Jill modificou a dieta de Toby, de modo que este começou a recuperar o peso perdido. Todos os dias ficava algum tempo ao sol e dava longos passeios pelos jardins, primeiro com o andador e depois com uma bengala, desenvolvendo as forças. Quando finalmente Toby conseguiu andar sem qualquer apoio, os dois celebraram com um jantar à luz de velas, na sala.
Finalmente, Jill achou que Toby estava pronto para ser visto. Telefonou para o Dr. Kaplan e imediatamente a enfermeira lhe passou o aparelho.
─ Jill! Fiquei preocupadíssimo. Tentei telefonar para você mas ninguém atendia nunca. Mandei um telegrama e, quando não recebi resposta, pensei que você tivesse levado Toby para algum lugar. Ele está... ele...
─ Venha ver com seus próprios olhos, Eli.
O Dr. Kaplan não pôde disfarçar seu espanto.
─ É inacreditável ─ disse a Jill. ─ É... parece um milagre.
─ É um milagre ─ respondeu Jill. "Só que nessa vida a gente faz os próprios milagres, pois Deus está ocupado com outras coisas."
─ As pessoas ainda me procuram perguntando por Toby ─ disse o Dr. Kaplan. ─ Parece que ninguém conseguia se comunicar com você. Sam Winters telefona no mínimo uma vez por semana e Clifton Lawrence também tem perguntado por ele.
Jill não deu importância a Clifton Lawrence. Mas Sam Winters! Isso era bom. Tinha de descobrir um meio de dizer ao mundo que Toby Temple ainda era um super astro, que os dois ainda eram o casal de ouro.
Na manhã seguinte, telefonou para Sam Winters e perguntou-lhe se gostaria de ir visitar Toby. Sam chegou uma hora depois; Jill abriu a porta da frente para recebê-lo e Sam tentou disfarçar o choque que teve com o aspecto dela. Parecia dez anos mais velha em comparação com a última vez que a vira; seus olhos eram dois fundos poços castanhos e o rosto estava marcado por linhas profundas. Emagrecera tanto que parecia quase esquelética.
─ Obrigada por ter vindo, Sam. Toby ficará satisfeito em vê-lo.
Sam preparava-se para encontrá-lo na cama, uma sombra do homem que fora, mas teve uma surpresa espantosa. Toby estava deitado numa almofada na beira da piscina e ao ver Sam levantou-se, com certa lentidão, mas firmemente, e seu aperto de mão foi seguro. Estava bronzeado e parecia saudável, melhor do que antes do derrame. Era como se por alguma alquimia misteriosa a saúde e a vitalidade de Jill tivesse fluído para o corpo de Toby e a doença que o devastara a houvesse atingido também.
─ É bom ver você, Sam.
A fala de Toby estava mais lenta e precisa que antes, mas era clara e forte. Não havia sinal de paralisia sobre a qual Sam ouvira falar. Lá estava o mesmo rosto de garoto, com os brilhantes olhos azuis. Sam abraçou Toby e disse:
─ Jesus, você nos deu um susto.
Toby riu e falou:
─ Não precisa me chamar de "Jesus" quando estivermos a sós.
Sam observou Toby com mais atenção, maravilhado.
─ Honestamente, não posso acreditar. Diabos, você está mais jovem. A cidade inteira estava tomando providência para o enterro.
─ Só passando por cima do meu cadáver ─ sorriu Toby.
─ É fantástico o que os médicos de hoje... ─ começou Sam.
─ Os médicos, não. ─ Toby voltou-se para Jill com seus olhos brilhantes de pura adoração. ─ Quer saber quem é o responsável? Jill. Ela sozinha. Com as próprias mãos. Botou todo mundo para fora e me pôs de novo em pé.
Sam lançou um olhar para Jill, espantado. Nunca lhe parecera o tipo de moça capaz de um ato de tamanho desprendimento. Talvez a houvesse julgado mal.
─ Quais são seus planos? ─ perguntou a Toby. ─ Suponho que pretenda descansar e...
─ Ele vai voltar ao trabalho ─ interrompeu Jill. ─ Toby é talentoso demais para ficar sentado sem fazer nada.
─ Estou ansioso para trabalhar ─ concordou Toby.
─ Talvez Sam tenha um projeto para você ─ sugeriu Jill.
Ambos o observavam. Sam não queria desencorajar Toby, mas também não queria alimentar falsas esperanças. Não era possível fazer um filme com determinado astro a menos que ele estivesse segurado e nenhuma companhia de seguros cobriria Toby Temple.
─ Não há nada disponível no momento ─ disse Sam cautelosamente. ─ Mas é claro que ficarei de olhos abertos.
─ Você está com medo de usá-lo, não está?
Era como se ela estivesse lendo seus pensamentos.
─ É claro que não.
Mas ambos sabiam que ele estava mentindo.
Ninguém em Hollywood se arriscaria a usar Toby Temple outra vez.
Toby e Jill assistiam a um jovem comediante na televisão.
─ Ele é pobre ─ resmungou Toby. ─ Droga, gostaria de voltar à televisão. Talvez devesse arranjar um agente. Alguém que pudesse andar por aí e ver o que está se passando.
─ Não! ─ O tom de Jill foi firme. ─ Não vamos deixar ninguém vender você. Você não é nenhum miserável procurando emprego. Você é Toby Temple. Vamos fazer com que venham até você.
Ele sorriu com amargura e disse:
─ Eles não estão esmurrando as portas, querida.
─ Mas esmurrarão ─ prometeu ela. ─ Eles não sabem como você está. E está melhor do que nunca, temos só que mostrar a eles.
─ Talvez eu devesse posar nu para uma dessas revistas.
Jill não prestara atenção.
─ Tenho uma idéia ─ disse ela. ─ Um one-man show.
─ Hein?
─ Um one-man show. ─ Havia um entusiasmo crescente em sua voz. ─ Vou programar você para o Huntington Hartford Theatre. Todo mundo em Hollywood irá. E depois disso, começarão a esmurrar as portas!
E todo mundo foi: produtores, diretores, estrelas, críticos, todo mundo que era alguém no show business. O teatro da Vine Street há muito que estava com a lotação esgotada e centenas de pessoas não conseguiram entrar. Havia uma multidão que aplaudia do lado de fora quando Toby e Jill chegaram numa limusine com chofer. Era seu Toby Temple. Voltara para eles, renascido, e o adoravam mais do que nunca.
O público que enchia o teatro estava lá em parte por respeito a um homem que já fora grande, mas a razão principal era a curiosidade. Estavam presentes para pagar o tributo final a um herói agonizante, a uma estrela apagada.
A própria Jill planejara o show. Procurara O'Hanlon e Rainger e estes escreveram um material sensacional, que começava com um monólogo criticando a cidade por enterrar Toby enquanto ele ainda vivia. ]Jill procurara uma equipe de compositores premiada com três Oscars, que jamais havia composto material especial para alguém. Mas Jill disse:
─ Toby insiste em que vocês são os únicos compositores do mundo que...
Dick Landry, o diretor, voou imediatamente de Londres para a montagem do show.
Jill reunira os maiores talentos que pôde encontrar para atuarem como coadjuvantes de Toby, mas de fato tudo dependeria dele próprio. E ele estaria sozinho no palco.
O momento finalmente chegou. As luzes se atenuaram e o teatro se encheu daquele silêncio expectante que precede o levantamento do pano, prece silenciosa a implorar que naquela noite se fizesse a mágica.
E a mágica se fez.
Quando Toby Temple caminhou para o palco, seu andar firme e seguro, o familiar sorriso travesso iluminando aquele rosto de garoto, houve um momento de silêncio e depois uma selvagem explosão de aplausos, gritos, todos de pé numa ovação que sacudiu o teatro por uns bons cinco minutos.
Toby ficou parado, esperando que cessasse o pandemónio, e quando finalmente o teatro se acalmou, disse:
─ E isso é recepção que se preze?
E a assistência gargalhou.
Toby foi sensacional. Contou histórias, cantou e dançou, agrediu todo mundo e foi como se nunca se tivesse afastado. O público mostrou-se insaciável. Ainda era um superastro, mas agora transformara-se em algo mais: era uma lenda viva.