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– A Sala de Choque, Sr. McMurphy, é jargão utilizado para dizer aparelho do TE, Terapia de Eletrochoque. Um engenho do qual se poderia dizer que faz o trabalho dos comprimidos para dormir, de cadeira elétrica e da roda de tortura. É um procedimentozinho hábil, simples, rápido, quase indolor, visto que é tão rápido, mas a gente nunca quer repetir a dose. Nunca.

– Que é que essa coisa faz?

– Você é amarrado sobre uma mesa, ironicamente em forma de uma cruz, com uma coroa de fusos elétricos em lugar de espinhos. Você é tocado de cada lado da cabeça com fios. Zap! O correspondente a cinco centavos de eletricidade atravessa o cérebro e administram-lhe conjuntamente a terapia e uma punição pelo seu comportamento hostil de "vá para o inferno", além de ser posto fora das vistas de todo mundo de seis horas a três dias, dependendo do indivíduo. Mesmo quando você recobra a consciência, fica num estado de desorientação durante dias. Fica incapaz de pensar coerentemente. Não consegue lembrar-se das coisas. Uma certa repetição desses tratamentos poderia fazer um homem ficar igualzinho ao Sr. Ellis, que você vê ali encostado na parede. Um idiota sonâmbulo, molhador de calças aos 35 anos. Ou transformá-lo num organismo sem cérebro que come e elimina e berra "foda a mulher", como Ruckly. Ou olhe para o chefe Vassoura agarrado ao seu apelido aí a seu lado.

Harding aponta o cigarro para mim, tarde demais para eu recuar. Faço de conta que não vi. Continuo varrendo. Ele prossegue:

– Ouvi dizer que o chefe, há anos, recebeu mais de 200 tratamentos de choque, quando eles estavam realmente em voga. Imagine o que isso poderia fazer com uma mente que já estava meio doente. Olhe para ele: um limpador gigante. Aí está o seu Americano em Extinção, uma máquina de varrer de dois metros, com medo da própria sombra. É com isso, meu amigo, que podemos ser ameaçados.

McMurphy olha para mim por um instante, então torna a voltar-se para Harding.

– Cara, me diz uma coisa, como é que vocês concordam com isso? E essa merda toda de enfermaria democrática de que o médico estava me falando. Por que não fazem uma votação?

Harding sorri para ele e dá uma outra tragada no cigarro.

– Votar o que, meu amigo? Votar que a enfermeira não possa mais fazer perguntas nas sessões? Votar que ela não deverá mais nos olhar de uma certa maneira? Diga-me você, Sr. McMurphy, em que é que devemos votar?

– Diabo, pouco me importa. Votar em qualquer coisa. Vocês não vêem que precisam fazer alguma coisa para mostrar que ainda têm um pouco de coragem? Não vêem que não podem deixá-la assumir o controle por completo? Olhem para vocês mesmos: vocês dizem que o chefe tem medo da própria sombra, mas eu nunca vi na minha vida um bando que me parecesse tão apavorado quanto vocês.

– Eu não! – diz Cheswick.

– Talvez você não, companheiro, mas o resto tem medo até de abrir a guarda e rir. Sabe, esta foi a primeira coisa que me chamou atenção com relação a este lugar, ninguém rindo. Eu não ouvi uma única risada de verdade desde que entrei por aquela porta, sabe disso? Cara, se você perde a sua risada você perde o seu ponto de apoio. Se um homem vai e deixa uma mulher derrubá-lo até que ele não consegue mais rir, então ele perde uma das maiores defesas que tem do seu lado. Logo de cara a primeira coisa que acontece é que ele começa a pensar que ela é mais forte que ele…

– Ah! Acho que o meu amigo está começando a compreender, companheiros coelhos. Diga-me, Sr. McMurphy, como é que se faz para se mostrar a uma mulher que é chefe, eu quero dizer de uma outra maneira que não seja só rindo, como é que se mostra a ela quem é o rei da montanha? Um homem como você deveria ser capaz de nos dizer isso. Não se sai por aí dando tapas nela, não é? Não, senão ela chama a polícia. Não se perde as estribeiras e sai por aí berrando com ela; assim ela vence tentando aplacar o seu garotão zangado: "Será que o meu homenzinho está ficando aborrecido? Ahhhhh?" Alguma vez você já tentou manter uma fachada digna e zangada diante de tal consolo? Você vê, meu amigo, é mais ou menos como você afirmou: o homem não tem senão uma arma verdadeiramente eficaz contra a força irresistível do matriarcado moderno, mas certamente que não é o riso. Uma arma, e cada ano que se passa nessa sociedade obsessiva, e pesquisada em termos de motivação, mais e mais as pessoas estão descobrindo como tornar aquela arma inútil e como conquistar aqueles que foram até então os conquistadores…

– Deus, Harding, mas pare com isso – diz McMurphy.

– E você acha que, com todos esses seus celebrados poderes psicopáticos, poderia utilizar a sua arma contra a nossa campeã? Acha que poderia usá-la contra a Srta. Ratched, McMurphy? Alguma vez?

E uma de suas mãos faz um gesto largo, na direção do compartimento. As cabeças de todo mundo se viram para olhar. Ela está ali dentro, olhando para fora pela janela, o gravador escondido em algum lugar que não se pode ver, já planejando como encaixar o assunto na programação.

A enfermeira vê todo mundo a olhar para ela, e move a cabeça num cumprimento e todos eles se viram. McMurphy tira o gorro e passa as mãos pelo cabelo vermelho. Agora todo mundo está olhando para ele; esperam que dê uma resposta e ele sabe. Sente que de alguma forma foi apanhado numa armadilha. Torna a enfiar o gorro e coça as cicatrizes dos pontos no nariz.

– Puxa, se você está querendo dizer que eu acho que seria capaz de meter o pau naquela velha escrota, não, não acredito que fosse capaz…

– Ela não é assim tão sem graça, McMurphy. O rosto dela até que é bem bonito e bem conservado. E a despeito de todas as tentativas para escondê-los, naquela beca assexuada, ainda se pode perceber a evidência de uns seios realmente extraordinários. Ela deve ter sido uma mulher bem bonita quando jovem. Entretanto, apenas para argumentar, você seria capaz de se meter nela mesmo se ela não fosse velha, se ela fosse jovem e tivesse a beleza de uma Helena?

– Não conheço Helena, mas já entendi aonde é que você quer chegar. E, por Deus, que você está certo. Eu não conseguiria enfiar por aquela cara velha e gelada ali, nem que ela tivesse a beleza da Marilyn Monroe.

– Pronto, é isso aí. Ela ganhou.

É isso aí. Harding torna a se recostar e todo mundo espera para ver o que McMurphy vai dizer em seguida. McMurphy se dá conta de que está encurralado contra a parede. Examina os rostos por um minuto, então encolhe os ombros e se levanta da cadeira.

– Bem, que diabo, não é a minha pele que está sendo esfolada.

– É verdade, não é da sua pele que se trata.

– E, porra, também não quero ter um velho diabo de uma enfermeira atrás de mim com 3 mil volts. Não quando estou fazendo a jogada apenas pelo espírito de aventura.

– Não. Você tem razão.

Harding ganhou a discussão, mas ninguém parece estar contente. McMurphy enfia os polegares nos bolsos e tenta fazer uma graça.

– Não, senhor, eu nunca ouvi ninguém oferecer um prêmio de 20 dólares para alguém foder uma capadora de colhões.

Todo mundo sorri disso junto com ele, mas não estão felizes. Estou satisfeito porque, afinal, McMurphy vai ser esperto e não vai acabar metendo-se numa parada que não tem condições de controlar, mas eu sei como é que os outros se sentiam, eu também não estou muito feliz. McMurphy acende outro cigarro. Ninguém se moveu ainda. Eles estão todos de pé ali, sorrindo, mas inquietos. McMurphy coça o nariz mais uma vez e desvia o olhar daquela porção de rostos pendurados a sua volta, torna a olhar para a enfermeira e começa a mordiscar o lábio.

– Mas você não disse… que ela não manda a gente para aquela outra enfermaria a menos que apanhe a gente de jeito? A menos que ela consiga quebrar a gente de alguma maneira e a gente acabe xingando ou arrebentando uma janela ou coisa parecida?

– A menos que se faça alguma coisa assim.

– Mas você tem mesmo certeza disso? Porque começando a ter os primeiros sinais de uma idéia de como tomar um dinheirinho de vocês aqui. Mas não quero bancar o bobo nessa história. Demorei um bocado e passei por poucas e boas para sair daquele outro buraco; não quero dar uma de pular da frigideira e cair no fogo.

– Tenho certeza absoluta. Ela nada pode fazer, a menos que você faça alguma coisa que mereça honestamente a Enfermaria dos Perturbados, ou o TE. Se você for suficientemente duro para não deixar-se apanhar, ela nada poderá fazer.

– Assim, se eu me comportar e não der porrada nela…

– Nem der porrada num dos ajudantes.

– Nem der porrada num dos ajudantes, nem estourar a banca de alguma maneira por aqui, ela não pode fazer nada comigo?

– Estas são as regras de acordo com as quais nós jogamos aqui. É claro que ela sempre ganha, meu amigo, sempre. Ela própria é invulnerável e, com um fator tempo trabalhando a seu favor, acaba conseguindo quebrar as defesas de cada um. É por isso que o hospital a considera sua melhor enfermeira e lhe dá tanta autoridade; ela é mestra em forçar a libido trêmula a se expor…

– Para o inferno com tudo isso. O que quero saber é se é seguro para mim tentar derrotá-la no seu próprio jogo? Se eu ficar bonzinho como um cordeiro quando estiver com ela, não importa o que eu in – sinue, ela não vai ter um ataque e mandar me eletrocutar?

– Você está em segurança enquanto mantiver o controle. Desde que você não perca a cabeça e não dê a ela razão verdadeira para requerer o internamento na Enfermaria dos Perturbados, ou os benefícios terapêuticos do Choque Elétrico, você está em segurança. Mas isto requer antes, e mais do que tudo, manter a cabeça fria. E você? Com o seu cabelo de fogo e a sua folha de serviços negra? Por que enganar a si mesmo?

– O.K. Está bem. – McMurphy esfrega as palmas das mãos. – É o seguinte que eu estou pensando: vocês parecem supor que têm aqui a campeã da verdade, não é? Quase a… do que foi que você a chamou… claro, mulher invulnerável. O que eu quero saber é quantos de vocês têm certeza absoluta mesmo, a ponto de apostarem nela?