeza.
─ Não...
Jill, porém, tinha.
Além das três enfermeiras que cuidavam de Toby vinte e quatro horas por dia, Jill contratou os serviços de um fisioterapeuta, que vinha todas as manhãs para fazer exercícios com Toby. Carregava-o para a piscina e segurava-o, puxando delicadamente os músculos e tendões enquanto Toby tentava debilmente mexer braços e pernas, na água tépida. Não houve qualquer melhora. Na quarta semana foi chamada uma fonoaudióloga; durante uma hora, todas as tardes, ela tentava ajudar Toby a reaprender a falar, a formar os sons das palavras.
Depois de dois meses, Jill não conseguiu observar qualquer melhora. Absolutamente nenhuma. Mandou chamar Dr. Kaplan.
─ O senhor tem de fazer alguma coisa por ele ─ exigiu. ─ Não pode deixá-lo ficar assim.
O médico olhou para ela, desanimado.
─ Sinto muito, Jill. Tentei explicar-lhe...
Jill ficou sentada na biblioteca, sozinha, depois que o Dr. Kaplan se retirou. Sentia os primeiros sinais de uma das terríveis dores de cabeça, mas agora não havia tempo para pensar em si mesma. Ela subiu.
Toby estava recostado na cama, com os olhos perdidos no vácuo. Quando Jill se aproximou, seus profundos olhos azuis que se iluminaram e a acompanharam, brilhantes e cheios de vida, enquanto Jill se acercava da cama, observandooo. Seus lábios se moveram, emitindo um som ininteligível. Lágrimas de frustração começaram a inundar-lhe os olhos. Jill recordou as palavras do Dr. Kaplan: "É importante compreender que a mente dele não sofreu dano algum".
Sentou-se na beira da cama.
─ Toby, quero que preste atenção. Você vai sair desta cama. Você vai andar e vai falar.
As lágrimas rolaram pelas faces de Toby.
─ Você vai conseguir ─ disse Jill. ─ Você vai conseguir, por mim.
Na manhã seguinte, Jill despediu as enfermeiras, o fisioterapeuta e a fonoaudióloga. Logo que soube disso, o Dr. Kaplan apressou-se a procurá-la.
─ Concordo quanto ao fisioterapeuta, Jill, mas as enfermeiras! Toby precisa de alguém cuidando dele vinte e quatro horas...
─ Eu cuidarei dele.
O médico abanou a cabeça.
─ Você não faz idéia do que está arranjando. Uma pessoa só não pode...
─ Chamarei se precisar do senhor.
Mandou-o sair.
Começou a provação.
Jill pretendia tentar aquilo que, segundo os médicos, era impossível. Quando pela primeira vez segurou Toby para pô-lo na cadeira de rodas, ficou assustada com seu pouco peso. Levou-o para baixo no elevador que fora instalado na casa e começou a exercitá-lo na piscina, como vira fazer o fisioterapeuta. Mas o que acontecia agora era diferente: enquanto o fisioterapeuta se mostrava delicado e incentivador. Jill era severa e implacável. Quando Toby tentava falar, querendo mostrar que estava cansado e não aguentava mais, Jill dizia:
─ Ainda não acabou. Mais uma vez. Por mim, Toby.
E obrigava-o a continuar.
E outra vez, e mais outra, até que ele parava, chorando silencosamente de exaustão.
À tarde, Jill tentava ensinar Toby a falar.
─ Oo... oooooooooooo.
─ Aa... aaaaaaaaaaa.
─ Não! Oooooooooooo. Faça um círculo com os lábios, Toby. Faça com que seus lábios lhe obedeçam. Oooooooooooo.
─ Aa... aaaaaaaaaaaa.
─ Não, droga! Você vai falar! Agora, faça: Oooooooooooo!
E ele tentava mais uma vez.
Jill o alimentava todas as noites e depois se deitava a seu lado, enlaçando-o. Fazia as mãos inertes deslizarem sobre seu corpo, lentamente, passando pelos seios, pela fenda macia entre suas pernas.
─ Sinta isso, Toby ─ murmurava. ─ É tudo seu, querido. Pertence a você. Eu quero você. Quero que você fique bom para podermos fazer amor novamente. Quero que você trepe em mim, Toby.
Ele olhava para Jill com aqueles olhos vivos e brilhantes, emitindo sons incoerentes e lamuriosos.