Выбрать главу

Pensei a respeito daquele painel. Provavelmente não pesava muito mais do que os tambores de gasolina que eu havia carregado no Exército. Disse a ele que provavelmente teria podido, naquele tempo.

– Se você voltasse a ficar grande assim, ainda poderia levantá-lo?

Disse a ele que achava que sim.

– Para o diabo com o que você acha; eu quero saber se você pode prometer levantar aquilo se eu fizer você ficar grande como era antes. Prometa-me isso e você não somente vai receber o meu curso de desenvolvimento físico gratuito como também vai ganhar uma viagem de pescaria de 10 dólares, grátis! - Ele passou a língua nos lábios e tornou a deitar-se. – Vai dar-me boas perspectivas, também, aposto.

Ficou deitado ali, rindo consigo mesmo, de algum pensamento seu. Quando perguntei-lhe como me faria ficar grande de novo, ele me fez calar levando o dedo aos lábios.

– Cara, não podemos deixar que um segredo desses se espalhe. Èu não disse que lhe diria como, disse? Puxa, cara, fazer um homem voltar a ter todo o seu tamanho é um segredo que não se pode partilhar com todo mundo, seria perigoso nas mãos de um inimigo. Você mesmo não saberá o que está acontecendo a maior parte do tempo. Mas lhe dou a minha palavra de honra, você segue o meu programa de treinamento e verá só o que vai acontecer.

Pôs as pernas para fora da cama e sentou-se na beira, com as mãos nos joelhos. A luz fraca da Sala das Enfermeiras que vinha por sobre o seu ombro apanhou o brilho de seus dentes e um olho cintilante Voltado para mim. A voz galhofeira do vendedor espalhou-se suavemente pelo dormitório.

– Lá estará você. É o Grande Chefe Bromden que vem descendo a avenida. Homens, mulheres e crianças se viram nos calcanhares para olhar para ele: "Ora, ora, ora que gigante é este aqui, com uma passada de três metros e abaixando a cabeça para não bater nos fios telefônicos?" Entra gingando pela cidade, apenas o tempo suficiente para apanhar as virgens, o resto de vocês, gostosas, é melhor nem entrar na fila a menos que tenham peitos grandes como melões, pernas brancas, bonitas e fortes, suficientemente compridas para se enlaçarem em torno das enormes costas dele, e uma pequena taça macia, quente, gostosa e doce como manteiga com mel…

Ali no escuro ele continuou, inventando a sua história de como ia ser, com todos os homens morrendo de medo, e todas as garotas bonitas caídas por mim. Então disse que ia sair naquele exato minuto, e inscrever meu nome como um dos participantes da sua equipe de pescaria. Ele se levantou, apanhou a toalha na cabeceira da cama e a enrolou nos quadris, pôs o gorro e chegou para junto da minha cama.

– Puxa vida, cara, vou lhe contar, no duro, você vai ter mulheres lhe dando rasteira e o derrubando no chão.

De repente sua mão deu um arranco e, com um giro do braço, desamarrou meu lençol, arrancou as cobertas da minha cama e me deixou deitado ali nu.

– Olha aí, chefe. Uau. Que foi que eu lhe disse? Você já cresceu 15 centímetros.

Rindo, ele foi andando pela fileira de camas abaixo, para o corredor.

Duas prostitutas a caminho, vindas de Portland para nos levar para uma pescaria em alto-mar num barco! Aquilo tornava difícil ficar na cama até que as luzes do dormitório se acendessem, às seis e meia.

Fui o primeiro a me levantar, sair do dormitório e olhar a lista pregada no quadro junto da Sala das Enfermeiras, para verificar se meu nome estava realmente escrito ali. INSCRIÇÕES PARA A PESCARIA EM ALTO-MAR, estava escrito em letras grandes no alto da lista. McMurphy havia assinado primeiro, e Billy Bibbit logo em seguida. O número três era Harding, o número quatro, Predrickson, e dali para baixo os números iam até o nove onde ninguém havia assinado ainda. O meu nome era o último escrito, ao lado do número nove. Eu realmente ia sair do hospital com as duas prostitutas, num barco de pesca; eu tinha de ficar repetindo aquilo sem parar, para mim mesmo, para poder acreditar.

Os três crioulos postaram-se na minha frente e leram a lista com os dedos cinzentos, acharam meu nome ali e se viraram para rir de mim.

– Ora, quem você acha que inscreveu o chefe Bromden para essa idiotice? Índios não sabem escrever.

– Que é que lhe dá a idéia de que índios são capazes de ler?

A goma ainda estava fresca e dura o bastante, àquela hora da manhã, de forma que os seus braços farfalhavam nos uniformes brancos, quando eles se moviam, como asas de papel. Fingi que era surdo e que não ouvia que riam de mim, como se eu nem soubesse, mas quando tiraram uma vassoura e me entregaram para que eu fizesse o trabalho deles ali no corredor, dei as costas e voltei para o dormitório, dizendo para mim mesmo "pro inferno com isso". Um cara que vai pescar com duas prostitutas de Portland não tem de engolir aquela porcaria.

Aquilo me assustou um pouco, sair andando e deixá-los daquele jeito, porque antes eu nunca tinha ido contra o que os crioulos me ordenavam. Olhei para trás e os vi atrás de mim com a vassoura. Provavelmente teriam entrado direto no dormitório e me apanhado, se não fosse por McMurphy; ele estava lá fazendo tamanha confusão, andando no maior estardalhaço de um lado para o outro entre as camas, batendo com uma toalha nos caras inscritos para irem naquela manhã, que os crioulos chegaram à conclusão de que o dormitório talvez não fosse um território muito seguro para se aventurarem numa incursão apenas para apanharem alguém para varrer um pedacinho de corredor.

McMurphy estava com o seu gorro de motociclista puxado para a frente sobre o cabelo ruivo, para ficar parecido com um comandante de barco, e as tatuagens que apareciam sob a manga da camiseta haviam sido feitas em Cingapura. Andava oscilando pelo chão como se fosse o convés de um navio, assoviando nos dedos como um contramestre de barco.

– Para o convés, marujos, para o convés ou eu faço vocês todos passarem por baixo da quilha de popa à proa!

Bateu na mesinha de cabeceira junto da cama de Harding com as juntas dos dedos.

– Seis batidas de sino e tudo está bem. O barco vai indo firme. Para o convés. "Baixem os seus perus e levantem as meias."

Ele me viu, de pé ali na porta, e veio depressa para bater nas minhas costas como se fossem um tambor.

– Olhem aqui o Grande Chefe; aqui está um exemplo de um bom marinheiro e de um bom pescador: de pé antes de o dia clarear e catando minhocas vermelhas para isca. O resto de vocês, bando miserável de marinheiros-de-água-doce, fariam melhor se seguissem o exemplo dele. Para o convés. Hoje é o dia! Pra fora da cama e pra dentro do mar!

Os Agudos resmungavam e tentavam agarrá-lo e fazê-lo parar com a toalha, e os Crônicos acordaram para olhar em volta com a cabeça azul pela falta de circulação de sangue, cortada pelos lençóis amarrados, apertados demais no peito, olhando em volta no dormitório até que finalmente se concentraram sobre mim com olhares velhos, fracos e lacrimosos, os rostos curiosos e tristonhos. Ficaram deitados ali, observando-me a vestir roupas quentes para a viagem, fazendo-me sentir pouco à vontade e mesmo culpado. Podiam perceber que eu fora destacado como o único Crônico a fazer a viagem. Eles me observaram – homens velhos, soldados em cadeiras de rodas há anos, com sondas descendo-lhes pelas pernas, como vinhas que os enraizassem para o resto de suas vidas exatamente no lugar em que estavam, eles me observavam e sabiam instintivamente que eu iria. E ainda podiam sentir um pouco de ciúmes de que não fossem eles. Podiam perceber, embora uma parte tão grande do homem que havia neles tivesse sido extirpada, que os velhos instintos animais haviam assumido o controle (os Crônicos acordam de repente, em algumas noites, antes que qualquer outra pessoa saiba que um cara morreu no dormitório, e atiram a cabeça para trás e uivam) e podiam ter inveja porque restava neles o suficiente de homem para ainda poderem lembrar.

McMurphy saiu para olhar a lista, voltou e tentou convencer mais um Agudo a assiná-la, de um lado para o outro, chutando as camas em que os caras ainda estavam deitados com os lençóis puxados sobre a cabeça, dizendo-lhes que coisa maravilhosa era estar lá fora com a cara no vento, com um mar agitado, uma âncora levantada bem na hora e uma garrafa de rum.

– Vam'bora, seus vadios, só preciso de mais um marinheiro para completar a tripulação, preciso de um porra de um voluntário…

Mas ele não conseguiu convencer ninguém a aceitar. A Chefona havia assustado o resto deles com suas histórias de como o mar estava agitado ultimamente e de quantos barcos haviam afundado, e não parecia que conseguiríamos aquele último membro da tripulação senão meia hora depois, quando George Sorensen se aproximou de McMurphy na fila do café da manhã, quando esperávamos que o refeitório fosse aberto.

O velho sueco desdentado e nodoso, que os crioulos chamavam de George Dum-Dum, por causa daquela sua mania de higiene, veio arrastando os pés pelo corredor, bem inclinado para trás, de forma que seus pés ficassem bem diante de sua cabeça (ele oscila para trás assim, para manter "o rosto tão afastado quanto possível do homem com quem está falando), parou diante de McMurphy, e resmungou alguma coisa sob a mão. George era muito tímido. Não se podia ver os olhos dele porque ficavam bem fundos sob as sobrancelhas, e ele dobrava a grande palma da mão sobre a maior parte do resto do rosto. A cabeça dele oscilava como um ninho de corvo no topo da sua coluna, que parecia um mastro. Ele resmungou sob a mão até que McMurphy finalmente estendeu o braço e afastou a mão dele, para que as palavras pudessem sair.

– Ora, George, que era que você estava dizendo?

– Minhocas vermelhas – disse ele. – Eu acho que elas não vão servir pra nada… para pescar o chiii-noook.