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─ Ei! Você não era Clifton Lawrence?

Existe uma área no Santa Monica Boulevard, entre Fairfax e La Cienega, que está sob jurisdição municipal. Parte de uma ilha cercada pela cidade de Los Angeles, a área opera sob leis municipais menos severas que as da cidade. Num conjunto de seis quarteirões, há quatro cinemas que só exibem pornografia pesada, meia dúzia de livrarias onde os compradores podem ocupar cabines privadas e assistir a filmes através de visores individuais e uma dúzia de salões de massagens equipados com jovens adolescentes, especialistas em tudo menos massagem. O Pussycat Theatre fica no meio de tudo isso.

Havia talvez cerca de duas dúzias de pessoas na sala escura, todos homens, com excepção de duas mulheres de mãos dadas.

Clifton examinou a assistência e ficou imaginando o que impeliria essas pessoas a cavernas escuras no meio de um dia de sol, assistindo, durante horas, a outras pessoas fornicando num filme.

Começou a principal atração e Clifton esqueceu tudo, menos o que estava na tela. Inclinou-se para a frente em sua cadeira, concentrando-se nos rostos das atrizes. A história era sobre um jovem professor universitário que levava as alunas para seu quarto, para aulas noturnas. Todas eram jovens, espantosamente atraentes e incrivelmente dotadas. Faziam uma série de exercícios sexuais, orais, vaginais e anais, até o professor ficar satisfeito com o desempenho.

Mas nenhuma das garotas era Jill. "Ela tem de aparecer", pensou Clifton. Essa era a única chance que teria de se vingar do que ela lhe fizera. Faria com que Toby visse o filme. Isso o magoaria, mas ele acabaria superado. Jill seria destruída. Quando Toby ficasse sabendo sobre o tipo de prostituta que fizera sua esposa, chutá-la-ia para sempre. Jill tinha de estar nesse filme.

E de repente, lá estava ela, na ampla tela, em cores maravilhosas, gloriosas, reais. Havia mudado muito; agora estava mais magra, mais bonita e sofisticada. Mas era Jill. Clifton ficou lá, contemplando a cena, deliciando-se, deleitando seus sentidos, inundado por uma eletrizante sensação de triunfo e vingança.

Esperou até aparecer os créditos e lá estava, Josephine Czinski. Levantou-se e dirigiu-se à cabine de projeção. Lá encontrou um homem em mangas de camisa, lendo uma publicação turística, que levantou os olhos quando Clifton entrou e disse:

─ Não é permitido entrar aqui, amigo.

─ Quero comprar uma cópia desse filme.

O homem abanou a cabeça.

─ Não está à venda ─ e voltou a ler.

─ Dou-lhe cem dólares para me fazer uma cópia. Ninguém vai ficar sabendo.

O homem nem se dignou a levantar os olhos.

─ Duzentos dólares ─ disse Clifton. O operador virou uma página.

─ Trezentos.

Ele ergueu a cabeça e examinou Clifton.

─ Em dinheiro?

─ Em dinheiro.

Às dez horas da manhã seguinte Clifton chegou à casa de Toby Temple com uma lata de filme debaixo do braço. "Não, filme não", pensou alegremente. "Dinamite. O bastante para mandar Jill Castle para o inferno."

A porta foi aberta por um mordomo inglês que Clifton jamais vira antes.

─ Diga ao Sr. Temple que Clifton Lawrence quer vê-lo.

─ Sinto muito, senhor. O Sr. Temple não está.

─ Eu espero ─ disse Clifton com firmeza.

─ Receio que não seja possível ─ replicou o mordomo. ─ O Sr. e a Sra. Temple viajaram para a Europa esta manhã.

32

A Europa foi uma sucessão de triunfos.

Na noite da estréia de Toby no Palladium, em Londres, a Oxford Street ficou tomada por uma multidão que tentava desesperadamente ver Toby e Jill. A polícia metropolitana isolou toda a área em torno da Argyll Street. Quando a multidão se descontrolou, a polícia foi chamada às pressas para ajudar. Precisamente às oito horas a família real chegou e o espetáculo começou.

Toby superou as mais inusitadas expectativas. Com o rosto irradiando inocência, fez ataques brilhantes ao governo britânico e sua antiquada presunção. Explicou como conseguiram tornar-se menos poderosos que Uganda e até que ponto o mereceram. Todos rolaram de rir, pois sabiam que Toby Temple estava brincando. Nada daquilo era sério. Toby os amava.

Tanto quanto eles o amavam.

A recepção em Paris foi ainda mais tumultuada. Jill e Toby hospedaram-se no palácio presidencial e passearam pela cidade numa limusine oficial. Estavam na primeira página dos jornais todos os dias e quando foram ao teatro foi preciso pedir reforço à polícia para conter a multidão. Terminada a apresentação, o casal se dirigia, sob escolta, para o carro, quando de súbito a multidão rompeu a guarda da polícia e centenas de franceses cercavam os dois, gritando:

"Toby, Toby... on veut Toby!"

A maré humana segurava canetas e livros de autógrafos, empurrando-se para tocar o grande Toby Temple e sua maravilhosa Jill. A polícia não teve condição de detê-los; a multidão afastou os polícias, despedaçando a roupa de Toby, lutando por uma recordação. Toby e Jill quase foram esmagados pelos corpos que se comprimiam, mas Jill não teve medo. A agitação era um tributo a ela; seu esforço fora por eles, ela lhes devolvera Toby.

A última parada era Moscou.

Moscou em junho é uma das cidades mais encantadoras do mundo. Árvores graciosas, berezka branca e lipa em canteiros amarelos enfeitam avenidas onde as pessoas passeiam ao sol. É a estação de turismo. Com exceção dos visitantes oficiais, todos os turistas que vão à Rússia ficam a cargo da Intourist, órgão do governo responsável pelo transporte, hotéis e passeios programados. Mas Toby e Jill foram recebidos no Aeroporto Internacional de Sheremetyevo por uma grande limusine e conduzidos ao Metropoles Hotel, geralmente reservado para os VIPs dos países satélites. A suíte fora provida de vodca Stolichnaya e caviar negro.

O General Iúri Romanovitch, alto oficial do partido, veio ao hotel dar-lhes as boas-vindas.

─ Não exibimos muitos filmes americanos na Rússia, Sr. Temple, mas os seus foram vistos várias vezes. O povo russo acha que seu talento transcende todas as fronteiras.

Toby programara três apresentações no Teatro Bolchói. Na noite da estréia, Jill participou da ovação. Por causa da barreira da língua, Toby usou quase que exclusivamente pantomima e a audiência adorou. Fez uma crítica falando em seu arremedo de russo e o som do riso e dos aplausos ecoou pelo enorme teatro como uma bênção de amor.

Durante os dois dias seguintes, o General Romanóvitch acompanhou Toby e Jill em excursões turísticas particulares. Foram ao Parque Górky, andaram na enorme roda-gigante e visitaram a histórica Catedral de São Basílio. Foram levados ao Circo Estatal de Moscou e homenageados com um banquete em Aragvi, onde provaram o caviar dourado, a mais rara das oito espécies de caviar. os zakuchki, que significa, literalmente, "bocadinhos", e o pachteet, patê delicado que é servido com torradas. Como sobremesa, tiveram yoblotchnaya, o delicioso doce de maçã com molho de abricó.

E mais turismo. Visitaram o Museu de Arte Púchkin, o Mausoléu de Lênin e a Detsky Mir, encantadora loja infantil de Moscou.

Foram levados a lugares desconhecidos pela maioria dos russos. À Rua Granovsko, cheia de automóveis Chaikas e Volgas, todos com motorista; lá, por trás de uma porta simples com a tabuleta onde se lia Departamento de passes especiais, foram conduzidos a uma loja atulhada de luxuosos produtos alimentícios importados de toda a parte do mundo, onde a Nachalstvo, a elite da sociedade russa, faz suas privilegiadas compras.

Visitaram uma luxuosa dacha, onde se exibiam filmes estrangeiros numa sala privada para uns poucos privilegiados. Foi uma visão fascinante do Estado do Povo.