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– Leve-me até eles – disse. – Imediatamente.

Professor Lyle Crawford Kent

Em certo sentido fui eu quem cunhou seu nome. Seu verdadeiro nome, claro, o patronímico alienígena, era absurdamente comprido. Lembro que vários de nós tentaram reduzi-lo, usando este ou aquele pedaço durante nossas conferências, mas evidentemente esse era algum tipo de quebra de etiqueta em seu mundo natal, Takis. Ele sempre nos corrigia, de forma bastante arrogante, devo dizer, como um idoso petulante dando uma lição em um bando de colegiais. Bem, precisávamos chamá-lo de algo. O título veio primeiro. Poderíamos tê-lo chamado de “Sua Majestade”, ou algo assim, já que alegava ser um príncipe, mas os norte-americanos não ficam à vontade com esse tipo de reverência. Ele também disse ser médico, embora não em nosso sentido da palavra, e é preciso admitir que parecia saber bastante de genética e bioquímica, que parecia ser sua especialidade. A maior parte de nossa equipe tinha pós-graduações, e nos dirigíamos uns aos outros devidamente, de modo que parecia natural que passássemos a chamá-lo de “doutor” também.

Os cientistas de foguetes estavam obcecados com a nave de nosso visitante, particularmente com a teoria de seu sistema de propulsão mais rápida do que a luz. Infelizmente, nosso amigo takisiano havia queimado o impulso interestelar da nave em sua pressa para chegar aqui antes de seus parentes e, além disso, se recusou categoricamente a permitir que qualquer um de nós, civil ou militar, inspecionasse o interior de sua nave. Werner e os alemães ficaram limitados a questionar o alienígena sobre o impulso, de forma bastante obsessiva, achei. Pelo que eu entendia, a física teórica e a tecnologia da viagem espacial não eram disciplinas em que nosso visitante fosse particularmente especializado, então as respostas que lhes deu não eram muito claras, mas compreendemos que o impulso fazia uso de uma partícula até então desconhecida que viajava mais rápido do que a luz.

O alienígena tinha um termo para a partícula, tão impronunciável quanto seu próprio nome. Bem, eu tinha algum conhecimento de grego clássico, como todos os homens instruídos, e um talento para nomenclatura, se é que posso dizer isso. Fui eu que cunhei o termo “tachyon”. De alguma forma os soldados confundiram as coisas e começaram a se referir ao nosso visitante como “aquele sujeito tachyon”. O nome pegou, e daí foi um pulo para doutor Tachyon, o nome pelo qual ficou conhecido na imprensa.

Coronel Edward Reid, Serviço de Informações do Exército dos EUA (Aposent.)

Você quer que eu diga, certo? Todo maldito repórter que fala comigo quer que eu diga. Tudo bem, aí vai. Cometemos um erro. E também pagamos por ele. Sabe que depois eles chegaram muito perto de mandar todos nós para a corte marcial, toda a equipe de interrogatório? Isso é um fato.

O inferno é que não sei como é que se poderia esperar que fizéssemos as coisas de forma diferente da que fizemos. Eu estava encarregado desse interrogatório. Eu deveria saber.

O que realmente sabíamos sobre ele? Nada além do que ele mesmo nos disse. Os sabichões o tratavam como o Menino Jesus, mas os militares têm de ser um pouco mais cautelosos. Se você quer entender, se coloque no nosso lugar e se lembre de como era na época. A história dele era completamente absurda, e ele não podia provar porcaria nenhuma.

Certo, ele havia aterrissado naquele avião-foguete de aparência engraçada, só que não tinha foguetes. Isso foi impressionante. Talvez aquele avião tivesse vindo do espaço sideral, como ele disse. Mas talvez não tivesse. Talvez fosse um daqueles projetos secretos em que os nazistas trabalhavam, sobras da guerra. Você sabe que no final eles tinham jatos e aqueles V-2, e estavam até mesmo trabalhando na bomba atômica. Talvez fosse russo. Eu não sabia. Se pelo menos Tachyon tivesse nos deixado examinar a nave, nossos rapazes poderiam ter descoberto de onde ela vinha, tenho certeza. Mas ele não deixou ninguém entrar na maldita coisa, o que me pareceu bastante suspeito. O que ele estava tentando esconder?

Ele disse que vinha do planeta Takis. Bem, nunca ouvi falar em nenhum maldito planeta Takis. Marte, Vênus, Júpiter, certamente. Até mesmo Mongo e Barsoom. Mas Takis? Liguei para 12 astrônomos renomados de todo o país, até mesmo para um cara na Inglaterra. Perguntei: onde fica o planeta Takis? Não existe planeta Takis, responderam.

Ele devia ser um alienígena, certo? Nós o examinamos. Exame físico completo, raios X, uma bateria de testes psicológicos, tudo. O resultado foi humano. Não importava como o virávamos, o resultado era humano. Nada de órgãos extras, nada de sangue verde; cinco dedos nas mãos, cinco dedos nos pés, duas bolas e um pau. O desgraçado não era diferente de você ou de mim. Falava inglês, por Deus. Mas olha isto: também falava alemão. E russo, e francês, e algumas outras línguas que esqueci. Fiz gravações de duas das minhas sessões com ele e mostrei-as a um linguista, que disse que o sotaque era da Europa Central.

E os psiquiatras, uau, você deveria ouvir seus relatos. Paranoico clássico, disseram. Megalomania, disseram. Esquizo, disseram. Todo tipo de coisa. Quero dizer, esse cara alegava ser um príncipe do espaço sideral com malditos poderes mágicos, que tinha vindo para cá sozinho a fim de salvar nosso maldito planeta. Isso soa razoável a você?

E deixe-me dizer uma coisa sobre seus malditos poderes mágicos. Tenho de admitir, mas era a coisa que mais me incomodava. Quero dizer, Tachyon podia não apenas dizer o que você estava pensando, mas olhar engraçado e fazer você pular em cima da mesa e baixar as calças, quisesse você ou não. Passei horas com ele todos os dias e ele me convenceu. A coisa é que meus relatos não convenceram os figurões na Costa Leste. Algum tipo de truque, pensaram, estava nos hipnotizando, lendo nossa postura corporal, usando psicologia para nos fazer pensar que lê mentes. Mandariam um hipnotizador de palco para descobrir como fazia isso, mas a merda bateu no ventilador antes que conseguissem.

Ele não pedia muito. Tudo o que queria era um encontro com o presidente para que pudesse mobilizar todas as forças armadas norte-americanas a fim de procurar uma nave espacial acidentada. Tachyon estaria no comando, claro, ninguém mais era qualificado. Nossos principais cientistas seriam seus ajudantes. Ele queria radar, jatos, submarinos, cães farejadores e máquinas esquisitas das quais ninguém havia ouvido falar. Diga o nome de alguma coisa, e ele também iria querer. E também não queria ter de consultar ninguém. Se você quer saber a verdade, aquele cara se vestia como uma cabeleireira bichinha, mas pelo modo como dava ordens você pensaria que tinha pelo menos três estrelas.

E por quê? Ah, sim, sua história, isso certamente era ótimo. Disse que no seu planeta Takis duas dúzias de grandes famílias comandam tudo, como a realeza, só que todas têm poderes mágicos e mandavam em todos os outros que não tinham poderes mágicos. Essas famílias passavam a maior parte do tempo em rixa, como os Hartfield e os McCoy. Seu grupo, em particular, tinha uma arma secreta na qual estavam trabalhando havia dois séculos. Um vírus artificial feito sob medida, projetado para interagir com a composição genética do organismo hospedeiro, disse. Ele havia participado do grupo de pesquisa.

Bem, eu estava lhe dando corda. Perguntei o que aquele germe fazia. E olha só: ele fazia tudo.