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– E o senhor, Sr. McMurphy – diz ela, sorrindo, doce como açúcar -, se já tiver acabado de exibir o seu físico másculo e as suas cuecas espalhafatosas, acho que seria melhor voltar para o dormitório e vestir o pijama.

Ele toca a aba do gorro num cumprimento para ela e para os pacientes que admiram e zombam dos calções com baleias brancas, e vai para o dormitório sem dizer uma palavra. Ela se vira e segue em outra direção, o sorriso vermelho inexpressivo a sua frente; antes que ela feche a porta da saleta envidraçada, a cantoria dele está saindo novamente pela porta do dormitório, ecoando no corredor.

"Ela me levou para a sua saleta e me refresco – oo – ou com o seu abano."

Posso ouvir as pancadas enquanto ele bate na barriga nua.

"Cochichou baixinho no ouvido da sua mãezinha, eu a-amo-oooo esse jogador."

Ao varrer o dormitório assim que se esvazia, vou catar sujeira de rato sob a cama dele, quando sinto um cheiro de uma coisa que me faz perceber, pela primeira vez desde que estou no hospital, que este grande dormitório cheio de camas, que acomoda 40 homens adultos, sempre esteve impregnado de um milhar de outros cheiros – cheiros de germicidas, ungüento antisséptico, talco para os pés, cheiro de urina e de fezes azedas de velhos, de Pablum e de loção ocular, de cuecas mofadas e de meias bolorentas mesmo quando acabaram de voltar da lavanderia, o cheiro forte de goma na roupa de cama, o fedor ácido das bocas pela manhã, o cheiro de banana do óleo de máquinas, e às vezes o cheiro de cabelo chamuscado – mas nunca, antes desse momento, antes que ele tivesse entrado, o cheiro humano de poeira e de terra dos campos abertos, e de suor e de trabalho.

Durante todo o café, McMurphy fala e ri a uma milha por minuto. Depois de hoje de manhã, ele acha que a Chefona vai ser uma barbada. Ele não sabe que apenas a apanhou de guarda aberta, e, se é que conseguiu alguma coisa, foi fazê-la ficar alerta.

Ele se está fazendo de palhaço, esforçando-se para conseguir que alguns dos caras riam. Incomoda-o o fato de que o máximo que eles conseguem é sorrir polidamente e às vezes rir em silêncio. Ele provoca Billy Bibbit, sentado a sua frente do outro lado da mesa, dizendo numa voz misteriosa:

– Ei, Billy, você se lembra daquela vez em Seattle, em que você e eu apanhamos aquelas duas bonecas? Uma das melhores trepadas que já dei na minha vida.

Os olhos de Billy se erguem do prato, arregalados. Abre a boca mas nada consegue dizer. McMurphy se vira para Harding e prossegue:

– Nós nunca teríamos conseguido, de jeito nenhum, apanhar as duas assim no impulso do momento, não fosse pelo fato de que elas já tinham ouvido falar de Billy Bibbit. Billy Cacete Bibbit, era como ele era conhecido naquela época. Aquelas garotas estavam a ponto de se mandar quando uma olha para ele e diz "você é o famoso Billy Cacete Bibbit? Das famosas 14 polegadas?" Ele, Billy, baixou a cabeça e corou, como ele está fazendo agora, e olha a gente ganhando a parada. E eu me lembro, quando levamos as duas lá para o hotel, ouvi aquela voz de mulher, vindo lá de perto da cama de Billy, "Sr. Bibbit, estou desapontada com o senhor; ouvi dizer que o senhor tinha qua-qua – Jesus, Maria e José!"

E dá um grito e um tapa na perna e cutuca Billy com o polegar a tal ponto que acho que Billy vai cair duro é desmaiar de tanto corar e sorrir.

McMurphy diz que, para falar a verdade, um par de garotas gostosas como aquelas suas, é a única coisa que falta ao hospital. A cama que eles dão aqui é a melhor em que ele já dormiu, e que mesa farta eles oferecem. Não consegue imaginar por que todo mundo vive tão aborrecido por estar trancado ali.

– Agora, olhem só para mim – diz e levanta um copo para a luz. – Estou bebendo o meu primeiro copo de laranjada em seis meses. Puxa vida, é bom! Agora, pergunto a vocês, que é que eu tomava no café da manhã naquela colônia penal? Que é que me davam? Bem, posso descrever com que é que parecia, mas garanto que não posso dar um nome àquilo; de manhã, ao meio-dia e à noite era preto de queimado e tinha batatas, e parecia com cola para telhas. Sei de uma coisa; não era suco de laranja. Olhem para mim agora: bacon, torrada, manteiga, ovos, café que a doçura ali da cozinha até me perguntou se queria puro ou com leite, obrigado – e um fantástico! grande! fresco copo de suco de laranja. Puxa, eu não deixaria este lugar nem que me pagassem!

Ele repete de tudo e marca um encontro com a moça que serve o café na cozinha para quando tiver alta. Cumprimenta o cozinheiro negro por fazer os melhores ovos fritos que ele já comeu. Tem bananas para comer com os flocos de milho, e ele se serve de uma, diz ao crioulo que lhe vai dar uma porque ele tem uma aparência tão faminta, e o crioulo olha de esguelha lá para o fundo do corredor, onde a enfermeira está sentada no seu invólucro de vidro, e diz que não é permitido aos ajudantes comer junto com os pacientes.

– É contra as normas da enfermaria?

– Isso mesmo.

– Azar! – Ele descasca três bananas bem debaixo do nariz do crioulo e come uma atrás da outra, diz ao crioulo que sempre que ele quiser tirar um rango do refeitório é só falar.

Quando McMurphy acaba a última banana, dá uma palmada na barriga, levanta-se e dirige-se para a porta. O crioulo grande bloqueia a porta e lhe diz que o regulamento manda que os pacientes fiquem sentados no refeitório até a hora de todos saírem, às sete e meia. McMurphy fica olhando para ele como se não pudesse acreditar que está ouvindo bem, então se vira e olha para Harding. Harding diz que sim com a cabeça. McMurphy encolhe os ombros e volta para a cadeira.

– De qualquer forma eu não quero mesmo ir contra a porra do regulamento.

O relógio no fundo do refeitório mostra que são sete e quinze, está mentindo dizendo que só estamos sentados aqui há 15 minutos, quando se pode dizer que já faz pelo menos uma hora. Todo mundo já acabou de comer e se recostou na cadeira, observando o ponteiro grande mover-se para as sete e meia. Os crioulos levam embora as bandejas sujas dos Vegetais e empurram os dois velhos nas cadeiras de rodas para serem lavados com as mangueiras. No refeitório, cerca da metade dos homens deita a cabeça nos braços, pensando em tirar um cochilo antes que os crioulos voltem. Não há mais nada a fazer, sem cartas, revistas ou quebra-cabeças. Apenas dormir ou observar o relógio.

Mas McMurphy não consegue ficar quieto assim; ele tem de estar preparando alguma. Depois de levar cerca de dois minutos empurrando farelos de comida em volta do prato com a colher, está pronto para mais atividades. Enfia os polegares nos bolsos e inclina a cabeça para trás e olha com um olho só para o relógio na parede. Então esfrega o nariz.

– Sabe… aquele relógio velho ali me lembra os alvos no campo de tiros em Fort Riley. Foi onde ganhei minha primeira medalha de atirador de precisão. McMurphy Bom-de-Tiro. Quem quer apostar comigo um dolarzinho como eu acerto este pedacinho de manteiga bem no centro do mostrador daquele relógio, ou pelo menos no mostrador?

Ele consegue três apostas e pega o pedaço de manteiga, põe na faca e faz um arremesso rápido. Vai parar bem a uns 20 centímetros, ou coisa assim, à esquerda do relógio, e todo mundo o ridiculariza por causa daquilo, até que ele paga as apostas. Ainda estão zombando dele, querendo saber se ele quis dizer Bom-de-Tiro ou Bonde-em-Tiro quando o crioulo menor volta depois de ter lavado os Vegetais. Todo mundo olha para o prato e fica quieto. O crioulo percebe que há alguma coisa no ar, mas não pode ver o quê. Provavelmente nunca teria sabido se não fosse pelo velho Coronel Matterson, que fica olhando em volta, e ele vê a manteiga grudada na parede e isto o faz apontar para ela e dar início a uma de suas aulas, explicando-nos a todos, na sua voz paciente e ressonante, como se o que ele dissesse fizesse sentido.

– A man-teiga… é o Partido Re-pu-bli-ca-no…

O crioulo olha para onde o Coronel está apontando, e lá está a manteiga, escorrendo devagar pela parede como uma lagarta amarela. Ele pisca para ela mas não diz uma palavra, nem se dá ao trabalho de olhar em volta para ter certeza de quem foi que a atirou.

McMurphy está cochichando e cutucando os Agudos sentados a sua volta, e num minuto todos eles concordam, e ele põe três dólares na mesa e se recosta. Todo mundo se vira na cadeira e observa aquela manteiga escorrer pela parede, seguindo, parando, pendendo imóvel, despencando e deixando um rastro brilhante na pintura. Ninguém diz uma palavra. Eles olham para a manteiga e em seguida para o relógio, e então de volta para a manteiga. Agora o relógio está andando.

A manteiga chega ao chão meio minuto antes das sete e meia, e McMurphy recupera todo o dinheiro que havia perdido.

O crioulo acorda, dá as costas para a faixa gordurosa na parede e diz que podemos ir. McMurphy vai andando para fora do refeitório enfiando o dinheiro no bolso. Põe o braço em torno do ombro do crioulo e o vai levando meio andando e meio carregado, pelo corredor, em direção à enfermaria.

– Metade do dia se foi, Sam, e, meu camaradinha, e eu mal estou começando. Vou ter de andar depressa para recuperar o tempo perdido. Que tal me trazer aquele baralho de cartas que você trancou em segurança naquele armário? Assim vou ver se consigo me fazer ouvir acima daquele alto-falante.

Passa a maior parte daquela manhã andando depressa, para recuperar o tempo perdido, jogando vinte-e-um, agora apostando vales em vez de cigarros. Ele muda de lugar a mesa de vinte-e-um, umas duas ou três vezes, para tentar sair de debaixo do alto-falante. Pode-se ver que aquilo lhe está dando nos nervos. Finalmente, vai até a Sala das Enfermeiras e bate numa das vidraças até que a Chefona faz girar a cadeira e abre a porta. Ele lhe pergunta que tal desligar aquela barulheira infernal por algum tempo. Agora, ela está mais calma do que nunca, de volta à sua cadeira atrás da vidraça; não há nenhum pagão saracoteando meio nu para desequilibrá-la. O sorriso dela está fixo e sólido. Fecha os olhos, sacode a cabeça e diz a McMurphy muito agradavelmente: