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– Querido, você ainda tem muito tempo para essas coisas. Tem a vida inteira pela frente.

– Mãe, estou com tr-tr-trinta e um anos!

Ela riu e acariciou a orelha dele com a planta.

– Querido, eu pareço ser a mãe de um homem de meia-idade?

Ela franziu o nariz, abriu os lábios para ele e fez um barulho de uma espécie de beijo molhado com a língua no ar, e tive de admitir que não parecia mesmo mãe dele. Eu mesmo não acreditei que ele pudesse ter 31 anos, até mais tarde, quando pude me aproximar o suficiente para dar uma olhada na data de nascimento na tira do pulso dele.

À meia-noite, quando George, o outro ajudante e a enfermeira deixaram o serviço, e o velho negro, Sr. Turkle, entrou para o seu turno, McMurphy e Billy já estavam de pé, tomando vitaminas, imaginei. Saí da cama, vesti um robe e fui até a enfermaria, onde eles conversavam com o Sr. Turkle. Harding, Scanlon, Sefelt e alguns outros também saíram. McMurphy dizia ao Sr. Turkle o que fazer se a garota realmente viesse – na realidade, lembrando-lhe apenas, porque parecia que já haviam combinado tudo com antecedência há umas duas semanas. McMurphy disse que a coisa a fazer era deixar a garota entrar pela janela, em vez de correr o risco de fazê-la passar pela recepção, onde poderia encontrar a supervisora da noite. E então destrancar a Sala do Isolamento. Sim, essa não é uma boa cabana para amantes em lua-de-mel? Um bocado reservado. (- Ahhh, McMurphy – Billy continuava tentando dizer.) E manter as luzes apagadas. Assim, a supervisora não poderia ver nada lá dentro. E fechar a porta dos dormitórios e não acordar todos os babacas dos Crônicos. E não fazer barulho, ficar em silêncio; não queremos perturbá-los.

– Ah, vam'bora M-M-Mack – disse Billy.

O Sr. Turkle assentia e balançava a cabeça, parecendo estar meio adormecido. Quando McMurphy disse "acho que isso cobre bem todos os aspectos", o Sr. Turkle respondeu "não… não in-teiramente" e sentou-se ali sorrindo no uniforme branco, com a cabeça calva amarela flutuando na extremidade do pescoço como um balão numa vara.

– Ora, vamos, Turkle. Vai valer a pena. Ela deve vir trazendo umas duas garrafas.

– chegando mais perto – disse o Sr. Turkle. A cabeça oscilou e balançou. Ele agia como se mal fosse capaz de se manter acordado. Eu tinha ouvido dizer que ele trabalhava em outro emprego durante o dia, numa pista de corridas. McMurphy virou-se para Billy.

– Turkle está se fazendo de difícil para ver se leva mais algum, Billy. Quanto é que vale pra você, a primeira trepada na sua vida?

Antes que Billy conseguisse parar de gaguejar e responder, o Sr. Turkle sacudiu a cabeça.

– Não é isso. Não é dinheiro. Ela vai trazer mais que uma garrafa, não vai, essa coisinha? Vocês vão dividir mais que uma garrafa, não vão? – Ele sorriu para todos a sua volta.

Billy quase explodiu, tentando gaguejar alguma coisa, Candy não, a sua garota, não! McMurphy o puxou de lado e lhe disse que não se preocupasse com a castidade da sua garota – Turkle provavelmente estaria tão bêbado e sonolento quando Billy tivesse acabado, que o velho urso não seria capaz nem de enfiar uma cenoura numa pia.

A garota estava atrasada de novo. Nós sentamos na enfermaria, vestidos em nossos robes, e ficamos ouvindo McMurphy e o Sr. Turkle contarem histórias do Exército, enquanto eles passavam um dos cigarros do Sr. Turkle de um para o outro, fumando de um jeito esquisito, prendendo a fumaça quando tragavam até os olhos se arregalarem. Uma vez Harding perguntou que espécie de cigarro estavam fumando que tinha um cheiro tão provocante, e o Sr. Turkle disse numa voz aguda, prendendo o fôlego: – Ora, um cigarro comum. É sim. Quem quer uma tragada?

Billy foi ficando cada vez mais nervoso, com medo de que a garota pudesse não aparecer, e com medo de que aparecesse. Ficava perguntando por que não íamos todos para a cama, em vez de ficarmos sentados ali fora no escuro e no frio, como cachorros esperando na cozinha pelos restos da mesa, e nós apenas sorrimos para ele. Nenhum de nós estava com vontade de ir para a cama; não estava fazendo frio nenhum, e era agradável se descontrair ali na semi-obscuridade e ouvir McMurphy e o Sr. Turkle contarem histórias. Ninguém parecia estar com sono, nem mesmo muito preocupado porque já fosse mais de duas horas e a garota ainda não tivesse aparecido. Turkle disse que talvez ela estivesse atrasada porque a ala estava tão escura que ela possivelmente não conseguia ver qual era aquela para onde devia vir, e McMurphy disse que aquilo era óbvio, assim os dois saíram correndo para cima e para baixo pelos corredores, acendendo todas as luzes do lugar. Estavam até a ponto de acender as luzes grandes, de acordar todos no dormitório, quando Harding disse que aquilo simplesmente tiraria todos os outros homens da cama para partilhar as coisas. Eles concordaram, e então se decidiram por todas as luzes do consultório do médico.

Tão logo iluminaram a ala como se fosse dia claro, ouviu-se uma batida na janela. Murphy correu para lá e encostou o rosto no vidro cobrindo os lados com as mãos para poder enxergar. Virou-se e sorriu para nós.

– Ela anda que é uma beleza, à noite – disse ele. Segurou Billy pelo pulso e o arrastou até a janela.

– Deixe-a entrar, Turkle. Vamos soltar esse garanhão maluco em cima dela.

– Olhe, McM-M-M-Murphy, espere – Billy empaca como uma mula.

– Não comece a me mamama-murphar, Billy. Agora é tarde demais para recuar. Você vai conseguir. Vou dizer-lhe uma coisa: aposto cinco dólares como você vai derrubar aquela mulher; tá bem? Para a janela, Turkle.

Havia duas garotas na escuridão, Candy e a outra que não havia aparecido para a pescaria.

– Cachorro-quente – disse Turkle, ajudando-as a entrar – bastante para todo mundo.

Todos nós fomos ajudar: elas tiveram de levantar as saias justas até as coxas para passar pela janela. Candy disse:

– McMurphy, seu maldito – e tentou atirar os braços em volta do pescoço dele com tanta violência que quase quebrou as garrafas que segurava nas mãos, pelo gargalo. Estava cambaleando um bocado, e o cabelo soltava-se do penteado que havia feito no alto da cabeça. Achei que ela ficava melhor com ele puxado para trás, como estivera no dia da pescaria. Ela acenou para a outra garota com uma garrafa, depois que entrou.

– A Sandy veio junto. Ela simplesmente saiu e largou aquele louco de Beaverton com quem se casou, não é um barato?

A garota entrou pela janela, beijou McMurphy, e disse:

– Alô, Mack. Sinto muito não ter aparecido. Mas aquilo já acabou. A gente só agüenta gracinhas como ratos brancos na fronha, vermes no creme e sapos no soutien até um certo ponto. – Sacudiu a cabeça e abanou a mão na sua frente como se estivesse afastando para longe a lembrança do marido que gostava de bichos.

– Criiisto, que doido.

As duas estavam de saia e de suéter, meias de nylon e sem sapatos, os rostos corados e risonhos.

– Tivemos de ficar parando para perguntar o caminho – explicou Candy – em todos os bares por onde passávamos.

Sandy se virava olhando em volta com os olhos arregalados.

– Puxa vida, Candy, onde é que estamos agora? Isso aqui é verdade? Estamos num hospício? Homem!

– Era maior que Candy e talvez uns cinco anos mais velha, tinha tentado prender o cabelo castanho-avermelhado num coque elegante na nuca, mas ele insistia em cair sobre as largas maçãs do rosto, e ela parecia uma tratadora de vacas tentando se fazer passar por uma dama da sociedade. Os ombros, os seios e os quadris eram grandes demais, e o sorriso muito largo e franco para que ela fosse considerada uma beleza, mas era bonitinha e saudável, e tinha um longo dedo enfiado na alça de uma garrafa de um galão de vinho tinto, que balançava ao lado do seu corpo como uma bolsa.