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A crítica do Variety disse no dia seguinte: "O público compareceu para enterrar Toby Temple, mas ficou para elogiá-lo e aclamá-lo. E como mereceu! Não há ninguém no show business que tenha a mágica do velho mestre. Foi uma noite de ovações e ninguém que tenha tido a sorte de estar presente poderá esquecer aquele memorável...”

A crítica do Hollywood Reporter disse: "A plateia foi presenciar o retorno de um grande astro, mas Toby Temple provou que jamais se ausentara".

Todas as outras críticas obedeceram ao mesmo tom. A partir desse momento, os telefones de Toby não pararam de tocar e houve uma avalanche de telegramas contendo convites.

Estavam esmurrando as portas.

Toby levou seu show a Chicago, Washington e Nova York; onde quer que fosse, era uma sensação. O interesse por ele era agora maior do que nunca; numa onda de afetuosa nostalgia, velhos filmes seus foram exibidos em cinemas de arte e universidades. As emissoras de televisão promoveram uma Semana Toby Temple, levando ao ar seus antigos shows.

Apareceram os bonecos Toby Temple, os jogos Toby Temple, os quebra-cabeças e as revistas humorísticas Toby Temple, as camisetas Toby Temple. Vieram os comerciais de cigarros, café e dentifricos.

Toby fez uma aparição num filme musical da Universal e foi contratado para participar como convidado de todos os grandes espetáculos de variedades. As redes de televisão puseram em ação equipes de redatores, numa competição para a criação de um novo programa para Toby Temple.

O sol voltara a brilhar, e brilhava para Jill.

Ressurgiam as festas, recepções, este embaixador, aquele senador, exibições privadas e... Todos os solicitavam, para tudo. Foram homenageados com um jantar na Casa Branca, honra geralmente reservada a chefes de Estados. Eram aplaudidos aonde quer que fossem.

Mas agora Jill era aplaudida tanto quanto Toby. A magnífica história de sua façanha, cuidar sozinha de Toby até curá-lo, contrariando todas as expectativas, excitara a imaginação do mundo. A imprensa passou a celebrar a história de amor do século: a revista Time pôs os dois na capa e a matéria correspondente continha um belo tributo a Jill.

Foi filmado um contrato de cinco milhões de dólares para Toby estrelar um novo programa semanal de televisão, a começar em setembro, ou seja, dentro de doze semanas apenas.

─ Vamos para Palm Springs e você poderá descansar até setembro ─ disse Jill.

Toby abanou a cabeça:

─ Você passou muito tempo enclausurada. Vamos viver um pouco. ─ Enlaçou-a e acrescentou: ─ Não sou muito bom com palavras, querida, a não ser para contar piadas. Não sei como lhe dizer o que sinto por você. Eu... só quero que você saiba que minha vida começou no dia em que a conheci.

E afastou-se abruptamente para que Jill não visse as lágrimas em seus olhos.

Toby levou seu one-man show a Londres, Paris e... o maior lance de todos, Moscou. Todo mundo brigava para contratá-lo. Transformara-se num grande ídolo da Europa, tanto quanto o era na América.

Estavam a bordo do Jill, num dia de sol brilhante, a caminho de Catalina. Havia uma dúzia de convidados no barco, dentre os quais Sam Winters, além de O'Hanlon e Rainger, que havia sido escolhidos para chefiar a equipe de redator do novo programa de televisão. Estavam todos no salão, jogando e conversando. Jill olhou em volta e reparou na ausência de Toby. Saiu para o convés.

Ele estava de pé na balaustrada, olhando para o mar. Jill se aproximou e perguntou:

─ Você está se sentindo bem?

─ Estou apenas olhando a água, querida.

─ É lindo, não?

─ Lindo para os tubarões ─ ele estremeceu. ─ Não é assim que eu quero morrer. Sempre tive pavor de afogamento.

Ela pôs sua mão na dele.

─ Que é que o está preocupando?

Toby olhou para ela.

─ Acho que não quero morrer. Tenho medo do que há do outro lado. Aqui, sou um homem importante, todo mundo conhece Toby Temple. Mas lá...? Sabe como acho que seja o inferno? Um lugar onde não há público.

O Friars Club promoveu um jantar tendo Toby Temple como convidado de honra. Havia uma dúzia de grandes cômicos no palco, ao lado de Toby, Jill, Sam Winters e o diretor da rede de televisão com a qual ele firmara contrato. Solicitaram a Jill que se levantasse para ser cumprimentada. Aplaudiram-na de pé.

"Estão me aplaudindo", pensou ela. "Não a Toby. A mim!"

O mestre-de-cerimónias era o apresentador do famoso programa de entrevistas na televisão.

─ Não sei como expressar minha felicidade por ver Toby aqui ─ disse ele. ─ Porque se hoje à noite não o estivéssemos homenageando, este banquete estaria sendo realizado no cemitério de Forest Lawn.

Risos.

─ E, podem acreditar, a comida lá é horrível. Vocês já comeram no Forest Lawn? Eles servem restos da Última Ceia.

Risos.

Ele se voltou para Toby.

─ Estamos orgulhosos de você, Toby. Estou sendo franco. Sei que você foi solicitado a doar parte de seu corpo à ciência, vão colocá-lo num vidro na Faculdade de Medicina de Harvard. O único problema é que até agora ainda não encontraram um vidro suficientemente grande para contê-lo.

Gargalhadas.

Quando Toby se levantou para revidar, superou-os todos.

Todos acharam que aquele foi o melhor jantar já promovido pelo Friars.

Naquela noite, Clifton Lawrence estava na plateia.

Sentara-se numa mesa no fundo da sala, perto da cozinha, junto ao pessoal sem importância. Até mesmo para conseguir essa mesa, fora obrigado a recorrer a velhas amizades. Desde que Toby Temple o despedira, Clifton Lawrence passara a usar o distintivo de perdedor: tentara formar uma sociedade com uma grande agência, mas, sem clientes, nada tinha a oferecer. Em seguida, procurara as agências menores, mas estas não estavam interessadas num "ex" de meia-idade; queriam jovens agressivos. Finalmente, Clifton se conformara com um cargo assalariado numa pequena agência nova. Ganhava por semana menos do que gastara certa noite no Romanoff.

Lembrava-se de seu primeiro dia nessa agência. A firma pertencia a três agressivos jovens ─ não, garotos, ─ todos com menos de trinta anos. Seus clientes eram estrelas de rock. Dois dos agentes usavam barba; todos usavam jeans, camisas esporte e tênis sem meias. Fizeram com que Clifton se sentisse um velho de mil anos de idade. Falavam uma língua que ele não entendia, chamavam-no de "Papai" e "Velho", e Clifton pensou no respeito que outrora despertara nessa cidade e teve vontade de chorar.

Aquele homem, outrora animado e alegre, era agora uma pessoa abatida e amargurada. Toby Temple fora sua vida e Clifton falava compulsivamente sobre aqueles dias. Só pensava nisso. Nisso e em Jill. Culpava-a por tudo que lhe acontecera. Toby não era o responsável; fora influenciado por aquela cadela. Ah, como Clifton odiava Jill.

Estava sentado no fundo da sala, observando a multidão que aplaudia Jill, quando um dos homens na mesa disse:

─ O Toby é mesmo um bastardo de sorte. Eu bem que gostaria de provar daquilo. Ela é genial na cama.

─ É? ─ perguntou alguém cinicamente. ─ Como é que você sabe?

─ Ela trabalha naquele filme pornô que está no Pussycat Theatre. Diabos, eu pensei que ela ia arrancar o fígado do cara de tanto sugá-lo.

Clifton de repente sentiu a boca tão seca que mal pôde proferir as palavras.

─ Você... você tem certeza de que era ela? ─ perguntou.

O estranho se voltou para ele.

─ Tenho, tenho certeza, sim. Ela usou um nome diferente, Josephine qualquer coisa. Um nome polaco doido.

O homem encarou-o e falou: