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Jetboy ergueu os olhos para o azul acima. O objeto continuava seu deslocamento gradual.

– O que há nele? – perguntou ao Comando Clark Gable.

– Comando para Jetboy. Algum tipo de bomba, foi o que nos disseram. Tem de ser uma aeronave mais leve que o ar de pelo menos 14 mil metros cúbicos para chegar a essa altitude. Câmbio.

– Estou começando a subir. Se os outros aviões não conseguirem chegar, também os chame de volta.

Houve silêncio no rádio, e depois:

– Copiado.

Enquanto os P-80 cintilavam acima dele como crucifixos de prata, ele ergueu o nariz.

– Vamos lá, garota – disse ele. – Vamos voar um pouco.

Os Shooting Stars começaram a se afastar, tombando no ar rarefeito. Jetboy só conseguia ouvir o som de suas próprias pressão e respiração nos ouvidos, e o alto gemido agudo de seus motores.

– Vamos lá, garota – disse ele. – Você consegue!

A coisa acima dele se revelou uma aeronave ordinária feita de meia dúzia de balões com uma gôndola abaixo. A gôndola parecia ter sido um dia um casco de lancha torpedeira. Era tudo o que podia ver. Além dela, o ar era roxo e frio. Próxima parada: espaço sideral.

O último dos P-80 escorregou de lado nas estrelas azuis do céu. Uns poucos haviam disparado rajadas aleatórias, dando 360° como os caças costumavam fazer abaixo dos bombardeiros durante a guerra. Disparavam enquanto subiam. Todas as traçantes ficaram abaixo dos balões.

Um dos P-80 quase perdeu o controle, caindo mais de três quilômetros antes de nivelar.

O avião de Jetboy protestou, gemendo. Estava difícil de controlar. Ele ergueu o nariz novamente, teve de se esforçar.

– Tire todo mundo do caminho – disse ele para o Comando Clark Gable.

– É agora que damos uma folga a você – disse para o avião.

Ele soltou os tanques descartáveis. Eles caíram como bombas. Apertou o botão do canhão. Chunder, chunder, chunder, chunder. Depois novamente, e mais uma vez.

Suas traçantes desenharam um arco na direção do alvo, mas também ficaram abaixo. Ele disparou mais quatro rajadas até o canhão se esgotar. Depois esgotou os dois de cinquenta na cauda, mas não demorou para que todos os cem disparos fossem desperdiçados.

Ele virou e deu um mergulho, como um salmão afundando e tentando se livrar de um anzol, ganhando velocidade. Após um minuto, apontou para cima, colocando o JB-1 em uma comprida ascensão circular.

– Parece melhor, não? – perguntou.

Os motores cortaram o ar. O avião, aliviado de peso, se lançou para a frente e para cima.

Abaixo dele estava Manhattan com seus 7 milhões de habitantes. Eles deviam estar assistindo lá embaixo, sabendo que aqueles poderiam ser os últimos minutos que veriam. Talvez isso fosse viver na Era Atômica, sempre olhando para cima e pensando: Será?

Jetboy esticou uma das botas e pisou forte em uma alavanca. Uma cápsula de canhão 75 mm deslizou para a câmara. Colocou a mão sobre a barra de carregamento automático e puxou um pouco mais para trás os comandos.

O jato vermelho cortou o ar como uma navalha.

Ele estava mais perto agora, mais perto do que os outros haviam chegado, e ainda assim não era perto o bastante. Ele só tinha cinco disparos para fazer o serviço.

O jato subiu, começando a estolar no ar rarefeito, como se fosse algum animal vermelho usando as garras para subir por uma comprida tapeçaria azul que escorregava um pouco cada vez que o animal avançava.

Ele apontou o nariz para cima.

Tudo pareceu congelar, à espera.

Uma fina linha de traçantes de metralhadora correu da gôndola na sua direção como uma amante.

Ele começou a disparar o canhão.

DO DEPOIMENTO DO PATRULHEIRO FRANCIS V. (“FRANCIS, O POLICIAL FALANTE”) O’HOOEY, 15 DE SET. 1946, 18h45

Estávamos observando da rua na Sixth Avenue, tentando impedir que as pessoas se lançassem umas sobre as outras em pânico. Então elas se acalmaram acompanhando as batalhas aéreas e as coisas acima.

Um observador de pássaros estava com um par de binóculos, então o confisquei. Acompanhei boa parte da coisa toda. Os jatos não estavam tendo sorte e a defesa antiaérea desde Bowery também não estava adiantando. Ainda acho que o Exército devia ser processado, porque os caras da defesa antiaérea ficaram tão em pânico que se esqueceram de colocar os temporizadores nos obuses, e ouvi alguns deles caindo no Bronx e explodindo um prédio inteiro de apartamentos.

De qualquer modo, esse avião vermelho, quer dizer, o avião do Jetboy, estava subindo e disparou todas as balas, eu achei, sem causar qualquer dano ao tal balão.

Eu estava na rua e o caminhão dos bombeiros parou com a sirene ligada e o tenente gritava para que eu subisse, que estávamos sendo mandados para o West Side cuidar de um acidente de trânsito e um tumulto.

Então entrei no caminhão e tentei ficar de olho no que estava acontecendo no céu.

O tumulto tinha basicamente acabado. As sirenes de ataque aéreo ainda soavam, mas todo mundo estava apenas de pé, olhando de boca aberta para o que acontecia lá em cima.

O tenente grita para pelo menos levar as pessoas para os prédios. Empurrei algumas por umas portas, depois dei outra olhada pelos binóculos.

E Jetboy tinha acertado alguns dos balões (ouvi dizer que usou o obus neles) e a coisa parece maior – está caindo um pouco. Mas ele ficou sem munição e não está tão alto quanto a coisa e começa a girar.

Eu me esqueci de dizer que o tempo todo o tal balão está disparando tantas metralhadoras que parece os fogos de 4 de Julho, e o avião do Jetboy está recebendo esses tiros sem parar.

Então ele simplesmente faz uma volta com o avião, retorna e bate diretamente na, como é o nome?, na gôndola, isso, dos balões. Eles meio que se fundem. Ele devia estar muito lento na hora, tipo estolando, e o avião meio que apenas se enfiou na lateral da coisa.

E o balão parecia estar descendo um pouco, não muito, só um pouco. Então o tenente tirou os binóculos de mim, eu protegi os olhos e acompanhei o melhor que pude.

Houve um clarão de luz. Achei que a coisa toda tinha explodido e me encolhi atrás de um carro. Mas depois ergui os olhos e os balões ainda estavam lá.

– Olhem! Para dentro! – gritou o tenente. Então todo mundo entrou em pânico de novo e estava se jogando sob os carros, ao lado de coisas e pulando janelas. Pareceu um filme dos Três Patetas por um minuto ou dois.

Alguns minutos depois começaram a chover pedaços vermelhos de avião sobre as ruas, e um punhado no Terminal Hudson...

Havia vapor e fogo por todo lado. A cabine estalou como um ovo e as asas dobraram como um leque. Jetboy teve um espasmo quando os cabrestantes no traje pressurizado se inflaram. Ele foi arqueado e devia estar parecendo um gato assustado.

As paredes da gôndola haviam se aberto como uma cortina no ponto em que as asas do caça bateram. Uma onda de gelo se formou sobre a cabine destroçada com oxigênio soprando da gôndola.

Jetboy soltou seus tubos. A garrafa de emergência tinha cinco minutos de ar. Ele se atrapalhou com o nariz do avião, como se lutasse contra barras de ferro em seus braços e pernas. Tudo o que você deveria fazer com aqueles trajes era se ejetar e puxar o anel do paraquedas.

O avião se arrastou como um elevador de carga com um cabo partido. Jetboy agarrou uma antena de radar com a mão enluvada, e a sentiu soltar do nariz do avião. Agarrou outra.

A cidade estava a quase vinte quilômetros abaixo dele, os prédios fazendo a ilha parecer um porco-espinho distante. O motor esquerdo do avião, esmagado e perdendo combustível, se soltou e caiu abaixo da gôndola. Ele o viu diminuindo.

O ar era roxo como uma ameixa – a superfície dos balões, brilhante como fogo ao sol, e as laterais da gôndola, curvadas e rasgadas como papelão barato.

A coisa toda estremeceu como uma baleia.